sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Zero Woman - Red Handcuffs - 1974


Estava demorando, mas enfim me aventurei a lembrar do fabuloso cinema japonês. Não o oficial, canônico e ensinado nos cursos de cinema, aquele de Mizoguchi, Ozu e Kurosawa. Nada disso, falo do cinema japa sujo, visceral, doentio para muitos, arrebatadoramente erótico e violento que emergiu nos anos sessenta, teve seu auge nos anos 70: o Pinku Eiga. O gênero dominaria o cinema japonês até meados dos anos 80. No início eram filmes produzidos por pequenas produtoras, percebendo o filão as grandes produtoras começaram a investir no gênero. E foi o caso desse aqui, com direção de Yukio Noda e produzido pela Toei, um dos maiores estúdios japoneses. Foi baseado em um mangá muito popular no país do sol nascente.


Zero, interpretada pela maravilhosa Migi Sugimoto é uma policial condenada e enviada para a prisão depois de matar um diplomata suspeito de estupro e homicídio. Mas a filha de um poderoso político é raptada por um grupo de bandidos e o chefe da polícia é pressionado a resolver o caso de forma eficaz e discreta, e acabam concluindo que só a policial,em troca da liberdade, poderia resolver o caso de maneira rápida. A fera se infiltra na quadrilha e se deixa submeter a todo tipo de violências: estupro, espancamento, drogas e outras humilhações. E ela aguenta firme o tranco, sem esboçar nenhuma reação e sem mudar a expressão do rosto. Talvez até estivesse apreciando um pouco a situação, sabe-se lá. O filme deixa qualquer lógica de lado neste instante e se deixa levar pela bárbarie do bando. Por um segundo parece que o que estamos vendo é um filme realizado por um dos membros do bando. Caótico e sublime. Mas, quando Zero decide que chegou a hora e arregaça as mangas, ou melhor, as algemas, aí o bicho pega para os bandidos. O que vem é um banho de sangue e o vermelho invade a tela, em planos alucinados, ângulos desenfreados, seguramente assimilados do cinema de Sam Peckinpah em seus melhores momentos. A estética da brutalidade e violência consumada em arte impura.

Esta maravilha da exploitation japonesa foi minha introdução nesse universo particular. Depois descobriria as deusas Ike Reiko,Meiko Kaji, Naomi Tani e outras mais. Mas isto é outra história e quando tiver saco e tempo abordarei com mais vagar .

Lembrando ainda que o filme gerou uma série, com outra atriz já nos anos 80, sem o mesmo vigor do original

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Strip-Tease- 1963

Certos filmes só fazem algum sentido hoje pela presença de algum ator ou personalidade que nele atuou. De outra maneira estariam confinados no limbo. O filme que lembro aqui está nessa categoria: ele só está ainda circulando por aí e é comentado, pela presença no seu elenco de Nico. Sim, ela mesma: imortalizada na música pop, por haver participado do primeiro e lendário discos do Velvet Underground, o conhecido disco da banana. Claro que ela foi muito além disso: a loura era doida, mas deixou uma discografia solo que eu particularmente aprecio muito. Seu trabalho no cinema já não teve muita divulgação. Muito pelo fato de que a deusa germânica ( ou húngara?) optou com coragem pela vanguarda. Meu filminho aqui de 1983 foi seu único trabalho como protagonista em uma produção comercial e mainstream. Afora isso, só filme com Andy Warhol e o namorado francês Philippe Garrel. Lembrando ainda que ela fez uma ponta no clássico “A Doce Vida” de Fellini. O título sugere algo na linha sexploitation, mas o filme passa longe disso: até porque naquela época a censura não permitia nada muito audacioso. De qualquer maneira os voyeurs são brindados com a beleza de Nico. Aqui ela ainda assinava como Krista Nico. Ela é Ariana, uma jovem que sonha em se tornar protagonista de uma Cia de ballet, mas logo no início esses sonhos são desfeitos quando anunciam que vão substituí-la por um nome mais conhecido. Sem rumo, acaba com relutância aceitando o convite de uma amiga para se tornar stripper em uma casa noturna. Tímida se recusa a tirar toda a roupa, no entanto esse paradoxo acaba tornando-a uma estrela da noite. Mas o trabalho vai trazer desilusões: o antigo namorado, ao saber da nova atividade a despreza e a trata como uma prostituta vulgar. Um novo amor nos braços de um milionário fútil e mimado, que logo revelará a ela esse lado, será outra desilusão. O título é uma metáfora sútil das ilusões que ela vai retirando uma a uma, até se desnudar inteira, e só fica então está pronta para enfrentar a vida, deixando os antigos sonhos jogados fora como peças de um traje de stripper. Essa é a verdadeira história do filme: um strip-tease dos sonhos. A direção de Jacques Poitrenaud, nome hoje esquecido, empresta à narrativa uma atmosfera cool e diáfana, aproveitando bem o jeitão frio e distante da futura cantora, que se revela uma boa atriz. O seu lado cantora infelizmente está ausente: seria sua estreia musical, já que a música tema foi gravada por ela para a trilha. Mas na última hora foi trocada por uma gravação de Juliette Greco. A canção foi composta por Serge Gainsbourg, que assina a trilha e ainda faz rápida aparição tocando piano com Big Joe Turner, outra presença ilustre no filme, no papel dele mesmo e confidente até final de Ariana. Como se vê, além da presença de Nico, esse pequeno, raro e bom filme têm outras boas razões para ser apreciado.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

The Thrill Killers - 1964

Falar de Ray Dennis Steckler é um prazer, mas uma responsabilidade. Ao lado de Russ Meyer, é um dos meus favoritos, dentre os diretores independentes americanos dos anos 60. E assim como o autor de “Faster Pussycat Kill Kill!”, sempre adiei resenhar um filme seu. Excesso de respeito, talvez. Ainda não tratei também de nenhum filme japonês, talvez minha maior paixão cinematográfica em se tratando de uma cinematografia de país. Enfim, finalmente me detenho na possível “obra-prima” de Ray Dennis. Revi ontem, aliás, para escrever a crônica, e aproveitei para tomar contato com outro filme seu “ Rat Pfink a Boo Boo”. “The Thrill Killers” é uma boa introdução à obra desse americano, que faleceu em 2009 e deixou 29 filmes. A partir dos anos 70, Ray abandonaria os filmes dirigidos ao público de drive-ins e pequenos cinemas de interior, e enveredaria pela produção pornográfica, utilizando pseudônimos variados. Tramas piradas, humor negro e esquizóide, budget reduzido ao mínimo, interpretações toscas, Ray Dennis nunca teve muito recursos mesmo. Trabalhou na marginalidade de Hollywood, quase um rato de esgoto na cinematografia oficial, digamos assim. Se alguém leu o romance de Nathanael West, “O dia do Gafanhoto”, que retratava o submundo dos atores fracassados, diretores de terceiro, enfim o lado fodido de Hollywood terá uma boa ideia da obra do diretor e da sua carreira. Ela sempre resvalou nos limites do puro amadorismo. E ainda assim, em seus bons momentos, deixou muita produçãozinha classe A daquela época no chinelo. É o cinema feito com o amor pelo cinema, e que mesmo com desleixo e pobreza de recursos, transpira vitalidade, energia. Elementos que faltam hoje na cinematografia americana.
O puzzle alucinado de Ray começa com um ator fracassado, eternamente esperando um bom papel, e que para puxar saco de alguns produtores mixurucas, dá uma festinha regada a rock e banhos na piscina ( até uma moto invade a festa). Dois produtores e diretores reais de filmes Bs fazem uma ponta nessa sequência interpretando eles mesmos. A esposa (interpretada por uma stripper) resolve dar uma respirada e vai visitar a irmã que é proprietária de uma taberna num local isolado fora da cidade. O segundo elemento do puzzle é um psicopata ( interpretado pelo próprio diretor), que depois de matar um imigrante, rouba seu carro, e ainda matará uma prostituta. O terceiro elemento da trama, na verdade são três psicopatas - um deles irmão do citado antes - que fogem do manicômio e trucidam um jovem casal. Por artes do acaso, todos os personagens vão se cruzar na taberna. A cena da perseguição final entra tranquilamente na lista das mais bizarras do cinema: um policial em uma motociclista perseguindo o psicopata a cavalo!
Algumas sequências foram realizadas em um rancho situada nas proximidades da casa aonde se abrigava o grupo do hippie Charles Manson, que alcançaria triste fama alguns anos depois, ao massacrar várias pessoas, incluindo a atriz Sharon Tate, na época casada com Roman Polanski. Um dos envolvidos no filme relataria que volta e meia os hippies desse bando roubavam objetos da equipe de filmagens. E alguns até sugerem que Manson vendo as filmagens teria se motivado ainda mais para as barbaridades futuras.
A trilha esteve a cargo de Roy Haydock, que faz uma ponta no filme como um policial, oscilando entre jazz e rockabilly. Uma delícia.

sábado, 24 de setembro de 2011

El Techo de Cristal -1971

Em plena decadência do regime franquista, o basco Eloy de la Iglesia realizou esse bom thriller com Carmen Sevilla, Patty Sheperd e Dean Selmier no elenco. Um dos bambas atuais do cinema espanhol Alex de la Iglesia, tem o mesmo sobrenome em sua homenagem. Basco como ele, diga-se de passagem. A obra desse diretor consiste em apenas 23 filmes. Faleceu em 2006. O filme resenhado aqui foi seu primeiro grande sucesso, merecendo edição em inglês, “The Glass Ceiling”, aliás, a cópia que vi foi em inglês. O diretor alcançaria renome ainda por haver realizado em 1977, o primeiro filme de temática gay na Espanha, “Los Placeres Ocultos”.
Uma trama que se desenrola estudada, lenta, mas com suficientes elementos que deixam o espectador em suspense. É evidente que nada ali é exatamente o que parece ser. O início é quase idílico, sugerindo uma trama leve. Um thriller erótico talvez? A mocinha de bicicleta entregando leite para os moradores de uma casa, transformada num conjunto de apartamentos. Os cães no canil. O marido despedindo-se da esposa apaixonada. Logo esse cenário bucólico vai se desdobrar em camadas e camadas de densidade. Marta (Carmen Sevilla) a esposa, começa a perceber que algo não está como deveria estar nesse cenário. Mas tudo poderia ser afinal de contas apenas um delírio dela, carência sexual talvez? Um quê de Polanski aqui, Hitchcock ali, e o diretor basco vai descortinando com segurança o redemoinho de angústias em que se meteu a coitada da esposa. E ai se revela o grande truque do diretor: somos não só espectadores insensíveis ou não ,dessa angústia, mas cúmplices

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Enter the Seven Virgins - 1974


Uma produção alemão e chinesa de Hong Kong,é de antemão algo estrambótico,e estamos mesmo diante de dos filmes mais estapafúrdios e malucos da década de setenta, pródiga em filmes malucos. Direção conjunta do alemão Ernst Hofbauer e do chinês Chih Hung Kuei. O título original, “karate Kusse Blonde Katzen “. Seguramente única chance na face da terra de ver a China inteira falando um alemão perfeito. O Goethe Institut fez um bom trabalho por lá. Brincadeiras a parte mesmo soando como uma monumental tranqueira “Enter the seven virgins”, que, aliás, as virgens do título seriam só cinco, e dessas somente três seriam supostamente virgens, é um filme divertido em seu absurdo. Nenhuma pretensão de seriedade: estamos no terreno do humor, às vezes grosseiro, e do pastiche dos filmes de kung fu. Não há mesmo como levar a sério essa história: cinco mocinhas são feitas prisioneiras por piratas chineses, enquanto se dirigiam para a Austrália, e levadas para o palácio do pirata. Lá serão treinadas nas artes milenares sexuais chinesas para serem vendidas depois como escravas sexuais. Uma criada chinesa, no intervalo dessas aulas, resolve ensinar a elas as artes marciais também. E como no cinema é tudo bem fácil e logo logo as moças , sempre só em trajes sumários e com seios à mostra, aprendem e se tornam exímias lutadoras. Um punhado de situações absurdas e seres bizarros entremeiam a trama: temos um mandarim anão, uma espadachim lésbica, um mandarim com uma dentadura medonha entre outros detalhes que beiram o surreal.
A produção chinesa ficou a cargo dos lendários Shawn Brothers, responsáveis pela onda de filmes de artes marciais que inundaram os cinemas mundiais ao longo dos anos 70. O filme foi proibido na Alemanha, sabe-se lá por que, mas liberado com cortes algum tempo depois. No elenco nenhum rosto muito familiar do lado ocidental, os atores orientais, ao que tudo indica eram nomes populares por lá. No frigir dos ovos uma boa chanchada sino-germânica

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Sexus - 1965

Não tem a ver com a obra do mesmo nome de Henry Miller. Esse filme francês de 1965, realizado no auge da nouvelle-vague, permanece como obra à parte numa década dominada por Godard, Truffault e seus pares. É verdade que o diretor Jose Benazeraf flertou com a turma: chegou a fazer uma ponta no clássico que abriu o moderno cinema francês para o mundo, “Acossado” de Godard. Mas enquanto esses enveredavam pelo esteticismo, formalismo político – com resultados cada vez mais “malas” – nosso diretor privilegiou o erotismo, sem esquecer o apuro formal e o visual. “Sexus” tem até muito da estética da nouvelle-vague na concepção visual e na montagem. Mas nos anos 70, o diretor enveredaria definitivamente para a produção erótica, desaguando no pornô hardcore e matando qualquer simpatia que a crítica ainda pudesse nutrir por sua obra. Errática e curiosa, quase sempre de thrillers eróticos.
Uma rica herdeira é raptada e levada pelo bando para uma casa no campo. A moça raptada se apaixona por um dos raptores. Tenta escapar, mas é alcançada pelo líder que tenta estuprá-la no bosque. O amado aparece, há um duelo com facas e o embate termina com a morte do líder. Tudo com uma mise-en-scène pontuada pela trilha cool de Chet Baker e diálogos minimalistas, um clima de tédio existencialista, beatnik perpassando cada fotograma. Todos parecem agir como sonâmbulos.
Realizar um estudo do erotismo em um bando de homens dominados por uma situação de tensão extrema e stress, essa foi segundo o próprio diretor o objetivo. A nouvelle-vague japonesa de Oshima, Wakamatsu , Suzuki , Oshida e outros , seguramente deve muita à explosiva e anárquica obra desse francês marginal da nouvelle-vague francesa incensada pela crítica oficial.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

teenage Monster - 1958

Em muitos filmes ditos ruins encontramos não poucas vezes a inocência e o frescor do olhar que não vemos nas obras ditas sérias e cultuadas. Esse filme aqui em questão é, sem dúvida, um bom exemplo e bom candidato a entrar naquelas listas dos piores filmes de todos os tempos, que quase sempre incluem as produções trash sci-fi dos anos 50 e 60. Apesar da precariedade da produção, história absurda, estamos diante do cinema mais puro e inocente, e seguramente divertido.
Na véspera do início das filmagens o diretor designado caiu fora alegando oferta melhor e o produtor e diretor de fotografia Jacques R. Marquette assumiu a direção. O filme foi realizado apenas para fazer dupla com “The Brain from Planet Arous”. Lembremos que nos tempos áureos do filme B, quase sempre esses filmes eram vendidos aos pares para o circuito de drive-ins. O nome original do filme era “Meteor Monster”, mas para aproveitar a onda de filmes com temática adolescente, foi trocado para “Teenage Monster”.
O recente “Cowboys & Aliens”, ainda em cartaz nos cinemas da cidade, colocou em evidência um crossover de gêneros que, para muitos, soou esdrúxulo: faroeste com ficção-cientifica. O fato é que nos anos dourados do filme B, essas misturas e cruzamentos de gêneros eram usuais. Tivemos “Billy the Kid contra Dracula”,”Jesse James contra afilha do Dr. Frankenstein” ou o “Curse of Undead”, que resenhei aqui, entre muitas pérolas absurdas. “Teenage Monster” além de tentar ir na cola dos filmes de temática teen, representou um dos ápices desse cruzamento bizarro de gêneros: aqui estamos diante de um faroeste com filme de monstros e ficção-científica. Um meteoro cai sobre uma mina, matando o pai e transformando o filho numa espécie de lobisomem gigante e retardado. A mãe vai tentar proteger ao máximo, sem impedir que o baby monstro cometa seus crimes aqui e ali: a mudança para cidade próxima, na esperança de que as coisas corressem melhores, não traz muitos benefícios. Tudo bem que o xerife local se apaixona pela mãe, mas as coisas degringolam quando uma criada além de chantageá-la , percebe que pode usar o monstro para se livrar de seus desafetos.
A maquiagem do monstro, um ator que devia ter uns 50 anos, coube a Jack Pierce, o homem responsável pelo visual de Boris Karloff em “Frankenstein” e “A Múmia”. Aqui, é claro, já em final de carreira.
Muito falado e com direção pesada, mesmo assim tem seus momentos curiosos, mas de faroeste mesmo, só os tiros que abatem a fera no previsível final que, é, contudo, despido de um happy end.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Les Filles du Malemort - 1974


um filme bizarro, não resta dúvida. Está a meio caminho entre diversos gêneros cinematográficos da exploitation ,B, principalmente no eurotrash: é erótico ( mas não hardcore) é fantástico e é um conto de fadas adulto, mas não fica preso a nenhum deles.O diretor Daniel Déart fez carreira mesmo no terreno dos filmes pornográficos. E ao que tudo indica esse é um dos seus poucos filmes que fugiram dessa linha.Mas parece que existiria sim uma versão hardcore desse filme também. O elenco é composto por atores desconhecidos, sem nenhum nome de expressão mesmo no universo da exploitation. A trama começa dentro de um padrão clássico: um jovem casal fuçando um porão encontra um velho livro. Sem muito que fazer começam a ler uma velha crônica de uma família de pequenos nobres do interior da França, no século XIX. A narrativa salta então para a estranha família Malemort, composta por um velho e a filha solteirona, além de duas criadas e um ajudante. O velho passa o tempo tocando um violino e bolinando a criada gostosinha, que por sua vez gosta de se deixar agarrar pelo criado, que além dos serviços habituais presta favores sexuais noturnos para a filha solteirona, que apesar da aparência austera, era uma devassa. Uma sarabanda erótica, com alguns toques cômicos e sinistros, é atmosfera mágica e fantástica. A chegada de um estranho e misterioso cavaleiro adiciona mais uma dose de mistério ao filme. O velho devasso supostamente possui um tesouro, obviamente desejado por cada um dos personagens. Luxúria e dinheiro, a velha dupla que move os filmes exploitation. Jean Rollin, Bruce Cantillon e Mario Mercier, diretores que exploraram com mais vigor esse universo fantástico rural francês foram inspiração evidente para esse pequeno e curioso filme

sábado, 17 de setembro de 2011

The Flying Deuces - 1939


laurel & Hardy, a dupla que conhecemos como o Gordo e o Magro, é uma das madeleines da minha infância. Nas saudosas tardes de domingo do Cine Ipiranga, na Rua Jacuí, muitas vezes após as sessões principais,éramos brindados com exibições de curtas da dupla. E quase sempre melhores que os filmes que havíamos assistido antes! Entrando na vida adulta, pretensões pseudo cinéfilas, descoberta de Keaton e Chaplin – esse já conhecido – levaram a dupla ao limbo das minhas preferências. Caso, alías de outra trupe que me deliciava: Os Três patetas, esses nas telas da TV. Dizer que curtia a dupla ou o trio pateta era garantia de ver um sorriso de desprezo na cara do colega crítico.
E depois de mais de 30 anos eis que resolvo rever um filme da dupla: “The Flying Deuces”, de 1939 e com direção de A. Edward Sutherland, autor roteirista do filme. Diga-se de passagem, um filme curto de pouco mais de uma hora de duração. Inicialmente foi atraído pela situação do filme, que envolvia a legião estrangeira, uma das minhas paixões secretas de escapismo. E não é que li que ela ainda existe lá no Saara ? Incrível!E a trama dessa comédia maluca, como não podia deixar de ser é a legendária guarnição francesa. Os dois trapalhões, depois de uma tentativa mal sucedida de suicídio de Hardy, por sugestão de um militar que viu a cena, sugere que já que querem se matar, que então se alistassem na legião, que seguramente conseguiriam isso em poucos dias.O elenco contou com uma atriz de certa repercussão em Hollywood nos tempos clássicos: a atriz Jean Parker. E é ela, funcionária da pensão onde os dois viviam que motiva a tentativa de suicido do Gordo. Apaixonado por ela, e equivocadamente se julgando correspondido, é defrontado com a realidade quando ela lhe confessa que era casada, e ainda por cima, com um militar, que não por acaso era o oficial da legião estrangeira! Ou seja: os dois saíram da panela e caíram diretos na fogueira. As gags que se sucedem na Legião são impagáveis e de deixar os músculos da face doendo de tantas risadas. O final é surreal, com Hardy transformado em cavalo, com chapeuzinho côco e bigode. Não me perguntem como isso acontece!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Boss Nigger - 1975


Em 1975 o ex-jogador de futebol Fred Williamson e ator e diretor de filmes de ação, escreve o roteiro de um western com protagonistas negros e entrega a direção a Jack Arnold. Quem está familiarizado com o universo dos filmes Bs sabe que ele dirigiu várias obras-primas nos estreitos limites da série B, entre as quais “O Incrível homem que encolheu”, “O Monstro da lagoa negra”, além de uma penca de bons westerns, ficções científicas, policiais e musicais. Esse western blaxploitation seria sua despedida do cinema.
Um western blaxploitation soa mesmo um pouco bizarro. No ano seguinte o ator faria questão de dirigir outro nesse mix, “Adios Amigo”. É curioso lembrar que Mel Brooks um ano antes do filme tratado nessa crônica havia realizado “Blazing Saddles”, um western paródico que tinha como herói um xerife negro. Mas em nosso filme não estamos diante de uma comédia, apesar de que os momentos de humor não faltam. A trama segue o padrão clássico dos westerns: uma dupla de caçadores de recompensa - dois cowboys negros - chega a uma cidade da fronteira à caça de um bandoleiro. Lá descobrem que ela não tinha xerife e o prefeito era um corrupto aliado aos bandoleiros. Sem muita cerimônia a dupla assume o posto de xerifes. Se o desenrolar da história não foge dos padrões do gênero, a questão racial colocada em evidência tira o filme da banalidade: as piadas e tiradas racistas e anti-racistas são uma constante. Uma das leis do xerife, por exemplo, proibia o uso da palavra nigger como insulto, e é claro que a cadeia toda hora fica ocupada por isso. Diga-se de passagem, que o politicamente correto fez com que em seu relançamento em dvd a palavra nigger fosse omitida do título. Um filme que realmente não ignora os conflitos raciais e os coloca até como cerne da trama, sem abdicar de um humor sarcástico: 99% dos brancos no filme insultam em algum momento os dois, e cada vez que isso ocorre, ou são presos ou levam bastante sopapos.
Como de hábito nos filmes blaxploitation a trilha sonora é um capítulo a parte. E é mesmo singular assistir um western pontuado por funks sacolejantes.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Performance - 1970


Estava em falta com esse filme. Baixei ele há tempos, mas quando decidi assisti-lo me deparei com uma cópia ruim e com legendas em alguma língua nórdica, eu suponho. E o inglês falado no filme é o cokney, a gíria londrina, ou seja, quase ininteligível. Depois achei uma boa cópia e com legendas em inglês. Até havia assistido uma parte numa noite dessas, mas naquela noite a vibe não estava boa e optei por um western mesmo. Tem hora que o espírito da gente não está propício para temas mais pesados. E o filme dirigido a duas mãos, por Donald Cammel ( já falecido) e Nicholas Roeg, não é brincadeira. A história dos bastidores do filme é marcada por muitas lendas.
A suposta ideia original do filme, que garantiu grana da Warner, era traçar um painel da cena inglesa dos anos 60, com todos os seus excessos. Mas claro que todos esperavam algo numa linha mais light. O nome de Mick Jagger no elenco, mais uma provável trilha composta pelos Stones, fizeram os olhinhos dos executivos brilharem e farejarem uma mina de ouro. Mas quando viram o copião tomaram um susto. O filme ficou retido então dois anos e cogitado ate de ter os negativos destruídos. Depois de inúmeros cortes e remontagens foi lançado já na década de 70. Cammel foi uma figura estranha: o pai era amigo de Aleister Crowley, o bruxo inglês; no cinema não realizou muitos filmes, e acabou cometendo suicídio justamente devido a problemas com seu último filme. Keith Richards em sua biografia não foi muito gentil ao se referir a ele, nem outros envolvidos nas filmagens igualmente.
Em entrevista concedida a um jornal inglês em 2007, Anita Pallenberg relembra que Cammell era um maluco, e quase obrigava o elenco a se submeter a cenas pornográficas, além do uso de alucinógenos. Reza a lenda que ela e Mick realmente chegaram às vias de fato em algumas momentos, e que existiriam inclusive takes do filme, não incluídas na cópia comercial, que mostrariam cenas não simuladas de sexo entre ela e o cantor dos Stones. Anita, que era mesmo uma doidona de mão cheia, que além de chegada às drogas pesadas era ligada em magia negra, desmentiu essas histórias. Mas o fato é que Keith na época do filme foi até a casa onde estavam sendo realizadas as filmagens e armou um barraco. E a turma de atores abusou mesmo das substâncias atuando chapada a maior parte do tempo.
O resultado, apesar das tesouradas e remontagens dos executivos não impediu que o filme se tornasse u marco no cinema mundial e inglês. Obviamente nunca foi exibido comercialmente no Brasil. O conteúdo teria sido demais para a censura militar e TFP dos anos 70.
Mick Jagger encarna um roqueiro já aposentado, recluso em sua casa, com apenas duas companheiras: uma moça de aspecto andrógino e Berthe, interpretada pela estonteante Anita Pallenberg, na época companheira de Keith Richard, que cultiva seus cogumelos para ocupar o tempo. A rotina ímpar do trio é modificada com a chegada de um gangster que procurava esconderijo, depois de problemas com o seu chefe. O absurdo e improvável encontro entre esse gangster conservador e o roqueiro entediado e pervertido é o cerne do filme. James Foxx interpreta o gangster Chas : e é curioso, que Marlon Brando, foi o primeiro nome cogitado para o papel. E para dar maior credibilidade passou algum tempo convivendo com marginais do submundo londrino.
Umas das paixões de Cammel era a obra do argentino Jorge Luís Borges, que eu suponho, ficaria horrorizado com o filme, e citações da sua obra podem ser pinçadas aqui e ali nos diálogos e principalmente na cena final. A capa de um dos seus livros também pode ser vista em um instante do filme.
O filme reserva, para além das suas lendas, muito mais para quem ainda não o conhece: trata-se mesmo em um mergulho fascinante, e despido de glamour pela cena inglesa dos anos 60, com o que tinha de melhor e pior. Peça única, singular e crucial para entender aquela década fascinante.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Arabella L'Angelo Nero - 1989


Fruto tardio de um gênero agonizante, o particularíssimo giallo , esse obscuro filme do diretor Stelvio Massi fará as delícias dos amantes de filmes esquisitos e sórdidos. Na década de 80 o gênero, que teve sua glória na década de sessenta e setenta, estava praticamente morto, substituído pelos thrillers eróticos. Nosso filme em questão, apesar de inserir elementos do novo subgênero, respeitava alguns elementos do giallo: principalmente o assassino utilizando para seus crimes uma tesoura, marca registrada do gênero. Mas a atmosfera típica e tremendamente datada, diga-se de passagem, da década de 80, está presente o tempo todo: figurinos, luzes neon e a trilha eletrônica. Cronologicamente pode ser considerado um dos últimos “giallos” realizados. A cópia que assisti estava dublada em inglês, infelizmente, mas ao que tudo indica não foi cortada, pelo menos isso. A estrela do filme é a playmate Tini Cansino, gata e objeto de desejos dos italianos na década de 80, de origem grega. O sobrenome “fake” sugeria um possível parentesco com Rita Hayworth, cujo nome verdadeiro era Rita Cansino: ganhou o “cansino” pela semelhança com a americana. Fez poucos filmes e se retirou logo depois do meio artístico, sem deixar traços, mas alguma saudade. Em “Arabella” ela é a esposa de escritor preso a uma cadeira de rodas, devido a um acidente no dia do casamento: inebriado pelo “blowjob” da esposa, bateu o carro! Para satisfazer seu apetite sexual só restou à esposa carente se transformar à noite em uma lúbrica ninfomaníaca, percorrendo locais sórdidos à procura de sexo. Numa batida policial é presa, confundida com uma puta, mas o policial, bonzinho depois de estuprá-la a deixa ir livre. Mas para o seu azar deixou a bolsa cair e se vê chantageada pelo tira, sendo obrigada a se entregar mais uma vez a ele, em sua própria casa. Flagrada pelo marido, ela mata o policial. A partir daí o marido, sugere que ela continue suas escapadas sexuais, utilizando-as como tema para seu novo romance “O Anjo Negro”. Para investigar os crimes que começam a acontecer após cada encontro sexual da moça, é designado uma detetive lésbica, com um passado cheio de dubiedades. A trama inclui uma boa quantidade de reviravoltas no roteiro. Mas a identidade do assassino, eu pelo menos, adivinhei logo: o que não estraga o filme, ok? Interpretando o escritor temos Francisco Casale, figura conhecida em filmes de Tinto Brass. As cenas softcore de sexo são boas: Tini Cansino estava no auge da beleza é um dos motivos para tornar o filme um “must” para, como eu disse, apreciadores de filmes “sleazy” e “kinky” como esse.