sábado, 25 de dezembro de 2010

Five - 1951


Mais uma feliz descoberta via o inestimável blog do Carlos Reichenbach, “Olhos Livres “ que volta e meia dá excelentes dicas de filmes. No caso aqui desse filme foi mesmo uma boa surpresa. Trata-se de uma
produção B dos anos 50, mais especificamente de 1951, e teve direção de Arch Oboler, nome para mmim, rigorosamente desconhecido até então. O elenco nao tem nenhum nome ou rosto familiar. Isso se explica porque o diretor recrutou os atores junto à Universidade da Califórnia. A atriz principal do filme, Susan Douglas, nasceu na Aústria e fez carreira teatral no Canadá, tendo obtido largo reconhecimento por lá. Arch Oboler ganhou algum renome nos anos 40 nos EUA , dirigindo produções teatrais para o rádio. No cinema sua carreira foi curta e dirigiu apenas 11 filmes, todos obscuros. “Five”chamou a atenção por se tratar do primeiro filme que tratou diretamente do holocausto nuclear e de como seria um mundo após essa tragedia.
O diretor tomou como base para escrever o roteiro uma peça de sua própria autoria, “O mundo “. O custo do filme foi de apenas 75.000 dólares, quantia absolutamente rídicula até para produções B. O cenário em que se dessenrola a ação do filme, por exemplo, foi a própria residência do diretor: uma curiosa casa projetada pelo arquiteto Frank Lloyd Wright em Malibu .
E é nesse cenário inóspito e isolado que o espectador vai tomando conhecimento do drama que se desenrola com uma mulher desesperada e quase louca tentando encontrar alguma saída para o caos em que o mundo está. O filme começa exatamente com a destruição da vida no planeta. E Roseanne, tomando conhecimento da realidade em que se encontra vaga sem rumo ate encontrar a casa no alto na montanha e lá enfim, encontra um homem. Logo, os dois descobrem que podem existir mais sobreviventes e surgem mais 3 homens. E com os cinco personagens, o diretor, acostumado ao teatro desenrola um filme sóbrio e discreto, de tintas minimalistas. Esse minimalismo empresta ao filme seu charme peculiar. A mise-en-scéne de Oboler procura extrair o máximo de efeito dos enquadramentos ressaltando os rostos angustiados daqueles seres perdidos. Pode soar bizarro essa comparação, mas o cinema de Carl T. Dreyer e seus planos enfatizando os rostos, me vieram à mente enquanto assistia a este bom e surpreendente filme

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Target Earth - 1954


Mais uma produção B dos anos cinquenta, mais precisamente de 1954. Direção de Sherman A. Rose. No elenco Richard Denning, rosto familiar em produções da época e as atrizes Kathleen Crowley e Virgina Grey, ambas também presenças comuns em filmes do tipo. A trama não difere muito de outros filmes B de ficção-científica: aliens invadem a Terra e começam a destruir tudo que encontram pela frente. Apesar dessa premissa rotineira em centenas de filmes Bs ,não se pode negar que o fime até reserva alguns pontos interessantes: as sequências iniciais são muito boas, acompanhando a garota que ao despertar percebe que a cidade está deserta. Apavorada, vai caminhando pelas ruas até encontrar um estranho e se juntam, encontrando depois um casal, que alheio aos estranhos acontecimentos enchia a cara em uma boate , deserta naturalmente. Cientes da situação após se depararem com estranhos seres robóticos , os quatro se refugiam em um hotel e esperam o transcorrer dos acontecimentos. A partir daqui a trama divide atenção com o invitável grupo de militares aquartelados e os cientistas tentando encontrar um meio de impedir a consumação da invasão. O filme se desenrola praticamente neses dois cenários quase fechados e com poucos atores, deixando claro o baixo orçamento, mas demonstrando criatividade para superá-lo. As sequências inciais, no meu entender, realmente tiraram o filme do que seria uma produção B rotineira do período.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Amazons - 1986



Sábadao, meu filho me liga chamando para dar uma volta pelo centrão da cidade. Como o horário já não era dos melhores as opções se limitavam aos shoppings populares ou ao mercado central e optamos pela primeira. Uma expedição basicamente para procurar dvds raros, obscuros , piratas e afins. Não posso reclamar da caça: encontrei alguns filmes nacionais dos anos 70, inéditos em dvd e tambem nos blogs e sites de compartilhamento. Mas o melhor da expedição foi mesmo um dvd pirata de “Amazons”, de procedência duvidosa: a capa só dizia que era uma produção de 1986 e trazia uns nomes de atores de nomes ingleses., mas como era de esperar, mais desconhecidos que ator de teatro de peça escolar. Suspeitei que fosse mais uma produção italiana sobre as guerreiras amazonas: aquelas tranqueiras com um bando de mulheres gostosas lutando em algum reino perdido da idade da pedra ou de alguma era indefinida de um passado remoto. Chegando em casa e pesquisando mais a fundo , na rede, descobri que na verdade estava diante de uma produção…..argentinaaaa ! um espanto. Nunca imaginei que los hermanos tivessem se aventurado tambem por esse gênero de cinema mais do que B, quase Z. Reinos com nomes esquisitos , guerreiras semi-nuas e gostosonas e peitudas, entre outros , está tudo lá para o prazer e deleite: nossos vizinhos ,muto tarimbados na arte do cinema popular e desencanado não fizeram feio. As cenas de batalhas sâo como de praxe hilárias e as mulheres ficam mais nuas do que o habitual nesse tipo d efilme. Alegria dupla para os marmanjos. A direção desse colosso é de Alessandro Sessa e ao que tudo indica os atores são mesmo americanos e não estão escondidos sob pseudônimos. Diversão garantida sob todos s aspectos. Valeu enfrentar o calor de sábado a tarde em BH.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Chinese Ghost Story - 1987


Estamos aqui diante da obra-prima do cinema de Hong Kong na década de oitenta. Mistura única e exemplar de filme de ação, comédia, aventuras, espada chim, artes marciais , história de amor e terror. Um mix único que sós os orientais souberam realizar com habilidade.A história começa seguindo os passos de um humilde e desengonçado(e chapliniano) coletor de impostos, que chegando a uma cidade, precisa encontrar um local para a dormir à noite. Um habitante indica-lhe um templo que tem fama de mal assombrado. Não se importando com isso ele parte para o local, que realmente é infestado por todos os tipos de fantasmas possíveis. Mas lá ele encontra uma linda e misteriosa moça, que não passa, de outro fantasma. O único ser vivo no local é um espadachim e monge taoista bastante maluco que tenta livrá-lo dessa aparição. Inútil porque o rapaz cai de amores por ela e é retribuído em seu amor. O problema é , que se ela é um bom fantasma o mesmo não se pode dizer do noivo- um terrível monstro- e , as irmãs, igualmente perigosas. Aqui temos o mais puro cinema de Mélies em suas imagens inocentes e mágicas. Quem está familiarizado com o visual delirante de Sam Raimi e Tim Burton, perceberá de onde os dois americanos buscaram mais do que a inspiração. A trilogia “Evil Dead” de Sam Raimi é descaradamente calcada no filme chinês e beira o plágio em determinadas sequências. Quase desnecessário dizer que essa exlosiva mistura de gêneros é narrada em ritmo exuberante e vertiginoso, quase um carrossel de imagens alucinadas, um trem fantasma turbinado à enésima potência. Uma maravilha para os sentidos. o filme obteve diversos prêmios no Festival de Cinema e Hong Kong, quando do seu lançamento e foi exibido em todo o mundo com sucesso absoluto. Ao que me lembre nunca foi exibido em Pindorama. Feizmente não é difícil de obter na rede. A busca vai valer a pena.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Lilith - Robert Rossen - 1964



“Lilith “foi o último filme na carreira do errático diretor americano Robert Rossen. Realizado em 1964 e recebido com frieza pela crítica americana. O astro do filme , Warren Beatty não ficou satisfeito com o resultado e manifestou seu repúdio. Abatido, Rossen se retirou do mundo do cinema e nao tardou em morrer algum tempo depois, encerrando assim uma carreira marcada por poucos e excelentes filmes. O tempo mostrou que a crítica americana da época , pra variar, estava errada, e hoje “Lilith “tem status de obra-prima. Não resta dúvida que o espectador tem diante de si uma obra poderosa, única e marcante. Nenhuma obra americana havia mostrado com cores tão fortes ate então situações de lesbianismo e pedofilia de maneira tão radical. E pra sermos francos,..nem depois. Creio que se fosse realizado hoje problemas de toda ordem com a censura velada que existe no cinema comercial americano aconteceriam.
Jean Seberg é a Lilith , uma paciente de um hospital psiquiátrico que tem seus talentos: pinta, desenha e faz música. Manipuladora enigmática, ela vai se envolver com Vincent( Warren Beatty) ex-veterano da guerra da Coréia, que trabalha no hospital como ajudante. O encontro desses dois jovens resultará numa história de amor estranha e e perturbadora como poucas . O rapaz, é aparentemente normal. Mas por alguns detalhes percebemos que a mãe era insana tambem e guardava ainda uma extraordinária semelhança com Lililth. Temos aqui o mais próximo que o cinema americano chegou da obra de Ingmar Bergman em termos de densidade psicólogica e requinte narrativo.
A abertura do filme sugere uma teia de aranha e mais tarde o personagem do psiquiatra irá a usa-la como metáfora para distinguir as pessoas normais dos esquizóides. A mise-en-scene de Rossen se faz com enquandramentos que sugerem e delineiam esta metáfora da teia e do comportamento esquizóide de Lilith que vai enredando todos ao seu redor.
O filme é curioso pela presença de futuros astros do cinema em pequenos papeis: Gene Hackman, numa única e excelente sequência : Peter Fonda, como um paciente apaixonado por Lilith e que Vincent induz ao suícidio.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Satánico Pandemonium - 1972



Um dos sub-gêneros mais peculiares que surgiu da exploitation, foi sem dúvida a nunsploitation , que como o nome sugere- NUN – trata do universo das freiras, Cronologicamente ele surgiu em 1971 com o lançamento do filme “Os Demônios”do loucaço cineasta inglês Ken Russell. O sucesso desse filme desencadearia uma onda de filmes que abordavam o misterioso universo dos claustros quase sempre sob uma ótica francamente sensacionalista e apelativa : muito sexo, geralmente sáfico, violência e terror- pois até freiras vampiras dariam o ar da sua graça. Mesmo cinematografias distantes do universo cristão, caso do Japão, produziram filmes sobre freiras ; nosso Brasil, também teve seu exemplar do gênero, “A freira e a tortura “ . Com “Satanico Pandemonium” temos um dos muitos exemplares desse sub-gênero , que teve seu apogeu na década de 70. O filme foi realizado no México em 1972, mas devido a problemas com a censura só seria exibido em 1975( diga-se de passagem que do mesmo país outro filme de sucesso no gênero seria realizado em 1978, “Alucarda “.) O filme dirigido pelo prolífico diretor Gilberto Solares , que tem no currículo mais de 200 filmes, rapidamente se converteria num dos mais destacados e interessantes pela maneira inusitada com que mergulhou no universo das freiras. E o resultado foi uma obra blasfema e surreal. Ecos da obra de Buñuel podem ser pinçados aqui e ali – pensemos na imagem do santo no altar sem os braços: imagem bunueliana por excelência - ; Marquês de Sade, outra presença onipresente ao longo do filme; Lautreamont e seus “Cantos de Maldoror “. A matriz do filme está na obra-prima do romance gótico inglês “O Monge “de Mathew Lewis, novela idolatrada pelos surrealistas e por Buñuel, que sempre almejou filmá-lo, tendo chegado a escrever um roteiro e, que , infelizmente não pôde realizar. De qualquer modo, o díscipulo e bíografo Ado Kyrou filmaria o roteiro na década de 70 com bons resultados. A obra de Lewis tinha como tema as tentações a que é submetido um virtuoso monge, pelo próprio Satanás, com consequências medonhas. No nosso filme em questão temos Soror Maria , . (interpretada pela bela Cecília Pezet) pura, virtuosa e admirada por todas as colegas. Nas sequências iniciais vemos este exemplo de virtude em meio a um cenário edênico : um bosque onde pastam ovelhas, os pássaros cantam e ela se distrai colhendo flores silvestres. E de súbito eis que diante dessa Chapeuzinho Vermelho,o lobo surge encarnado na pele de um misterioso homem nu. A aparição desse estranho – que logo ficará claro para o espectador que estão diante de Lúcifer em pessoa – que oferece à freira uma maçã e desencadeia uma reviravolta no universo até então puro da freira. O resultado será a derrubada dos muros do Jardim Do Éden e a entrada da freira nos prazeres do inferno. Estes prazeres que são simplesmente os prazeres da vida e mais alguns do mundo que Luzbel descortina para a freira e estão incluidos o inevitável lesbianismo, a pedofilia, o assassinato e até o sexo com o ele próprio. O que o Príncipe das Trevas faz é simplesmente rasgar o véu e desvelar por trás do religioso o que era simplesmente vaidade e carolice . Como no romance de Lewis . Um trabalho de certo modo fácil para Lúcifer.
Mais do que simplesmente explorar os elementos apelativos da história ,o filme demonstra uma curiosa preocupação com a crítica social : duas freiras do convento sao negras e realizam todo o trabalho pesado. Uma delas lamenta com Soror Maria , dizendo que fugiu da escravidão e buscou refúgio ali no convento e ao invés da liberdade encontrou uma vida mais dura e cruel do que tinha quando escrava. Algumas lendas curiosas cercaram o filme e a melhor delas dava conta de que os produtores contrataram prostitutas para interpretar as freiras do convento. A verdade é que estamos diante de um filme que transcendeu os limites do gênero e adquiriu status de cult com méritos. Basta dizer que Quentin Tarantino e Robert Rodriguez batizaram com o nome de Satanico Pandemonium a personagem de Salma Hayek no filme “Um Drink no Inferno “numa clara homenagem . Lá fora a “Mondo macabro”, produtora especializada em lançar dvds especiais, realizou uma ótima edição com vários extras , que infelizmente nao foi lançada aqui ainda. Menos mal que em vários sites de compartilhamento é possível baixar esta jóia cinematográfica. .

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Byleth -O Dêmonio do Incesto - 1972


Uma pequeno e obscuro exemplar do eurotrash dos anos 70, mais precisamente vindo da Itália, pródiga em realizar este tipo de filmes que combinavam erotismo acentuado, horror, violëncia e o que mais tivesse à mão para atrair público e causar impacto. Este filme foi dirigido pelo igualmente obscuro Leopoldo Savona, mais “conhecido”por haver realizado alguns westerns spaghetti lembrados apenas por fãs mais empedernidos. Fugindo completamente ao estilo acima, temos aqui outra típica producao pensinular do período e que fará o deleite dos apreciadores da exploitation . Para quem acha que cinema italiano é Fellini, Pasolini e cia ltda, melhor passar longe. Aqui temos um filme estritamente popular, como só os italianos sabiam fazer. e que causaria indignacão aos cinéfilos puristas. “Byleth – O dêmonio do incesto” tem nudez de sobra para os voyeurs, com belas mulheres se desnudando a todo momento; atores canastrões e uma trama que beira o nonsense e o incoerente às vezes. E apesar de tudo, que deleite este filme !

A trama é ambientada no sec 19 e traz elementos das narrativas góticas , emprestando ao filme uma atmosfera irreal , quase surrealista. Mark Damon, ator canastrão e conhecido por trabalhar até com Roger Corman, é Lionello, um nobre melancólico e que nutre uma paixão incestuosa pela irmã Bárbara (Claudia Gravy) . Após uma longa ausência ele retorna ao castelo da família e a encontra, agora casada.. Sua chegada coincide com o ínicio de uma série de misteriosos e brutais assassinatos de mulheres da região. Entramos então no terreno do giallo, gênero fecundo do cinema popular italiano do período. O filme se desenvolve de maneira contemplativa e ambígua: tudo pode nao passar afinal de contas de um produto da mente doentia de Lionello. Um pesadelo.

O filme foi uma dica do querido Carlos Reichenbach , em seu blog “Reduto do Comodoro” e que além de sempre indicar filmes raros como este, vez ou outra dispõe para o público de links para downloads de filmes especiais.

“Byleth”nunca foi exibido comercialmente no Brasil, ao que parece, mas é agora facilmente encontrado na internet para baixar. Quem tem gosto cinematográfico despido de preconceitos pode arriscar

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Curse of undead - 1959


Eis aqui um filme que sempre me atraiu por diversas razões Algumas razões de ordem afetiva que remetem à minha infância . A primeira vez que assisti este filme foi numa sessão noturna da TV Itacolomi, la na pequena Paraopeba, e como era de se esperar me impressionou vivamente aquele filme em que o pistoleiro era um vampiro e nunca mais aquelas imagens sairam da cabeça. Os anos se passaram e o nome do filme sumiu na memória, mas não algumas imagens. Já adulto, graças a um amigo cinéfilo, o mistério se desfez e foi revelado o nome do filme : “The curse of undead “. Um legítimo filme B e provavelmente a raiz do meu fascínio pelo universo do filme B. Uma viagem de férias a Nova York quatorze anos atrás me permitiu adquirir um VHs do filme. A busca por ele exigiu caminhadas pelas ruas do Village , entrando e saindo de pequenas lojas de filmes, ate que numa da Bleecker Street pude enfim reencontrar essa autêntica madeleine da minha infância. Já agora nos tempos digitais descobri com pesar que não este filme permance inédito no formato DVD . Com algum dose de persistência pude encontrá-lo para download num site de compartilhamento e pela terceira vez reencontrei esta pequena jóia do filme B. Estamos aqui diante de um dos filmes mais singulares desse universo tão particular pois trata-se de uma mistura de dois gêneros aparentemente opostos: o western e o filme de terror. Edward Dein, o diretor e também roteirista do filme, juntamente com a esposa, obviamente não tinha muito recuros para realizar o filme e teve que apostar num bom elenco encabeçados por Eric Fleming, no papel de Dan, e Michael Pate , no papel de Drake , o pistoleiro vampiro. Diga-se de passagem que Pate, oriundo da Austrália foi um renomado crítico teatral e e depois foi produtor cinematográfico e diretor de filmes, sendo inclusive responsável pela estréia no cinema do astro Mel Gibson. Além do bom elenco o recurso foi enfatizar o clima fantasmagórico com efeitos sonoros feitos por um teremin e a explorar o cenário desolado de uma cidade quase fantasma, onde praticamente não se vê nenhum ser vivo. A trama é relativamente simples: um estranho e soturno pistoleiro chega à cidade e é contratado pela mocinha Dolores, para cuidar do rancho. O namorado, Dan, que é tambem pastor da cidade, logo começa a perceber que há algo estranho com o pistoleiro e tenta dissuadir a namorada da idéia de mante-lo no rancho. O conflito é inevitável e leva ao inusitado duelo final entre um pastor e um pistoleiro, que se revela um vampiro. Sem dúvida um dos faroestes mais bizarros da história. Ainda ontem num encontro com amigos estavamos recordando alguns westerns com duelos bizarros e citamos este filme como digno de figurar numa hipotética lista dos dez mais do faroeste no quesito estranheza. Lembrando ainda que outra pérola B seria feita depois quase nos mesmos moldes : “Billy the Kid contra Drácula “, com John Carradine no elenco e que praticamente emulou a estrutura narravativa do filme de Edward Dein, com resultados inferiores, mas igualmente curiosos .

O Cangaceiro - 1970 -

Ao contrário do que eu havia presumido inicialmente não estamos aqui diante de uma refilmagem do clássico brasileiro do diretor Lima Barreto que tem o mesmo título. Estamos diante de uma obra ítalo-espanhola e com história diferente. Curiosamente a contracapa de uma edicao européia do dvd assinala que trata-se uma refilmagem. Nada a ver. Este filme que abordo aqui é um híbrido de gêneros que só o cinema italiano popular dos anos 60/70 era capaz de produzir. E aqui temos um filme de cangaceiros, como o título obviamente mostra, com elementos de western spaghetti, que naquele ano – 1970 – vivia sua fase de ouro. Filmado com certeza aqui no Brasil e , curioso , praticamente não tem ninguem daqui no elenco ou na equipe técnica, à excecao de uma espantosa e inusitada figuracão que por si só já tornaria o filme digno de nota : Baby Consuelo, a Baby do Brasil, entao vocalista dos Novos Baianos, fazendo uma ponta logo no ínicio do filme. Singular. filme de Giovanni Fago, diretor italiano obscuro e tambem um dos roteiristas do filme, ao lado do espanhol José Luiz Jerez Aloza, comeca com a trama clássica das histórias de cangaco: a vinganca. Espedito , quando tem ínicio a história , é um sertanejo simples, que após ver seu pai e sua vaca serem mortos pelos volantes, decide buscar sua vendetta. E faz questão de dizer que busca a vinganca porque mataram ..sua vaca. Hilário e bizarro. Salvo e curado por um ermitão, com tracos típicos dos beatos nordestinos, o rapaz se transforma numa espécie de andarilho místico pregando pela caatinga. Logo percebe, no entanto, que este não seria o melhor caminho e forma seu bando de cangaceiros. Thomas Milian, um ator de renome e atuante ate hoje, tem uma interpretacão a meio caminho entre o cômico e absurdo , que lembra Johnny Depp como o pirata maluco de “Piratas do caribe”. A questão política nordestina serve como pano de fundo da história. A exploracão do petroleo é a principal motivacão dos poderosos para massacrarem os cangaceiros e os camponeses. Sem dúvida o diretor buscou aqui inspiracao nos filmes de cangaco realizados por Glauber Rocha nos anos 60 e que tinham Antônio das Mortes, como personagem principal. Todo o filme tem uma aura quase surreal e barroca, involuntária as vezes. Sem dúvida, é o filme mais bizarro já feito sobre os bandoleiros nordestinos, aparte nosso nacional “Kung Fu Contra as Bonecas” (mas neste caso tratava-se uma comédia ) . Imaginem sò: em umas das sequências o bando de cangaceiro enfrenta gangsters americanos, trazidos da América, com metralhadoras e tudo ! Surreal ate a médula. Em outra sequência igualmente quase absurda , os camponeses de uma vila, desmontam o carro de um engenheiro e só deixam do mesmo a carcassa…. Outra sequência de destaque é a do baile oferecido pelo governador sacana aos cangaceiros: o jantar que comeca pomposo, ao som de uma orquestra tocando sonatas e valsas , termina com um forró alucinado, com serventes, cangaceiros, madames e o escambau , dançando pelo salão ao som da mesma orquestra agora envenenada com zamumbas e tambores. Até o arcebispo é flagrado batendo os pezinhos ao som do forró. Por um instante vislumbrei toques bunuelianos. Involuntário e insano. Só uma arte popular como o cinema permite este crossover entre popular e, digamos assim, erudito.Não pude averiguar com seguranca se este filme foi exibido no Brasil na época. Provavelmente não, haja vista o fundo político espinhoso para a entao ditadura militar. Comparado aos nossos filmes de cangaceiros que tambem viviam seu auge, esta obra estrangeira não faz feio, apesar da infelidade histórica e anacronismos. Nossos filmes do ciclo do cangaco tambem raramente primaram pela fidelidade. Com raras excecões tivemos faroestes disfarcados de filmes de cangaco. Troque as vestimentas e a trilha sonora e teremos um western como outro qualquer. O filme não é uma obra-prima do cinema: - trata-se uma obra cinematográfica dentro dos padrões do cinema italiano popular dos anos 70 e que agora estao sendo revalorizados e apreciados gracas aos blogs e cineastas como Quentin Tarantino e Robert Rodriguez , entre outros. Mas é um um fime digno de ser visto.
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010


Ride the pink Horse - 1947

Nem preciso dizer que tenho um fraco por filmes noir. Eta generozinho sedutor e fascinante. Alias, dizer que Noir é um gênero é meio que forcar a barra. Muito filme enquadrado no gênero não tem nada realmente com ele. Muito mai do que um gênero, estamos diante de um estilo muito particular que se desenvolveu no cinema americano nos anos 40 e se estenderia ate meados dos anos 50.
E descobrir um novo/velho filme é sempre um prazer. Caso desse “Ride the Pink Horse “ dirigido pelo ator Robert Montgomery em 1947, para a Universal. No Brasil recebeu o título melodramático e abolerado de “Do Lodo brotou uma flor “. Vá la entender o que se passava pela cuca dos caras que faziam esses títulos. No roteiro o grande Bem Hetch, baseado numa novela de Dorothy Hughes.
Este é por assim dizer um noir típico, com todos os seus ingredientes básicos: a trama se desenvolve em torno de um ex-combatente que chega a uma pequena cidade do Novo México para vingar a morte de um amigo e chantageia o chefão do crime local, responsável pela morte. O diretor desfila os temas clássicos do noir: cinismo, desencanto (nos diálogos secos e cortantes) ; a femme fatale; a brutalidade. Montgomery, mais conhecido pelo trabalho de ator, surpreende com uma direcão requintada e sutil. A narrativa se mantem ambígua e oblíqua ate o desenlace final. E o fim é cínico e desencantado , muito longe de um happy end reconfortante. Estamos diante de um filme sobre as escolhas e opcões que um homem tem que fazer na vida. Uma fábula amoral e melancólica., não sem um resquício de ironia quando a pequena mexicana que ajudara Gagin conta para os amigos o que havia se passado. Alguns consideram este exemplar do filme noir um dos 10 melhores já realizados. Concordo plenamente com a inclusão dessa jóia nessa lista… .

sábado, 3 de abril de 2010

Dog Eat Dog - 1963




Grande achado esse filme. Alias so o descobri devido as dicas sempre otimas do meu amigo Paulo Augusto. E, abrindo um parentesis, e gracas a suas dicas que tomei contato com a obra de Joseph H. Lewis , um dos meus cineastas americanos favoritos. Falando em diretor o primeiro aspecto que chama a atencao em "Dog Eat Dog " e o fato de que 3 diretores tocaram o filme, sem contar uma maozinha extra de Albert Zugsmith. Ray Nazzaro e Richard Cunha dirigiram o filme , mas Gustav Gravin, alemao, assinou o filme. Esse excesso de maos atras das cameras e mais uma penca de problemas durante, antes e apos as filmagens indicavam uma catastrofe cinematografica. E contrariando todas essas expectativas eis que estamos diante de um filme singular. Uma pequena obra prima do cinema B. Ao que tudo indica o filme nasceu de uma tentativa desesperada dos produtores de reerguer a carreira -entao em franco declinio - de Jayne Mansfield, uma sub Marylin Monroe, que teve ascensao meteorica mas que rapidamente perdeu prestigio e so se manteve em evidencia nas colunas de fofocas. Registre-se que a atriz foi a primeira a aparecer nua em uma producao cinematografica, no filme "Promises, Promises" realizado no ano anterior ao nosso filme. Outro fato curioso na carreira da atriz : para atuar em seu primeiro filme ela teve que pagar ! Em "Dog eat Dog" ela estava gravida de quatro meses, um dos motivos pelas confusoes nas filmagens, e os diretores tiveram trabalho extra para disfarcar seu estado interessante.
Bizarro, frenetico, louco, sao adjetivos que poderiam definir esse filme tao conturbado. Eu diria que e um cruzamento de Samuel Fuller com Russ Meyer. Ou seja : um noir de baixo orcamento - low budget - com toques de explotation. A historia de tres bandidos que realizam um grande roubo e buscam refugio numa ilha deserta e narrada em ritmo alucinante. Os atores incorporaram bem o clima absurdo e quase surreal da historia e atuaram de maneira embriagante e alucinada. Quando chegam a ilha no Mediterraneo , descobrem que a mesma nao estava abandonada. La encontram uma velha milionaria louca e seu mordomo, careca e gordo, meio louco tambem. Uma parodia da obra-prima de Billy Wilder, "Sunset Boulevard"? . A sequencia inicial e excelente e impactante, digna da abertura de "Naked Kiss " de Fuller -para mim umas melhores sequencias do cinema : Jayne, de babydoll, rolando na cama envolta em milhares de notas de dolares e rindo freneticamente. Muito boa mesmo. O filme , infelizmente ainda nao teve edicao nacional em dvd . Mas na decada de sessenta foi exibido por aqui, inclusive em BH, e mereceu criticas elogiosas do jornal Correio da Manha. O titulo nacional foi "O crime caminha ao meu lado ".

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Rampage -Phil Karlson


Phil Karlson e hoje definitivamente um dos meus diretores americanos da era classica, favoritos. Sua filmografia e extensa e inclui policiais - todos soberbos , westerns, dramas de guerra e ate filmes com os 3 Patetas. Quase toda a sua filmografia se realizou no universo do filme B, ou seja sempre com orcamentos limitados, o que nao o impediu de mostrar todo o seu talento. Este filme aqui ja dos anos sessenta - de 1964 -e tem no elenco o grande Robert Mitchum, Jack Hawkins e a italiana Elsa Martinelli. Como de habito Karlson nao conta so uma historia. O tema principal- no caso aqui uma cacada a tigres na Malasia - e somente uma das historias que se desenrolam: outras se cruzam e se entrelacam : temos a historia de um cacador ja velho e decadente, Otto (Hawkins), temos a historia de uma moca que desde os catorze anos era amante desse cacador e temos tambem um triangulo e amoroso entre o cacador mais jovem, interpretado por Mitchum ( ja meio coroa tambem,kkkk) e esse casal sui generis. Os dialogos sao um caso a parte: muito bons mesmos. Ha ao longo do filme muitas ironias sobre as diferencas de comportamento sexuais entre americanos e europeus, mas tambem questoes dos problemas do amor de um velho por uma jovem e por ai vai. E algumas brincadeiras tambem sobre as diferencas entre a sexualidade asiatica dos camponeses malaios e os americanos. No caso aqui a todo instante o guia da expedicao oferece a sua esposa ao cacador interpretado por Mitchum. Como se ve estamos longe de um banal filme sobre cacadas . E Muito mais do que isso. E o final e surpreendente porque Karlson simplesmente inverte mais ainda o filme de cacadas tradicionais : o climax do o filme e uma cacada a um tigre em plena cidade e no alto de um predio.

Ivy -Sam Wood


Prosseguindo na recapitulacao de bons filmes do genero noir que nao sao muito badalados e que mereciam destaque eis outro bom filme : Ivy do americano Sam Wood, um diretor de longa carreira em Hollywood e sem grandes atencoes da critica por seus trabalhos. O filme aqui em questao estrelado por Joan Fontaine e um decente drama noir. O filme e de 1947. A moca tem carinha e jeito de anjo mas e daquelas que levava os homens a ruina. Casada com um milionario arruinado - que ela, e claro, levou-o a isso - vemos no inicio do filme que ela esta lancando suas garras em um milionario que pratica a aviacao. O que vem a seguir e o lento e agonico processo de deterioracao de uma mulher corroida pela ambicao. O filme e , curiosamente, ambientado no inicio do seculo, na belle epoque, algo nao muito comum ao genero noir. Uma boa producao em todos os sentidos e sem duvida digno de uma reavaliacao. Felizmente o otimo site espanhol Noirestyle dedicado ao Noir disponibilizou essa joia cinematografica.

So evil My Love - Lewis Allen



Ta ai um diretor que sem duvida merecia mais atencao: Lewis Allen. cada vez que vejo um filme desse cara - que alias nao fez muitos filmes - me convenco que estou diante de um grande diretor. E esse filme e mais uma prova da sua capacidade. Um drama noir perfeito. Grandes atuacoes. Grande fotografia e direcao melhor ainda. O elenco e encabecado por Ray Milland, perfeito como sempre. O elenco feminino tem a lourinha Ann Todd. Ele e um inescrupuloso vigarista e que , por incrivel que pareca, e pintor. Ela e a viuva de um missionario. Ambos se conhecem num navio que vinha da Jamaica em direcao a Inglaterra. A questao da natureza e da seducao do mal e desenvolvida com maestria por Lewis Allen. Poucas vezes se viu no cinema o retrato angustiante da tentacao e da danacao. O drama da insossa viuva pobre que e arrastada ao crime pelas maos do diabolico pintor vigarista e digno de um Dreyer ou de um Ingmar Bergman . Ela se transforma numa calculista fria capaz de todos os crimes. E ele que a principio so queria se aproveitar dela -ironicamente e cruelmente- acaba se apaixonado por ela. As sequencias finais sao a celebracao do amor maldito e condenado a danacao eterna. Perfeito.

PS; Mais uma vez citando os dois diretores a proposito de um filme - esses dias lembrei deles a proposito de um filme brasileiro. E agora e um noir que me remete mais uma vez aos dois mestres do cinema nordico. Bem eu poderia ter lembrado tambem o catolico jansenista frances Robert Bresson a proposito desse drama de Allen.

domingo, 10 de janeiro de 2010

South sea woman


Uma simpatica producao americana de 1953 com direcao do prolifico diretor Arthur Lubin. No elenco Burt Lancaster , Virginia Mayo e Chuck Connors. Uma narrativa em flashbacks narrados por varios personagens conta a saga de dois mariners americanos e uma mulher pelos mares da China na segunda guerra mundial. O filme equilibra na narrativa boas doses de aventura e humor. Imperdivel e hilaria a cena em que Lancaster usa um baby doll escrito Mimi. Os dialogos tem verve desobra e a relacao entre os dois soldados e a mulher obviamene se transforma num triangulo amoroso. o frances Truffault com certeza deve ter visto esse filme para fazer o seu Jules e Jim, que como sabemos tambem conta a mesma historia de dois homens dividindo o amor de uma mulher. Um filme que merece uma revisao. Nao e uma obra prima mas e acima da media.