quinta-feira, 31 de maio de 2012

The Candy Snatchers - 1973

Certas afirmações são perigosas e eu na medida do possível as evito, mas sempre imagino que algum louco poderia catar em minhas resenhas muitas delas, peremptórias e inúteis. Mas certos filmes deixam-nos tão empolgados que não resistimos em sair bradando pelo mundo virtual que este ou aquele é o melhor filme, um dos 10 mais, ou isso ou aquilo. Fazer lista é outra tentação em que ainda não caí: vivo planejando fazer uma disso ou daquilo, mas felizmente adio sempre essa ideia, não que eu não goste delas. A net tá cheia de listas para todos os gostos. E eu sempre dou uma mirada nelas, pois nunca deixo de descobrir algum filme desconhecido e que possa ser sensacional. Imagino até, não recordo, que descobri este filme numa dessas listas. Ele, seguramente estaria em uma dessas que não teria saco para fazer, dos melhores filmes americanos de exploitation dos anos 70. Ok, vamos restringir por décadas, porque aí ficaria mais fácil e ainda tenho uma penca de filmes para ver e daqui a pouco esta lista dos 10 mais da exploitation dos anos 70 viraria uma lista de 100 filmes, talvez. Temos aqui um filme que parte de um roteiro bem executado, costurando uma trama repleta de reviravoltas e surpresas. Quentin Tarantino deve ter passado horas assistindo-o antes de dirigir seu primeiro filme e gasto a cópia VHS na locadora onde trabalhava. Imagino que os Irmãos Coen também devem tê-lo na prateleira dos filmes favoritos.
A gata Tiffany Bolling interpreta Jessie líder de um bando, composto pelo irmão psicopata - os dois , certamente, mantinham uma relação incestuosa -, e Eddy, um gordo algo simpático, veterano do Vietnam, que planejara toda a ação: raptar uma colegial de 14 anos, filha de um gerente de uma joalheria exigir o resgate em joias. A mãe da menina raptada era uma alcoólatra e o pai - na verdade, padrasto - levava um caso com a colega de trabalho e simplesmente se lixa para ao pedido de resgate: caso a moça viesse a morrer uma das clausulas era que ele ficaria com a metade da herança que ela teria para receber quando completasse 18 anos. A menina é enterrada vida, respirando apenas por um cano, enquanto a trupe espera pelo resgate que nunca virá. Uma testemunha inesperada: um garoto autista presencia todo o desenrolar das ações do grupo e tenta ajudar a moça do jeito que podia, resultando apenas em momentos de humor negro. A mãe do garoto uma mala sem alça praticamente impede o salvamento da garota por não entender o filho. Sensacional a cena em que ele tenta avisar a polícia, e como era mudo, tenta se comunicar por meio de um boneco policial falante. Bizarro. Para os amantes do politicamente incorreto temos estupros, piadas com a feliz família americana, drogas e nudez. Ou seja: um perfeito exploitation, que só os gloriosos anos 70 poderiam ter gerado. O espectador que acompanhar a trama à medida em que ela vai ganhando contornos mais violentos e grotescos será brindado com um final ultrajante, cruel e perverso: David Lynch e Peckinpah não teriam feito melhor. A ótima direção coube a Guerdon Trueblood, com 23 roteiros no currículo e apenas dois filmes para o cinema. Para os curiosos que ficaram interessados ao fim dessa arenga: existe torrent no Pirate Bay. Boa caça, Valerá a pena.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Fúria Infernal - 1973

Libertad Leblanc tinha virado o placar da disputa com a rival Isabel Sarli aqui neste cantinho. Como comparei aqui mesmo: um Boca X Ríver cinematográfico e que agora volta a ficar empatado com o filme que relembro. Sem dúvida o mais violento e furioso do gigante Armando Bó. Deixando seu lado Russ Meyer um pouco e assumindo uma persona peckinpaniana. A trama tem um quê de “I Spit in your grave” o clássico supremo dos filmes de vingança feminina, que, aliás, é posterior. A voluptuosa e monumental Isabel Sarli aqui na pele de Bárbara, uma stripper em Buenos Aires, casada. Na saída do teatro, vê o marido ser assassinado e é raptada, a mando de um poderoso fazendeiro criador de ovelhas, e levada para as terras dele numa remota e desértica região argentina. No caminho até lá ainda é estuprada por um dos filhos do fazendeiro, como aperitivo para que viria a seguir. Sem nenhuma saída nossa heroína se vê obrigada a se casar com o autêntico senhor feudal, que mantinha seus empregados como escravos.
Só resta a ela acalentar a vingança utilizando a única arma de que dispunha: o corpo. A velha frase de que a vingança é um prato que é servido frio aqui, no caso, pode ser mudado para a vingança é servida em um corpo quente e cheio de curvas. Ao contrário de outros filmes o diretor Armando Bó deixa a trama fluir naturalmente em ritmo de um western dos pampas e com algumas sequências bastante violentas. Sarli, para não perder o hábito, tem seu momento de rolar e fazer suas caras e bocas, aqui desnuda na neve. O emule tem cópia do filme, para os interessados.

sábado, 26 de maio de 2012

Night of the Eagle - 1962

Sempre me fascinaram filmes deslocados, extremos, insanos e loucos. Mesmo nos tempos do filme de arte os cineastas autorais que mais me agradavam seguiam a essa linha: Buñuel, Lang, Zulawski, Kumel, alguns filmes de Godard,entre outros nomes que me fogem à memória agora. Passada essa fase, digamos profissional, resgatei os filmes que eu assistia no cine do meu bairro Ipiranga. Cheguei a cogitar o nome para o blog de Cine Ipiranga, em homenagem àqueles bons tempos das sessões duplas: filmes de Tarzan, gladiadores, spaghettis italianos, faroestes americanos, filmes bíblicos americanos e italianos também, seriados como “The Phantom”, a dupla “Gordo e o Magro”, comédias de Chaplin e Jerry Lewis, filmes mexicanos como “El Santo”, chanchadas brasileirase muitas, muitas outras maravilhas. Quando finalmente pudemos adquirir filmes assim como temos livros, já nos tempos do VHS, foi outra uma fase de descobertas, ampliação do horizonte até então limitado à ida aos cinemas, revistas e convivência com cinéfilos apreciadores de cinema de qualidade. Último adendo autobiográfico: quando eu fazia a programação do CEC no Palácio das Artes realizei uma mostra de filmes Bs, onde exibi Jacques Tourneur e seu “Cat People”, Don Siegel e muitos outros que pude ter acesso na velha Polifilmes em São Paulo. O modismo “cult” teve lá suas vantagens: cineastas foram resgatados, filmes voltaram a circular nos canais de TV a cabo e minha coleção ganhou muito. Graças ao Telecine , por exemplo, pude conhecer um dos meus cineastas favoritos, Russ Meyer, que associava apenas a filmes pornográficos , além de incontáveis gemas do cinema B americano dos anos 50 e 60, que eu só conhecia de nome. Essa curtição por filmes Bs rendeu autênticas aventuras para encontrar certos filmes, como foi o caso da caça ao “The curse of Undead”, na qual tive que fuçar dezenas de pequenas lojas de VHS no Village até encontrar uma cópia. Isso há uns 16 anos, quando de minha primeira viagem à NY. A internet significou uma nova oportunidade de ampliar ainda mais o universo desses filmes. Blogs maravilhosos onde pude descobrir grandes filmes, caso do falecido Boizeblog, que era uma loucura, todos os filmes postados eram interessantes. Mas também tinham aqueles blogs só de comentários que me excitavam a curiosidade e me forçava a percorrer o universo virtual à caça da bendita cópia. Minha estadia de três anos na América foi igualmente ótima: pude adquirir filmes raros, comprar excelentes livros sobre filmes Bs e afins. É óbvio que adoraria fazer como o extinto “Boizeblog” e outros blogs sensacionais, alguns amigos, que ainda sobrevivem e insistem em postar filmes, mas volta e meia percebo que passam por problemas de toda ordem, inclusive legais. Até que tenho tentado colocar os links quando sei que são possíveis. Mas creio que os meus improváveis leitores, caso existam, deveriam fazer como eu fiz e faço ainda: caso curta a dica que dei, corra atrás como eu . E eu não teria nenhum problema em enviar cópia de algum filme caso alguém se interessasse demais. O emule ainda existe, não acabaram ainda com o torrent, e tem dezenas ainda de abnegados que disponibilizam maravilhas em bons blogs nacionais e estrangeiros.Eu me contento em apenas tecer rápidos comentários e fico feliz quando vejo que despertei o interesse de alguém por esse ou aquele filme.
A arenga ficou longa e sobra pouco espaço para relembrar este ótimo filme inglês dos anos sessenta que é facilmente baixável no YouTube em cópia de boa qualidade. Direção do artesão Sidney Hayers, de longeva carreira no cinema e TV. No elenco Janet Blair, boa atriz americana, no papel de uma simpática e dedicada dona de casa, esposa de um respeitável professor universitário. A vida do casal começa a ficar confusa quando ele passa a desconfiar que a esposa fosse uma bruxa. Estamos na mesma década do seriado “A Feiticeira”, de grande sucesso e que tratava o mesmo tema com bom humor. Mas aqui o tom é sombrio e melancólico. Cético e racional o professor acha que tudo aquilo não passava de loucuras da esposa, e não lhe dá ouvidos, quando ela o adverte que estava praticando a magia na tentativa de lhe proteger de uma colega maligna da universidade. O diretor absorve as lições da boa tradição inglesa do terror e também dos filmes produzidos pelo americano Val Lewton, que renovaram o gênero algumas décadas antes. Atmosfera e sugestão acima de tudo: a receita infalível que torna este filme digno de nota. O filme recebeu o título mais óbvio de “Burn, Witch, Burn”, mas prefiro o original, bem mais sutil. A história, baseada em um romance de Fritz Leiber, já havia recebido uma adaptação em Hollywood nos anos 40, dentro da série “Inner Sanctum”. A destacar o grande Richard Matheson como um dos roteiristas da versão inglesa. E como já disse: tem cópia no YouTube !

segunda-feira, 21 de maio de 2012

The Devil's Mistress - 1966

Produção independente que combina dois gêneros cinematográficos distintos, o horror e o western, com resultados inesperados. E mais que isso um filme de feitura quase amadora a julgar pela ficha técnica: do elenco composto por 6 atores, apenas um chegou a aparecer em outro filme. E o diretor Orville Wanzer, que demonstrou talento, sumiu do mapa após sua realização. Nada espantoso talvez se considerando que vários filmes que hoje tem status de cults tiveram histórias semelhantes, basta lembrar “Carnival of Souls”, entre tantas produções. O híbrido terror e western me fascina especialmente, e já comentei alguns aqui nesse espaço. Temos aqui quatro cowboys errando pelo deserto do New México, que acabam buscando abrigo em uma cabana habitada por um velho pastor e a jovem esposa mestiça, bonita e muda. O velho dá a deixa para futuros dissabores quando lembra que teve que fugir de Salem, a cidade das bruxas, por causa de perseguições que sofreu. Mas os cowboys não deviam saber das histórias envolvendo a cidade da Nova Inglaterra e dois deles resolvem se engraçar para cima da esposa do pregador, antes de prosseguirem a jornada. O ato termina em um estupro e a morte do velho.
Para continuar o divertimento decidem levar com eles a mulher. A jornada pelo deserto continua mais e mais irreal . Passam a ser seguidos por um estranho e um a um os homens vão morrendo de causas inusitadas. Nenhum dos cowboys era especialmente simpático, mas um deles parecia ter boa índole e acaba se envolvendo com a mestiça, que vai se revelando uma maligna espécie de vampira. Nada de dentes pontiaguados e mordidas no pescoço, apenas sugando a energia da vítima com toques e beijos. O uso inteligente das paisagens desérticas, a atmosfera surreal que deixa a narrativa com um “quê” de uma velha lenda indígena narrada à beira de uma fogueira, dirimem os eventuais defeitos do filme. Só lembrando que outro western, o independente e badalado "The Shooting" de Monte Hellman foi realizado um ano depois e guarda algumas semelhanças com o filme que relembro. E já na década seguinte o mexicano Jodorowsky viria com "El Topo", levando ainda mais longe o conceito de um western surrealista. Não tão ambiciosa com certeza, este filme de Orville Wanzer é ,no entanto,um bom exemplo das produções regionais e independentes até do circuito das produtoras de filmes exploitation B dos anos sessenta.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

The Female Animal- 1958

Como acabei criando outra série, sem nenhuma intenção de cria-la, no caso a das despedidas vexatórias ou honrosas das divas de Hollywood, não poderia passar em branco o canto do cisne, dependendo do ponto de vista, da semideusa dos anos 30/40 Hedy Lamarr. Para muitos o rosto mais belo do cinema. Opinião difícil de contradizer. Teve a glória de ser o primeiro nu frontal do cinema: no clássico pré-exploitation “Ectasy”, com a antológica cena de orgasmo, que reza a lenda não foi simulada. Em Hollywood alguns destaques como o papel de Dalila na tranqueira bíblica de Cecil B.de Mille “Sansão e Dalila”, uma das melhores comédias de todos os tempos. E longe do universo do cinema, passou à história da ciência como inventora. Seguramente por trás do rosto divino havia um cérebro. O fim da vida foi algo bizarro: chegou a ser presa roubando lojas, como uma simples ladra. E o filme que comento acabaria sendo a sua despedida. No roteiro a assinatura de Albert Zugsmith, que foi personagem principal do meu último post. Produção da Universal. Direção de Harry Keller, subestimado e odiado por muitos, pois a pedido do produtor, novamente o nosso amigo Zugsmith ,refilmaria algumas cenas de “A Marca da Maldade” de Welles. Injusta fama: além do filme que relembro tem na filmografia um bom western: ”Quantez”. Estes elementos somados: Albert Zugsmith, que significa exploitation, mais Universal, que significa melodrama e mais Heddy Lamarr, uma estrela já no ocaso e cinquentona, só poderia gerar um filme, no mínimo fora do comum. A recepção crítica ao filme nunca foi das melhores. Ainda hoje se alguém se dispuser a consultor o IMDB verá que as opiniões são de maneira geral tendendo ao desprezo.
Hedy Lamarr nunca foi mesmo uma atriz fantástica para além da beleza fascinante, isso é verdade. Mas temos aqui um filme que prenunciaria as extravagâncias “camp” das décadas seguintes. Um filme que relembrei aqui, aliás, um dos últimos de outra diva, a atriz Lana Turner, lidava com uma trama vagamente similar: uma coroa atriz decadente e gigolôs predadores: “Love has many Faces”, filme igualmente esculhambado de maneira geral. Lá como aqui temos uma atriz famosa Vanessa Windsor (Lamarr), envelhecendo, e que é salva de um acidente no set de filmagens por um figurante. O salvador, interpretado por George Nader, cai nas graças da diva e é convidado a morar numa mansão que ela possuía a beira-mar. O moço passa boa parte do filme com o torso nu. Por um desses acasos cinematográficos ele acaba trombando na noite com a filha adotiva da atriz Penny (Jane Powell), uma barraqueira cachaceira e problemática. E para apimentar a trama até então restrita a intensos “amassos” entre a coroa ávida por sexo e o gigolô com consciência, nasce entre o rapaz e a mocinha o amor puro e verdadeiro que move as estrelas no céu. Mãe e filha disputando o garboso figurante, que em um acesso de consciência chega a aceitar “ estrelar” – de graça – uma produção B no México, só para fugir das garras da felina. O bom do filme é que ele foi escrito por alguém que entendia bem dos bastidores e assim sendo as piadas e alusões a fatos reais são constantes ao longo dele. E não esqueçamos que Zugsmith antes de ingressar no cinema foi jornalista. Se Hollywood teve uma virtude foi a de não se furtar a se autoexaminar ou autoparodiar. O filme aqui pode não se inscrever na lista das obras-primas dessa linha – que culminou com “Sunset Boulevard” de Billy Wilder – mas é digno de nota pelo que insinua e sugere no terreno da sexualidade explosiva e quase frenética do trio. Nesse sentido antecipa a sexploitation da década seguinte.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

El Cuarto Chino -1967

Albert Zugsmith foi um dos sujeitos chaves para vários movimentos culturais que emergiram a partir dos anos 50 : o rock’roll , o movimento hippie e os beatnicks, de uma maneira ou outra passam e lhe devem muito. Iniciou a carreira como jornalista e depois entrou na indústria cinema produzindo vários clássicos notáveis como a “A Marca da Maldade” de Welles, o “Incrível Homem de Encolheu” de Jack Arnold e “Palavras ao Vento” de Douglas Sirk, entre outros, todos para a Universal. A partir da década de 60 decidiu dirigir seus próprios filmes, sempre no campo da exploitation, abordando temas como a delinquência juvenil e as drogas . E é neste último tema, sempre polémico , que reside o aspecto mais curioso e interessante dessa obra marginal nos anais da história do cinema. Albert teve a ousadia de adaptar “As Confissões de um Comedor de Ópio” de Thomas de Quincey, com Vincent Price. Um livro ,no meu entender, de difícil adaptação. Outros títulos na sua filmografia exploraram o tema espinhoso. Infelizmente filmes que não existem em DVD ou sites de compartilhamento. Uma pena. Felizmente o filme que lembro aqui pode ser encontrado com alguma sorte em uma versão mexicana, ou melhor, dublada em espanhol. O filme foi uma coprodução com o México, com atores americanos e chicanos, todos atuantes por lá, nenhum de Hollywood. A estrela Elizabeth Campbell, por exemplo, apesar de americana, fez a carreira toda no cinema mexicano. Ao que consta foi para a capital asteca para estudar espanhol e acabou entrando no mundo do cinema, fazendo sucesso com filmes de luta-livre, sucesso na época (Lembrem “ Santo , O Mascarado de Prata ”?).
As drogas são a força motriz dessa esquisitice cinematográfica ambientada em Acapulco. Começa com uma tentativa de suicídio de uma empregada, filha do mordomo, que era apaixonada pelo patrão milionário. Este, Nicolás(Carlos Rivas), proprietário de um banco e vivendo um casamento frio com Muriel(Elizabeth Campbell). Para socorrer a mocinha é chamado um tal de Dr. Saluby(Guillermo Murray) que logo arrasta as asas para a esposa do banqueiro. Estamos ainda no terreno do dramalhão de tintas eróticas. Outros dois personagens chaves no embroglio : o empregado Cervantes (Jorge Rado) e a amante do banqueiro Sidonia (Regina Torné), com uma estranha deformidade nos pés. Uma trama confusa que evolui para a trama policial psicológica, pontuada por sequências de sonhos bizarros, e deriva para o psicodélico: o quarto chino, de propriedade de Cervantes, uma espécie de paraíso à base de cogumelos alucinógenos, onde o milionário buscava refúgio. Um detalhe curioso é que o banco havia pertencido ao pai de Cervantes, que o perdera desonestamente para o pai de Nicolás. Pesadelos e delírios, cartas misteriosas, traições, vai-e-vem entre casais. Insólito e surreal o filme dá a entender que Albert e toda a equipe utilizavam o quarto chinês para se distraírem nas filmagens. A julgar pelo fascínio de Zugsmith pelo tema das drogas, é de se supor que o uso delas não lhe fosse estranho. Única explicação para esta mèlange de delírio kitsch, dramalhão erótico, terror, suspense e psicodelia . Imperfeito e irregular, com certeza, mas fascinante pela estranheza e sugestões que evoca.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

The Forgotten One - 1989

Estranhamente ignorada e esquecida esta pequena joia do cinema fantástico lançada no crepúsculo dos anos 80. Talvez por privilegiar mais a atmosfera do que o gore, que dominava e, ainda domina, o gênero terror, tenha sumido. Até consta de uma lista elaborada pelo querido Carlos Reichenbach numa lista dos melhores filmes de terror de todos os tempos que postou no seu blog “Olhos Livres”. O que sem dúvida é um poderoso argumento para lembrá-lo com mais carinho. Mas aparte a menção nessa lista nada de muito relevante, na civilização nem aqui, pude encontrar na rede. Até julguei que fosse um filme feito para a TV. Não era, felizmente. Na direção e roteiro Philip Badger, nome esquecido e que só realizou este filme e nem teve uma carreira muito longa na indústria do cinema em outros setores. No elenco dois nomes relativamente conhecidos por fanáticos da TV americana, caso dos atores Terry O’Quinn e Kristy McNichol; a outra presença importante no filme, a atriz Blair Parker, sumiu do mundo do cinema tal qual um fantasma.
E falando neles estamos diante de uma história de fantasma mais com jeito de inglesa do que americana. Casas mal assombradas, fantasmas gemendo pelos corredores escuros: temas góticos por excelência.Sem violência ou sangue escorrendo, e algumas doses adequadas de erotismo. A narrativa do filme poderia ser dividida em duas partes: A primeira mais assustadora e fantasmagórica nos clichês; a segunda, mais atmosférica e erótica. Bob, um escritor viúvo muda-se para uma casa velha e escura em Denver, Colorado, em busca de inspiração para um novo livro. Como é de praxe em casas escuras e semiabandonadas, havia um fantasma no porão. E logo a fantasma de uma mulher aparece apavorando uma cantora de boate que o escritor levara para a cama para se distrair de um fora que levou de uma vizinha. A partir daí Bob passa a ser assombrado e descobre que a inquilina indesejada fora protagonista de uma tragédia ocorrida 100 anos antes e que resultara na morte dela: depois de emparedada viva no porão cometera suicídio. Para complicar Bob descobre que tinha mesma aparência do amante da moça morta. Ou seria ele a reencarnação do amado? O fantasma passa a perseguir Bob com a intenção de levá-lo para as delícias do eterno amor. O problema é que isso implicaria em morrer, algo que ele não desejava muito. Romântico e hipnótico a trama apresenta boas soluções narrativas que mantem o espectador ligado até o final. A boa notícia sobre o filme é que ele existe para baixar no YouTube, é só digitar o nome.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Groupie Girl - 1970

É curioso que no universo da sexploitation o tema da groupie não tenha gerado um subgênero, mas apenas esparsos filmes. Afinal é o tipo de tema que permitiria a cineastas e produtores inserirem à vontade muito sexo, drogas, e é claro rock’roll, além de outras coisas apelativas . Mas conta-se nos dedos os filmes abordando este mundo particular que teve o auge entre meados dos anos 60 e meio da década de 70.Tempos de orgias monumentais que viraram lendas protagonizadas por Led, Stones, Who e outras bandas .Um filme apenas sobre o tema chegou ao mainstream, já bem mais recentemente, “Almost Famous” de Cameron Crowe, que no fim das contas não era um filme que focava apenas nas groupies, mas na vida do rock na estrada em geral. Uma groupie como Pamela des Barres até adquiriu respeito: virou jornalista, atuou em alguns filmes e escreveu vários livros sobre a vida dela e das amigas nas estradas e leitos do rock. O filme aqui teve direção de Derek Ford, que mais tarde enveredaria pelos filmes pornográficos. O roteiro foi inspirado nas experiências reais da groupie Suzanne Mercer, que colaborou também no roteiro. Este detalhe conferiu ao filme um sabor mais autêntico e menos glamourizado do que o citado- e ulterior - filme de Cameron Crowe. Sally, a groupie girl do filme ganhou interpretação da bela Esme Johns, que desapareceria do cinema após este filme. Uma pena, porque atuou bem aqui e era uma gata.
Será que a experiência de rodar o filme a traumatizou? Não duvidaria. De qualquer modo o que temos é o retrato de uma jovem de interior fascinada pelo universo roqueiro, e entediada com a vida medíocre que levava. Depois de um show foge para Londres na van de uma banda e torna-se amante do cantor. Logo será descartada como um par de pantufas velhas e assim vai de banda em banda, de van em van, de sofá em sofá, de drogas em drogas, um estupro aqui e ali para variar. No fim cai na real e percebe que aquela vida era tão chata quanto a vidinha que levava na cidadezinha de interior. Os roqueiros no filme são tratados como um bando de jecas e rodeados por empresários quase bandidos. Em suma: um universo escroto, triste e doentio. Não muito diferente da obra-prima “Performance” de Donald Cammel e Nicholas Roeg, estrelado por Mick Jagger, que resenhei há tempos aqui mesmo, talvez o melhor retrato daquela época na Inglaterra. A trilha coube ás banda Opal Butterfly - desconhecida hoje - e que tinha na bateria um futuro membro do Hawkind , e English Rose, igualmente esquecida. David Byron, do Uriah Heep foi coautor de três canções do filme. Uma boa trilha, diga-se de passagem.