quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Traitement de choc - 1973

o cinema de terror francês é hype,está na moda. Confesso que não vi muitos desses novos  exemplares: ao que tudo indica pendem pro gore e para a violência extrema em detrimento da sutileza e da sugestão, e isso não me agrada. Na década de 70 o cinema gaulês tinha perdido a corrida no cinema de gênero para os prolíficos italianos, e para os espanhóis. Um ou outro filme ganhou algum destaque, e este foi um deles. Vai muito além de um mero filme de terror e tangencia a ficção científica. No elenco dois nomes de primeiro plano no cinema francês e europeu: Alain Delon, então com 45 anos , e Annie Girardot. Para os voyeurs  ambos nos brindam com cenas de nudez sugestivas  numa sequência famosa, e que talvez tenha garantido a sobrevivência dele nesses anos todos. Alain Jessua, é hoje um diretor meio esquecido, uma pena porque deixou bons filmes além deste que relembro. A carreira foi curta: apenas 10 filmes. Uma executiva da industria de moda  , Hélene (Girardot) é  abandonada  pelo namorado, trocada por uma mais mulher mais nova,  e cai em depressão. Ao saber da existência de uma clinica que garantia um tratamento miraculoso para o envelhecimento nao perde tempo e vai até lá e se interna. O diretor da clínica é o charmoso Dr. Devilers( Alain Delon)e o tratamento utiliza sangue de animais  . No entanto ela não vai demorar a perceber que algo não está "nos conformes" na clínica e irá se deparar com um segredo pavoroso. Uma crítica social: a clínica é um microcosmo da sociedade francesa com todos os seus representantes. O filme é  mais que um terror com toques de ficção cientifica, uma  sátira quase surrealista à burguesia fútil francesa dos pós guerra, bem típica dos anos 70 . Quase desnecessário dizer que ela continua atualíssima,e serve também para a nossa e todas as classes médias desse mundo atual. O americano "Soylent Green" trata quase da mesma temática e coincidentemente foi realizado  no mesmo ano. A sequência inicial é curiosa para nós brasileiros porque todos os diálogos estão  em português e ela é embalada por uma canção também em português. Por um momento pensamos que estamos assistindo ao filme errado. O filme pode ser baixado no blog: http://rarelust.com/shock-treatment-1973/

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Body Fever- 1969

Ray Dennis Steckler é um dos diretores mais interessantes do maravilhoso universo do filme B. Faleceu em 2009 depois de uma longa carreira de muitos filmes. Este que relembro não está entre os mais conhecido de sua carreira, mas é sem duvida dos melhores e creio que agradaria a qualquer cinéfilo. Foi a unica experiencia de Ray no universo do filme noir. Aqui e ali Ray insere homenagens a  Bogart, curiosamente uma delas até parece uma brincadeira com "Acossado" de Godard. O próprio diretor interpreta o herói  Charlie Smith, um detetive mixuruca e duro que recebe a incumbência de encontratar uma mulher  que se vestia como uma espécie de Mulher Gato que havia cometido um roubo  de um pacote miloionario de heroina . A mocinha é interpretada por Carolyn Brant ,na época musa de Ray. A trilha sonora  a cargo de Andre Drummer é muito boa, e outro destaque são os diálogos  irônicos e bem humorados.  Coleman Francis, uma das lendas do filme ultra B, faz uma ponta  especial: reza a lenda que após ter finalizado o filme Ray o encontrou nas ruas  mendigando . Convidou-o então a atuar e filmou algumas cenas especialmente para ele.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

The Clonus Horror - 1979

Filme B que estava escondido em um dos meus HDs completamente esquecido e so me veio à lembrança quando li  uma entrevista de Pete Tombs, o fundador da Mondo Macabro, e ele assinalou que o filme foi um dos maiores fracassos da sua distribuidora. Aliás, já está fora de catálogo o DVD. E posso dizer que é uma pena, pois  se trata de um filme peculiar e inteligente. Foi o único filme dirigido por Robert S. Piveson. No elenco somente dois atores vagamente conhecidos: Dick Sargent, que foi um dos maridos na série A Feiticeira, e Peter Graves. 
Num local isolado e aparentemente idílico vive um grupo de jovens, homens e mulheres.  A vida deles parece a melhor possível: apenas praticam esportes e se divertem , todos sonham com o dia em que poderão se mudar para a América. Logo se revela que as moças e rapazes ali não passam de clones criados com algum proposito obscuro. Um dos clones percebe que não vive nos melhor dos mundos quando acha no leito de um riacho uma lata de cerveja o que desperta sua curiosidade. Daí em diante ele não cessa de ir fuçando aqui e ali ate descobrir que por trás do suposto paraíso encontra-se um inferno horripilante. A fuga para o mundo exterior, a América, se revela outro pesadelo.

A trama soa familiar? Ora, pois em 2005 a Dreamworks produziu “A Ilha” com Scarlett Johanssen e Ewan McGregor, e não demorou a ficar claro que “The Clonus Horror” fora clonado descaradamente.  Uma ação se seguiu e a Disney (proprietária da Dreamworks) pagou um valor não revelado aos  produtores.Cumpre lembrar ainda que alguns anos antes o filme obtivera relativa notoriedade ao ser  exibido no programa americano de TV “Mystery Science Theater “especializado em achincalhar supostos filmes ruins.  O filme pode ser conferido no site: http://rarelust.com/the-clonus-horror-1979/

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Girls on the Loose - 1958

Ah, o charme irresistível do cinema B americano dos anos 50! Aqui neste pequeno e obscuro filme o espectador pode se deparar com algumas das qualidades e também defeitos da escola que virou ate um gênero(?). Uma surpresa é a assinatura da direção: Paul Heinred, ator de algum renome nos anos 30 e 40, que teve papel de destaque em “Casablanca” só para citar um bem manjado. A novíssima geração com certeza não lembra mais dele. Sempre fazia papel de mocinho bom, papeis românticos, tinha aquela carinha limpa, topetinho louro, enfim o típico bom rapaz americano de família.  Nem era americano de nascimento, diga-se de passagem, mas austríaco e veio pra América na mesma leva que trouxe dezenas de outros nomes fugidos das guerras e do nazismo. Virou diretor de filmes B meio por falta de opção, pois foi um dos perseguidos pela caça Macarthista que mandou para o limbo os simpatizantes do comunismo. No cinema dirigiu poucos filmes e todos eles Bs, mas na TV dezenas de episódios de diversas séries clássicas inclusive para “Alfred Hitchcock presents”. O filme que relembro ,inédito em DVD infelizmente, segue a cartilha clássica de um grande golpe. O fato que chama atenção é que o grupo de bandidos que comete o crime é composto apenas por mulheres. E moças violentas, como fica demonstrada pela sequência inicial do assalto. A líder da gang é Vera, interpretada por Mara Corday, aqui em de seus raros papeis de destaque . Uma bela mulher, bastante interessante- com um quê de Ava Gardner- mas que nunca alcançou destaque e se limitou atuar em filmes B como este. Aqui como a fria e sanguinária líder, que durante as noites “normais” é uma respeitável dona de uma casa noturna ela consegue se sobressair tanto pela beleza fria quanto pelo estilo. A irmã caçula de Vera é cantora da boate e cai de amores justamente pelo detetive encarregado de investigar o caso. Como em um bom filme B quase toda ação gira em torno do nightclub. O bando de gatas bravas não demora a se engalfinhar movido pela cobiça e o clímax até violento de certo modo leva ao moralista e trivial "crime não compensa" . Mas até isso acontecer as moças se divertem principalmente Vera, que além de violenta e inteligente é uma predadora sexual. Se o filme não chega a ser um clássico consegue se sobressair da rotina graças aos elementos pré-exploitation tais como  a sensualidade  e a violência, e justifica a lembrança.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Raw Force - 1982

Uma boa noticia no ano que passou foi, enfim, o lançamento de uma edição decente de “Raw Force”, também conhecido pelo título de “Kung Fu Cannibals”. Até então só tínhamos acesso a uma versão ruim ripada de algum VHS. Infelizmente pouco provável que a edição seja lançada por aqui. A dica é que o piratebay já tem essa nova versão em imagem impecável. Enfim podemos ver em todo o seu esplendor essa tranqueira filipina, um dos exemplares top da insana exploitation local que começou nos 60 e se estendeu ate o inicio dos anos 80. Como complemento seria legal, para entender o contexto do filme, assistir o sensacional documentário “Machete Maiden Unleshead” que traça um perfil bem amplo dessa cena. O diretor Edward Murphy que já atuou em “Os Bons Companheiros” de Scorsese, é também roteirista do filme, só iria dirigir outro filme em 1985, absolutamente esquecido. Mas com este aqui garantiu lugar no panteão dos diretores de um dos filmes mais esdrúxulos e divertidos da história do cinema. O grande Cameron Mitchell encabeça o elenco composto por nomes desconhecidos e obscuros, mas  Camille Keaton, estrela de “I Spit in Your grave” e Vic Diaz(o Wilson Grey  filipino), fazem pequenas pontas. Quem ama o gênero exploitation já deve estar a par do filme e então a sinopse é desnecessária, mas para aqueles que ,por azar ,ainda não sabiam dele ai vai: um grupo de estudantes de artes marciais em férias fica perdido no oceano e o barco onde estão acaba indo parar numa ilha. O local é, na verdade, o covil de uma quadrilha comandada por um sujeito com cara de Hitler e que comanda um exercito de monges canibais. Um mix pra lá de maluco de filme de kung fu, comédia e terror, mistureba essa que esteve muito em voga em Hong Kong na década de 80, e daria ecos ate entre nós com “Kung Fu contra as bonecas” de Adriano Stuart. Clones de Bruce Lee aos montes, (d)efeitos especiais, lindas mulheres que tiram a roupa por qualquer motivo, zumbis  lutadores de kung fu, monges canibais, cientistas malucos nazistas e muito mais num mesmo filme. Obviamente a coerência não é o forte do filme. Mas o que importa: o espectador se diverte muito.