Não deveria começar uma resenha de um filme tão bom e divertido como este fazendo uma comparação com uma bomba produzida pela Globo Filmes, mas como fiquei meio invocado ao fim dela e muito satisfeito ao final do filme americano, e ademais os finais de ambos são idênticos, entre outros aspectos, que assim seja. Hugo Carvana é um cara simpático, Tarcísio Meira também, Flávia Alessandra é uma gata e a Ângela Vieira, uma coroa de primeira ,mas só estes detalhes não bastam para fazer um filme se tornar bom. E uma comédia que não tem graça é imperdoável, que é caso do filme brasileiro. Em contrapartida a comédia de Frank Tashlin, apesar do tempo transcorrido ainda é absolutamente divertida, inteligente, sarcástica, irreverente e quantos adjetivos mais que caibam aqui para enfatizar suas virtudes. Mas, ok, para que comparar uma comédia de 1957, engraçada e genial da época de ouro do cinema americano, com uma comédia sem graça da época de merda do cinema nacional? Well, falei do final, idêntico em ambos, único aspecto concreto que as une, afora o gênero. Para, além disso, a comédia americana, apesar do tempo e da origem, faz mais sentido para nós que o nossa tupiniquim de hoje. Na verdade ela é atualíssima para nossa realidade.
Temos de um lado um sujeito, Rocky Hunter (Tony Randall) publicitário fuleiro, a beira da demissão, em uma grande agência nova-iorquina; do outro lado uma atriz Rita Marlowe (Jayne Mansfield), mistura de Marylin Monroe e a própria Jayne e todas as atrizes frequentadores de revistas de fofocas e colunas de jornais de todos os tempos. O que vai uni-los? O publicitário vê na atriz, fútil e manipuladora da mídia, uma oportunidade de manter o emprego, e a procura, pedindo que ela estrelasse uma campanha publicitária de uma marca de batons. A loura dera uma escapada de Hollywood, para segundo ela, buscar um pouco de privacidade, claro que com uma penca de paparazzi e repórteres a tiracolo. Soa familiar? E a falsa loura burra, vê no palerma feio e sem graça, uma oportunidade mais uma vez de manipular a mídia e atrair os holofotes e câmeras. O relacionamento dela, com um clone de Tarzan - aliás, interpretado por Mickey Hargitay, ator que foi o homem macaco no cinema - havia ido por água abaixo, e o nosso marqueteiro manipulado caía também como uma luva para causar ciúmes nele. Hunter aceita o jogo, coloca na berlinda seu noivado com uma colega de trabalho normal e sem graça, e embarca numa odisseia midiática, tornando-se o Lover Boy e uma personalidade com a cara estampada em todos os jornais, revistas e aparecendo em todos os programas de TV. O diretor Tashlin, começou a carreira com desenhos animados: Jayne atua como em um desenho animado, e o ritmo das gags obedece ao mesmo padrão cartunesco. A sátira não se esgota no mundo do showbizz e da publicidade. A TV era a grande assombração de Hollywood naqueles tempos. O medo que ela acabasse com o cinema era real ( Não acabou, pelo menos não naquela época). E então voltemos ao Brasil: a TV de 30 anos para cá alcançou uma força espantosa em nosso país, e praticamente se tornou o único veículo audiovisual de força. Redundante falar que não temos mesmo indústria cinematográfica sólida, e só um filme ou outro ultrapassa marcas de público, e mesmo assim, boa parte deles, atrelados á TV. Mas falemos de coisas boas: e pois, Frank Tashlin estende sua sátira ao veículo em momentos puramente cinematográficos e antinaturalistas, surreais, como na abertura, parodiando comerciais de TV, ou mais adiante, debochando das então dimensões máximas das telas TV e na época ainda preto-e-brancas.
A origem do filme veio de um sucesso da Broadway, escrito pro George Axelrod, que foi roteirista de vários filmes do mestre Billy Wilder, e estrelado por Jayne Mansfield e Walter Matthau, que não participou da adaptação cinematográfica.
Um aspecto chama a atenção no filme: coadjuvantes perfeitos. Lembremo-nos da personagem da assistente de Rita, interpretada por Joan Blondell, no fabuloso monólogo sobre sua paixão por um leiteiro; mas Henry Jones, John Williams e Betsy Drake não ficam atrás e provam que um dos segredos da qualidade da cinematografia americana, residia nos coadjuvantes. E o final ainda reserva uma ponta surpresa de Groucho Marx !Um filme não se sustenta apenas com um grande ator se o elenco de apoio é fraco: e aí voltemos uma vez mais ao filme do Carvana: um ótimo Tarcísio Meira, que sabe trabalhar a seu favor com a canastrice, cercado por zumbis televisivos travestidos de atores em sua maior parte. Falei do final de ambos: um e outro terminam com os personagens no palco cantando, desmascarando a ficção e a manipulação.
O filme sabe-se lá porque, só recentemente ganhou uma edição em DVD nos EUA, considerando-se sua fama. Diga-se de passagem, que foi difícil encontra-lo. Mas no emule , com alguma paciência acaba chegando. A espera vai valer a pena e muitas gargalhadas. O filme já foi exibido no Telecine há tempos.
PS:
preferi não citar o título do filme nacional.
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