Devendo-me um noir para refrescar, digamos assim, a mente, e este aqui, inglês, até poucos dias absolutamente despercebido por mim, foi uma descoberta recompensadora. Ao fim do filme a sensação era quase febril, que só as experiências gratificantes trazem como essa ao assistir um grande filme. Diretor e roteirista Robert Hamer, ilustre desconhecido, assim como o filme; elenco, idem, nenhum rosto vagamente familiar. É verdade que meu conhecimento do cinema inglês dos anos 40/50 não chega a ser dos maiores. As lacunas são muitas e ainda estou descobrindo e aprendendo, o que é ótimo, a possibilidade de se deparar com gemas como essa é constante.
A trama não difere de um noir clássico americano. Temos um homem, Philip Davidson (John Mills), que é liberado da prisão após 12 anos, condenado por haver supostamente assassinar um homem durante uma briga em um barco. Sua condenação foi graças ao depoimento da namorada, do sogro e de um amigo meio retardado. É evidente que o homem vai buscar a vingança. A polícia, capitaneada pelo Sgt Lowther fica vigiando seus passos. Um fato complicador no desenrolar da história: o policial se casou com a antiga namorada de Davidson, Fay (Elizabeth Sellars ). O ex-presidiário, não tem muitas opções de abrigo e se refugia em um barco abandonado, onde vivia um vagabundo. Nem tudo parece assim tão ruim na sua saga de vingança: logo, literalmente, cai em seus braços, Ilse (a atriz sueca Eva Bergh – lindíssima ), ajudante de uma taberna a beira mar frequentada por meliantes, que cansada das pancadas e ocasionais estupros, vai procurar abrigo ao seu lado. A princípio Davidson a rejeita, mas quem resistiria? E se a trama é típica, o que faz com que o filme galgue amplitudes maiores, saía de sua zona de conforto de um noir ótimo, mas comum?
Ao contrário dos seus pares americanos, quase sempre com tramas urbanas e filmadas em estúdio, o filme se desenrola em espaços amplos e naturais. E a utilização habilidosa da paisagem que o distingue e transfigura a saga de vingança de Davidson: uma cidade portuária pequena, suja, semidesértica e melancólica, cortada por ventos gelados. E podemos dizer que esta é o reflexo da paisagem interior do homem, que parece preso a um beco sem saída, beco de espaços amplos e frios, de muros invisíveis e mais duros que as pedras.
O filme pode ser baixado, com legendas em inglês, no blog Arsenevich, cujo link está aqui na minha lista de blogs favoritos.
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