terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Girl with Green Eyes - 1964


Canto de cisne da new wave inglesa, com produção de Tony Richardson e direção de Desmond Davis. A geração que renovou o cinema inglês a partir dos conceitos intelectuais dos “angry Young men” capitaneados por John Osborne, e que teve justamente no diretor Tony Richardson um dos seus maiores expoentes no cinema, encerrava um ciclo. Quando o filme foi lançado, coincidentemente no mesmo ano do primeiro disco dos Beatles, o espírito havia mudado e histórias com fundo realista e social já havia cansado o público. Esta corrente que renovou o cinema inglês no fim da década de 50, foi apelidada de “kitchen sink drama” (drama de pia de cozinha), com alguma ironia. Sendo assim o filme de Davis acabaria não obtendo muita repercussão, caindo rapidamente no esquecimento. Uma pena, realmente. Baseado em romance de Edna O’Brien, que foi autora do roteiro, a história segue a o nascimento da maturidade emocional, afetiva e sexual de Kate (Rita Tushingham)) uma jovem irlandesa, vinda do interior e que se muda para Dublin , e vai viver com uma amiga, O amor aparece na improvável figura de um intelectual de meia idade Eugene, interpretado com a habitual sobriedade britânica por Peter Finch. A maturidade vai surgir dolorosa nos conflitos que surgirão dessa relação nascida sob o signo do fracasso. Divorciado, cético, e ela, católica, quase adolescente, algo ingênua, mas de bom gosto literário, diga-se passagem. A história é narrada em tom melancólico e tragicômico, com tintas neorrealistas, Bergman e as evidentes influências da nouvelle vague francesa. Destaques para a fotografia exuberante em preto-e-branco revelando uma Dublin cinzenta e provinciana; e o elenco, que além da já citada atuação de Peter Finch, tem a inglesinha feiazinha, mas simpática, Rita Tushingham, que já havia brilhado em “A Taste of Honey” alguns anos antes, e aqui dá mais uma vez mostras do seu talento, e Lynn Redgrave, no papel da amiga da heroína. Um filme, enfim, a ser relembrado com carinho.
PS: agradecimento especial aos maravilhosos portugueses do blog http://myonethousandmovies.blogspot.com/

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Kiss of the Vampire - 1963


Dia 14 de dezembro o cinema perdia Don Sharp. De origem australiana fez a carreira como diretor na Inglaterra depois de tentativas de trabalhar como ator no teatro e rádio. Dirigiu o primeiro filme de rock’roll na Inglaterra em 1958, mas o musical não seria seu forte e ganharia fama com seus trabalhos na produtora Hammer. O currículo inclui gêneros variados: filmes de pirata, terror, policiais e ação. Não conheço a sua extensa obra toda. Portanto vou comentar - como uma pequena homenagem - um dos seus bons filmes “ Kiss of the Vampire”. Pude assisti-lo nos bons tempos do Telecine, quando possuiam um canal só de clássicos. Bons tempos realmente. Como o pacote da minha TV a cabo não tem o canal não sei se ainda exibem filmes mais antigos. Na minha estadia nos EUA comprei um dvd do filme. E quando decidi escrever a crônica sobre o filme e fui revê-lo, uma surpresa desagradável: o filme, original, não rodou de jeito nenhum! E depois da merda do fechamento do megaupload a vida de colecionadores de filmes raros ficou mais difícil, e tive que ficar caçando o filme pela rede. Felizmente o piratebay tinha um torrent funcionando e consegui o filme novamente. Dureza realmente esta vida. Não está sopa.

O filme inicialmente foi concebido como a terceira parte da trilogia de “Drácula” com Christopher Lee e Peter Cushing. Por razões variadas o projeto foi modificado, e o produtor reformulou o roteiro, convocou Don Sharp, recrutou atores pouco conhecidos e o filme mostrou, felizmente, um novo olhar sobre o mito do vampiro. Entre 1958 e o ano em que o filme foi lançado o dentuço foi personagem uma tonelada de filmes na Itália, Inglaterra e outros países. Um mito cujo interesse não arrefece, haja vista a série “Crepúsculo”, os livros de Anne Rice, séries de TV e muito mais que não recordo aqui, e não interessa. No filme de Don, não temos o conde, e a história não se desenrola na Transilvânia. Um casal em lua de mel na Bavária – região da Alemanha - tem problemas com a carruagem e são obrigados a buscar abrigo na aldeia mais próxima. O nobre do castelo local convida a ambos para serem seus hóspedes. A prudência é uma qualidade que os heróis de filmes de vampiros não possuem e aceitam alegremente o convite. A família do castelo: O Dr Ravna e seus dois filhos Karl e Sabena , são nobres decadentes e logo se revelarão demoníacos e pervertidos líderes de uma seita de vampiros. Esta ligação de seitas com os vampiros era um aspecto até então pouco explorado nos filmes de vampiros. Outro detalhe interessante: o vampirismo visto como uma doença. E a sexualidade ganha importância acentuada, inédita àquela altura nos filmes da produtora. A cena do baile dos vampiros seria homenageada e recriada na comédia clássica de Polanski, “A Dança dos Vampiros”, alguns anos depois. Não sem razão, muitos o consideram o melhor filme de vampiros produzido pela Hammer em todos os tempos. Prova cabal do talento de Don Sharp, um nome que merece ser lembrado sempre.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Angel, Angel, Down We Go - 1969


Robert Thom havia escrito o roteiro de um sucesso alternativo “Wild in the Streets” - estrelado por Shelley Winters -, e ganhou então a oportunidade dos produtores da AIP para dirigir seu próprio filme. Acabaria sendo sua única experiência à frente das câmeras. O filme foi um fracasso e está inédito ainda em DVD - mas pode ser assistido no Netfix americano – e permanece como um dos mais obscuros produtos da contracultura americana retratada no cinema. O produtor foi Jerome Katzman , filho de Sam Katzman, um dos responsáveis pela explosão do rock’roll no cinema nos anos 50, que aliás também deu uma força na produção deste filme. Relendo aqui um artigo sobre Katzman no essencial ”Kings of Bs” , Richard Thompson ,autor do texto, cita um reportagem da revista Variety de 1969, comentando a estreia do filme: “Sam Katzman está mudando o foco para produções com profundidade e ponto de vista(...)Esta será um dos primeiros filmes num esforço de mudar a imagem da produtora”. E o artigo finalizava já anunciando um novo filme de Robert Thom, que nunca seria realizado diante do fracasso, diga-se de passagem, um dos raros do produtor. O ano em que o filme foi lançado foi marcante para o rock: teve Woodstock, mas também Altamont e Charles Manson e sua trupe matando Sharon Tate. E nosso filme era mais um com uma visão negra e fantasmagórica da contracultura. O título alternativo do filme , por exemplo, foi “The Cult of the Damned”, que sugeria terror e satanismo. Uma família americana aparentemente perfeita: riquíssimos, celebridades e a filha, educada na Suiça. Isso o lado “Caras” da situação; do avesso, o pai,Willy, ex-ator,homossexual , a mãe Astrid , antiga atriz de pequenos filmes pornográficos e alcoólatra, e a filha Tara, heroína do filme, neurótica e gorducha. No seu regresso à América conhece, na festa de boas vindas, Bogart, uma astro de rock, calcado em Jim Morrison com certeza .Falando no cantor do The Doors, é evidente que o diretor buscou inspiração na canção "The End" para compor o filme. Vejam e digam se não tenho razão.Fascinada por ele, se deixa praticamente raptar e mergulha de cabeça no mundo maluco beleza do cantor e sua turma de freaks. A mãe da garota é interpretada, gloriosamente, pela diva Jennifer Jones, então com seus 50 anos, e seu papel mais caótico e demente de toda a carreira habitualmente marcada por papéis angelicais e doces. Jeniffer foi casada com Selznick, o produtor de “E O Vento Levou”, e a certa altura sua personagem faz piadas com ele, entre outras tiradas grotescas como esta frase imortal: “Fiz um punhado de filmes pornôs e nunca fingi um orgasmo”. Para alguns um sórdido epitáfio, algo como Carrol Baker em “Andy Warhol’s Bad” ,ou uma paródia de “Sunset Boulevard”.

Lembremos que Robert Thom foi o autor de “Lylah Clare’, que virou filme de Robert Aldrich – que já resenhei aqui – e que acabaria sendo epitáfio, também, de outra diva: Kim Novak. E estou aqui falando tanto em crepúsculos e epitáfios, e é isso este filme: um tortuoso e desconexo epitáfio de Hollywood, do show business e da família tradicional americana, uma trip alucinógena, o filme que John Waters teria realizado se tivesse vivido nos anos sessenta, ou um “Teorema” americano. Homossexualismo, obesidade, pedofilia, drogas, amor livre e maus sentimentos, ingredientes de um bolo indigesto. Um filme sem dúvida imperfeito, desconexo, mas nem por isso menos fascinante. Uma trilha sonora muito boa de Barry Mann, que existem disco e é fácil de baixar (ainda). O elenco conta ainda com o cantor Lou Raws e Roddy McDowell. Morrissey , do “Smiths” homenagearia o filme com uma canção ,com o mesmo título do filme, em “Viva Hate”. A estrela gordinha Holly Near se tornaria cantora folk de algum sucesso nos EUA posteriormente.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

The Leech Woman - 1960


Quando vejo um filme B como este fico mesmo satisfeito e vejo que tenho razões para apreciá-los. Sob toda a carapaça de clichês, footages, enfim, tudo que encontramos nos piores e melhores, podemos achar mais coisas do que sonham os preconceitos ou as risadas de deboche. O diretor Edward Dein não fez muitos filmes, apenas 14. Já resenhei sua “obra-prima” aqui no blog:o filme “The Curse of Undead”, um mix de terror e faroeste interessante. Este aqui foi realizado apenas para acompanhar um filme da Hammer de Drácula, ou seja, despretensiosamente. E um detalhe: foi uma produção da Universal já no crepúsculo dos filmes de monstros. Na década de sessenta drive-ins e cinemas baratos já exibiriam monstros mais reais, fantasmas que assombravam os americanos - que podiam ser vistos nas ruas de São Francisco ou no Village -,além de sexo, muito sexo. A história de June (Collen Gray) tem também o sexo como tema subjacente, ora, pois. Ela é uma mulher mais velha, feia, casada com um endocrinologista mau-caráter, obcecado por descobrir o segredo da eterna juventude. O casamento de ambos é uma boa droga. Os primeiros minutos do filme são uma longa discussão matrimonial onde ela expõe toda sua frustração e rejeição, e é humilhada. Uma situação crível e banal. Para agravar a situação é uma alcoólatra.

A sorte parece mudar quando aparece no consultório uma velhinha chamada Malla, que afirma ter mais de 150 anos. E em troca de uma ajuda para que possa voltar para a África, terra da tribo de onde saiu ainda menina para ser vendida como escrava, ela diz ao médico que tem o segredo do rejuvenescimento e da beleza. Ambicioso ele aceita e parte para o continente negro, levando a mulher a tiracolo para servir de cobaia quando pusesse a mão no elixir. Ao chegarem à tribo dos Nandos –sim, o nome é este mesmo – presenciam a cena do rejuvenescimento da velhinha e descobrem um "porém" na história toda: um dos ingredientes do elixir só era possível se obter matando um ser humano. E ai o filme que derivava entre o drama doméstico e um safari de fundo de estúdio, ganha contornos de filme de terror. Malla a velhinha, transformada em uma bela morena, oferece o elixir à June, com a condição que ela escolhesse o ser humano a ser sacrificado. E adivinhem quem ela escolhe? O marido pilantra. Novinha em folha, com a ajuda do guia - que acaba sendo morto por ela também- volta à civilização na pele de uma suposta sobrinha. Disposta a usufruir a vida move sua artilharia , agora sexy ,sobre um advogado bonitão. E para sustentar a juventude vai matando homens na calada da noite: a sequência em que mata um gigolô ladrão é particularmente hilária. É um filme de terror sim, mas os pavores que ele aflora são humanos e reais, cotidianos: o medo da velhice, a perda da juventude, a rejeição sexual que as mulheres mais velhas sofriam. ”Para os homens mais velhos cabelos brancos trazem respeito e dignidade, para as mulheres mais velhas, nada “, diz a velhinha africana. Fico aqui agora tentando imaginar a cara dos rapazinhos e suas namoradas nos drive-ins , enquanto iam comendo pipoca ,ao lerem uma frase como esta, dita assim num filme, aparentemente, apenas para distrair.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Brucia, Ragazzo, Brucia - 1969

A década de sessenta foi de monstros saindo das tumbas, heróis mitológicos derrubando torres de papelão, existencialismo e tédio(cortesia de Antonioni ), delírios barrocos de Fellini e muito mais no cinema italiano: enquanto isso lá fora dos portões dos estúdios da Cinecittá o pau comeria solto até culminar com 68, que marcou o mundo e a arte. A burguesia e a geração italiana mais velha vinham sendo já sendo constantemente colocadas em cheque no cinema italiano, é verdade. Aqui mesmo comentei “La Calda Vita”, cujo cerne da trama era já o conflito. O paradigma dos filmes que retrataram o conflito de gerações foi “Teorema” de Pasolini, que exibido no festival de Veneza em 68, causou escândalo. E um ano depois Fernando di Leo, nome não tão incensado quando Pasolini irritava censura, igreja e burguesia italiana com este filme e imediatamente retido pela censura, por algum tempo. Era apenas o segundo filme do eclético e habilidoso diretor, que ganharia fama mesmo nos filmes policiais subsequentes, dramas eróticos, faroestes e giallos.

Á primeira vista mais um drama erótico, desculpa italiana esfarrapada para desnudar belas mulheres, embalado por bela trilha sonora. O conflito de gerações, a crítica á sociedade italiana vinha como pano de fundo da história de Clara(Françoise Prévost), uma madame italiana casada mas sexualmente histérica, que aluga uma casa à beira-mar. Leva a tiracolo uma cunhada, a filha ,e vez ou outra o marido passava por lá. Um jovem, salva-vidas da praia, anarquista, hippie e niilista, juntamente com a namorada, resolve fazer uns joguinhos psicológicos e sexuais com a mulher. “Uma típica família italiana, toda baseada na ordem, no hábito e na hipocrisia”, ele define bem o que é família de Clara. Ela acaba se deixando enredar nos jogos e cai nos braços do rapaz: tem seu primeiro orgasmo e é questionada em seus valores. Passo tão inesperado numa vida tão organizada vai significar o pagamento de um preço muito alto. E o fim é cruel e irônico: a ambulância levando seu corpo - depois de cometer suicídio com uma dose de barbitúricos- , e uma carreata de carros dos hippies que voltavam de uma festa na praia, se cruzando na estrada. O toque sinistro fica por conta do marido, que ao vê-la desacordada na cama, a deixa lá e vai dar uma voltinha na praia, aprecia a festinha dos hippies à distância e só depois telefona pedindo socorro, que já era tarde, evidentemente. Ao fim e ao cabo tudo terminava como em um filme de terror.O curioso título foi extraído da canção da abertura.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Bésame Monstro -1969


Jess Franco, Jess Franco, finalmente me aproximo de um filme dele, quer dizer escrevo sobre um . Só fui descobri-lo nos EUA. É verdade que indiretamente já o conhecia graças à trilha de “Vampyres lesbos”, um cd que eu curtia particularmente. E com este filme dei os primeiros passos em seu universo. Confesso que me irritei, imaginava outra coisa, sei lá. Mas a beleza de Soledad Miranda me cativou como uma vampira. A experiência seguinte, nas longas noites de insônias americanas, foi “Vênus in Furs”, que apesar do título nada tinha muito a ver com o livro de Masoch. Nada que tenha me impressionado muito. Ainda não estava me adaptado ao universo singular do espanhol. Foi mesmo com “La Female Vampire” ou “Les Avaleuses de 1973, que me converti ao culto frankiano, mas não teria sido na verdade uma conversão à Lina Romay ? . O fato é que baixinho espanhol ainda está aí vivissímo ,e finalmente com a obra reconhecida pela oficialidade: foi premiado na Espanha pelo conjunto da obra. Para muitos críticos e cinéfilos canônicos uma afronta. Um cara ,que digamos assim, invejo . Afinal fez até agora mais de 160 filmes, conheceu algumas das mulheres mais gatas do cinema europeu e ainda por cima é o eterno namorado de Lina Romay. Como lembrei anteriormente a crítica canônica o despreza , só mesmo blogueiros, amantes de cults, trashes, eurotrashs, exploitation, extremos, sexploitation, o cultuam. E Franco sempre se lixou para qualquer tipo de cinéfilo, sempre fez questão de ser anti-intelectual, popular, sem culpa nenhuma. E o mais divertido nisso tudo é que o seu começo de carreira anunciava outro caminho: começou como assistente do monstro sagrado Orson Welles, quando este estava na Espanha filmando "Chimes at Midnigh",depois de ver um dos seus filmes, gostou e o convidou.

Acho que Franco percebeu ali que cinema de arte seria uma roubada e caiu fora da onda metendo de vez as mãos nas tranqueiras. O filme que abordo, do final da década de sessenta é um filme de transição entre seus primeiros filmes góticos e os eróticos e de terror que realizaria nos anos 70 em diante, desembocando no pornô hardcore algumas vezes. No meia da década realizou uma série de aventuras de espionagens leves e divertidas. Como esta aqui:um filme de espionagem e uma comédia em todos os sentidos. Tem um quê de Hawks e seu “Gentlemen Prefer Blondes”, uma loura e uma morena caçando homens, no caso de Franco uma loura e uma morena caçando confusão. Mas em comum com as personagens de Hawks elas são também cantoras para disfarçar a verdadeira natureza do negócio:aqui são detetives. Lembrando que a dupla estrelou outro filme de Jess Franco. A trama não importa muito: temos um segredo de uma fórmula secreta à la Hitchcock, mortes misteriosas, um vilão planejando dominar o mundo, um bando de espiões de diferentes organizações, algum sexo e cientistas malucos. Em meio a essa confusão as duas mocinhas, interpretadas por Janine Reynauld e Rossana Yanni vão perambulando , levando tudo “numa boa, numa nice”. Os detratores de Mr. Franco podem detoná-lo por tudo, e talvez tenham lá suas razões, mas de duas coisas eles não podem falar nada: o uso de belas mulheres e as fantásticas trilhas sonoras. Aqui neste filme, mas uma vez a trilha é um show a parte. Há por exemplo no tradicional momento em uma boate, todo mundo dançando, e uma puta banda tá mandando um som bem afrobeat .E a ficha técnica não diz nada sobre esta banda, uma pena. O filme foi realizado no Caribe e nasceu de uma ideia do produtor Adrian Hoven, que é um dos atores do filme. A produção foi hispano-germânica e por isso acaba que tem vários títulos diferentes, dependendo da fonte. Normal em se tratando de filmes de Jess Franco.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

El Pueblo Fantasma -1965


Há algum tempo atrás havia resenhado “The Curse of Undead”, um filme B, que combinava terror e faroeste. Mais recentemente lembrei “Teenage Monster” também ambientado no oeste e novamente, terror e faroeste. O crossover voltou à moda com o recente “Cowboys e Aliens”, que, por incrível que pareça, ainda não vi, e está aqui na fila de espera: infelizmente perdi a oportunidade de vê-lo na tela grande do cinema. Enquanto isso vou vendo novas velharias como esta aqui, vindo do delicioso e spicy cinema mexicano de terror , que eu curto demais, e é também uma mistureba de faroeste com filme de terror, mais especificamente, de vampiros, não muito diferente do filme citado acima aliás. O diretor Alfredo Crevenna foi um monstro do cinema mexicano popular com 151 filmes no currículo e com 81 anos fez o último filme, falecendo um ano depois. Incrível mesmo. Ele fez de tudo: filmes com o Santo El Mascarado de Prata, terror, comédias, erótico com Libertad Leblanc, faroestes e muito mais. O país asteca, diga-se passagem, explorou bem mais a mistura de western com terror, muito mais que o cinema americano, que de qualquer maneira tem também os seus exemplares interessantes e pretendo relembrar alguns futuramente. Este crossover é, aliás, mais comum do que parece, pelo menos mais de 200 filmes híbridos assim foram realizados até hoje. Mas sem dúvida os mexicanos foram mais malucos no subgênero, sem pudor algum na mistura.

O início desse filme aqui lembra um quadro antigo dos Trapalhões: um pistoleiro valentão entra na taberna, desafia todo mundo, pede uma garrafa de uísque, e parece que ninguém vai desafiá-lo, até que entra no saloon um sujeito de preto aceita o desafio e manda o valentão para o inferno. No quadro do Aragão e sua turma entrava nosso Didi e só rolava palhaçada. Rio Kid era o nome do pistoleiro, e sua missão desafiar e matar todos os gatilhos rápidos do oeste avisa aos presentes. Só depois entra em cena El Texano, o verdadeiro herói do filme. E pelo jeito o diretor gostou dele: mais uns 7 filmes com ele foram realizados, a maioria com o mesmo ator Rodolfo de Anda. O moço, filho de um mítico bandido, desejava limpar o nome do pai, e acreditava que o tal Rio Kid, poderia ajudá-lo ( o pai supostamente havia conhecido o pistoleiro). Mal sabia ele que o bandoleiro era um vampiro e matava os pistoleiros para sugar o talento no gatilho dos mesmos. Parte então para a cidade de San José, onde o pistoleiro residia. No caminho conhece Nestor, que passara 10 anos na cadeia e retornava para casa, justamente na mesma cidade. E como o título original indica o local era uma cidade fantasma, cujos únicos moradores que ainda tinham coragem de morar ali eram o taberneiro, o indefectível e inútil xerife, a família do ex-presidiário e ninguém mais. Interessante lembrar o argumento lembra muito o clássico da literatura mexicana de Juan Rulfo, “Pedro Páramo”, que justamente trata do regresso para casa de um sujeito que descobre que todos na cidade estão mortos. Coincidência, sem dúvida. Não esqueçamos que é um filme mexicano, e a taberna – apesar dos fantasmas que rondavam o local – era palco de números musicais, protagonizados por uma cigana, e um conjunto de mariachis, este absolutamente hilário e sensacional, impossível de ser descrito com palavras. A atmosfera habitual dos filmes mexicanos de terror herdada dos velhos filmes da Universal dos anos 30: interpretações à beira do “aboleramento teatral “, morcegos de papelão, o cemitério, onde o vampiro pistoleiro descansa, e alguns momentos de humor a cargo do taberneiro bonachão. Como se precisasse disso, não? Mas não serei injusto: o filme é uma delícia do principio ao fim, e segue a regra de não ser um filme chato à risca. Ingênuo, tolo, simples e popular, não são pecados, e podem ate ser qualidades, como é o caso aqui.
Link do filme: http://www.descargadepeliculas1link.info/2011/12/descargar-peliculas-de-rodolfo-de-anda.html

domingo, 8 de janeiro de 2012

Hundra - 1983


“No man will ever penetrate my body with sword or himself,”um filme com uma frase shakespeariana como esta não pode ser pouca coisa. E este filme dirigido por Matt Cimber, tem muito mais a oferecer ao espectador além de frases de efeito como esta. Os anos 80 foram dominados pelo gênero “espada e feitiçaria”, que geraria Conan, Xena, e muitos, muitos outros filmes de qualidades duvidosas e variadas. Desnecessário dizer que se o sujeito é cinéfilo canônico tem que correr mesmo dos filmes desse tipo. Nossa heroína , interpretada pela loura Laurene Landon, sai para dar uma volta pelo bosque e quando regressa descobre que todo o seu povo, inteiramente composto por mulheres amazonas guerreiras, havia sido dizimado por uma exército de machões barbudos e selvagens. Só lhe resta errar pelo mundo de então à procura da vingança.


Como é típico no gênero a época é anterior à história. E ela depois de muito vagar chega a uma cidade onde as mulheres não tinham outra função além de serem escrevas sexuais para os machões guerreiros, que organizavam no templo estupros coletivos. Matt Cimber não era besta e narrou a saga da moça com doses fartas de humor, diálogos pseudo-feministas “ avant-lettre” que soam bizarros e irônicos. Feminista e plena de misandria ( agora peguei pesado mesmo)ela, por exemplo, insulta o próprio cão, por ser macho, o tempo inteiro e o chama de “beast”.Todos ,ou quase todos ,os homens que surgem diante da nossa brava guerreira são porcos chauvinistas machistas e estupradores. Não devia ser muito diferente nos tempos antigos. Para tentar fazê-los entender que as mulheres poderiam ser mais que simples objetos sexuais só mesmo muita pancadaria e golpes de espada, coisas que Hundra fazia muito bem. Um detalhe que dá mais credibilidade ao filme é a trilha sonora do gênio Ennio Morricone. O conjunto final é um filme B absolutamente divertido e digno de uma conferida. Só para esclarecer o pedantismo: misandria é aversão ao sexo masculino, ok?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

The Bloody Brood - 1959


O cartaz do filme anuncia o que o espectador verá: “Doomeds”, “Damneds” e “Decents”. As paranoias americanas não se limitaram ao comunismo no após guerra, medo do holocausto nuclear e até uma invasão de aliens. O cinema retratou de todas as maneiras estas paranoias coletivas. Mas comportamentos e movimentos artísticos também foram objetos da paranoia coletiva e o cinema tratou de capitalizar. Delinquência juvenil e rock’roll logo foram absorvidas; e até os beatnicks foram retratados no cinema americano mainstream e B. Podemos até dizer, dada a quantidade de filmes ,que houve um subgênero cinematográfico que poderia ser classificado como beat exploitation. De passagem lembremos que os próprios beats, no caso aqui Jack Kerouac chegaram a realizar um filme, muito interessante, aliás, que pode ser encontrado no You Tube chamado “Beat Generation” ou “Pull my Daisy”, estrelado por Allen Ginsbeg e Gregory Corso, entre outros. E em 1959 Albert Zugsmisth, um dos papas da exploitation americana - ao lado de Roger Corman - produziu “Beat Generation”. E já que falamos em Roger Corman, ele dirigiu e produziu “Bucket of Blood”, um hilário filme de terror ambientado no Village na comunidade beatnick; e finalizando esta rápida recapitulação, que faço aqui de memória, chegaram a produzir uma versão classe A de “Os Subterrâneos’, romance de Kerouac escrito antes do seu clássico maior “On the Road” (que só agora será filmado por Walter Salles, ou seja, ai, ai ai, ai). Para se ter uma idéia do que a caretice hollywoodiana fez: o romance retratava o amor entre um intelectual, o próprio Kerouac e uma mulher negra em Paris. Amores inter-raciais ainda eram tabu e, portanto, a mulher negra foi transformada em uma francesa meio maluquinha e branca(Leslie Caron). Ainda em 1959, dentro da onda beat, um diretor canadense lançava o independente o filme objeto da resenha. O futuro Columbo Peter Falk, em seu primeiro papel de destaque era Nico, um pretenso intelectual beatnick, que ficava tecendo discursos pseudo-filosóficos cínicos e rebeldes e era o líder natural de um grupo de poetas, cineastas , músicos beatnicks. Para demonstrar na prática seu discurso niilista decide matar, durante uma festa, um humilde mensageiro, que havia ido ao apartamento dos beats, para entregar um telegrama.

O irmão do rapaz resolve averiguar o caso e se infiltra no universo dos beatnicks. E o filme acaba caindo no clichê do eterno combate entre as boas pessoas, trabalhadoras , honestas e os doidões drogados, que só queriam ficarem nos botecos ouvindo jazz, tocando bongô(todo beatnick nesses filmes toca bongô), fumando cigarros esquisitos e praticando sexo antes do casamento com moças de reputação duvidosa. E para distraírem , um ou outro se erguia ,no meio da fumaça e da orgia e recitavam poemas malucos e nada acadêmicos. Digamos em defesa do diretor Julian Roffman, que só realizou outro filme em toda carreira, que os beatnicks são retratados de maneira crível. Nico, o assassino niilista, era na verdade um traficante,e apenas havia se infiltrado na turma para vender seus produtos, aproveitando-se da ingenuidade dos beats. Algo perfeitamente realista, portanto. A partir do meio da década de sessenta os beatnicks foram gradativamente sendo deixados de lado na paranoia e outra figura, o hippie barbudo doidão e eventual monstro assassino ocuparia o lugar dos beatnicks, que para a sorte deles voltariam a ficar confinados na história da literatura. Já estavam de alguma maneira absorvidos e domados também. Este pequeno filme é uma fragmento da batalha que acontecia antes de domarem os "doidões". O filme pode ser baixado e visto no You Tube,em sua versão integral e vale como uma curiosidade.
link abaixo:
http://youtu.be/oPKsuAMlvbY

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

The Girl in Black Stockings -1957


Meu fraco por policiais noir B vagabundos é grande e não resisto a recordar mais um com tudo que um filme dessa categoria pode conter: sexualidade desenfreada, taras, excessos e vícios, personagens escrotos e alguma demência para segurar a barra. Só mesmo estes filmezinhos baratos feitos nos escombros de Hollywood para conseguirem tal feito. Este aqui teve alguns nomes conhecidos no elenco, três atrizes de notoriedade variada: Anne Bancroft, futura oscarizada, Marie Windsor – rainha dos filmes B e a minha atual musa do blog, Mamie Van Doren. Portanto, de cara o filme já despertaria algum interesse para além da temática ou do gênero. Pelo lado masculino temos o ex-Tarzan Lex Baxter, de reputação para lá de duvidosa como estuprador de menores e marido de Lana Turner por algum tempo. Curioso é que Anne Bancroft, aqui em início de carreira, omitiu ao máximo sua participação neste filme e em outra produção B do mesmo período (Gorilla at Large). Para alguém com ela formada no Actors Studio não pegava mesmo muito bem atuar em filmezinhos como este. E chegou a abandonar a carreira por algum tempo, cansada desses papéis. Por haver atuado em “The Graduate” ela com certeza se orgulhava, boa atuação realmente, mas o filme, deixemos prá la meu comentário e voltemos ao meu pequeno e delicioso noir de segunda categoria, objeto da resenha.

Sintomaticamente, já que falei em segunda categoria, a trama se desenrola em um motel. O proprietário é um milionário tetraplégico, que recebe os cuidados da irmã, e aparentemente só move o pescoço. Será? E o filme dá a entender que entre eles há mais que um sentimento fraternal. E a misoginia e o ódio do moço pelas mulheres fazem dele, apesar da invalidez um dos suspeitos para as mortes que começam a acontecer na sua propriedade. Nosso ex-Tarzan é um advogado playboy às voltas com um namorico com a doce Beth, funcionária da hospedaria. Mamie é a namorada meio tola de um velho ator decadente e não faz muito neste filme além de ser uma das vítimas do psicopata misterioso. A verdade é que não há nenhum personagem decente hospedado e cada um tem seu segredinho escondido no armário. E quem é a garota de “silk stockings” do título? Boa pergunta, provavelmente a primeira vítima. E a revelação do criminoso não deixa de ser uma surpresa e confunde. O filme foi realizado em um motel no estado de Utah, e serviu de locação para vários westerns que eram rodados nas imediações. A direção desse delírio sórdido coube a Howard Koch, mais conhecido como produtor, e diretor de 21 filmes, inclusive uma versão de Frankenstein, com Bóris Karloff em 1958.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Goké, Body Snatcher from Hell - 1968


Pródigo em bons filmes na linha do terror e do cinema fantástico, esta é uma das produções mais curiosas vindas de lá dos anos 60. Uma forte influência da obra do mestre de terror italiano Mário Bava é evidente mais uma vez , como já podia ser percebida em outro filme que havia comentado anteriormente “The Living Skeleton”, igualmente nipônico. Lembremos que Quentin Tarantino fez questão de homenagear o filme em “Kill Bill” nas sequências iniciais, e segundo ele, é o melhor filme de terror já realizado no Japão. Exageros à parte trata-se realmente de um filme que não deixa o espectador indiferente pelas nuances e sugestões. O diretor Hajume Sato, com poucos recursos e efeitos especiais simples, mas eficazes, soube criar uma atmosfera surreal e angustiante. Um voo rotineiro se transforma numa tragédia a partir do momento que a tripulação recebe a informação que pode haver uma bomba a bordo. Começa a busca frenética pelo terrorista suicida, mas inesperadamente surge um assassino que manda que o avião desvie da rota. E se não bastassem tanta confusão, uma luz misteriosa nos céus confunde os pilotos e o avião é obrigado a fazer um pouso forçado em uma região inóspita e desconhecida. Sim, a trama nesse momento lembra o seriado americano de grande sucesso “Lost”. Os sobreviventes, isolados em um local desconhecido e tem agora que enfrentarem uma força misteriosa. Uma a um eles vão sendo transformados em vampiros por uma entidade alienígena. Citei a influência de Mário Bava e é evidente que o filme presta tributo ao clássico “O Planeta dos Vampiros”, que, aliás, era estrelado pela brasileira Norma Benguell. O pessimismo apocalíptico é o mesmo de outros clássicos da ficção daquele período como “Invasion of Body Sntacher “ de Don Siegel, “Planeta dos Macacos”, entre outros. O título inglês associa claramente o filme à citada obra de Don Siegel, inclusive. Os filmes americanos de invasões de seres espaciais a partir da década de80 e 90, sempre finalizavam com um tom otimista – os humanos derrotando as forças alienígenas -, beirando às vezes a patriotada descabelada e debilóide como em “Independece Day”. Tim Burton parodiaria estes filmes em “Marte Ataca”. Nos anos 60 não havia tanto otimismo na humanidade: os aliens invadem o planeta porque os humanos são uma ameaça universal e precisam ser aniquilados. E o filme termina de maneira assustadora e desesperançada: o casal sobrevivente escapa, mas descobre que tudo ao redor já foi destruído e estão sós no mundo. A dica é que existe o filme completo no You Tube, com legendas em inglês, a qualidade é mediana, mas quebra o galho.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Guns, Girls and Gangsters - 1959


Existiu Marilyn Monroe, existiu Jayne Mansfield, e existiu Mamie Van Doren. Elas foram as 3 M’s do cinema americano dos anos 50 e 60. Frisemos que a última, estrela do filme objeto dessa resenha, ainda está viva, forte e até pouco tempo ainda aparecia em Las Vegas. Maravilha. E, como tantas outras, ganhou sua chance no cinema pelas mãos do bilionário maluco Howard Hughes, e claro, se tornou sua amante. O começo foi meio rotineiro, mas a partir dos anos 50 conseguiu se destacar, ainda que a Fox tenha lhe impingido a imagem de uma imitadora de Marilyn Monroe. Mas a lourinha achou o nicho em filmes pequenos de temáticas variadas, mas principalmente focando na delinquência juvenil, no rock’roll, e também ficção científica e terror. Teve a honra de ser a primeira cantora a cantar um rock em um filme em 1957, e só por isso já mereceria a glória. No auge foi apelidada de “Atomic Blonde”. E neste filme B aquifoi um dos seus melhores trabalhos. A direção coube ao subestimado Edward Cahn, mais de 50 filmes no currículo sempre no universo dos filmes B. Fez de tudo: musicais, noir, terror, ficção científica, faroestes, capa e espada. Fantástico mesmo. Este filme é provavelmente o momento máximo na sua trajetória. Um B perfeito: péssimos atores – à exceção da nossa loura da vez -, história rápida, sem delongas psicológicas, mas extremamente eficiente e com bons diálogos, diga-se passagem, com direito até a piadinhas sobre filmes Bs. Mamie é Vik Victória, uma cantora de nightclub em Las Vegas, e namora o gangster proprietário do local. Só que ela é casada, mas o marido, interpretado pelo futuro Sartana dos spaghetti Lee Van Cleef está enjaulado. E aparece Chuck, um ex-presidiário que procura a loura para ajudá-lo a convencer o namorado gangster com um plano sensacional: assaltar um carro forte e roubar 2 milhões de dólares. Uma trama com semelhanças com outros clássicos de roubos, como “The Killing” de Kubrick, e “The Asphalt Jungle’ de John Huston. Tudo ensaiadinho e preparado para o golpe, eis que o marido bandido escapa da cadeia e aparece para bagunçar os planos de Chuck, que a esta altura já estava amarrado na loura chave-de-cadeia, mas de bom coração. Uma narrativa em off, à moda de um cinejornal , vai relatando toda a história, que como seria de se esperar termina em sangue e nada, o rio de dinheiro não passou de uma miragem, um sonho, que acabou em pesadelo para a garota, e os gangsteres.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Viy - 1967

Há algum tempo enrolando para assistir este filme russo, ou melhor, soviético, pois na época ainda era a URSS, poderosa rival dos EUA, e grande produtora de cinema também.E valeu a espera. É uma adaptação de um conto do gigante da literatura Nicolai Gogol, tido ao lado de Puchkin como o pai da literatura russa. O mesmo conto daria origem ao clássico italiano do terror, “A Máscara do Demônio” de Mário Bava. Só que aqui , ao contrário da adaptação italiana, extremamente infiel, temos um respeito quase canino pela obra do autor de “Almas Mortas”. Os diretores Georgi Kropcyov e Konstatin Yershovn conseguiram, com a ajuda de uma excelente direção de arte, recriar o clima maravilhoso da narrativa em todo o seu esplendor. Um seminarista e dois amigos buscam abrigo noturno em uma cabana no meio do nada. Uma velha bruxa ataca o seminarista Khoma e o deixa quase louco, depois de uma viagem alucinante pelos ares, em que a bruxa o usa como uma cavalgadura. Ao pousar ele consegue espancar a velha bruxa, que miraculosamente se transforma numa linda moça e retorna ao seminário, deixando-a agonizando. Alguns dias depois é convocado a prestar os últimos sacramentos à filha de um cossaco, que havia exigido sua presença. Mas ao chegar à fazenda, já encontra a moça morta e é obrigado pelo pai, a velar três noites o corpo dela. E para seu azar descobre que a moça, não era outra senão a velha bruxa que o havia atacado. E as três noites de vigília se tornam três noites de pesadelo cada vez mais apavorantes. A estrutura do filme obedece à lógica dos contos maravilhosos de fada, mais do que de um filme de terror, e daí seu profundo encanto. Uma atmosfera onírica que impregna cada fotograma. Imagino que um Tim Burton deve ter se inspirado demais nele para compor alguns de seus filmes. Uma autêntica joia soviética.