quinta-feira, 31 de outubro de 2013

La Lunga Notte di Veronique - 1966

Pérola obscura do gótico tardio italiano que ainda espera o resgate e edição em DVD, como tantos outros filmes peninsulares daquela época.  A cópia única que circula por sites como o Cinemageddon, por exemplo, se origina de um antigo VHS dos anos 80. A fortuna crítica é quase inexistente. Gianni Vernuccio dirigiu 22 longas entre a década de 50 e70, nenhum deles alcançou  nenhuma  repercussão. No elenco nenhum nome de menção . A estrela do filme , Alba Ragazzi, não passou  desse filme, e foi uma das tentativas fracassadas de produtores  em lançar uma nova Cardinale, Loren, etc. A moça tinha vencido o Miss Itália no ano anterior e o filme foi  com certeza uma tentativa de veículo no cinema. O fracasso do filme parece que a desanimou e nunca mais se teve notícia dela. Um jovem após a morte dos pais em um acidente descobre que o avô é um conde ricaço que vive num castelo e vai visita-lo.  Após alguns dias conhece uma moça misteriosa passeando pelos arredores e se enamora dela. Classifica-lo de gótico é um exagero, pois a trama se desenrola em ambiente moderno, quebrado apenas por flashbacks na época da guerra e que esclarecem o mistério do  passado do Conde e da moça. Mas temos um castelo, corredores escuros e um legítimo fantasma com um segredo mortal. Melodrama com toques românticos, terror tênue e sem arroubos excessivos. A sensualidade é discreta no quesito nudez, fato raro no cinema italiano da época. Daí o fracasso do filme? Provavelmente, se considerarmos que estávamos no alvorecer do giallo , os espectadores queriam mais sangue mais carnes expostas. Sexo e morte explicitados no écran, sem sutileza e devaneios. O clássico obscuro  americano “Portrait of Jennie” de William Diertele, filme favorito de Bunuel, e matriz de todas as histórias de homens apaixonados por moças misteriosas é a inspiração longínqua desse filme que relembro. Boa caçada.

sábado, 19 de outubro de 2013

Cry for me Billy - 1972

Western é um gênero infelizmente morto, não se adaptou á lógica sinistra dos blockbusters. Uma pena. As tentativas recentes de revive-lo  foram desastrosas, só para lembrar “The Lone Ranger” e “Aliens and cowboys”. Nos anos 70 as produções já rareavam, mas aqui e ali obras primas  surgiram já adaptadas ao universo da contracultura, ecos de 68, conceitos  anticapitalistas e uma visão holística e tolerante com  os índios e minorias. É nesse contexto que este pequeno e obscuro filme está inserido. O título quase me enganou acreditando que estava diante de mais uma versão da vida de Billy the Kid. Longe disso. O que temos é um western melancólico e outonal, na linha dos filmes de  Monte Hellman ,Peckinpah e Boetticher. Billy, um pistoleiro errante salva uma índia apache de alguns soldados . Ambos iniciam uma jornada sem rumo pelo deserto, e pouco e pouco, como seria de se esperar uma relação se estabelece entre eles. Nenhum otimismo, contudo, e a tragédia não vai tardar em se abater sobre este amor maldito. O erotismo é componente forte no filme. A índia passa boa parte do filme nua, e as cenas de sexo são graficamente  fortes. O espectador está  diante de um faroeste exploitation de certo modo. Maria Potts, a índia, era dublê e só  atuou em três filmes. O trabalho aqui foi fácil, pois não abriu a boca em nenhum momento, limitando-se a gemer, grunhir e ficar nua. O mesmo sobrenome do ator principal entrega que eram casados fora das telas. No elenco a presença sempre carismática de Harry Dean Stanton, que infelizmente só dá as caras no inicio e no fim do filme. William Graham ,o diretor ,teve carreira longeva dirigindo episódios de séries de  TV, este foi um dos seus raros trabalhos para o écran. Um pequeno western  que se não chega a ser brilhante  merece uma conferida.  Existe um torrent dele ainda com seeds: http://thepiratebay.sx/torrent/8744441/

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

The lady Avenger - 1981

Taiwan sempre teve , assim como na politica, a cultura cinematográfica obscurecida pelo gigante chinês. E mais do que isso: confundido com o cinema de Hong Kong.  Mesmo em blogs podemos observar certa confusão com relação aos filmes. Entre 1979 e meados da década de 80, ou seja, um período curto, o cinema local viveu sua fase exploitation , apodada “Taiwan Black Movie”, e que  agora vem despertando interesse de cinéfilos mais abertos e curiosos.  Como estamos falando de exploitation não é difícil imaginar a temática desses  filmes: estupros, vinganças, criminalidade, sexo, violência e horror. Assim como em outras cinematografias onde a exploitation teve seu momento  tudo acabou num piscar de olhos em fins da década de 80. Vários motivos contribuíram: censura política, que obviamente não via com bons olhos um tipo de cinema que denegria o país, economia, e principalmente o fato de que boa parte dos filmes era financiada pela máfia local. Muitos filmes perdidos, e os que sobreviveram  graças a edições VHS piratas lançadas em Hong Kong. Nada muito diferente da nossa Boca do Lixo, por exemplo, cuja maioria absoluta dos filmes sobreviveu graças à pirataria. O filme que relembro ganhou exibição em um grande festival de cinema asiático realizado em julho em New York, ao que tudo indica na única cópia existente e em 16 mm.  Vingança e estupros aos montes no menu. Uma modelo muito bonita abandona o set e sai por uma estrada deserta pedindo carona. Ingenuamente troca de roupas diante do motorista e logo em seguida é estuprada e espancada. O tarado era um playboy filho de umas das famílias mais poderosas locais. Sendo assim o processo que a moça  move contra ele não dá em nada, e só  lhe resta, após uma malograda tentativa de vingança, o suicídio. Uma repórter ( interpretada por  Luk Sin-Fan, outra beleza de mulher) acredita na história dela  e resolve prosseguir com o caso, despertando  os desejos lúbricos do tarado playboy que passa a segui-la nas caminhadas noturnas. Mas antes que ele alcance seus desejos pervertidos, ela atacada por um bando - após impedir um estupro  de outra coitada- e currada por eles. O clássico exploitation “I Spit in your Grave” fez escola : nossa heroína  é abandonada pelo noivo careta, e sai à caça dos estupradores matando um por um. Cada morte mais surreal e grotesca que a outra. Vem à lembrança também os japoneses pinku, com os estupros insanos, e é claro o pequeno clássico de Abel  Ferrara “Ms 45”, ápice cult do subgênero “vingança e estupro”. O curioso neste filme de Taiwan é que o diretor Yang Chia-Yun, também roteirista, é na verdade uma mulher, o que da à trama um elemento inusitado a mais ao filme. Estamos longe de uma obra-prima sob qualquer ponto de vista, ainda mais que a cópia que tive acesso, e que presumi seja a única disponível no mundo ripada de um VHS vagabundo esteja em condições semelhantes às mulheres do filme. Nada disso tira, entretanto dele a aura de selvageria, aliás, pode se dizer que defeitos realçam esse aspecto do filme.