Há dois anos comentei aqui neste espaço semimorto um filme
mexicano “Las mariposas disecadas’, do qual gostei muito e teci elogios exaltados
sobre ele. Era, não tenho muita certeza, o primeiro filme do país asteca que eu
resenhava e fiz questão de ressaltar minha ignorância a respeito da história da
cinematografia de lá, fazia questão também de lembrar que era o único filme que
tinha visto do diretor Sergio Vejar, e encerrava o texto ressaltando o detalhe
de que hoje, nos tempos do politicamente correto, seria um filme impensável de
ser realizado e exibido. Agora tempos depois me debruço sobre outro filme do
diretor, e igualmente para ele vale a
observação anterior sobre a impossibilidade de sua realização e exibição nos
tempos de agora. O outro, estrelado pela diva Silvia Pinal lidava com a
pedofilia sob uma trama de terror e loucura. Agora o diretor muda de perversão :
temos uma relação incestuosa entre dois irmãos,
e mais uma vez ,sob um fundo de mistério, terror e loucura. Ambos os
filmes revelam um diretor talentoso e visceral.
Curiosamente pela extensa filmografia o que encontramos é o perfil de artesão antes de tudo, e que
provavelmente (presunção minha) vez ou outra teve oportunidade de dirigir
projetos mais pessoais como os dois citados. Um detalhe a conferir. Vale
lembrar que ambos foram realizados em um curto espaço de tempo entre um e
outro. O roteiro é do próprio diretor e ele avisa que foi baseado em um fato
real. O cinema mexicano foi um dos mais criativos entre os anos 50 e 70, e como o
nosso cinema brasileiro teve uma decadência acentuada nos anos 80, mas vem se
recuperado. Muitas outros paralelos entre as histórias cinematográficas mexicanas e brasileiras poderiam ser frisados, mas não vou me
estender nesse tópico. Fiquemos neste bom filme, que se muitos consideram
superior ao que resenhei anteriormente, eu, particularmente ,não compartilho
dessa opinião, mas que fique bem claro, não significa que não o considere um
ótimo filme. Tá explicado pois a razão por ele estar sendo lembrado e resenhado aqui.
Diante de tantos filmes que vi nesses dias achei que seria bom relembra-lo.
Assim como "Las Mariposas Disecadas" citado , este é igualmente ambientado em espaço cerrado - uma mansão -,
poucos personagens em cena, o que empresta ao filme uma aura sufocante. Poderia dizer
que a ação no interior dos personagens é tão especial quanto o que se desenrola no cotidiano de cada um deles. O que temos? Um casal de irmãos, desde pequenos unidos pela
tragédia da morte misteriosa da mãe – um suicídio, que o pai tratou de ocultar –
e que encontram refúgio nos delírios em passeios a beira mar, e pouco a pouco vão
caindo nos braços um do outro, literalmente. A vida adulta não arrefece a relação dos dois, pelo contrário,
ela se agrava e a insanidade adquire contornos mais mórbidos e esquizoides. Mais uma vez o diretor auxiliado
por esplendida fotografia realiza um belo trabalho narrativo, de mise-en-scène quase onírica, com abuso de cores fortes e
douradas. O filme foi lançado também com o título de “El Pacto”, que igualmente
desvenda de que se trata o filme. Ele pode ser encontrado aqui: http://cinemexicanodelgalletas.blogspot.com.br/2013/06/el-pacto-amores-prohibidos1967sin.html
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Delírio di Sangue - 1988
Um produto estranho no universo cinematográfico
italiano dos anos 80 mergulhado nos thrillers eróticos epígonos do decadente giallo, espasmos de outros gêneros da exploitation, tão vibrante da década anterior.Sergio Bergonzelli, diretor desse filme que relembro, teve uma
carreira longa e algo discreta no cinema italiano dos anos 60 e 70 com destaque
para o insano “Nelle pieghi dele carne” de 1970 numa carreira que conta com 28 filmes em gêneros variados que foram do eróticos, passando pelo spaghetti nos anos 60 e as indefectíveis
comédias eróticas. Saint Simon é um pintor que se acha a reencarnação de Van Gogh
e vive isolado num castelo medieval. Para a matéria prima das tintas ele
prefere o sangue humano, que o mordomo lhe fornece graças aos assassinatos
brutais contra moças das redondezas. Mas
a morte da esposa o deixa prostrado e
sem inspiração. O encontro com uma pianista idêntica à falecida o deixa na certeza
que ela seria a reencarnação da amada. Estamos em um filme e, portanto, a moça
aceita o convite para uma visita ao castelo sem maiores problemas e sequer se dá ao trabalho de avisar
o namorado sonso. Não tarda a sacar que se
meteu numa roubada e que caiu num ninho de dois dementes. Bizarro, depravado,
repulsivo, sórdido, “over”, ou simplesmente pretensioso e a beira do ridículo? Se pensarmos nele como um delírio ou pesadelo o filme faz algum sentido. E posso dizer que esta ambiguidade que me atrai no filme a despeito de todas as irregularidades e furos de narrativa. O
fato é que estamos diante de um híbrido inclassificável e inquietante. O
espectador tem diante de si história de amor louco com toques de
necrofilia, ocasionais estupros e decapitações. Quase desnecessário dizer que estamos em mais um filme que não seria possível
realizar hoje diante do politicamente correto que cerceia tudo atualmente. Um
filme raro, inédito em DVD e que só sobrevive graças a uma cópia ruim tirada de um VHS grego dublada em inglês.
No elenco John Philippe Law, estrela de “Diabolik” e “Barbarella”, o veterano
Gordon Mitchell e Barbara Christensen, atriz dinamarquesa e ainda na ativa, podendo
ser vista no mais recente filme do italiano Giuseppe Tornatore. O filme
pode ser encontrado ainda no YouTube em cópia, infelizmente, sofrível, mas
melhor que nada, enquanto esperamos o milagre do surgimento de uma edição
decente e sem cortes .
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