domingo, 14 de outubro de 2012

Anjos do Sexo - 1981

O cinema brasileiro pode não ser pródigo em incursões pelos filmes de gênero, como terror ou fantástico, mas seguramente tem a sua história povoada por cineastas fantasmas, ou melhor, dizendo , diretores que dirigiram vários filmes e sumiram do mapa: viraram –metaforicamente- zumbis e assombrações. Levy (ou Levi) Salgado é um desses fantasmas. Sinceramente adoraria poder dar mais informações sobre ele além das que pude catar aqui e ali: fez mais de uma dezena de filmes nos anos 80, quatro deles em parceria com a atriz Lady Francisco, e que faleceu em 1990,com 41 anos. Não mais que isso pude apurar. Ao que tudo indica construiu a carreira independente de qualquer apoio oficial ou mesmo de produtores da Boca do Lixo. Aliás, trata-se de uma produção carioca, mais afim talvez do chamado Beco da Fome, que ainda aguarda sua história. Como de praxe boa parte dos filmes de Levy se perdeu e mesmo os que são possíveis de encontrar depois de muito esforço estão em cópias ruins. As esparsas referências à sua obra o classificam como um “picareta”. Considerando que o mesmo adjetivo já foi utilizado para classificar quase todos os cineastas que ousaram realizar filmes populares e distantes da estética do bom gosto, o adjetivo pode significar ironicamente alguém interessante. O filme que relembro aqui foi um dos citados que a atriz Lady Francisco produziu. E este tem um atrativo extra: ela assina a codireção. Por que razão? Teria tenha brigado com o diretor e o despediu antes das filmagens terminarem? Não sei. Quem souber maiores informações me enviem, por favor. Considerando-se que mulheres na direção é caso raro num país tradicionalmente machista é digno de nota o fato. No elenco à exceção da produtora, diretora e atriz principal, nenhum nome conhecido. Nomes como Dayse Done, Nice Aires , Lia Farrel ( essa virou professora de teatro no Rio e é mãe de atores), Carlos Henrique Santos e Joel Grijó (teve uma carreira profissional atuando em seis filmes) entre outros despontaram para o anonimato depois desse filme, pelo visto. Se não foi um produto da Boca seguramente emulava a estética paulista na temática e na concepção com tempero rodriguiano. A trama é restrita ao núcleo familiar de Lourdes(Lady Francisco) uma madame, que vive em uma mansão isolada. O marido a abandonou e a deixou com um filho meio idiota, duas filhas sacanas, um sobrinho e um casal de criados idosos, além da Vilma, filha desses. A história podia ser meio como no poema: fulana que ama fulano, que ama sicrana que ama fulana e tem Carlinhos que come todos, mas não ama ninguém, e no meio a madame carente que para se acalmar dos ataques de histeria recebe tratamento especial do sobrinho, sob as vistas dos filhos. No bolo tem incesto, lesbianismo, homossexualismo, pedofilia, enfim um catálogo quase completo de taras. Tudo muito normal como em qualquer família rica: perversões e desejos saindo dos armários e dando vazão nas camas, estrebarias e cascatas. O que move nosso anti-herói Carlinhos é o ódio e a rejeição, que acaba por levá-lo a matar a amante Vilma, quando ela anuncia que ele será papai. A trama que seguia lenta resumindo-se em encontros sexuais variados, quase todos protagonizados pelo rapaz, ganha contornos mais sombrios e violentos até culminar em um fim irônico e simbólico. Tudo está no seu lugar, graças a Deus, como diria a canção. Lady Francisco, canastrona, faz caras e bocas para interpretar a coroa sexualmente histérica e sonsa mas superprotetora da prole. O resto do elenco consegue ser pior no quesito interpretação, o que é afinal de contas , normal em filmes dessa lavra exploitation tupiniquim. Apesar disso o filme convence e merece uma redescoberta pelo tentativa de fundir violência, terror e erotismo. Ele pode ser encontrado em cópia razoável no site “Eu gosto de filmes brasileiros”.

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