terça-feira, 29 de novembro de 2011

Living Skeleton - 1968

O cinema oriental, destacando-se ai o japa e o coreano, dita o que é bom e criativo no cinema de terror no mundo há bastante tempo. Qualquer produção de lá tem sido refilmada pelos americanos, obviamente com resultados inferiores. Este filme aqui até onde pude averiguar sequer foi exibido nos EUA na época do lançamento e nem mereceu ainda uma edição em DVD americana. Uma das razões, talvez pelo fato de ser em preto e branco num momento em que a maioria dos filmes já eram feitos em cores. O título inglês é evidentemente inapropriado, pois não tem nenhum esqueleto vivo no filme em nenhum momento. O título original tem mais a ver com “Bloodsucking Pirates” ou “Bloodsucking Skeleton Ship”. Mesmo sem repercussão na América, sua semelhança com o filme de John Carpenter “The Fog”, clássico dos anos 80, foi notada. O mais recente “The Ghost Ship” foi também claramente inspirado nele.
Com fortes elementos do cinema gótico italiano de Mário Bava, entre outros, temos aqui uma atmosfera fantasmagórica, irreal e ilógica, até surreal. A mise-en-scene maneja a narrativa com requinte. A sequência inicial é marcante: um barco capturado por piratas, e todos os passageiros e tripulantes são mortos sem piedade. Em seguida, o barco e abandonado e deixado à deriva no oceano. Salto para três anos depois, numa pequena cidade a beira-mar, onde o espectador toma contato com uma moça, irmã gêmea de uma das pessoas assassinadas no barco, que ajuda um padre católico na igreja local, e namora o dono de um restaurante. A aparição nas cercanias de um misterioso barco, envolto em brumas, atrai a moça. Com a ajuda do namorado ela vai ele e reencontra o fantasma da irmã e ao ler o diário de bordo fica sabendo de tudo o que ocorreu. Os piratas viviam agora, ali por perto também, como honestos cidadãos, e passam a ser perseguidos pela aparição do fantasma da moça.Um a um eles vão tendo mortes estranhas, ambíguas. Todas seriam talvez provocadas apenas pelo desespero causado por suas imaginações carregadas de culpa. E quem era a aparição? A mocinha, ou o fantasma da irmã? A narrativa deixa que estas questões permanecem na ambiguidade. Não há no filme, nenhum traço de uma ética e moral cristãs. O padre, que vai se revelar, aliás, como o líder dos piratas disfarçado é um monstro necrófilo, numa suprema provocação anticlerical. O coroamento do filme é uma sequência final onírica, desesperançada e niilista.
No elenco, a atriz Kiko Matsuoka teve alguma popularidade no exterior, atuando até em “ 007- Só se vive duas vezes”. O diretor, no entanto ,Hiroshi Matsuno permaneceu na obscuridade: o IMBD não lista nenhum filme dirigido por ele além desse aqui, o que é sem dúvida erro de informação, pois parece que ele foi prolífico diretor na TV e no cinema. A trilha é sensacional guardando algumas similaridades com as trilhas de Ennio Morricone com uso de harmônicas. Um filme que merece mesmo uma busca na internet: já é possível encontrá-lo com legendas em inglês, fato até há pouco tempo, impossível.
Antes que me esqueça: Kyuketsu Dokubo Sen, é o título japonês.

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