sábado, 24 de novembro de 2012

Ti Aspetterò All' Inferno -1960

Pensei em começar a resenha com um brado de excelente com ponto de exclamação e tudo. Mas me contive a tempo. O fato é que esse é o tipo de filme que nos deixa em um estado de embriaguez e felicidade depois de The end. Um problema com um filme assim tão bom: bate depois aquela falta coragem de revê-lo algum dia. Temo por uma futura decepção, não recuperar aquela sensação de empolgação que sentira na primeira vez que o vi. É o caso desse filme: certamente vou evitá-lo por algum tempo para fruir a intensidade da satisfação que tive ao assisti-lo. O cinema Italiano viveu no pós-guerra uma explosão desenfreada e espetacular de criatividade: todos os gêneros foram reinventados e influenciaram todo o cinema mundial, e até o americano teve que se curvar também. Este filme dirigido por Piero Regnoli é apenas mais um bom exemplo desse período de riqueza extrema. Um thriller com toques de filme noir americano e terror. Um crossover original na época. Três homens roubam uma fortuna em diamantes e buscam refúgio em um local isolado. Durante a fuga através de um pântano dois deles se desentendem e um morre afogado na areia movediça após ser espancado. Walter(John Drew Barrymore) e Al (Massimo Serato) buscam refúgio em uma casa isolada esperando que as coisas se acalmassem. No entanto o surgimento de uma mulher, que Al conhecera na cidadezinha,instala um clima de animosidade entre os dois bandidos. Paralelamente à tensão sexual e ao mistério que envolve Danielle (Eva Bartok) Walter, violento e histérico, passa a ser assombrado pelo suposto fantasma de Sam. Al, por sua vez, mais calmo e classudo, o oposto do companheiro, havia planejado o golpe, sonha apenas em fugir com sua parte do roubo e levar a moça misteriosa com ele. Qualidades de sobra do filme: boa atmosfera; perfis psicológicos dos personagens bem definidos e com nuances para além dos maniqueísmos, entre outras. O clima de terror é delineado apostando na sugestão e na ambiguidade, longe dos efeitos fáceis que os italianos abusariam nas produções de gênero.
Uma observação final: Boa parte dos filmes de hoje abdicaram do risco: chegam mastigadinhos, quase sempre com tramas simplórias e previsíveis: regurgitam cinco ou seis situações ad nauseam. Fico lembrando do caso narrado por Buñuel em sua autobiografia quando dizia que ele e um amigo montaram uma espécie de gráfico com todas as situações de um filme americano e com isso podiam adivinhar a trama de qualquer filme logo na primeira sequência. Este é de um tempo em que assistir a um filme era uma viagem ao desconhecido, e onde o gráfico de Buñuel seria ineficaz.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

The Great Texas Dynamite Chase -1976

Um precursor de Thelma e Louise? De fato, os dois filmes tem mais pontos em comum do que a coincidência, e não duvido que o roteirista do filme classe A de Ridley Scott tenha visto esse pequeno filme B. Naquele a pretensão pseudo feminista, nesse a insolência e a irreverência quase inconsequente. Com qual você ficaria, leitor imaginário? Eu fico com o segundo, óbvio. Este espaço é afinal de contas dedicado aos filmes perdidos, vagabundos, Bs, fuleiros e afins. Até gosto de algumas coisas de Ridley Scott ( “Blade Runner”, foi um marco para mim nos anos oitenta) e nem seria o caso de compará-los. Mas não resisto. O filme de Scott já foi realizado sob a égide, ou a praga, do politicamente correto. O filme B dirigido por Michael Pressman – com produção de Roger Corman - passa longe dessas questões e chocaria com certeza a horda que preconiza os bons e edificantes bons sentimentos. O meu cantinho é também uma espécie de pré-PC. Inconscientemente ou não talvez por isso procure evitar filmes recentes, ainda que não deixe de acompanhar o cinema contemporâneo. Mas isso é outra história. Para nos brasileiros o filme ainda reserva uma piadinha sacana após o The End quando o destino das personagens é elucidado. Mas estou adiantando. De que trata essa joia dos drive-ins dos anos setenta? Se já citei o filme de Ridley Scott está claro que o filme trata de duas garotas bandoleiras: Candy(Claudia Jennings) e Ellie Jo (Jocelyn Jones). Candy sai da prisão e a primeiro ato é entrar num banco, acender uma banana de dinamite e cometer um assalto; Ellie Jo, entediada com a vida que levava - funcionária relapsa do banco assaltado - ajuda a até então desconhecida bandida e entra de cabeça na vida errante de assaltos, tiros , escaramuças e loucas escapadas.
O cenário onde trafegam é o interior do Texas :pequenas cidades , isoladas e quase paradas no tempo , algumas sonhando com os tempos da confederação sulista. Bonny e Clyde, Bonnie Parker Story, Boxcar Bertha, The Getaway, Jesse James. Billy the Kid, Butch Cassidy e Sundance Kid e outros de filmes e nomes quase mitológicos que imortalizaram a figura romântica do bandoleiro livre e desesperado. Aqui o espectador não tem como não torcer para o sucesso das mocinhas.O final é sacana e irônico e, certamente ,impossível hoje. Lembrar este filme é uma boa desculpa para falar um pouquinho de Claudia Jennings, “Queen of the Drive-Ins”: ex-playmate nos anos 70, participou de 27 filmes e faleceu tragicamente em um acidente automobilístico com apenas 29 anos. Era mesmo uma gata, mas se não tivesse morrido é quase certo que não teria tido um futuro promissor: na altura do filme que comento já estava mergulhada de cabeça nas drogas e se revelava uma figura cada vez mais difícil de lidar nos estúdios. Uma pena, mas o que é importa é que deixou sua marca nesse e em outros ótimos filmes na curta carreira.

sábado, 10 de novembro de 2012

La Llamada - 1965



Olhando uma lista de filmes participantes do festival de cinema fantástico  Sitges de 1968, dias atrás, me chamou a atenção  o nome desse filme, para mim desconhecido até então. Meu amigo Francisco Rocha, do ótimo blog My One Thousand Movies, está organizando uma excepcional retrospectiva do festival ano a ano e me disse que não conhecia  também esse filme, e não tendo- o  encontrando não pode inclui-lo. A minha busca parecia fadada ao fracasso, até que descobri no Cinemageddon uma versão do filme com o título inglês de “Sweet Sound of Death”, que poderia ser traduzido como o doce som da morte. Um título bem mais retórico e poético que o seco original espanhol, sem dúvida. Não se trata, no entanto de uma coprodução  Estados Unidos/ Espanha comum nos anos 60 e 70. Os distribuidores americanos compravam produções europeias  e até argentinas, por exemplo, obscuras, e depois as dublavam, trocavam os nomes originais dos atores, e lançavam como filmes americanos. A prática gerava, no entanto vários problemas e o pior deles - que ocorre nesse filme -, cortes  por razões de censura ou às vezes simplesmente por  metragem.  Foi o caso aqui: a edição americana foi cortada em 10 minutos, sem nenhuma razão lógica, e diálogos alterados.  Felizmente pouco depois obtive a versão com as cenas cortadas e os diálogos originais em espanhol graças ao velho e bom E-mule e pude enfim ter exata noção das qualidades do filme. Confesso que com os cortes o filme me decepcionara um pouco, principalmente nos momentos finais. E o corte de 10 minutos era justamente nesse ponto do filme. Vá lá entender a cabeça do distribuidor americano da época.  Um filme que logo após a exibição submergiu na obscuridade quase absoluta, sendo resgatado  há pouco tempo graças a alguns  cinéfilos espanhóis.  Um filme deslocado: o gênero terror teve grande voga no país, mas só a partir de final da década de sessenta e nos anos setenta, sobretudo  com o gigante Paul Naschy. O diretor Javier Setó, catalão, deixou 26 filmes  antes de falecer prematuramente em 1969 aos cinquenta anos. E sem lograr um reconhecimento da crítica. Produção que mesmo para os padrões locais foi de segunda linha: B, portanto. Para finalizar as filmagens o ator Emilio Gutierrez Caba, contou em entrevista que teve que emprestar dinheiro do próprio bolso aos produtores. O filme tem início e o espectador parece que estará  diante de  apenas outra história de influências neorrealistas ou do cinema inglês da época:  atmosfera de tons melancólicos  e lúgubres. Um casal apaixonado: Pablo (Emilio Gutierrez), estudante, e Dominique( a polonesa Danyk Zurakowska), francesa. O fantástico  só irrompe sutilmente após o telefonema que o rapaz recebe da amada. Ela tinha viajado  para a casa dos pais, na França, passar o natal. Um acidente de aviação  e o nome dela fora incluída lista de mortos. O reencontro após o telefonema e  ela lhe diz de maneira casual que estava morta. Claro, que ele recebe a notícia como uma brincadeira. Filmada em uma Madrid permanentemente envolta em brumas, espectral, refletindo o interior melancólico  dos personagens. À medida que a narrativa de  desenvolve mais e mais Pablo enreda-se em um universo paralelo, onde as fronteiras entre a vida e morte adquirem outra relevância e significado. Para os familiarizados com o cinema fantástico B dos anos sessenta é evidente a semelhança  com a obra-prima “Carnival of Souls” de 1962, do americano Herk Harvey. Claro, que apenas  coincidências, pois seria pouco provável que Setó tenha assistido ao filme americano. O fato é que trata-se de um filme que navegava contra a corrente dominante do gênero terror da época:basta lembrar nos filmes góticos italianos ou da Hammer. Daí seu eterno fascínio. Como eu já informei ele pode ser encontrado no E-Mule,basta alguma paciência. 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Leonardo Favio -R.I.P

Um gigante do cinema argentino e mundial que se foi hoje. Resenhei há tempos sua obra-prima aqui nesse espaço: Nazareno Cruz y El Lobo.