quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Lorna- 1974


Lina Romay. A sua morte me abalou como de alguma pessoa que me fosse familiar. E de certa forma era: não sou tão fã assim de Jess Franco, mas da atriz espanhola, nascida em Barcelona, sim. Sou admirador também da outra musa de Jess: Soledad Miranda, falecida jovem, de maneira trágica. Ao saber do falecimento de Lina até pensei em escrever algo, mas não me atrevi. E só agora, passado alguns dias tive coragem de assistir um filme com a sua participação. Tinha aqui na fila de espera este que havia baixado em uma cópia sofrível, mas consegui por estes dias a versão lançada recentemente da Mondo Macabro, com outra qualidade de imagem e com cenas adicionais: A chamada versão do diretor. Lina não foi só a musa de Jess, mas de todo cinema sexploitation e eurotrash (não uso a palavra no sentido pejorativo, apenas para designar certo estilo de filme ). Musa desprezada e ignorada: nenhum veículo de comunicação noticiou seu falecimento. Nenhum suplemento cultural brasileiro - e creio que até europeu - a mencionou. Não fosse por um blog amigo – o Dementia 13 – teria inclusive demorado a saber da sua morte. E cheguei a duvidar do fato, pois imediatamente passei a procurar detalhes e nada encontrava. Somente depois notícia foi se espalhando e outros blogs de cinema prestaram as homenagens devidas. Ela lembrou certa vez que não obtivera muito reconhecimento: ela e o namorado e marido Jess Franco sempre foram sistematicamente ignorados e desprezados. E contou até que se espantou - quanto em um festival- um rapaz se aproximou e lhe pediu um autógrafo. O fato se deu já nos anos 90!
Lina era bela, sexy, desinibida, exibicionista – ela mesma fazia questão de afirmar isso – e nunca teve medo de realizar cenas explícitas. Soltou uma frase irônica: “Só coloco roupa se o roteiro exigir”. Depravada, vilipendiada como a obra do mentor e amado Jess Franco. Mas nem seus detratores deixam de concordar que afinal de contas ele tem uma temática que perpassa boa parte da sua extensa cinematografia. Variações e circunlóquios fesceninos de possessão. “Macumba Sexual”, “Vampyres lesbos” e este filme que uso como desculpa para falar de Lina Romay, são bem claros no que digo. Lina é Linda, uma jovem recém-saída da adolescência, filha de um casal normal em viagem de férias. Mas ela é assombrada pelas visões de uma mulher enigmática e que exerce uma atração terrível, irreal e obviamente marcada pela sexualidade mais desenfreada. O pai esconde um segredo: adquiriu a riqueza após um pacto fáustico e diabólico com uma mulher, Lorna, que em troca da riqueza e da felicidade exigiu a filha quando completasse 18 anos. Um filme de narrativa quase linear do diretor, mais acostumado a devaneios quase jazzísticos nos melhores e piores momentos. Aqui seguramente em seus bons momentos e com notável atuação em todos os sentidos de Lina Romay, musa eterna.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Five Minutes to Live - 1961


Johnny Cash já era um astro da música popular quando aceitou estrelar este pequeno "noir", que permaneceria obscuro e provavelmente esquecido se não fora a sua presença. O “Man In Black” sempre estaria ligado ao cinema paralelamente à carreira bem sucedida musical, mas não com tanta relevância. É verdade que no quesito trilhas sonoras foram 147 trabalhos, vários memoráveis; enquanto ator acabaria atuando mais na TV em séries de westerns e policiais. No cinema foram apenas dois: este filme aqui, objeto da resenha, e um western na década de 70, com Kirk Douglas. Johnny é Johnny Cabott, um bandido frio, psicopata, sádico e cínico. Depois de um golpe mal sucedido busca refúgio numa pequena cidade do interior dos EUA, juntamente com a namorada bonitona e gananciosa. Registremos a participação rápida dela - pois é eliminada sumariamente a tiros pelo namorado. Midge Ware, atriz de carreira para lá de obscura no cinema. Uma pena. Um pilantra local propõe ao bandido um novo golpe: fazer a esposa do gerente do banco local como refém, e obrigar o marido a lhes entregar uma soma vultosa. O título original do filme se refere ao intervalo que se sucederiam os telefonemas de um bandido para outro. O roteiro vai explorando com engenho a questão temporal dos cinco minutos.

Boa parte da trama se desenrola no espaço de uma manhã após o gerente ir para o trabalho e deixar a família. Johnny então chega fingindo ser um vendedor de curso de música e mostra a guitarra, mas também o revólver e faz a loura esposa americana típica como refém. No espaço da casa, o bandido com veleidades musicais e a mulher travam um duelo peculiar. O filme repete situação clássica de vários filmes mais conhecidos do período, como “Cape Fear” e “Desperate Hours”, ou menos conhecidos, caso do resenhado aqui anteriormente “Kitten whit a Whip”. Ou seja: o lar doce lar americano invadido e exposto aos terrores dos beatnicks, roqueiros e sociopatas. O golpe parecia bom, mas detalhes inesperados atrapalhariam os planos: o marido, aparentemente certinho, tinha uma amante, e o filho – interpretado pelo futuro ator e diretor Ron Howard – era um pentelho. Obviamente rola entre o bandido e a esposa certa química sexual. O que teria acontecido caso ela soubesse das escapulidas do marido? Infelizmente a situação não é explorada até o fim: estamos no começo da década de sessenta, nada de tensões sexuais que abalassem o lar doce lar americano. E o final, deixa tudo nos seus devidos lugares. Bandidos punidos: um morto, por culpa de um truque bobo do garoto, e Johnny Cabott, pela primeira vez deixa sua frieza de lado e se dá mal; e o outro, preso;a amante, leva uma banana, e o garoto pentelho, fica com algum parente, enquanto os pais chatinhos rumam para Las Vegas em nova lua de mel. Cinismo ? Assinale-se que um dos roteiristas foi Cay Forrester, que também interpreta Nancy, a esposa ameaçada. A direção, criticada por muitos – um exagero -, coube a Bill Karn, de carreira obscura na seara dos filmes Bs, com míseros sete filmes, e este foi seu último trabalho. Para deleite dos curiosos: o filme pode ser baixado sem problemas no You Tube, e outros sites, pois caiu em domínio público.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Lina Romay - R.I.P

Slogan - 1969


Um filme difícil de desconfigurar da realidade: aqui nestes fotogramas ela nunca foi tão entranhada com a ficção. E dai julgá-lo bom ou ruim é tarefa desnecessária, se você – como eu – é admirador de Serge Gainsbourg e Jane Birkin. Conta a história que após o sucesso da sua participação em “Blow Up” de Antonioni, a jovem atriz inglesa Jane Birkin foi convidada a fazer testes em Paris para o filme aqui em questão. Ela não falava quase nada de francês, mas mesmo assim ganhou o papel. Ela vinha do fim de casamento com o compositor John Berry, dos filmes de 007; ele havia levado um fora de Brigitte Bardot. Quase 20 anos separavam um do outro: ele já um tio de 40 anos, ela uma garota de 22 anos. No entanto durante as filmagens começaram a namorar, e como a atriz lembrou numa entrevista em Veneza, finalmente, consumaram o amor, que se estenderia até a separação em 1980, depois de 13 anos juntos. Realidade. Trama do filme: Serge Gainsbourg é Serge Fabergé, diretor de filmes publicitários, casado, mas rodeado de amantes. E em Veneza, onde estava para uma premiação, conhece a jovem Evelyne (Birkin), uma inglesa sexy e meio maluca. Abandona a esposa e a filha recém-nascida e vai viver com a moça. Mas a partir daí ficção e realidade tomam caminhos divergentes: os problemas envolvendo o publicitário e a jovem acabam por separá-los. Serge passa todo o filme fumando e com cara de bebum, mas é evidente que está babando por Birkin. O tom é de comédia tipicamente sixtie com toques surrealistas em alguns momentos – com um estalar de dedos Serge pode, por exemplo, fazer desaparecer quem o irrita -, mais inglesa que francesa. Tem também piadas aqui e ali com a diferença de idade entre os dois.

Coube a Pierre Grimblat dirigir esta curiosidade midiática e cinematográfica: uma carreira curta no cinema, dedicando-se mais à TV e tendo realizado em 1994 um vídeo documentário sobre o cantor. Lembrando ainda que, no mesmo ano de 1969, o casal protagonizaria “Le Chemin de Katmandou” de Andre Cayatte – filme que não conheço ainda, mas estou aqui aguardando a passos de mula -, e gravariam uma das canções mais escandalosas e censuradas de todos os tempos, que nem preciso dizer o nome aqui, suponho. Se o filme não é uma obra-prima, traz, além do casal atuando , a trilha (a cargo de Gainsbourg ) e uma breve cena de nudez da maravilhosa Birkin. Ou seja: imperdível.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Le Regine - 1970


Um obscuro filme italiano dirigido por Tonino Cervi ,e provavelmente um dos últimos a retratar o conflito de gerações italiana nos anos 60. Não foram poucos os cineastas que abordaram o conflito. Seguramente esta abordagem do meu filme da vez é original: política, terror, rock, sexo e teoria da conspiração no mesmo balaio. Ray Lovelock, que inclusive canta os temas do filme, interpreta um hippie perambulando pelo interior da Itália, que acidentalmente mata um milionário estranho numa estrada deserta à noite. Continuando seu caminho em direção ao mar, ele acaba buscando abrigo numa casa aparentemente deserta. Mas surpresa ao acordar: a casa era habitada por três lindas e estranhas mulheres. Ele até hesita, mas acaba cedendo ao convite delas para permanecer por ali.
Quem, diabos, resistiria ao pedido, afinal de contas? E o rapaz com seu discurso de esquerda, libertário se deixa envolver nas delícias do sexo e do amor. Logo, porém percebe que nem tudo são prazeres carnais e espeirituais ali e as moças escondem algum segredo, que pode ser sinistro: Pouco a pouco a atmosfera vai se tornando irreal, ambígua e decididamente maligna. O hippie não estava no paraíso na terra, mas na ante-sala do inferno. E todos os seus ideais viram fumaça sob os encantos diabólicos das feiticeiras: O título da versão americana-“Queens of Evil” - meio que entrega o que as moças realmente seriam.
O título original italiano - é também conhecido como “Il Delitto del Diavolo” - deixa o espectador bem mais na posição de ser surpreendido pelo hábil diretor, que curiosamente tem obra pequena, apenas 11 filmes, e se dedicou mesmo à produção. Não existe ainda em DVD , infelizmente .

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Ciao ! Manhattan - 1972


Edgie Sedgwick passou como um sopro pelos anos sessenta e desapareceu de maneira triste, dormindo, em 1971, esquecida, na Califórnia. Oriunda de uma família rica foi para NY e caiu nas garras de Andy Warhol e sua factory. Ali circulou , tornando-se uma pequena celebridade, uma espécie de Paris Hilton da época. Pode ser vista na contracapa do disco da banana do Velvet. Foi ela, aliás, a inspiração para a música “Femme Fatale” do mesmo disco, composta por Lou Reed,a pedido de Andy, para promovê-la .E nessa época, em 1967, começou a participar de um filme co-dirigido por John Palmer e David Weisman. As filmagens resultaram em uma sequência de situações caóticas de toda espécie e o filme não foi concluído. Edie caiu fora da turma, sem abandonar as drogas: vivia 24 horas chumbada. Depois de perambular algum tempo por Manhattan se envolvendo aqui e ali com alguns roqueiros foi buscar refúgio na casa dos pais e sumiu. Cinco anos depois a dupla resolveu prosseguir o filme e a reencontraram ainda pior do que antes, com a saúde física e mental detonandas.Para dar alguma coerência à trama inseriram a história de um surfista que está se dirigindo a Malibu, e socorre uma jovem chapada na estrada: Susan Superstar, alter-ego de Edie , e graças a uma etiqueta pendurada no pescoço dela descobre o seu endereço e a leva para casa . As imagens do filme inacabado, cenas de Edie com um namorado se drogando, foram inseridas como flashback.

O resultado é uma hidra caótica e bizarra, mas que exerce um fascínio necrófilo e perverso. Quase um documentário ficcional , é que temos, dos últimos dias da aspirante à atriz e modelo, engolida pela máquina sixtie nova-iorquina barra pesada, e cuspida depois, com os resultados que o espectador que se e aventurar pelo filme poderá perceber. Ainda na fase de pós-produção ela faleceu vítima de uma intoxicação de barbitúricos. Havia se casado meses antes: as imagens reais do casamento estão no filme. É evidente que a moça atuou nas sequências coloridas do filme completamente drogada. A dupla, de diretores, como era de se esperar, foi bastante criticada pelo filme: julgaram-no uma apelação em cima da imagem da coitada. Bem ou mal o filme se sustenta como um retrato de um belo fracasso que foi Edie Sedgwick e da contracultura nova-iorquina dos anos sessenta. Trinta anos depois da última exibição pública -sintomaticamente em Amsterdam -,o filme ganhou edição americana em DVD, ainda inédita no Brasil.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Cry Uncle ! - 1971


John Avildsen(nascido em 1935) é um caso curioso no cinema americano. Ainda em atividade, mas em produções obscuras, é lembrado por haver dirigido alguns blockbusters de sucesso nos anos 70 e 80: os infames “Rocky” e “Karaté Kid”. No entanto o início da carreira sugeria um diretor ousado e criativo. O primeiro filme, ”Joe” deixou boa impressão e este aqui que relembro, caso algum admirador dos sucessos acima assista provavelmente irá vomitar ou praguejar antes de atirar o filme ao lixo. Onde foi que ele errou afinal de contas? Como alguém se desvia de um caminho coerente para se deixar enredar por filmes pusilânimes e sem alma? Em quê momento John vendeu sua alma? Dinheiro? Perguntas que ficarão sem resposta, pois certamente não irei entrevista-lo jamais. Mudando de assunto só um momento: o caso recente da morte do cantor Wando. Um caso algo semelhante: ele começou a carreira com uma série de 4 ou 5 discos criativos, suingados, mas em algum momento, o diabo disfarçado na figura de algum executivo ou produtor cochichou em seu ouvido: deixa de onda, faça merda que lhe darei o mundo. E o cara foi lá enveredou pela música dita romântica, colecionou calcinhas, passou dessa para melhor unicamente lembrado com a pecha de cantor brega das calcinhas. Muitos se surpreenderam ao descobrir a sua faceta inicial de sambista sacolejante. E voltemos ao nosso Avildsen que ganhou prêmios – Oscar, no caso - , viu a glória pública, que o diabo lhe concedeu ao se vender, e tal como Wando morreu, apenas artisticamente, aqui no caso. Brega, sambalanço ,calcinhas, cinema e Troma: tudo a ver aqui no blog. Falei em Troma, a produtora maluca de filmes Bs, justamente por que foram eles que produziram essa peça sui-generis do cinema americano dos anos 70.

Bons tempos, de liberdade conceitual, criativa e nada de politicamente correto. Filme decerto que, feito hoje, seria dizimado pelas hostes do bem estar comum americano. Mas no começo da década de 70 o ambiente ainda permitia um filme como este no mainstream. Sexo é o grande personagem que paira sobre todas as ações do filme. Sexo, um dos pesadelos americanos. A sequência inicial é exemplar: um cara gordo e feio, careca, fazendo sexo, desajeitado com uma mulher longe de qualquer padrão de bom gosto. Jake (Allen Garfield) o sujeito, é um detetive fuleiro e tarado. É interrompido em seu coito com uma chamada para resolver um caso aparentemente banal: um milionário esquisito acusado de matar uma prostituta durante uma orgia. O que se segue é uma jornada fescenina, debochada, fora dos parâmetros do bom gosto, no mundo das drogas e do sexo. Apalavra sacana poderia resumir bem o filme, ou talvez outra pior, e que não pega bem escrever aqui. Uma pequena obra-prima de mau gosto e sordidez, irregular e divertida.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Flesh Feast - 1970


Ao contrário do que muitos pensam - se é que alguém se importe com isso -, só comento filmes que considero relevantes de alguma maneira. Não tenho paciência com aquela história de curtir filmes trash, bombas e etc, apenas por isso. Se é trash, mas é chato, é um filme ruim e pronto. Já fui “crítico” e, atualmente tenho urticária de filmes pretenciosos e artísticos, digamos assim. Enfim cada um na sua. Este espaço é para relembrar com bom humor filmes que talvez merecessem lembranças maiores. Mas eis aqui eu me debruçando sobre um filme ,que não resta a menor dúvida, é sério candidato ao pior filme de todos os tempos. O que só por isso já mereceria minha atenção, é óbvio. Mas a razão da lembrança é a presença ilustre da deusa do cinema noir dos anos 40/50 Veronica Lake. Loura, baixinha e com sérios problemas mentais, além de abusos de álcool e outras substâncias, faleceu com apenas 53 anos em 1973, em completa decadência em Miami. Triste. E como já relembrei comebacks esdrúxulos aqui de divas de Hollywood, caso de Jennifer Jones, em “Angel, Angel Down We Go ” e Carrol Baker em “Bad”, este não poderia faltar. Sim, pois o filme em questão foi a despedida das telas da loura fatal. Ou melhor, uma tentativa espúria e deprimente de voltar ao cinema. Produção dela mesma, como se pode ver nos créditos. Um medonho, bizarro epitáfio. No papel de uma cientista, que sintomaticamente acaba de sair de um hospício, e volta para casa e se dedica a descobrir a fórmula da juventude utilizando larvas, que se alimentam de carne humana. Nem precisa dizer que corpos desaparecem dos hospitais, e há um jornalista abelhudo, que investiga o caso. A mansão onde tem o laboratório serve também como uma pensão para enfermeiras gostosas, obviamente. O que não faz muito sentido. Aliás, o que faz sentido no filme? E a casa então é invadida por um grupo de sinistros hispanos nazistas (?) que pretendem trazer o chefão para uma operação de rejuvenescimento. E adivinhe quem é o tal chefão?

Nada mais, nada menos que Adolf Hitler, que não havia morrido e precisava de uma cara nova. O problema, para mim, não é essa trama absurda, que em boas mãos seria divertida. O problema mesmo é a direção de Brad F. Grinter, de uma incompetência que beira o surreal. E a pobre Veronica, do alto dos seus 50 anos – estranho dizer isso, pois ela era baixinha – sabe-se lá como ainda consegue atuar em meio ao bando de zumbis que o diretor colocou para contracenar com ela

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ben Gazzara - R.I.P

Hollywood Boulveard - 1976


As origens de um filme surgir podem ser as mais estapafúrdias possíveis, e muitas dessas histórias -das suas origens-, dariam também filmes. Hollywood, principalmente, nunca se furtou a exibir seu universo interno, revelar um pouco dos seus truques, muitas vezes com doses de realismo impressionantes, vide ‘Sunse Boulevard”, “The Bad and the Beautiful”, de Minelli, “Day of Locust” de Schlesinger, para ficar entre tantos e tantos bons e maus exemplos. O universo do filme B , e da exploitation também mereceu algumas incursões. O exemplo mais famoso ,sem dúvida ,“Ed Wood” de Tim Burton. Mas o filme ,aqui dirigido a duas mãos por Allan Arkush e Joe Dante, foi outra reflexão e homenagem feliz a este universo maravilhoso. E a origem do filme ,per si ,daria outro filme talvez: ele nasceu de uma aposta do produtor Jon Davison ao diretor e produtor Roger Corman, de que seria capaz de produzir um filme com a quantia – irrisória para os padrões americanos – de 90.000 dólares . Nem o mestre do filme B que fez filmes com orçamentos absurdos nos anos 50 e 60, acreditava mais nesta possibilidade nos anos 70. Mas Joe foi adiante ganhando a aposta. O resultado foi uma homenagem, a mais divertida e sincera, que o grande Roger Corman poderia ter recebido em todos os tempos ,até então. A lourinha Candice Rialson ,no papel de uma aspirante a atriz chega a Hollywood e sai batendo de porta em porta a procura do seu sonho. Os resultados foram roupas rasgadas devido a testes do sofá mal concluídos e a frustração. Ao conhecer o agente picareta Walter Paisley – interpretado pelo ator fetiche de Roger, Dick Miller – e o nome é mesmo de um personagem de um filme “A Bucket of Blood” de Roger Corman, o universo do cinema parece se abrir finalmente para ela. E cai numa produção típica das exploitation dos anos 70,dirigida por um diretor também picareta(interpretado pelo diretor Paul Bartel):uma malfadada "fita vagabunda" nas Filipinas, onde uma dublê já havia morrido num acidente – e nossa mocinha vai justamente ocupar o posto da falecida. A estrela da companhia, a rainha dos Bs é interpretada por Mary Woronov, figuraça do cinema nos anos 60 e 70, e ela é uma atriz enciumada e nem um pouco empolgada com a chegada de novas atrizes dispostas a tirarem a roupa e realizarem cenas perigosas.

A trama do filme começa a ficar séria: algumas mortes de atrizes e membros da produção começam a acontecer , pelas mãos de um misterioso e mascarado assassino, homenagem óbvia e simpática aos “gialli” italianos. As piadas carinhosas com o universo B, sexploitation e exploitation pontuam cada sequência: para os fissurados como eu neste universo, uma delícia, e é quase impossível destacar uma Talvez as piadas com os filmes de ficção científica B, especialmente “Robot Monster “? . E podemos ver um personagem carregando nas mãos o básico livro “The Kings of Bs”, minha bíblia. Mas tem muito mais:cartazes, citações de frases reais de Corman e trechos de seus filmes , pontas de diretores, etc. Lembrando que Joe Dante realizaria outra homenagem a este universo com o filme “Matinê”, centrada na figura folclórica do diretor William Castle. Allan arkush dirigiria o clássico " Rock Roll High School" Ao que consta existe uma continuação que infelizmente ainda não conheço.