sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

The Candy Tangerine Man - 1975


Um desses filmes impensáveis de serem realizados nos dias atuais na velha América. Politicamente incorreto até o pescoço, a saga do gigolô Black Baron(John Daniels) alterna-se entre o cômico chulo e a violência. As ruas de Los Angeles são seu reino e as prostitutas da Sunset Strip sob seu controle. Em seu Rolls Royce envenenado vermelho e amarelo “cheguei” ele não perde a banca. Os negócios vão bem, as meninas estão arrecadando e ele até se dá ao luxo de comprar uma prostituta índia de um gigolô rival e a deixá-la ir embora. Este é um dos lados da vida de Baron, o outro lado ninguém desconfia: durante alguns dias da semana, ele despe seus trajes de gigolô, e se torna um simpático e decente sujeito, com sua casinha no subúrbio, uma mulher dócil e filhos, vizinhança normal. Uma vida dupla. Mas nem tudo são flores no reino do nosso “pimp” Black Baron: dois tiras brancos não o deixam em paz, e Dusty, um gigolô rival e doidão cheirador de coca, inicia uma onda de ataques contra suas garotas. Na guerra que se segue não faltam cenas de sadismo: um dos gângsteres simplesmente corta um dos seios de uma das garotas; e a vingança de nosso “herói” não fica por menos em termos de violência: ele despedaça uma das mãos do bandido. A trama vai seguindo, um tanto confusa, pelas mãos do diretor Matt Cimber. Ainda na ativa, o diretor passou a história por ter sido o último marido de Jayne Mansfield, e também diretor do último filme dela; outro fato pitoresco na carreira é o filme “Butterfly”, considerado um dos piores filmes de todos os tempos, e olha que Orson Welles estava no elenco! Com um pedigree desses era de se imaginar que o nosso filme fosse uma bomba black, mas a verdade é que o filme se não chega aos pés dos clássicos do gênero , tem seu charme. Quase desnecessário dizer que a trilha, a cargo da banda Smoke, é chapante. O visual é bem setentão, calças boca de sino, cabelos afro. Ironicamente os créditos anunciam que prostitutas reais participaram do filme. Um detalhe a mais que compõe o panorama desse blaxploitation grotesco , curioso e bem divertido. Lembrando ainda que Matt Cimber tem outros dois filmes no gênero em sua carreira.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Violentata sulla Sabbia - 1971


O título original (violentada na areia) sugere uma sexploitation tradicional italiana, com muita mulher tirando a roupa sem nenhuma razão plausível: mas quando assistimos as sequências iniciais o pensamento é outro: mais um giallo com fortes doses de sexo? Após os créditos, as cenas vão se sucedendo tranquilas, serenas, quase bucólicas, e ficamos ali esperando que a qualquer momento exploda a violência, apareça um assassino nas sombras com uma navalha ou uma tesoura e comece a matança;e nada das duas simpáticas e belas mulheres tirarem a roupa. É verdade que vão para uma praia semideserta na Sardenha, mas de seus corpos no espectador não usufrui mais do que o que vemos em qualquer clube ou praia. O filme do desconhecido Renzo Cerrato, estrelado pela bela Carol André, tem o prazer de destruir as expectativas apelativas. Sim, é claro, que sexo e violência está subjacente à trama. O tema é a iniciação sexual de uma jovem ainda virgem. Vanina - belo e Stendhaliano nome- ainda garotinha viu pai ser assassinado, e a mãe estuprada e morta também. A selvageria da cena traumatizou-a e praticamente bloqueou seus desejos sexuais. E será através de uma violência simulada que ela vai despertar para o amor: nos braços de um desconhecido, do qual ela sequer fica sabendo o nome, finalmente rompendo os traumas numa violação consentida nas areias de uma praia deserta. Surpreende saber que o diretor só realizou apenas outro filme além desse aqui. Uma bela fotografia, embalada por uma trilha suave, uma narrativa de cadência suave, a câmera atenta aos pequenos detalhes, devaneando preguiçosamente, introspectiva e poética. E longe de resvalar para o chulo temos um erotismo diáfano quase inocente, apesar do tema de alguma maneira ser escabroso. Em suma, um filme sensível e cálido

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A Praia do Pecado- 1977

É inevitável quando escrevo sobre filme brasileiro, principalmente se tenha sido realizado antes dos anos 90, fazer uma arenga sobre a falta de memória. Já foi um milagre conseguir uma cópia desse filme, por exemplo, do diretor Roberto Mauro, e em condições tão ruins que só mesmo um cinéfilo demente - como eu - para ver o filme. A geração bluray, padrão tela sei lá o quê, iria correr da cópia. Citemos, que só o Canal Brasil, ainda salva nossa falta de memória com a exibição de filmes pré-90; acho que há tempos a Band vez ou outra promovia alguma exibição. Este ainda sobrevive ripado de alguma dessas exibições. Das TV passemos para a internet, que supostamente é um amplo repositório de informações, e ai no caso do meu filme, tomo bomba: apenas algumas informações técnicas, uma sinopse – errônea – e nada mais: nenhuma crítica, resenha, ou análise. Diga-se em louvor da net, que é graças a muitos bons blogs que nossos filmes ainda são lembrados:Revista Zingu, o blog Estranho Encontro e muitos outros que promovem o necessário resgate. E no quesito iconografia de filmes, especificamente do filme de Roberto Mauro, não consegui obter um único e miserável fotograma do filme, cartaz,nada. Um espanto. Até o fórum Clan Sudamérica, de onde baixei o filme parece que improvisou um cartaz, que é o mesmo que usei para ilustrar a resenha. O filme tem vários aspectos que o tiram da banalidade. É um caso raro de tentativa de um cinema de gênero no país, aqui no caso, um policial; o argumento original é do Carlos Reichenbach – que dispensa comentários: e uma das estrelas do elenco é o magnífico Toni Tornado, amado e idolatrado por todo que amam sambasoul e boa música, e que fez longa carreira no cinema e na TV. O diretor Roberto Mauro atuou toda a carreira na Boca do Lixo, com mais de 20 filmes entre pornochanchadas e policiais, e como tantos outros diretores encerraria a carreira nos filmes de sexo explícito, antes de falecer em 2004. Apesar do título apelativo, que sugere uma praia com muita suruba,o que temos mesmo é um policial, e sem nenhuma cena de nudez mais ousada. Qualquer novelinha da Globo das oito é mais ousada no quesito. Enquanto policial um filme decente, com uma história bem amarrada e com as reviravoltas necessárias para manter o interesse. Gabriel, um advogado, interpretado pelo produtor do filme Oasis Minniti, para ajudar um cliente preso injustamente pelo assassinato de uma garota de programa, acaba em posse de documentos que incriminariam um milionário. Lenocínio, tráfico de drogas eram os negócios do figurão. Para fugir da pressão, aceita o convite de trabalho de um amigo que tinha uma construtora, e muda-se para lá, uma praia aparentemente calma. Não demora a descobrir que havia pulado da panela para o fogo: o próprio milionário era proprietário da construtora, apenas uma fachada para lavagem de dinheiro. O elenco tem nomes conhecidos dos filmes da Boca, como Sérgio Hingst, o diretor Cláudio Cunha – numa ponta –Zélia Martins, Andrea Camargo e Sonia Garcia; mas o destaque vai mesmo para Toni Tornado, o papel de capanga do milionário e amante da filha loura, que estava envolvida também com o pai em escabrosas taras sexuais. O pano de fundo da trama é a paradisíaca praia de Caraguatatuba, que imagino mudou muito desde então.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Blast of Silence- 1961


No começo da década de 60 o noir era gênero morto. Como lembrei anteriormente Orson Welles e seu magistral ”Touch of Evil” havia, em grande estilo, fechado o ciclo que havia começado nos anos 40, sob influência do expressionismo alemão. E nada mais justo, que um dos maiores herdeiros da escola, em Hollywood, fosse o responsável pelo seu canto de cisne. Mas o filme dirigido pelo ator Allen Baron acabaria revelando que o “noir”, mesmo depois de Welles, ainda era capaz de surpreender. É verdade que o filme, realizado em condições independentes e modestas, não obteve nenhuma repercussão quando lançado. A crítica do New York Times classificou-o como “esquisito e pretencioso”. Só posteriormente que ele teria seu valor reconhecido, e recentemente ganhou edição em DVD caprichada pela Criterion, nos EUA. Hoje é um filme tido como o elo entre a produção mainstream de Hollywood e a geração de cinema independente de New York, que revelaria John Cassavetes e Martin Scorsese entre outros. E é evidente a influência que o filme exerceu na obra do diretor de “Taxi Driver”. Diga-se de passagem, que o personagem principal, interpretado pelo próprio diretor é a cara de Robert de Niro. E o ambiente aonde se move Frankie Bono, um assassino profissional, contratado para matar um gangster, é o mesmo aonde Scorsese situou seus melhores filmes: a New York desglamourizada, sombria e violenta dos wise guys. E a amargura e a solidão é a mesma do personagem de De Niro no citado “Taxi driver”: ambos movem-se pelas ruas, destilando fel e rancor diante de tudo ao redor. Agem como zumbis niilistas, cínicos e amargos. O assassino Frankie é um personagem de uma pequena tragédia grega: seu destino está selado desde o primeiro fotograma do filme. Negro é o seu destino, seu futuro é o nada. E o filme, que se desenrola durante o natal, é a jornada inglória e vazia do confuso assassino. A tentativa de redenção na figura da irmã de um conhecido, que havia reencontrado em um pub, é um malogro: ele confunde um gesto simpático por parte da moça com um possível amor, e tenta estrupá-la canhestramente no apartamento onde ela morava. Lembram-se da cena em que o motorista do filme de Scorsese tenta arranjar uma namorada e a leva para assistir um filme pornô? Toda a ação é pontuada por uma narrativa em off, cínica e sem complacência com a solidão de Frankie Bono. E é ela, a solidão a personagem do filme, avassaladora e cruel, envolvendo como uma teia todas as suas ações. A memorável sonorização, trilha e fotografia( realizada com câmera na mão, fato raro na época) realçam as qualidades dessa joia tardia do “noir”. O diretor Allen Baron, só realizaria outro-metragem longa para o cinema e seguiria carreira na TV.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

La Rose Écorchée - 1970


O tema é, digamos assim na falta de expressão melhor, clássico no cinema fantástico e de terror: uma bela mulher tem seu rosto desfigurado, aparece um cientista ou cirurgião que descobre uma maneira de recompor a sua beleza. O problema é que para isso, a matéria prima necessária é pele de uma mulher viva, ou seja, só matando para obtê-la. George Franju , em “Les Yeux Sans Visage” de 1959, obra respeitada até por cinéfilos normais e de carteirinha, aparentemente esgotou o tema. Mas outros cineastas renomados ou não acharam e refizeram a história algumas vezes. O infame Jess Franco praticamente refilmaria a história em 1962 com o seu “The Awful Dr. Orloff”, mas os italianos, é claro, não perderiam a oportunidade e também dariam a contribuição deles com “Atom Age Vampire” em 1961, entre outros. E não é que anos depois o querido dos cinéfilos, o espanhol Pedro Almódovar, quem diria, retomaria o tema com seu último filme “A Pele que Habito"? Não tive a oportunidade de conferi-lo ainda. Devo admitir que a obra do diretor de “Átame” não me interessa há muito, muito tempo. Não deixa de ser curioso que para se injetar sangue novo e escapar da armadilha estética em que se envolveu quando virou “almodovariano”, tenha recorrido a um tema típico de filme B. Bem feito, eu diria. O filme do obscuro francês Claude Mulot retomava a história sob a influência de Jess Franco e Jean Rollin, sem deixar de prestar tributo ao clássico de Franju. Com um título que é sem dúvida um dos mais belos do cinema, temos um filme que tentava apresentar algumas variações ao tema. Um pintor ricaço e famoso Fréderic Lansac(Philippe Lemaire) se enamora de uma jovem Anne(Anny Duperey) e se casam. Desgraçadamente, na noite da festa de casamento, a jovem noiva tem seu corpo inteiramente desfigurado pelo fogo. Ela é dada como morta, e presa a uma cadeira de rodas, vai viver como uma reclusa nas profundezas do castelo. A chance de recuperar a beleza surge quando o marido descobre que seu funcionário da floricultura, era um renomado cirurgião plástico, que estava impedido de exercer a profissão. Romer é interpretado por Howard Vernom, que havia interpretado papel semelhante no citado filme de Jess Franco de 1962, numa mais que declarada homenagem e citação. E como era de se imaginar a única chance para a cirurgia plástica obtivesse sucesso seria recorrendo á pele de uma mulher jovem. Providencialmente aparece no castelo a irmã de uma enfermeira que havia desaparecido quando trabalhava no castelo – preciso dizer que ela fora assassinada? A história é ambientada em século XX onírico, irreal. A atmosfera é gótica, poética, temperada com um erotismo suave, raios e trovões -os castelos parecem viver eternamente tomados pelas tempestades -, dois anões mudos, que vivem nos porões do castelo e flores mortíferas que podiam matar a um simples toque. Clichês obrigatórios em uma produção do gênero e amontoados como antiguidades em um castelo. O diretor Claude Mulot adotaria o nome do personagem do pintor para assinar seus filmes eróticos que realizaria posteriormente.Aqui era apenas seu segundo filme e logo depois enveredaria para o cinema pornô, e seria amaldiçoado e riscado de qualquer história do cinema.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Fúria en la Isla- 1978

Magnifico exemplar da exploitation argentina. Humor, sacanagem e violência em doses cavalares. Direção de Oscar Cabeillou, que nunca mais dirigiria nada, as más línguas dizem que por vergonha. Mas um filme estrelado pela diva Libertad Leblanc nunca é banal. Teve é claro, azar, em não ter encontrado seu Armando Bó, o diretor dos filmes da rival Isabel Sarli. Se esta seria o Boca, Libertad seria o Ríver Plate, ambas disputaram palmo a palmo as punhetas de Latino América . E este filme foi seu canto de cisne, e talvez o mais extravagante, estapafúrdio, brega e apocalipticamente surreal da sua carreira. Uma despedida monumental.

O mais próximo ,sem dúvida , que chegou da insanidade dos filmes da rival. Um cenário bucólico e agreste em algum lugar às margens do rio Tigre. Libertard é Lili, uma gostosona sonsa que ajuda o tio velhinho com um barco caindo aos pedaços. A bodega local é o ponto de encontro de todos os tipos locais, e a esposa do dono do bar, é uma coroa muito “dada” aos clientes. E chegam três malfeitores – dois homens e uma mulher – que desejam alugar o barco do tio da nossa mocinha, para um golpe mal explicado. Um dos bandidos é a cara do Charles Bronson. Com estes três polos da trama a largada para o inimaginável cinematográfico está dada, que faria as delicias de John Waters – que conhecia os filmes de Isabel Sarli - e Russ Meyer, caso pudessem assisti-lo. O filme oscila entre o humor chulo, que lembraria nossas pornochanchadas, e o erotismo em doses razoáveis; somos brindados com uma boa cena de sexo - em um estábulo -protagonizada por Libertard, bastante ousada para os padrões da época. E os bandidos, enquanto isso ,vão causando confusão : matam uns policiais, e depois a coitada da coroa safada esposa do dono da taberna. Uma bandida do trio, lésbica, tem uma queda pela nossa heroína e musa do blog, e chega a ensaiar um estupro sáfico. E no meio dessa sarabanda de sexualidade kitsch, o momento supremo do filme: uma inusitada, e plena de nonsense – pois não tem nada a ver com a narrativa – sequência onde Libertard invade uma festa ao ar livre e começa a dançar, de topless, e cantar, rodeada por três negões. Antológica, e só essa cena já valeria o filme. Um precursor dos clipes de Madonna, para ficar numa comparação que faça sentido. E até que esse coquetel maluco tem uma direção decente, com elipses e cortes bem ajambrados. As interpretações chocariam os amantes do teatro, e podemos classificar como toscas. O que só apimenta mais esse prato portenho rabelaisiano e bizarro, mas delicioso, que não se encontra mais nos cinemas de boa índole.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Shanty Tramp- 1967


A exploitation americana dos anos sessenta nunca primou pelo apuro técnico ou o padrão de qualidade do seu primo rico de Hollywwod. Boas atuações, fotografia ou produção dificilmente são encontradas, à exceção talvez da obra de Russ Meyer. Apesar disso são nesses filmes vagabundos, precários e toscos que encontramos vitalidade, vibração e a dose certa de arrojo e loucura, ausentes do mainstream. Este filme de Joseph Prieto e produção do infame Gordon Murray é um exemplo cabal da afirmativa acima. Não traz bons atores, a produção é quase amadora. E mesmo com todos esses detalhes temos um filme insolente e sincero - ainda que saibamos que o interesse na feitura desse filme foi mesmo apelativo. O público alvo identificava-se com o drama retratado ali, o espectador se reconhecia. Não havia falsidade. O universo escroto e medíocre mostrado não era muito diferente do que ele encontrava na rua, ao apagar das luzes do cinema. Lee Holland, em sua única atuação no cinema, é Emily, a “shanty tramp” – gíria sulista para puta -, uma puta profissional, filha de um cachaceiro. Nenhum “glamour”, de uma garota de vida fácil retratada, por exemplo, em “Deus sabe quanto Amei” de MInelli. O cenário é uma cidadezinha do sul dos EUA, povoada pela fauna habitual de pastores picaretas, gangues de motoqueiros arruaceiros e racismo. E a nossa “heroína” vai aqui, vai ali, se oferecendo em troca de dinheiro é claro, mas buscando farra e prazer também, e por onde passa deflagrando caos e destruição. Ela é, por assim dizer, o rastilho de pólvora que faz explodir os piores instintos recalcados. Sexo e morte são o que a vagabunda oferece. O filme se desenrola em apenas uma longa noite de loucuras, a noite infinita das pequenas e semimortas cidades americanas. Um ano depois George Romero com a “A noite dos Mortos Vivos” desdobraria o panorama retratado aqui, acrescentando zumbis e terror.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

The Blood Drinkers - 1964


Um Bezão filipino e ainda por cima um filme de vampiros é algo mesmo extraordinário e sensacional. Antes um momento Wikipédia: a pequena Filipinas tem uma das antigas indústrias cinematográficas da Ásia, nos anos sessenta e setenta teve um longo flerte com Roger Corman, que lá produziu muitos filmes e deu oportunidade a cineastas filipinos, como o grande Cirio Santiago, entre outros. É provavelmente o único país católico no continente, religião herdada dos colonizadores espanhóis, razão, também pelas quais todos lá têm nomes hispanos, apesar de já não falarem o espanhol. Mas creio que ainda são muitas as palavras castelhanas na língua, neste filme mesmo volta e meia se ouve alguma, apesar de que o filme está dublado em inglês. Voltando ao cinema, os filipinos têm também boa tradição nos filmes de gênero e o filme aqui é dos mais curiosos vindos de Manila. Direção de Gerardo de Leon e produção de Cirio Santiago, roteiro baseado em uma popular HQ do país. Uma história de vampiros com bastante influência dos velhos filmes de terror da Universal e que seguramente não mete mais nenhum medo. O charme do filme está na poética cadência com que a história é narrada, com toques surrealistas e expressionistas. O uso das cores é singular: quando os vampiros atacam, a tela se tinge de vermelho; azul, quando os vampiros estão ameaçando, mas não são vistos; e quando as cores são regulares, para dias normais ou idílios amorosos. A trama segue o padrão clássico de um bom filme de vampiros: o careca dentuço Marco deseja reviver sua amante vampira, e para isso necessita realizar um transplante de coração, que nesse caso seria o da irmã gêmea que vive numa aldeia. O seu séquito compreende uma amante masoquista, que se deixa chicotear e ter o sangue chupado, o indefectível corcunda e um anão. Para combater a fúria sanguinolenta do vampiro, um padre – que narra a história – e o namorado da mocinha terão que mover as forças do Céu e da Terra. O interessante em tudo à parte a citada talentosa direção e fotografia, é que apesar da trama aparentemente convencional, o cenário local está perfeitamente inserido com detalhes quase documentais de uma aldeia filipina, algo raro em produções do gênero gótico. O título original: Kulay Dugo Ang Gabi.

domingo, 18 de dezembro de 2011

The Burglar- 1957


Um noir confinado nas prateleiras da história do gênero, ainda a espera de uma edição decente. Cronologicamente um dos últimos exemplares do gênero, que seria encerrado gloriosamente alguns anos depois com Orson Welles em “A Marca da Maldade” e quando foi lançado o “noir” já era um gênero agônico. Paul Wendkos, o diretor, não fez uma carreira muito conceituada, em seu currículo só consta um filme relevante já nos anos 70, “The Mephisto Waltz”, mas este aqui tem suas qualidades e elementos que o distinguem. Comecemos pelo roteiro escrito pelo romancista “pulp” David Goodis, a partir de um romance da sua lavra; e o elenco tem Dan Dureya, ícone do gênero, em dos seus raros papéis de um cara simpático, mesmo que aqui seja um ladrão; outra figura relevante no elenco é a querida do blog, Jayne Mansfield, em um papel dramático, uma faceta não muito conhecida do seu trabalho. E a direção de Wendkos é estilosa, com ângulos de câmera inusitados, evidentemente influenciados fortemente pelo gigante Orson Welles. O início do filme, diga-se de passagem, é um decalque de “Cidadão Kane”, com um noticiário em um cinema, a respeito de uma evangélica e seu colar no valor de 150.000 dólares, que então desperta a cobiça de um ladrão de jóias fuleiro. O roubo do colar dura 15 minutos - filmado em tempo real - e entra em cena uma misteriosa mulher, interpretada por Martha Vickers, fazendo as honras da loura fatal. A trama envolve ainda a quadrilha, a irmã de criação do ladrão e que nutre uma paixão secreta e incestuosa por ele, e um policial corrupto que tenta se apossar do colar. Não é uma obra-prima do gênero certamente, mas é um pé de página que merece uma conferida.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

I Walk the Line - 1970


Em um cafundó no estado do Tenessee um xerife aparentemente sério e incorruptível: Henry Tawes ( Gregory Peck), quarentão, casado, uma filha. A cidade pequena, monótona como seria de se esperar cujas únicas diversões um pub sem graça e assistir filme no drive-in. Tudo parece imutável até que surge diante dele um carro em alta velocidade, e sai então em seu encalço e tudo vira de cabeça para baixo numa fração de segundo. Alma McCain(Tuesday Weld), filha de um moonshiner (assim eram chamados os fabricantes de uísque ilegal )o seduz e o arrasta para o terreno movediço das incertezas. John Frankenheimer foi um diretor com algum conceito na década de 60 graças a dois thrillers que foram metáforas perfeitas para a paranóia comunista: “The Manchurian Candidate” e “Seconds”. Originário da televisão acabaria retornado á ela após alguns fracassos nos anos 70, encerrando a carreira quase no limbo. Esse filme aqui é considerado como um dos seus inúmeros fracassos. E as opiniões a respeito dele são divergentes: para uns um desastre, para outros apenas um filme razoável prejudicado pela atuação de Peck. De minha parte um filme melhor do que o esperado, retratando muito bem alguns aspectos de uma cidadezinha do sul dos EUA, com toda a hipocrisia, racismo latente, miséria, monotonia e indiferença. E de quebra as ótimas imagens são pontuadas pela trilha sonora composta por canções do monstro Johnny Cash. No Brasil o filme foi exibdo com o título de "Os Pecados de um xerife".

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

La Contrafigura- 1971


Rotulado como giallo na maioria dos blogs e sites consultados, o que é no meu entender uma classificação inexata. O gênero oriundo da Itália tinha elementos peculiares que o distinguiam dos thrillers habituais, e qualquer espectador que assistir dois ou três deles e depois tomar contato com esse dirigido por Romulo Guerrieri ,verá que está diante de outro tipo de filme. É verdade que é um thriller. Poderia ser considerado sim, como um precursor dos thrillers eróticos que infestariam a península italiana a partir da década de oitenta, tornando-se quase que um subgênero por si só.
O início é forte: um homem caminha por um estacionamento e é alvejado por um estranho. Corte para uma praia: Giovanni(Jean Sorel), um arquiteto frustrado, vive à custa do dinheiro do pai milionário, casado com Lúcia (Ewa Aulin). Estão em férias numa praia no Marrocos. Além da frustração profissional ele carrega outro peso: um ciúme doentio pela linda e sexy esposa. Na praia deserta tomam contato com um americano Edyy, meio hippie, que vive isolado, e lê literatura anárquica e de esquerda. O interesse da jovem por ele aumenta ainda mais o ciúme do arquiteto. Tudo muda com a inesperada chegada da sogra Norah (Lucia Bosé). Como a filha linda e sexy, logo desperta inesperada paixão em Giovanni, que passa a assediá-la até conseguir fazer amor com ela, quase em um estupro. O retorno a Roma não irá diminuir o desejo pela sogra, que desaparece, não atende seus telefonemas e nunca é encontrada no apartamento. E para deixar tudo pior, ela parece que instalou no apartamento o americano hippie, que ela assim como a filha também se aproximara e parecia estar de caso.
Resumindo assim uma parte da trama, nada sugere que o filme se distinga muito de produções rotineiras italianas, com sexo, e um crime, embalados por uma música deliciosa, que, diga-se de passagem, é mesmo uma beleza. O diretor já se havia aventurado por outro thriller, “The Sweet Body of Deborah”, também estrelado por Jean Sorel, igualmente longe dos padrões dos “gialli “ clássicos. Mas se ali alguns defeitos empanavam o conjunto, aqui a mão do diretor está mais calibrada: a trama é narrada flashback, pontuada por situações que podem ser apenas produtos da imaginação de Giovanni, em suma: um puzzle, que só é esclarecido em um final absolutamente inesperado e com uma boa dose de ironia e crueldade.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Riti, Magie Nere e Segrete Orge nel trecento...(1973)


Um filme ,que mais que a epítome e suma de um gênero é o símbolo do crepúsculo de vários gêneros caros ao cinema italiano. O ano de 1960 foi marcante para o cinema popular com o lançamento de “A Máscara do Dêmonio” de Mário Bava. Ali se sinalizava um caminho a seguir para os diretores italianos indiferentes ao cinema de arte italiano que já ganhava forma, com os primeiros filmes de Antonioni, Fellini e outros. Nada de dramas existenciais, simbolismos, abstrações metafísicas e afins. Na cola do sucesso desse filme,estrelado por Bárbara Steele, ressurgiam vampiros, bruxas, maldições, gritos, corredores escuros, noites de tempestade, criados corcundas, mocinhas virginais ou diabólicas, e com a liberação dos costumes, muito erotismo, nudez feminina gratuita ou não. No mesmo ano Renato Polselli lançava um filme de terror “O vampiro e as Bailarinas”, que sem obter o mesmo impacto da obra-prima de Bava, se tornaria de qualquer maneira uma referência obscura no gênero, apresentando aqui e ali inovações. A carreira do diretor prosseguiria errática, com 22 filmes até os anos oitenta, alguns não creditados ou inacabados, e viria a falecer em 2006, já aposentado( o último filme em vídeo foi em 1984). Canto de cisne do gênero, confluência, em seu título pomposo original italiano já se anuncia o que virá, no título inglês com o qual o filme adquiriu alguma notoriedade – “The Reincarnation of Isabel” - , no entanto, somente em um aspecto do filme é ressaltado, não dando uma exata ideia do conjunto (ou falta dele). Todos os clichês da fórmula já gastíssima, reunidos na história de uma mocinha, Laureen (Rita Calderoni), que vai com o os pais para um castelo habitado por um sujeito esquisito, com jeitão de vampiro de filme B. O pai, interpretado por Mickey Hargitay, ator que adquiriu alguma fama como Tarzan, e na Itália foi astro de filmes de terror entre outros gêneros. Nas redondezas do castelo existe um colégio para garotas, e algumas delas estão sendo mortas. Mas, estranho mesmo é que a maioria das moças é virgem, o que convenhamos no cinema italiano sexploitation é mesmo uma aberração. Polselli deixa a lógica - em todos os níveis -de lado e coloca em seu caldeirão todos os ingredientes possíveis: vampiros, a moça queimada como bruxa séculos antes pelos aldeões da região ,a maldição, noites de tempestade, janelas se abrindo, gritos , orgias castas para os padrões atuais, as catacumbas, torturas e algum sadismo aqui e ali. Para dar vazão a tantos elementos só mesmo uma narrativa fragmentada, onírica, psicodélica, elíptica e surreal. Cinema histérico e popular, com um pé na vanguarda. Uma hidra de várias cabeças que se sustenta pela cara-de-pau e, alguma insolência estética, do diretor. A partir desse filme o cinema italiano praticamente abandonaria o gênero. No entanto o francês Jean Rollin, o espanhol Jess Franco, entre outros, insistiriam e manteriam aberta a porta que Polselli tentara fechar, ou melhor, reabririam a tumba cerrada com o filme.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Dias de Ódio(Emma Zunz) - 1953


Para aqueles que debatem adaptações cinematográficas de grandes obras da literatura eis aqui um bom motivo para polêmicas. Afinal de contas trata-se de uma adaptação de um conto de Jorge Luís Borges, “Emma Zunz”, que consta de “Aleph” , realizada pelo conterrâneo Leopoldo Torres Nilsson. A participação na elaboração do roteiro, pelo próprio escritor, não impediriam as discussões sobre o resultado final. Foi a primeira adaptação cinematográfica da obra borgiana. Esse conto mesmo já teve cinco adaptações. Lembremos que Borges, foi um apaixonado por cinema, além de críticas, escreveu ainda outro roteiro, em parceria com Bioy Casares, “Invasion” - que foi levado às telas por Hugo Santiago – e outros roteiros que ainda aguardam cineastas para levá-los ao écran demoníaco, para usar a expressão de Lotte Eisner. Para o diretor era seu primeiro filme. Até então a experiência era com assistências de direção para o pai, também diretor. A ideia da adaptação nasceu de um projeto do produtor e diretor Armando Bó – o pigmalião de Isabel Sarli – que propôs a Torres e outros diretores um filme em cinco episódios. Entusiasmado com a oportunidade o jovem diretor procurou o escritor, que ainda não era “O” Borges , mas tão somente conhecido em círculos literários argentinos, e lhe propôs a adaptação do conto. Borges então escreveu um roteiro para um filme de 25 minutos de metragem. O problema é que os diretores abandonaram a ideia do filme em episódios e sobrou apenas Torres. O jeito foi então aumentar o roteiro e adaptá-lo para um longa. Desse segundo processo o escritor não participaria: Torres Nilsson chamou uma roteirista para auxiliá-lo e aumentaram o roteiro. Talvez esteja ai a razão pelo desagrado que o escritor sempre manifestou pelo resultado final. Ele acreditava que era impossível acrescentar mais cenas ao roteiro que havia escrito. As maiores queixas foram com cenas que enfatizavam os aspectos sentimentais, que segundo ele contradiziam a história dura. Queixas borgianas à parte o diretor realizou em sua estreia um filme peculiar e original, e os defeitos que apresentou foram bem menores que as virtudes. O pessimismo irritou o peronismo vigente na época e o filme foi proibido de ser exibido fora do país. Mais que a história de uma vingança, Torres Nilsson enfatizou o elemento da solidão da personagem de Emma, pontuada e enfatizada com a paisagem urbana das ruas desoladas dos subúrbios de Buenos Aires. Aqui como nunca, a paisagem é parte integrante da trama, quase um personagem e reflete o interior de Emma e sua jornada desamparada. Essa característica anteciparia “A Aventura” de Antonioni, por exemplo. O uso criativo da trilha sonora e dos ruídos foi outro aspecto que demonstrava o talento do diretor. As suas obras seguintes definiram uma carreira que o colocaria como um dos maiores diretores argentinos de todos os tempos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ambush at Tomahawk Gap - 1953


Já há algum tempo sem lembrar um faroeste, o gênero americano por excelência nos tempos áureos.Hoje não é mais: infelizmente poucos são feitos. Este aqui tava com cara de rotineiro. Comprei uma copia (pirata) numa lojinha bacana ali no Shopping Tupinambás, onde sempre se encontram bons filmes e se pode prosear com cinéfilos da velha guarda, que ainda lembram de uma Sarita Montiel ou de um Rory Calhoum. Comprei, pois o filme, assim no olho, digamos assim, já que nem nome do diretor vinha na capa, e no elenco dois nomes que eu conhecia: o canastrão John Derek e John Hodiak, este último que eu não associava as feições ao nome. A direção é de Fred Sears, diretor de carreira obscura e longa, quase sempre confinada ao filme B, com 52 filmes em uma gama de variados gêneros, e tendo falecido jovem, aos 44 anos. Ele tem uma importância, no entanto, capital na história do rock, pois foi o diretor de “Rock Around the Clock” em 1956. Bem, eu disse que o filme parecia ser mais um bag-bang rotineiro, mas me enganei. Longe de ser um clássico do gênero, mas com qualidades. O cenário é interessante e sempre rende bons filmes no gênero: a cidade fantasma. Pelo menos uma obra-prima se desenrolou neste cenário: ”Yellow Sky” de William Wellman. E é neste cenário desolado que se movem quatro bandidos, que acabaram de serem liberados da prisão após cumprirem pena de 5 anos. No caminho até a cidade, agora fantasma, sofrem uma emboscada de índios apaches, encontram uma índia navaja e a levam consigo. O líder da quadrilha havia escondido o produto de um roubo na cidade fantasma e a intenção dos bandidos era encontrá-lo. No entanto, no local, havia sobrado um último morador, um velho meio maluco, que cuidava do cemitério e sonhava com a volta dos moradores. Obviamente os bandidos não conseguem encontrar nenhum dinheiro, sofrem um grande ataque dos apaches e ainda tem que lidar com os conflitos entre eles. Até aqui nada muito distante do padrão de um faroeste: bandidos, uma mocinha, índios atacando, um dinheiro escondido e a cidade fantasma. Mas, e onde está o mocinho? Pois é, ai tá um detalhe que chama atenção no filme: ninguém é simpático ou heróico. O personagem interpretado por Hodiak foi parar na cadeia injustamente, é verdade, mas ele age como um energúmeno, e o mais próximo de um herói seria o personagem de John Derek, mas este também não faz muito para merecer o carimbo de herói do filme. Outro aspecto interessante, e que até causou alguma celeuma foi a violência, nada muito chocante diante do que viria nas décadas seguintes com Peckinpah, Leone e os spaghetti italianos, mas para os padrões da década do filme sim. O filme foi exibido no Brasil com o título, péssimo para variar, de “Os Mau Encarados”.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Scream of the Butterfly - 1965


Uma peça cinematográfica da sexploitation americana dos anos 60, que merecia divulgação maior e ser retirado do gueto em que estes filmes são classificados e colocados. Saiu é verdade em DVD pela Something Weird há pouco tempo, o que significa que pode ser encomendada via Amazon. Na net não foi fácil encontra-lo, só mesmo no maravilhoso Cinemageddon para conseguir uma cópia. Um filme que provavelmente nasceu como um média metragem, inicialmente dirigidas pelo coreógrafo argentino Eber Lobato (que só realizaria outro filme), e com cenas acrescentadas e filmadas pelo produtor Howard Veidt, posteriormente. Mistério o motivo disso: briga entre produtor e diretor? Infelizmente as informações sobre o filmes são absolutamente escassas. Sobre a estrela do filme, a sexy argentina Neli Lobato, já pude averiguar alguma coisa: na época desse filme trabalhava na França como vedete, provavelmente lá recebeu o convite para o filme, e além dele só participou de outros 6 obscuros filmes, e faleceu em 1982, com apenas 47 anos. Uma pena. Não alcançou a projeção de Isabel Sarli e Libertad Leblanc, mas a julgar por sua atuação neste filme teria se convertido em uma rival poderosa delas. Até porque tinha um corpo muito mais bonito e não era má atriz. Mas alcançou fama na Argentina como vedete e até o ano da sua morte, vítima de câncer, ainda atuava nos palcos portenhos. Bem e o que é este filme, que com tantas mãos por trás das câmeras tinha tudo para ser uma maçaroca? Um dos personagens descreveu o caso retratado no filme assim: tem de tudo, uma mulher bonita, um marido rico, um vagabundo gigolô, um crime e duas testemunhas. Uma trama, pois, com arquétipos noir, algo incomum no mundo sixtie dos filmes exploitation: Neli, é uma modelo, conhece um milionário sem graça, se casa com ele, e com dois dias de lua de mel em um balneário cai nos braços de um típico beach boy. O caso avança cada vez mais caliente – o marido, um lerdo, ignorando tudo -, com cenas que sugerem uma paródia das protagonizadas por Burt Lancaster e Deborah Kerr em “A Um Passo da Eternidade”: casal rolando na praia, esfregando-se, clássicas, e que causaram escândalo. Bem, já era os anos sessenta e agora o casal avançava mais no quesito audácia e sensualidade. A história é narrada em flashback por um quarteto de composto por três advogados e um psiquiatra, que vão discutindo os vários aspectos do crime. E entra então em cena um quarto elemento, um sujeito bebum que não seria só um amigo do gigolô, mas entre eles havia rolava algo mais tórrido. Homoerotismo no cinema ainda era incomum numa produção americana da época, e só possível em produções underground. Está formado, pois um quarteto amoroso, com substratos homossexuais que vai desembocar em um crime, que, aliás, é mostrado logo na primeira sequência - de impacto- do filme. O final bem sacana e inesperado fecha com chave de ouro este modesto e obscuro filme. A fotografia coube a Ray Dennis Steckler, um de diretor de filmes B de quem já comentei um filme aqui, é excelente, e como de hábito, em produções da época, a trilha sonora é uma curtição só, entre temas soul jazz e rock’rolls instrumentais. Inclusive, não falta a indefectível sequência numa boate go-go, com os dançarinos fazendo aquela coreografia

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

The Long Memory - 1953

Devendo-me um noir para refrescar, digamos assim, a mente, e este aqui, inglês, até poucos dias absolutamente despercebido por mim, foi uma descoberta recompensadora. Ao fim do filme a sensação era quase febril, que só as experiências gratificantes trazem como essa ao assistir um grande filme. Diretor e roteirista Robert Hamer, ilustre desconhecido, assim como o filme; elenco, idem, nenhum rosto vagamente familiar. É verdade que meu conhecimento do cinema inglês dos anos 40/50 não chega a ser dos maiores. As lacunas são muitas e ainda estou descobrindo e aprendendo, o que é ótimo, a possibilidade de se deparar com gemas como essa é constante.
A trama não difere de um noir clássico americano. Temos um homem, Philip Davidson (John Mills), que é liberado da prisão após 12 anos, condenado por haver supostamente assassinar um homem durante uma briga em um barco. Sua condenação foi graças ao depoimento da namorada, do sogro e de um amigo meio retardado. É evidente que o homem vai buscar a vingança. A polícia, capitaneada pelo Sgt Lowther fica vigiando seus passos. Um fato complicador no desenrolar da história: o policial se casou com a antiga namorada de Davidson, Fay (Elizabeth Sellars ). O ex-presidiário, não tem muitas opções de abrigo e se refugia em um barco abandonado, onde vivia um vagabundo. Nem tudo parece assim tão ruim na sua saga de vingança: logo, literalmente, cai em seus braços, Ilse (a atriz sueca Eva Bergh – lindíssima ), ajudante de uma taberna a beira mar frequentada por meliantes, que cansada das pancadas e ocasionais estupros, vai procurar abrigo ao seu lado. A princípio Davidson a rejeita, mas quem resistiria? E se a trama é típica, o que faz com que o filme galgue amplitudes maiores, saía de sua zona de conforto de um noir ótimo, mas comum?
Ao contrário dos seus pares americanos, quase sempre com tramas urbanas e filmadas em estúdio, o filme se desenrola em espaços amplos e naturais. E a utilização habilidosa da paisagem que o distingue e transfigura a saga de vingança de Davidson: uma cidade portuária pequena, suja, semidesértica e melancólica, cortada por ventos gelados. E podemos dizer que esta é o reflexo da paisagem interior do homem, que parece preso a um beco sem saída, beco de espaços amplos e frios, de muros invisíveis e mais duros que as pedras.
O filme pode ser baixado, com legendas em inglês, no blog Arsenevich, cujo link está aqui na minha lista de blogs favoritos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Will Success Spoil Rock Hunter ? - 1957

Não deveria começar uma resenha de um filme tão bom e divertido como este fazendo uma comparação com uma bomba produzida pela Globo Filmes, mas como fiquei meio invocado ao fim dela e muito satisfeito ao final do filme americano, e ademais os finais de ambos são idênticos, entre outros aspectos, que assim seja. Hugo Carvana é um cara simpático, Tarcísio Meira também, Flávia Alessandra é uma gata e a Ângela Vieira, uma coroa de primeira ,mas só estes detalhes não bastam para fazer um filme se tornar bom. E uma comédia que não tem graça é imperdoável, que é caso do filme brasileiro. Em contrapartida a comédia de Frank Tashlin, apesar do tempo transcorrido ainda é absolutamente divertida, inteligente, sarcástica, irreverente e quantos adjetivos mais que caibam aqui para enfatizar suas virtudes. Mas, ok, para que comparar uma comédia de 1957, engraçada e genial da época de ouro do cinema americano, com uma comédia sem graça da época de merda do cinema nacional? Well, falei do final, idêntico em ambos, único aspecto concreto que as une, afora o gênero. Para, além disso, a comédia americana, apesar do tempo e da origem, faz mais sentido para nós que o nossa tupiniquim de hoje. Na verdade ela é atualíssima para nossa realidade.
Temos de um lado um sujeito, Rocky Hunter (Tony Randall) publicitário fuleiro, a beira da demissão, em uma grande agência nova-iorquina; do outro lado uma atriz Rita Marlowe (Jayne Mansfield), mistura de Marylin Monroe e a própria Jayne e todas as atrizes frequentadores de revistas de fofocas e colunas de jornais de todos os tempos. O que vai uni-los? O publicitário vê na atriz, fútil e manipuladora da mídia, uma oportunidade de manter o emprego, e a procura, pedindo que ela estrelasse uma campanha publicitária de uma marca de batons. A loura dera uma escapada de Hollywood, para segundo ela, buscar um pouco de privacidade, claro que com uma penca de paparazzi e repórteres a tiracolo. Soa familiar? E a falsa loura burra, vê no palerma feio e sem graça, uma oportunidade mais uma vez de manipular a mídia e atrair os holofotes e câmeras. O relacionamento dela, com um clone de Tarzan - aliás, interpretado por Mickey Hargitay, ator que foi o homem macaco no cinema - havia ido por água abaixo, e o nosso marqueteiro manipulado caía também como uma luva para causar ciúmes nele. Hunter aceita o jogo, coloca na berlinda seu noivado com uma colega de trabalho normal e sem graça, e embarca numa odisseia midiática, tornando-se o Lover Boy e uma personalidade com a cara estampada em todos os jornais, revistas e aparecendo em todos os programas de TV. O diretor Tashlin, começou a carreira com desenhos animados: Jayne atua como em um desenho animado, e o ritmo das gags obedece ao mesmo padrão cartunesco. A sátira não se esgota no mundo do showbizz e da publicidade. A TV era a grande assombração de Hollywood naqueles tempos. O medo que ela acabasse com o cinema era real ( Não acabou, pelo menos não naquela época). E então voltemos ao Brasil: a TV de 30 anos para cá alcançou uma força espantosa em nosso país, e praticamente se tornou o único veículo audiovisual de força. Redundante falar que não temos mesmo indústria cinematográfica sólida, e só um filme ou outro ultrapassa marcas de público, e mesmo assim, boa parte deles, atrelados á TV. Mas falemos de coisas boas: e pois, Frank Tashlin estende sua sátira ao veículo em momentos puramente cinematográficos e antinaturalistas, surreais, como na abertura, parodiando comerciais de TV, ou mais adiante, debochando das então dimensões máximas das telas TV e na época ainda preto-e-brancas.
A origem do filme veio de um sucesso da Broadway, escrito pro George Axelrod, que foi roteirista de vários filmes do mestre Billy Wilder, e estrelado por Jayne Mansfield e Walter Matthau, que não participou da adaptação cinematográfica.
Um aspecto chama a atenção no filme: coadjuvantes perfeitos. Lembremo-nos da personagem da assistente de Rita, interpretada por Joan Blondell, no fabuloso monólogo sobre sua paixão por um leiteiro; mas Henry Jones, John Williams e Betsy Drake não ficam atrás e provam que um dos segredos da qualidade da cinematografia americana, residia nos coadjuvantes. E o final ainda reserva uma ponta surpresa de Groucho Marx !Um filme não se sustenta apenas com um grande ator se o elenco de apoio é fraco: e aí voltemos uma vez mais ao filme do Carvana: um ótimo Tarcísio Meira, que sabe trabalhar a seu favor com a canastrice, cercado por zumbis televisivos travestidos de atores em sua maior parte. Falei do final de ambos: um e outro terminam com os personagens no palco cantando, desmascarando a ficção e a manipulação.
O filme sabe-se lá porque, só recentemente ganhou uma edição em DVD nos EUA, considerando-se sua fama. Diga-se de passagem, que foi difícil encontra-lo. Mas no emule , com alguma paciência acaba chegando. A espera vai valer a pena e muitas gargalhadas. O filme já foi exibido no Telecine há tempos.
PS:

preferi não citar o título do filme nacional.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Living Skeleton - 1968

O cinema oriental, destacando-se ai o japa e o coreano, dita o que é bom e criativo no cinema de terror no mundo há bastante tempo. Qualquer produção de lá tem sido refilmada pelos americanos, obviamente com resultados inferiores. Este filme aqui até onde pude averiguar sequer foi exibido nos EUA na época do lançamento e nem mereceu ainda uma edição em DVD americana. Uma das razões, talvez pelo fato de ser em preto e branco num momento em que a maioria dos filmes já eram feitos em cores. O título inglês é evidentemente inapropriado, pois não tem nenhum esqueleto vivo no filme em nenhum momento. O título original tem mais a ver com “Bloodsucking Pirates” ou “Bloodsucking Skeleton Ship”. Mesmo sem repercussão na América, sua semelhança com o filme de John Carpenter “The Fog”, clássico dos anos 80, foi notada. O mais recente “The Ghost Ship” foi também claramente inspirado nele.
Com fortes elementos do cinema gótico italiano de Mário Bava, entre outros, temos aqui uma atmosfera fantasmagórica, irreal e ilógica, até surreal. A mise-en-scene maneja a narrativa com requinte. A sequência inicial é marcante: um barco capturado por piratas, e todos os passageiros e tripulantes são mortos sem piedade. Em seguida, o barco e abandonado e deixado à deriva no oceano. Salto para três anos depois, numa pequena cidade a beira-mar, onde o espectador toma contato com uma moça, irmã gêmea de uma das pessoas assassinadas no barco, que ajuda um padre católico na igreja local, e namora o dono de um restaurante. A aparição nas cercanias de um misterioso barco, envolto em brumas, atrai a moça. Com a ajuda do namorado ela vai ele e reencontra o fantasma da irmã e ao ler o diário de bordo fica sabendo de tudo o que ocorreu. Os piratas viviam agora, ali por perto também, como honestos cidadãos, e passam a ser perseguidos pela aparição do fantasma da moça.Um a um eles vão tendo mortes estranhas, ambíguas. Todas seriam talvez provocadas apenas pelo desespero causado por suas imaginações carregadas de culpa. E quem era a aparição? A mocinha, ou o fantasma da irmã? A narrativa deixa que estas questões permanecem na ambiguidade. Não há no filme, nenhum traço de uma ética e moral cristãs. O padre, que vai se revelar, aliás, como o líder dos piratas disfarçado é um monstro necrófilo, numa suprema provocação anticlerical. O coroamento do filme é uma sequência final onírica, desesperançada e niilista.
No elenco, a atriz Kiko Matsuoka teve alguma popularidade no exterior, atuando até em “ 007- Só se vive duas vezes”. O diretor, no entanto ,Hiroshi Matsuno permaneceu na obscuridade: o IMBD não lista nenhum filme dirigido por ele além desse aqui, o que é sem dúvida erro de informação, pois parece que ele foi prolífico diretor na TV e no cinema. A trilha é sensacional guardando algumas similaridades com as trilhas de Ennio Morricone com uso de harmônicas. Um filme que merece mesmo uma busca na internet: já é possível encontrá-lo com legendas em inglês, fato até há pouco tempo, impossível.
Antes que me esqueça: Kyuketsu Dokubo Sen, é o título japonês.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

The Body Beneath - 1970

Bem, se já lembrei aqui tantos malucos que dedicaram seus talentos a fazerem filmes tão loucos quanto suas vidas, como foram Ron Ormond, Al Adamson, entre outros, não poderia deixar de lembrar então Andy Milligan. Vida, assim como os citados acima, muito estranha e problemática. Americano de Minnesota mudou-se jovem para NY e foi parar na cena gay do Village aonde começou a trabalhar com teatro e logo teve a oportunidade de fazer filmes para o mercado exploitation que se desenvolvia para atender cinemas vagabundos e drive-ins. E sua carreira se moveu sempre nesse meio com filmes ultrabaratos, semiamadores, filmados em 16 mm, abordando toda sorte de perversões e loucuras, com 28 filmes, muitos perdidos(sobraram 14). Uma versão mais suja e punk do cinema de Paul Morrisey e Russ Meyer, na falta de analogia melhor. Stephen King referiu-se a um de seus filmes, pejorativamente, como “obra de um idiota com uma câmera”. O filme que lembro aqui tido como a sua “obra-prima”, se é que podemos usar este termo, pelos que comentaram sua obra. Andy Milligan abandonou NY por algum tempo, após receber convite de um produtor londrino e em Londres realizou três filmes filmados simultaneamente, um dos quais este aqui que resenho. Um filme de terror até convencional em linhas gerais. Ou quase, pois até onde sei é o primeiro vampiro que se disfarça de padre anglicano na história do cinema e ainda mora em uma igreja. Em todos os seus filmes, Milligan, assumia quase todas as funções por trás das câmeras: produção, cenografia, eletricista e até os figurinos, que assinava com pseudônimo.
A trama, até certo ponto linear, tem o vampiro disfarçado de reverendo e sua esposa(sempre muda), que chega a Carfax, procurando seus parentes. Sua linhagem estava definhando e ele precisava perpetuá-la, e para isso rapta três mulheres, descendentes do seu clã de vampiros, uma delas grávida. O plano era emigrar para os EUA e reerguer o clã de vampiros, usando a jovem grávida para gerar vampirinhos lindos e fortes. O séquito do reverendo incluía três vampiras psicodélicas e um criado corcunda, além da citada esposa, que funcionava também como um banco de sangue ambulante. Um corcunda não poderia faltar. Abrindo parêntese para uma lembrança pessoal: a única vez que o cronista aqui atuou foi justamente interpretando um corcunda, assistente de um cientista maluco (que era interpretado pelo cineasta Cao Guimarães) em um filme super -8 realizado como prova de um curso de cinema. Bons tempos. E é mesmo quase obrigatória em um filme B a presença do criado corcunda, não? Mas voltemos a “Body Beneath”: O clímax do filme é um banquete, onde todos os vampiros das redondezas aparecem, devoram uma mulher, enquanto debatem sobre mudar ou não para a América. O debate gera os momentos mais curiosos do filme, com diálogos bizarros onde os vampiros debocham sarcasticamente da América. Um dos vampiros diz que lá é era um país de gigolôs e prostitutas. Toda a sequência é filmada como se Andy Milligan estivesse possuído ou sob o efeito de LSD.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Testigo para un Crimen - 1963

Novamente dando um toque sobre o cinema argentino, sempre ótimo. Meus dois primeiros posts foram sobre eles, e o primeiro havia sido sobre um filme do diretor Emilio Vieyra. Fiquei sabendo ontem que ele faleceu recentemente, e tô aqui agora relembrando outro filme que realizou. Este aqui foi seu terceiro filme, um dos dois que realizou com Libertad Leblanc, a rival de Sarli, nas imaginações pecaminosas dos latinos americanos da década de 60 e 70. Estava lendo em algum lugar, enquanto pesquisava sobre outro filme que pretendia resenhar, que a atriz esteve no Rio de Janeiro no fim da década de 60, foi ao programa do Chacrinha e até foi homenageada por Roberto Carlos e dançou com ele na TV. Ela tem um blog e comenta o evento. Emilio Vieyra deixou uma penca de filmes curiosos, alguns até mereceram edições americanas, com temas espinhosos e controversos. . Em sua obra o sexo, as drogas, o transexualismo, mas também uma visão política de direita( era anticomunista) são elementos constantes em filmes que iam do policial, erótico, terror até a ficção científica. Foi o primeiro a colocar em cena um travesti em um filme argentino, justamente no filme que resenho, isso em 1963. Um espanto para a época: hoje qualquer novela da Rede Globo tem um seja nas seis ou das sete, e não choca mais.
Apaixonado pelos filmes policiais americanos, hoje conhecidos como noir, Emilio Vieyra seria um equivalente no cinema ao que foi Robert Arlt na literatura argentina, guardadas as devidas proporções. Mas para muitos ele foi mesmo o Roger Corman argentino. Nada mal a comparação afinal de contas.
“Testigo para um Crimen” é um policial interessante. Começa até meio rotineiro. Martin, chega a Buenos Aires querendo vingar a morte do irmão. Os indícios o levam a uma boate cujo proprietário Otero, é um gangster e traficante de drogas, para quem o irmão trabalhava. Entra em cena Libertad no papel de Blondie, cantora e amante do gangster. Assumindo a persona de um milionário o rapaz ganha a confiança do gangster, torna-se amante da loura, tudo para desvendar o mistério da morte do irmão. À medida que o filme se desenrola o que parecia previsível se revela bem mais complexo. Além da trama com um final imprevisível, destaca-se a direção estilosa, com ângulos e planos inusitados. De brinde a beleza de Libertad Leblanc e uma ótima trilha de Victor Bochino, que insere aqui e ali acordes de bossa nova na trilha cool.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

The Bride from Hell - 1972

Casamento é mesmo uma coisa complicada, um passo que deve ser dado com muita ponderação, não é mesmo? Amor à primeira vista é muito bom, mas conhecer um pouco do noivo ou da noiva, seu passado, seus pais, seu modo de vida, vai ajudar bastante na hora da vida a dois. O cinema está cheio de exemplos de casais que se juntaram sem se preocuparem muito e o resultado foram desastres de todo o tipo. Meu filme que relembro aqui é um bom exemplo de um casamento às pressas e que terminou em muita confusão e sustos.
A literatura chinesa clássica é pródiga em narrativas de casamentos entre humanos e fantasmas. O clássico de Pu Song Ling “Chinese Stories from a Chinese Studio” traz uma penca de narrativas com essa situação, e os contos folclóricos também. Mas ,curiosamente o cinema chinês pouco explorou a riqueza das histórias clássicas de fantasmas. Somente após o sucesso de “O Exorcista” em 1974, é que os Shaw Brothers, maiores produtores de cinema da Ásia, e até então produzindo somente filmes de artes marciais ou espadachins, resolveram se aventurar pela temática. Mas só nos 80 oitenta seriam comuns as produções envolvendo histórias de fantasmas.
Yun Peng está viajando com seu criado e procura abrigo em uma casa isolada, com medo de fantasmas e bandidos. A mesma era habitada apenas por uma jovem senhora e sua criada. Apesar da recusa os viajantes se abrigam em um canto e vão dormir. No meio da noite Yun desperta e inadvertidamente descobre Anu, a jovem senhora, nua sobre o leito. Para evitar a sua desonra, a jovem exige o casamento. O pedido, apesar de tudo, não parecia mal, pois a jovem era linda e eles se casam mesmo Yun não sabendo nada do passado ou dos pais da moça . Após a cerimônia do casamento, os parentes do rapaz tem finalmente a oportunidade de verem o rosto da noiva e percebem assustados que tem algo de errado com ela, e fogem apavorados. A moça era um fantasma, e como de hábito, o marido é sempre o último a saber. Na verdade, a moça havia sido assassinada e estuprada vinte anos antes por um grupo de jovens, que agora eram respeitáveis cidadãos locais, e assumiu a aparência de uma bela moça para realizar sua vingança. E um por um eles serão mortos. O toque cômico é dado pelo criado gordinho de Yun, que também havia se casado com a criada da moça fantasma, e passa a acreditar que a esposa seria também do outro mundo.
Para os padrões atuais não é mesmo um filme que assuste: tudo sugere mais um conto de fadas mal assombrado. O bom é que, apesar de não ser uma obra-prima, a narrativa preserva o encanto das narrativas de Pu Song-Ling – que coincidentemente relia por esses dias uma coletânea de seus contos, traduzidos para o inglês – e daí o seu mérito principal. Uma curiosidade é que a atriz que representa Anu, a moça fantasma, Margareth Hsing Hui, depois de abandonar o cinema , se mudaria para os EUA, seria presa por tentar matar a própria mãe e faleceria em 2009.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

China 9, Liberty 37

“Quando eu fiz os dois primeiros westerns, eu estava realmente tentando fazer algo diferente, porque eu pensei que todo mundo já tinha feito todos os Westerns tradicionais que precisavam ser feitas. Então eu decidi fazer um par de anti-Westerns. E tendo feito isso, eu saí do sistema. Quando decidi fazer CHINA 9, 37 LIBERTY eu realmente queria um pró-western , um faroeste tradicional. E eu acho que fiz tudo com o melhor de minha capacidade. Eu acho que não chegou a ficar dessa maneira, mas eu dei o meu melhor.” –Monte Hellman

Para meu post de número 100, nada melhor do que relembrar gêneros, atores e diretores que aprecio: no caso tenho aqui um faroeste – talvez meu gênero favorito, um diretor de minha particular estima: o americano Monte Hellman, e o ator fantástico – impossível evitar um superlativo no caso dele, Warren Oates. E de quebra, este filme ainda tem uma ponta rara de Sam Peckinpah, outro dos meus diretores favoritos de todos os tempos. Um faroeste classificado pela maioria, como um spaghetti, pela razão da produção italiana e as filmagens, além do mais, realizadas na Espanha e na Itália, cenário habitual do subgênero. Quando foi lançado em 1978, o western estava praticamente morto: nem os italianos se aventuravam mais pelo gênero, e nos EUA poucos filmes eram realizados. Se em termos de produção ele pertenceria à infame escola italiana, a rigor o diretor fez mesmo, conforme sua declaração citada na abertura da resenha, um faroeste dentro das tradições clássicas americanas. As duas incursões anteriores de Monte Hellman no western, ambas filmadas nos anos 60, tendo Warren Oates em uma delas (“The Shooting”), foram tentativas de renovação inseridas dentro do contexto das mudanças que ocorreriam nos anos 60 em todos os setores da arte e da sociedade. A crítica os apelidou de faroestes psicodélicos. Monte Hellman sempre manteve uma carreira à margem da indústria cinematográfica americana. Começou trabalhando em filmes baratos com Roger Corman ,depois só conseguiu realizar esporádicos longas-metragens. A sina errática de Monte Hellman continuaria após este filme: somente dez anos depois conseguiria finalizar outro filme,“Iguana”.
E incrivelmente, depois de 20 anos sem dirigir, lançou em 2010 o filme “Road to Nowhere”, com boa aceitação crítica. O filme, segundo o diretor, foi inteiramente filmado com uma câmera digital que custou USD 12.000!
“China 9, Liberty 37” (na Itália se chamou “Amore, Piombo e Furore) o estranho título americano se refere a um cruzamento entre duas pequenas cidades do oeste. E metaforicamente, como veremos, o filme é sobre o cruzamento entre diversos tipos de heróis e bandidos do velho oeste. Temos então um pistoleiro Clayton (Fábio Testi) condenado á forca, no vilarejo China, que recebe uma oferta que poderia livrá-lo da condenação: matar um mineiro que estava atrapalhando os planos de expansão da ferrovia. Mathew, o rancheiro, em mais uma boa e singular atuação de Warren Oates , em um dos seus últimos papéis , vivia no rancho com uma bela mulher, a insatisfeita Catherine(Jenny Agutter) e havia sido um pistoleiro de aluguel para a própria companhia que desejava eliminá-lo. Clayton chega ao rancho, mas acaba fazendo amizade com Mathew, além de cair de amores pela esposa dele, e vai embora sem realizar a tarefa assassina. É claro que não sem antes ir às vias de fato com a bela esposa do rancheiro marrento. A consequência é que o marido espanca a mulher , mas acaba sendo ferido gravemente por ela. Catherine acreditando-o morto foge e vai à procura do amante. Recuperado, o rancheiro inicia uma perseguição, com a ajuda dos irmãos, ao casal. A narrativa vai descortinando detalhes que demonstram originalidade: é raro como aqui, por exemplo, ênfase em cenas de amor e sexo, no gênero; a psicologia dos dois pistoleiros é rica em nuances: nenhum é mocinho ou vilão realmente, e apesar da rivalidade brutal ( todos os irmãos do rancheiro são mortos ) a amizade entre o pistoleiro, ainda na ativa, mas querendo fugir da profissão, e o pistoleiro aposentado, sobrevive de alguma maneira. Há uma intervenção quase felliniana de um circo em um vilarejo no deserto; o proprietário, além de oferecer ao pistoleiro um trabalho no circo como atirador, lhe dá algumas garrafas de um elixir à base de cocaína. Uma alusão aos primórdios da Coca-Cola? E temos Sam Peckinpah que aparece como um escritor de romances vagabundos de faroeste, que se oferece a Clayton para escrever suas façanhas e transformá-lo em uma lenda do oeste; e ele é claramente citado e homenageado na abertura do filme, similar à “ Wild Bunch”, onde meninos brincando com escorpiões apareciam nas sequências iniciais, agora são meninos brincando com bolinhas coloridas. Em suma um faroeste que vai além de ódio, vingança: é também uma história de amor e amizade destinada ao fracasso, uma ode crepuscular e melancólica a um gênero agonizante, simbolizada nas figuras dos dois pistoleiros. Temáticas, na verdade, presentes em toda a rica e pequena filmografia de Monte Hellman. Foi simbolicamente a última produção distribuída pela Allied/Monogram, clássica produtora e distribuidora de filmes B nos anos 50 e 60, homenageada até por Godard em “Acossado”. O responsável pela fotografia foi o grande Giuseppe Rotunno de “O Leopardo”, entre outros clássicos.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

5 de Chocolate y 1 de Fresa - 1967

Que tal juntar num caldeirão Richard Lester, 3 Patetas, Jerry Lewis, Buñuel, Frank Tashlin, John Waters e Almodóvar e acrescentar doses fartas de psicodelia sixtie à lá Austin Powers ? Essa maçaroca analógica poderia dar uma ideia dessa comédia mexicana para o leitor. A direção coube a Carlos Velo, 45 filmes no currículo, em sua maioria documentários, além de haver trabalhado com Buñuel em “Nazarín”. Um veículo inusitado para Angélica Maria, uma mistura de Dóris Day e Wanderleia mexicana. Na verdade ela nasceu em New Orleans nos EUA, mas fez sucesso no México cantando, atuando ( desde criança) e apresentando programas de TV; está ainda na ativa, popularíssima no país asteca. Ficou conhecida como a namorada do México, tal a sua popularidade. O papel que interpreta aqui causou, é claro, alguma polémica e foi audacioso. No inicio do filme tudo parece estar ok: ela é uma noviça ingênua em um convento, os pombinhos voam ao seu redor e até pousam sobre a sua cabecinha dourada. Mas de repente eis que ela está com outro visual, minissaia, cabelos compridos, cara safada e descendo as escadas de uma festa de ricaços cantando um rock’roll doidão para os padrões da época. O que se passou? Bem, a noviça havia experimentado no convento uns cogumelos alucinógenos, deu uma pirada e se transformou na maluquinha e sexy Brenda. Na festa ela arrasta consigo 5 playboys, e com pistolas de brinquedo, passa a cometer uma série de ações criminosas malucas. Em seu encalço surge uma organização bizarra chamada Agência de Vigilância Internacional e o filme se transforma num jogo de gato e rato que vai ficando mais e mais maluco, até abandonar a lógica completamente. Os efeitos alucinógenos pelo visto também afetaram diretor, roteirista e atores. Fiz no início da resenha algumas analogias, acrescentemos também às anteriores “Diabolik” de Mário Bava, e a série “Batman” com Adam West.O barato é que em meio a tanta maluquice aparentemente inconsequente as piadas e tiradas passam longe da caretice: igreja, exército, burguesia mexicana, cada um recebe o seu piparote maroto. Ou seja, o filme vai além da comedia juvenil e por alguns momentos - mais uma analogia - parece que o espectador está diante de algum rascunho de um filme de Buñuel, um “Fantasma da Liberdade” talvez. Uma pena que a cópia que tenho foi ripada de TV e não é das melhores. Até onde sei, não saiu em DVD, infelizmente, nem no México e ou outro lugar. O que é de se estranhar, considerando que foi o auge da namoradinha asteca no cinema.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sigfrido - 1957

Uma versão italiana para a lenda de Siegfried e os Nibelungos foi mesmo algo que eu não imaginava encontrar algum dia. Eu conhecia versão genial de Fritz Lang, que tive o prazer de assistir no antigo cineminha do Goethe Institut; descobri que, posteriormente, os alemães fizeram outra versão da lenda, já nos anos 60. Infelizmente ainda não a consegui com legendas legíveis, já que não entendo lhufas da língua de Goethe. Mas esta versão dirigida por Giacomo Gentilomo em 1957 me era inteiramente desconhecida. Bati na madeira. Um peplum de uma lenda germânica? Bem, infelizmente deveria ter dado mais pancadas na madeira. Adoro a história: li a Saga Islandesa, com a lenda original nórdica, “A Saga dos Volsungos”, li depois “O Canto dos Nibelungos”, poema alemão escrito na idade Média, e já com influência da literatura do ciclo arturiano. A história me fascina desde criancinha, pois ganhei uma coleção em 7 volumes só com narrativas de mitologias do mundo todo, e um dos volumes era dedicado à lenda de Siegfried e sua espada mágica. A produção italiana já apresenta os cacoetes do gênero peplum que ganharia força na década seguinte e inundaria os cinemas com gladiadores, heróis mitológicos, monstros, deuses, imperadores romanos e muito mais. Como eu temia, os roteiristas tomaram muitas liberdades com a história original: ignoraram o início da saga, aonde se narrava a história dos Volsungos, a morte de Sigmund, pai de Siegfried, e ignoraram o espetacular final com a vingança de Kriemhild, entre outros vários detalhes. O herói Siegfried é aqui neste filme um guerreiro aborrecido, fanfarrão e francamente estúpido: não tem nenhum cuidado em revelar o segredo da sua invulnerabilidade para Hagen, seu inimigo! Francamente, o rapaz era um tolo e paga caro por isso. Teria sido pior, é verdade, se os americanos tivessem realizado a adaptação, sem nenhuma dúvida, não? Apesar dessas mudanças, o básico da lenda, que, aliás, tem várias versões, é preservado e o filme tem seu encanto. Não chega aos pés dos filmes de Lang, quase desnecessário frisar, fica claro que o diretor tentou ao máximo emulá-los em várias sequências, sem muito sucesso: a obra de Lang foi, afinal de contas, uma superprodução, fascinante em todos os aspectos, e a italiana teve uma produção bem mais modesta.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Embla - 1991

A Islândia que sugere magia, vikings, deuses nórdicos, sagas, uma neve infinita, Bjork, é um país pequeno e produz também bons filmes. E o mais interessante: filmes com temática medieval, que buscam recuperar o passado quase mítico da ilha. Narrativas baseadas nas lendárias sagas, o primeiro opus em prosa que o ocidente produziu. Este filme que resenho é o segundo que assisti originário do país. O primeiro, aliás, depois de ler uma saga, soube que haviam feito uma adaptação cinematográfica na Islândia. Com a curiosidade aguçada passei a fuçar a net, e infelizmente descobri que achar o filme seria impossível. Existia até um edição dele em dvd lançado na Europa, mas com subtítulos em russo. O filme em questão era “Utlaginn”, que eu acabaria já no ano passado conseguindo uma cópia, inicialmente sem legendas, ou seja, inútil quase, mas pouco depois consegui as legendas em inglês. Mas deixemo-lo para depois. E concentremo-nos nesse interessante filme também ambientado em um período medieval, mas ao que tudo indica não foi inspirado em nenhuma saga. Embla, também recebeu o título de “White Viking”. Os dois títulos exemplificam os percalços em torno da produção: Incialmente lançado como “White Viking” tinha uma metragem maior, e um desenvolvimento contrário às ideias do diretor, modificado pelos produtores em vários aspectos. Esta versão centrava-se mais na história do personagem masculino e sua viagem á Islândia para converter os pagãos ao cristianismo. A posterior mudança do título e a remontagem do diretor, justamente mudava o foco da trama para a personagem Embla, a mulher do rapaz enviado à Islândia, e eliminando substancialmente o papel do personagem masculino. A primeira versão foi lançada em 1997, e só em 2007, a versão do diretor foi exibida. Hrafn Gunnlaugsson, é um diretor especialista em retratar o passado heroico e mítico islandês, tendo realizado uma elogiada trilogia, conhecida como “Trilogia do Corvo” do qual este aqui seria a terceira parte e é tido como o responsável por colocar o cinema islandês no mapa mundial. A atriz Maria Bonnevie no papel do título tinha apenas 15 anos na época, de origem sueca, tem feito uma carreira internacional de destaque desde então no cinema europeu. Sua participação causou polêmica, tendo em vista as várias cenas de nudez e sexo que protagoniza. No chatérrimo politicamente correto de agora seria impossível.
A trama é ambientada nos tempos do rei Olavo - no século 10 - responsável por introduzir o cristianismo nos países nórdicos. Como veremos no decorrer da narrativa, essa conversão não se deu de maneira pacifica , usando a força da espada e envolvendo banhos de sangue. E é durante a cerimônia pagã do casamento de Askur e Embla, que as tropas do rei chegam, e massacram a todos. A moça é capturada, seu pai, um sacerdote pagão é obrigado a se tornar um padre, e seu noivo é condenado a partir até a Islândia, ainda pagã, e convertê-los ao cristianismo. Só dessa maneira poderia reaver a noiva. Mas o rei Olavo se enamora da orgulhosa viking e tenta de todas as s maneiras seduzi-la e a aprisiona em um convento isolado. Ao contrário de produções americanas pretensamente históricas, não temos aqui anacronismos absurdos comuns nos filmes antigos e recentes. Temos uma narrativa de um realismo feroz, nenhum glamour, numa secura e aspereza que deixam tudo com um aspecto quase documental , apuro e fidelidade histórica em cada detalhe: vestuário, comportamentos dos personagens. O painel que ele desdobra para o espectador é o de um cristianismo quase selvagem e bárbaro, chocante para os desavisados.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Íncubus - 1966

Um dos filmes mais cercados por lendas de todos os tempos, e dos mais curiosos e obscuros. Para começar foi um dos dois únicos filmes falado inteiramente em esperanto até hoje. Eu até achava que era o único, e a maioria das resenhas dizia que seria,mas foi realizado antes na França, outro falado em esperanto. Lendas de maldições cercam o filme: praticamente todo o elenco, à exceção do star trek William Shatner, morreu de maneira trágica após a realização. E para finalizar: só teve exibição na França – daí porque qualquer cópia que alguém encontrar sempre terá legendas em francês –, foi dado como perdido e só há alguns anos foi encontrada uma cópia e enfim, o ganhou versão, lá fora em dvd.
O responsável por essa curiosidade da história do cinema foi um homem mais afeito ao universo da televisão, curiosamente: Leslie Stevens dirigiu pouquíssimos longas-metragens, tendo trabalho como produtor, diretor e roteirista na TV. Seu nome sempre é lembrado por ser o responsável pela série “Além da Imaginação”, umas melhores coisas que a TV produziu.
A decisão por colocar os personagens falando em esperanto foi uma audácia de Leslie Stevens, mas faz algum sentido, considerando a trama. Dois demônios Amael e Kia , em forma de mulher, entediadas com a facilidade com que os humanos se deixam levar para o mal. Kia descobre que um humilde soldado que vive numa ilha isolada , envolta em brumas, com a irmã era, afinal de contas, alguém realmente puro, e resolve, junto com a irmã concentrarem as forças em levá-lo para o caminho do mal. Para corromper a irmã recorrem a outro espírito do mal que vai seduzir e estuprar a moça ; mas Kia e o soldado se enamoram. Para o diretor então só faria sentido que os íncubos falassem uma língua que não soasse como falada por humanos, e daí escolheu o esperanto. O cenário nas cercanias de Big Sur, na Califórnia, sugere mais uma atmosfera expressionista e nórdica, uma aura onírica e de pesadelo. Um episódio da “Além da Imaginação” com toques bergmanianos alguns críticos sugeriram. As imagens e temas influenciariam diretamente três filmes posteriores: “O Exorcista” – os demônios de ambos os filmes se assemelham -, “Evil Dead” de Sam Raimi e “o Bebê de Rosemary” ( a cena do estupro demoníaco é similar à cena do filme de Polanski).
Voltando ao tema da maldição que cercaria o filme: as duas atrizes, que interpretaram os demônios tiveram fim trágico um ano após a realização do filme: Ann Atmar suicidou e a outra Eloise Hardt, teve a filha raptada e morta; e o ator Milos Milos que interpretou o demônio matou a amante, esposa do ator Mickey Rooney e cometeu suicídio em seguida. A questão é - para além dessas lendas - que estamos diante de um filme de terror sui-generis, que não deixa ninguém indiferente ao assisti-lo.