quarta-feira, 29 de junho de 2011

Feriadão Italiano


O feriadão de quatro dias acabou sendo uma oportunidade de tomar um banho de cinema italiano. Não os manjados e cultuados, já devidamente dissecados Fellini, Antonioni , Visconti e cia ltda., mas o cinema italiano popular e à margem da badalação crítica pseudo intelectual.
O cinema italiano, digamos popular, e a margem das correntes neo-realistas, que acabaram engessando o cinema italiano e criando o monstrinho do filme de arte, estava cagando e andando para intelectualismos e buscou sempre atingir o público. A competição com o cinema americano já era uma guerra, da qual infelizmente sairia perdendo nos anos 80. Uma pena. A cinematografia popular da península que teve o auge de popularidade nos 60, ainda deu muito caldo nos 70, definharia nos anos 80. Western, pepluns, eróticos, ficção cientifica, terror e outros gêneros fizeram a glória de um punhado de nomes: Dario Argento, Lucio Fulci, Mario Bava são nomes hoje cultuados pelos que amam o cinema italiano popular, mas e Riccardo Fredda, , Antonio Pietrangeli, Sergio Martino, Cesare Canevari, Sérgio Samperi, Umberto Lenzi , Enzo Castellari, entre tantos outros nomes?
Nello Rossati, por exemplo, quem sabe dele? Fez apenas 15 filmes numa carreira iniciada em 1971 e com poucos sucessos. O mais notado foi “A enfermeira”, comédia com Úrsula Andress. O filme que vi no fim de semana foi o obscuro “La gatta in Calore”, de 1972, no elenco Eva Czemerys, atriz falecida em 1996 e com 19 filmes no currículo. Filme curioso, que faria a delicia dos amantes dos filmes da Boca do Lixo nacional- meu caso -, aliás, a história é pura exploitation: uma burguesa rica e insatisfeita sexualmente tem um affair com o vizinho de condomínio, um cara doidão, drogado e artista rebelde. As consequências do deslize serão obviamente trágicas e abalarão a vida burguesa da madame gostosa e do marido ausente e frio. Como é hábito nas produções populares italianas, a trilha sonora é digna de nota. Diga-se de passagem, que descobri esse filme quando procurava a trilha sonora de outro filme peninsular que havia visto também no feriado: “Appassionata”.
“Appassionata” é outra pérola relativamente obscura da exploitation italiana dos anos 70. A direção é do igualmente obscuro diretor Giancarlo Calderone, ainda na ativa na TV italiana. No cinema só dirigiu três longas metragens. Com este aqui até já havia topado em um blog nacional para download, infelizmente sem legenda. A presença da diva Ornella Mutti, então uma ninfeta garantiu a sobrevivência e o interesse pelo filme. Outra trama que procura revelar um pouco da burguesia italiana. No caso desse filme temos um respeitado dentista(?) casado uma mulher, infelizmente meio maluca(a diva Valentina Cortese) e a filha. A mocinha vive o tempo todo com a amiguinha de escola e não demora muito para que o respeitável senhor se deixe enredar nas malhas da sedução da amiguinha. Dai em diante a coisa desanda e até a filha acaba seduzindo o pai. Mais uma vez uma belíssima trilha sonora embala a trama que lembrou muito o americano “A Beleza Americana” com Kevin Spacey e que até ganhou vários Oscars já no final dos anos 90.
Umberto Lenzi já um nome mais conhecido. Carreira longa nos mais diversos gêneros populares. Deve ter feito de tudo. “Paranoia” é produção dos anos 60, com a americana Carrol Baker no papel de uma piloto de provas que aceita o convite do ex-marido para passar uns dias numa casa de praia. Chegando lá descobre que o ex já estava casado com uma milionária. Alguns elementos de ‘“giallo”, gênero característico do cinema italiano, dão o tom à narrativa, mas na verdade estamos diante mesmo de um drama de suspense com fortes doses de erotismo. Os fãs da atriz Carrol Baker não têm do que reclamar: há muitas cenas de nudez com a atriz, então no auge da beleza. O diretor faria outro filme logo em seguida com o mesmo título e novamente com a mesma atriz!
No terreno do cinema italiano mais clássico assisti um Antonio Pientragelii, diretor de obra pequena e que praticamente permaneceu na obscuridade, apenas lembrada aqui por alguns iniciados. Nosso querido Carlos Reichenbach fez questão de citá-lo algumas vezes em seu blog Olhos Livres. “A Visita” é uma de suas obras-primas obscuras e que mereciam sorte e badalação maior. O filme até tem circulação mais ampla na rede e pode ser pinçado sem esforço em bons blogs de cinema nacionais. Ainda bem. Filme singular e único na sua história de duas pessoas simplórias e medíocres, uma homem de Roma – funcionário de uma livraria – e uma solteirona já passada dos 30, de uma cidade do norte da Itália, que se conhecem por meio de cartas trocadas em uma coluna sentimental. O homem resolve visita-la em sua cidade, esperançoso de arrumar uma situação confortável que lhe permitisse escapulir da mediocridade da sua vida de livreiro em Roma. O encontro entre os dois revela apenas a dolorosa mediocridade de cada um e a impossibilidade do amor. O dia em que passam juntos transcorre de maneira tragicômica e o olhar do diretor apesar de realista, não demonstra desprezo pelos dois seres simples de alma pequena. Acima de tudo é um filme sobre a solidão e o fracasso. Um dos autores do roteiro é o cineasta Ettore Scola, de algum renome nos anos 70. Uma joia italiana.
Valério Zurlini mereceu mais atenção da crítica, mas mesmo assim ficou com a fama de ser um sub-Antonioni. Grande bobagem. Já havia visto “O Deserto dos Tártaros” e o maravilhoso “A Primeira Noite de Tranquilidade”, e no fim de semana italiano tomei contato com “Verão Violento”. A constante na obra do diretor é o amor impossível. Cada filme é um laborioso retrato da melancolia e dos amores fracassados. E aqui nesse filme de 1959, não é diferente. A história de amor entre um jovem fútil e uma viúva trintona, tendo como pano de fundo a Itália devastada pela guerra, é desesperada e sem saída. A figura atriz Eleonora Rossi Drago é por assim dizer, devastadora e única. Absurdo que ela não tenha alcançado uma reputação maior e tenha permanecido à sombra de outras divas italianas. Só pela sua atuação nesse filme ela já deixou sua marca definitiva na história do cinema.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Love Slaves of the Amazons- 1957


Mais um filme que aborda nosso país sob um ponto de vista meio caricato e que foi realizado por aqui. Produção rara, difícil de encontrar e nunca lançada comercialmente em VHS ou DVD. Em 1956 o roteirista, escritor e cineasta Curt Siodmak veio ao Brasil para realizar um filme, “Curucu”. Aproveitando a viagem acabou realizando mais um filme, lançado um ano depois. O ambiente era o mesmo: a selva amazônica. A equipe também era a mesma da tranqueira anterior. E mais uma vez o tema era uma lenda local, no caso de alcance universal: as misteriosas amazonas. As guerreiras foram temas de incontáveis filmes, alguns deles até realizados no nosso país. Já relatei aqui a produção alemã, “Lana”, realizada nos anos 60. Siodmak, como diretor, ficou confinado nos filmes B, sempre baixo orçamento e com tramas típicas das produções dos anos 50. E aqui a narrativa obedece aos padrões clássicos: uma expedição parte em busca do reino das guerreiras, passa por contratempos e acaba caindo numa civilização misteriosa e exótica. Como na produção anterior, Siodmak não contou com muitos recursos. As filmagens foram realizadas em Manaus, então uma cidade provinciana e pacata, e contou com vários atores brasileiros, um deles, John Herbert, um rosto conhecido até pelas gerações mais novas e, infelizmente falecido recentemente. Para quem imagina um festival de barbaridades com o nosso país até que o diretor usou de bom senso razoável. Os brasileiros falam português (às vezes espanhol) e nenhum absurdo é percebido, deixando de lado o fato de que existiria um reino de Amazonas naquela região. Ora bolas, é uma ficção feita para os incontáveis e maravilhosos drive-ins que existiam então. A função era divertir sem grandes pretensões. Essa curiosidade do cinema B tem seu encanto.