segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Reformatório das Depravadas - 1978

Não faz muito tempo uma associação de críticos de cinema nacional divulgou uma lista dos 100 melhores filmes nacionais de todos os tempos. Minha relação com listas é ambígua: em algumas encontrei dicas memoráveis de obras que não conhecia, em outras vi apenas a acumulação de nomes óbvios referendando o já gasto, trivial e batido . A lista me surpreendeu por vários motivos: em primeiro lugar nem imaginava que ainda existissem tantos críticos de cinema no país em atividade -onde exercem é um mistério, diga-se de passagem -, outro motivo de espanto foi a lista em si  que achei absolutamente  irrelevante e irritante tanto por alguns filmes incluídos e, principalmente, pelas ausências, algumas óbvias para mim. O tema mereceria um longo debate. No Facebook muitas vozes se levantaram contra a lista apontando os problemas, eu mesmo dei uns pitacos. Mas , francamente, não julgava que ela fosse ser diferente.  Um dos nomes , inúmeras ausências na lista foi Ody Fraga. Revendo neste fim de semana o ótimo documentário sobre a Boca dirigido por Daniel Camargo, "Boca do Livo- a Bollywood Brasileira", fiquei feliz por vê-lo lembrado. Seria um espanto, claro, se isso nao ocorresse num documentário sobre a  cinematografia da Rua do Triunfo, tendo em vista as importância do catarinense para o extraordinário fenômeno que foi a Boca do Lixo.É provável que Ody tenha sido o sujeito mais intelectualizado e inteligente ali, e vários que o conheceram concordam com o papel de inteligência que ele exerceu enquanto crítico, roteirista e diretor.  Falecido em 1987, deixou uma penca de ótimos filmes que revelaram sua personalidade aguda, criativa e original fruto de muitas leituras(era um leitor voraz). A carreira como diretor teve inicio em 1967 e se estenderia até 1986. O filme que relembro se não é sua obra-prima (gosto muito de" Fêmea do Mar" e "Palácio de Vênus")é um dos mais interessantes. Duas estrelas da Boca apareciam aqui: Nicole Puzzi,ainda assinando apenas Nicole, e Patricia Scalvi, e so por isso o filme já mereceria uma lembrança. Mas ele tem outros méritos. A sequência inicial é de tirar o fôlego jogando o espectador numa universo de violência e repressão: um grupo de jovens arrasta uma mulher para um porão e a estupram. A coitada era a cão de guarda  do reformatório para mocinhas desequilibradas e perversas , as tais depravadas  do título. A proprietária ? uma alemã de passado nazista que não hesitava em chamar  assistentes do antigo exército do reich para torturar alunas rebeldes. Estamos pois em WIP puro, digno de ombrear com qualquer exemplar europeu: mulheres bonitas seminuas, sacanagens, violência, amor e dor. Para pontuar as cenas diálogos marotos e inteligentes que só Ody sabia fazer ali na Boca. Achei que o final desandou um pouco, talvez por problemas de orçamento, mas o resultado final vale a conferida. O filme felizmente está disponível no YouTube. Boa diversão.