segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Missão Matar - 1972

Diretor bacana (pra usar uma gíria velha) este Alberto Pieralisi. Italiano de origem, veio pro Brasil a convite do consagrado diretor Alberto Cavalcanti e aqui acabou se fixando e construindo uma carreira cinematográfica de valor em diversos gêneros, foi um dos que ajudaram  a construir a Vera Cruz e a Maristela, e deixou 15 filmes para a posteridade, felizmente vários deles disponíveis. É dele, por exemplo, um dos raros exemplares de ficção cientifica que aqui foi realizado, o “Quinto Poder”, tido por muitos como um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, por gente como Carlos Reichenbach , o que não é pouca coisa. Alberto tinha mão boa para filmes de gênero e este que relembro envereda por um gênero igualmente raro entre nós: o filme de espionagem “a la 007”. O gênero teve grande voga entre os anos 60 e 70, mas aqui assim como outros gêneros despertou pouco interesse dos produtores. A ideia do filme surgiu de uma produtora americana e inicialmente o diretor baiano Roberto Pires foi convidado para a direção. Não aceitando o encargo indicou o italiano. A intenção dos produtores americanos e brasileiros, que se associaram ao projeto era criar um 007 brasileiro e que gerasse uma possível série. Infelizmente o público não correspondeu e nunca foi adiante a ideia. Uma pena porque Alberto realizou um exemplar decente e simpático do gênero “spy”. A canastrice charmosa de Meira se encaixa bem no papel do policial chique e classudo com o brasileiríssimo nome de José da Silva que nas horas vagas vive como playboy e que, além disso, atrai suspiros e outras coisitas mais de todas as mulheres que cruzam em seu caminho. A trama é boa: um assassino profissional chega de navio no RJ para matar um dos conferencistas de um congresso da OEA. Disfarçado de médico ele se hospeda com uma mulher, membro da quadrilha que o contratou, bem em frente ao local da cerimonia de abertura, local escolhido para o crime. A mão boa do diretor se revela  em algumas sequências  inspiradas. No elenco dois nomes internacionais: a s atrizes Eva Christian, alemã, e Yvette Buckingham, inglesa. As duas acabaram se fixando por aqui e ainda atuariam em outros filmes.Foi exibido nos cinemas no mesmo ano da superprodução patriótica Independência ou Morte.Baseado no romance  "Always Kills a Stranger" do americano Robert Fisch, que nos anos 60 morou no Rio e escreveu uma série de 10 livros tendo o detetive José da Silva como protagonista. O filme chegou a ganhar edição em VHS nos anos 80, egraças a isso pode ser encontrado em sites que vendem DVD-Rs de filmes raros nacionais.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O Castelo das Taras Malditas - 1982

Comecei a escrever a crônica no mesmo dia que recebi a notícia do falecimento de Chico Cavalcanti, que sempre admirei e tive o prazer de relembrar um dos seus filmes. A ótima e, infelizmente ,falecida revista eletrônica Zingu, já escreveu sobre o filme que relembro. Na medida do possível  evito escrever sobre filmes já resenhados por outros, mas toda regra tem exceção, e como há muito tempo não  escrevo sobre um filme nacional, e este foi alias o último que vi, resolvi encara-lo.  Quase desnecessário dizer que ele é inédito em DVD, mas ao que tudo indica já teve edição em VHS nos anos 80, origem das cópias que podem ser encontradas na internet e em sites que vendem filmes raros. Realizado já na agonia da Boca, que nessa altura enveredava pelo sexo explicito. Foi o único filme dirigido Júlio Belvedere. Na Zingu pode se ler uma boa entrevista que ele concedeu. Sabe-se lá porque o seu nome não consta do Dicionário dos Filmes da Boca. Júlio conta em entrevista à citada Zingu que ganhou bastante dinheiro com ele já que o filme obteve excelente receita na bilheteria. Tara é uma palavra encontrada em pelo menos um terço dos títulos dos filmes da Boca, não? Registre-se que existe um filme com título praticamente idêntico lançado um ano depois por Roberto Mauro, notório picareta da Boca, com o título de “O Solar das Malditas” já com cenas de sexo explícito. Foi o último filme em que a atriz baiana Esmeralda Barros atuou. Ela teve uma carreira internacional na Itália de algum destaque em produções de gêneros variados tendo trabalhado em 10 longas. Aposentada e doente, pelas últimas informações vive atualmente no Rio de Janeiro, pobre e esquecida. Uma pena. É o único nome de algum destaque no elenco do filme, sendo que o produtor do filme e namorado, na época, da atriz faz o papel principal. É um filme típico da Boca, ou seja, mulheres desnudas em situações desnecessárias: pelo menos três longas cenas de banhos mostradas, absolutamente irrelevantes para a trama são apresentadas.  E dai? O diretor explicou na entrevista citada que foi exigência do produtor, situação comum.  O que o distingue é que se trata de um filme de gênero, no caso o terror, algo raríssimo no cinema nacional desde sempre. Para aqueles habituados com o eurocult italiano e espanhol  dos anos 70 a trama vai soar familiar. Uma professora e três alunas se abrigam em um castelo (?) para realizarem pesquisas com parapsicologia. O proprietário (e morador) era um pastor evangélico (?) e nao vai demorar muito a ser possuído pelo espírito do Marquês de Sade. Pior para as moças que são mortas de forma brutal. O filme tem muitos defeitos tais como atores fracos, à exceção da tarimbada Esmeralda, e a trilha sonora inadequada, mas não faria feio perto de algumas produções europeias dos anos 70 do mesmo gênero. Júlio frisou a precariedade da produção, mas a boa fotografia, bons momentos garantem o desenrolar do filme e a diversão. Alguma chance de uma boa cópia algum dia? Tomara que sim. Triste que praticamente nenhum filme da Boca tenha recebido edição decente em DVD.  E assim volto a Chico Cavalcanti que sai do mundo terreno sem ter nenhum filme  recebido edição decente em DVD.