quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Amores Prohibidos - 1976

Há dois anos comentei aqui neste espaço semimorto um filme mexicano “Las mariposas disecadas’, do qual gostei muito e teci elogios exaltados sobre ele. Era, não tenho muita certeza, o primeiro filme do país asteca que eu resenhava e fiz questão de ressaltar minha ignorância a respeito da história da cinematografia de lá, fazia questão  também de lembrar que era o único filme que tinha visto do diretor Sergio Vejar, e encerrava o texto ressaltando o detalhe de que hoje, nos tempos do politicamente correto, seria um filme impensável de ser realizado e exibido. Agora tempos depois me debruço sobre outro filme do diretor, e igualmente  para ele vale a observação anterior sobre a impossibilidade de sua realização e exibição nos tempos de agora. O outro, estrelado pela diva Silvia Pinal lidava com a pedofilia sob uma trama de terror e loucura. Agora o diretor muda de perversão : temos uma relação incestuosa entre dois irmãos,  e mais uma vez ,sob um fundo de mistério, terror e loucura. Ambos os filmes revelam um diretor talentoso  e visceral. Curiosamente pela extensa filmografia o que encontramos é o perfil de artesão antes de tudo, e que provavelmente (presunção minha) vez ou outra teve oportunidade de dirigir projetos mais pessoais como os dois citados. Um detalhe a conferir. Vale lembrar que ambos foram realizados em um curto espaço de tempo entre um e outro. O roteiro é do próprio diretor e ele avisa que foi baseado em um fato real. O cinema mexicano foi um dos mais criativos entre os anos 50 e 70, e como o nosso cinema brasileiro  teve uma decadência acentuada nos anos 80, mas vem se recuperado. Muitas outros paralelos entre as histórias cinematográficas mexicanas e brasileiras poderiam ser frisados, mas não vou me estender nesse tópico. Fiquemos neste bom filme, que se muitos consideram superior ao que resenhei anteriormente, eu, particularmente ,não compartilho dessa opinião, mas que fique bem claro, não significa que não o considere um ótimo filme. Tá explicado pois a  razão por ele estar sendo lembrado e resenhado aqui. Diante de tantos filmes que vi nesses dias achei que seria bom relembra-lo. Assim como "Las Mariposas Disecadas" citado , este é igualmente ambientado em espaço cerrado - uma mansão -, poucos personagens em cena, o que empresta ao filme uma  aura sufocante. Poderia dizer que a ação no interior dos personagens é tão especial quanto o que se desenrola no cotidiano de cada um deles. O que temos?  Um casal de irmãos, desde pequenos unidos pela tragédia da morte misteriosa da mãe – um suicídio, que o pai tratou de ocultar – e que encontram refúgio nos delírios em passeios a beira mar, e pouco a pouco vão caindo nos braços um do outro, literalmente. A vida adulta não  arrefece a relação dos dois, pelo contrário, ela se agrava e a insanidade adquire contornos mais mórbidos  e esquizoides. Mais uma vez o diretor auxiliado por esplendida fotografia realiza um belo trabalho narrativo, de mise-en-scène  quase onírica, com abuso de cores fortes e douradas. O filme foi lançado também com o título de “El Pacto”, que igualmente desvenda de que se trata o filme. Ele pode ser encontrado  aqui: http://cinemexicanodelgalletas.blogspot.com.br/2013/06/el-pacto-amores-prohibidos1967sin.html

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Delírio di Sangue - 1988

Um produto estranho no universo cinematográfico italiano dos anos 80  mergulhado nos thrillers eróticos epígonos do decadente giallo, espasmos de outros gêneros da exploitation, tão vibrante da década anterior.Sergio Bergonzelli, diretor desse filme que relembro, teve uma carreira longa e algo discreta no cinema italiano dos anos 60 e 70 com destaque para o insano “Nelle pieghi dele carne” de 1970 numa carreira  que conta com  28 filmes em gêneros variados  que foram do  eróticos, passando pelo  spaghetti nos anos 60 e as indefectíveis comédias eróticas. Saint Simon é um pintor que se acha a reencarnação de Van Gogh e vive isolado num castelo medieval. Para a matéria prima das tintas ele prefere o sangue humano, que o mordomo lhe fornece graças aos assassinatos brutais contra moças das redondezas.  Mas a  morte da esposa o deixa prostrado e sem inspiração. O encontro com uma pianista idêntica à falecida o deixa na certeza que ela seria a reencarnação da amada. Estamos em um filme e, portanto, a moça aceita o convite para uma visita ao castelo sem maiores  problemas e sequer se dá ao trabalho de avisar o namorado sonso.  Não tarda a sacar que se meteu numa roubada e que caiu num ninho de dois dementes. Bizarro, depravado, repulsivo, sórdido, “over”, ou simplesmente pretensioso e a beira do ridículo? Se pensarmos nele como um delírio ou pesadelo o filme faz algum sentido. E posso dizer que esta ambiguidade  que me atrai no filme a despeito de todas as irregularidades e furos de narrativa. O fato é que estamos diante de um híbrido inclassificável e inquietante. O espectador tem diante de si  história de amor louco com toques de necrofilia, ocasionais estupros e decapitações. Quase desnecessário dizer que estamos em mais um filme que não seria possível realizar hoje diante do politicamente correto que cerceia tudo atualmente. Um filme raro, inédito em DVD e que só sobrevive graças a uma cópia  ruim tirada de um VHS grego dublada em inglês. No elenco John Philippe Law, estrela de “Diabolik” e “Barbarella”, o veterano Gordon Mitchell e Barbara Christensen,  atriz dinamarquesa e ainda na ativa, podendo ser vista  no mais recente  filme do italiano Giuseppe Tornatore. O filme pode ser encontrado ainda no YouTube em cópia, infelizmente, sofrível, mas melhor que nada, enquanto esperamos o milagre do surgimento de uma edição decente e sem cortes .