terça-feira, 31 de dezembro de 2013
Los Placeres Ocultos - 1989
O belíssimo título em
espanhol sugere ao espectador uma
intensa carga erótica, por sua vez o título da versão americana (Playback)sugere
violência, vingança. Ambos, como veremos,
estão certos: na receita temos sexo, perversões, vingança, violência. E o
inicio já nos pega pela jugular pelo bizarro e selvageria: uma mulher bonita,
de meia idade é atacada na porta do hospital onde trabalha por um sujeito com mascara e boneca e levada
a um local ermo onde é estuprada,
espancada e atirada deum barranco, só escapando porque ficou pendurada pela
corda com quem o tarado a amarrou. A dama em questão é psiquiatra, e disposta a
encontrar o maníaco logo suspeita que ele possa ser um dos seus pacientes.
Descobre-o e o enreda numa teia de joguinhos
eróticos calientes : Um plano de
vingança meticuloso e insano pontuado por uma sarabanda de sexo “kinky”.Afinal não
se cutuca uma representante da burguesia bem casada e com família respeitável impunemente.
Sonia Infante, bela atriz já quarentona, não se furta em exibir os atributos
físicos nas cenas sensuais. O final tem
o esperado “twist” de roteiro. O filme emulava os tiques e cacoetes do
famigerado thriller erótico, subgênero de origem italiana que curiosamente encontraria terreno fértil no
cinema americano mainstream culminando em “Instinto Selvagem” de 92. A direção é do magnifico e prolífico Rene
Cardona Jr, diretor de dezenas tranqueiras clássicas da exploitation
mexicana. A versão disponível é dublada em inglês .
Alguma chance de existir uma versão original ainda mais caliente? Talvez.
sábado, 30 de novembro de 2013
Occhio dietro la parette - 1977
Boa parte das resenhas de um filme tem a necessidade de classifica-lo em
determinado gênero. Normal. O problema,
que muitas vezes ocorre, é que este pode escapar aos limites dessa classificação.
O que isso significa: que o filme pode estar lançando um gênero novo, ou
simplesmente é um híbrido assumido? O filme que relembro é um bom exemplo desse
problema. Em 1977 o giallo agonizava depois de quase 20 anos de obras incríveis.
Este epígono não conservava do gênero ,na
verdade , pouco mais que o ambiente perverso e doentio, de resto prenunciava o thriller erótico ( filho bastardo do giallo).
Um drama com elementos vagos de terror e
mistério e melodrama familiar, certamente. Prato cheio para psicanalistas pelas taras e perversões
que arrolava nos seus 77 minutos. Claro que muita coisa mudou desde então e boa
parte dessas taras se tornaram
rotineiras e aceitas, e podem ser vistas
hoje em qualquer novela. Voyeurismo, sodomia, incesto e outro vícios : um
Nelson Rodrigues italiano, sem o humor
do nosso dramaturgo. Fica, no entanto como um documentário da mentalidade
de uma época que agora nos parece
distante em demasia, uma curiosidade arqueológica. Da psicanalise para uma
simples arqueologia das perversões. A duração curta se explica pela história
conturbada da produção: cortes sofridos, demissão do diretor Giuliano Petrelli (foi
seu único filme). Ao que tudo indica não existe possibilidade de aparecer um
dia uma edição sem cortes. As resenhas sempre enfatizam as semelhanças com “Janela Indiscreta”, o que
tirando o detalhe do homem espionando na cadeira de rodas , não corresponde
realmente ao filme. Fernando Rey é Ivano, um escritor impotente de preso à cadeira
de rodas, que vive em companhia da jovem esposa (?) e se se dedica a espionar o cotidiano do inquilino para
colher material para seu novo romance. A curiosidade extrema o leva a sugerir
que a jovem esposa trave contato com o vizinho e o seduza. Arturo, interpretado
por John Phillipp Law, o astro de Diabolik, já meio velho para o papel do rapaz
é o
clássico “beatnick” das fantasias cinematográficas, e também um tarado estuprador e assassino, e que se
revela também bissexual. A primeira
sequência do filme, e de impacto, é o assassinato e estupro de uma moça em um trem. Curiosamente
é o único crime que acontecerá. O que se desenrola no filme é a previsível sedução da jovem esposa pelo ambíguo e sedutor Arturo. Outro personagem
curioso e pervertido é o mordomo Otávio, que tem uma fixação pela patroa Olga e por seus pelos
púbicos que ele recolhe da banheira após os banhos dela. O fato gera o único
momento cômico do filme quando ela flagra Otavio cheirando os seus pelos. Um detalhe curioso: O IMDB indica
que é um coprodução com a Shaw Brothers ,
produtora chinesa de Hong Kong, conhecida pelos filmes de terror e kung fu.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Deathdream - 1972
O clássico “Os melhores anos de nossas vidas “ de William
Wyler retratava o drama dos soldados regressando da guerra e tentando a
readaptação à realidade depois dos horrores vividos. Nação que faz da guerra a
condição básica para se impor e sobreviver, a América , geração após geração
reinventa esse drama no cinema em todos os gêneros. O filme que relembro toma como ponto de partida a guerra do Vietnam. O prólogo
retrata uma cena típica de combate e vemos um soldado sendo atingido e morrer.
Em seguida as imagens passam do horror para a tranquilidade da vida familiar
típica americana reunida na mesa de jantar. O idílio é quebrado por uma batida
na porta e o anuncio da tragédia: o filho soldado fora morto em combate.
Miraculosamente, no entanto o rapaz regressa
e tudo parece bem novamente. Mas
fica claro que o rapaz não é mais o mesmo. Sorumbático se limita a permanecer
sentado no quarto escuro numa cadeira de balanço. A base para o filme é o conto “A pata do
macaco” de W.R Jacobs, que já lembrei aqui em resenha de outro filme há algum
tempo, só que agora a filiação é óbvia. A trama segue em linhas gerais
fielmente o conto, fácil de encontrar em antologias de literatura fantástica. A mãe reza para que o filho regresse e seu desejo é
atendido, mas com consequências imprevisíveis e pavorosas. Uma sombria alegoria
de todas as guerras, carregada de simbolismo por todos os lados. Zumbi, vampiro, ou simplesmente um herói deslocado
incapaz de lutar na guerra familiar do cotidiano do american way life e sua
boçalidade cor de rosa? Bob Clark realizou
três pequenos clássicos no gênero de terror
e este é um deles. Curiosamente depois se dedicaria a comédias ligeiras
e realizaria a infame “Porkys”. O filme
é conhecido também pelo título “Dead of Night” e pode ser encontrado nesse link: http://thepiratebay.sx/torrent/8272852/
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
La Lunga Notte di Veronique - 1966
Pérola obscura do gótico tardio italiano que ainda espera o
resgate e edição em DVD, como tantos outros filmes peninsulares daquela época. A cópia única que circula por sites como
o Cinemageddon, por exemplo, se origina de um antigo VHS dos anos 80. A fortuna crítica é quase
inexistente. Gianni Vernuccio dirigiu 22 longas entre a década de 50 e70,
nenhum deles alcançou nenhuma repercussão. No elenco nenhum nome de menção . A estrela do filme , Alba Ragazzi, não passou desse filme, e foi uma das tentativas
fracassadas de produtores em lançar uma nova Cardinale, Loren, etc. A moça tinha
vencido o Miss Itália no ano anterior e o filme foi com certeza uma tentativa de veículo no
cinema. O fracasso do filme parece que a desanimou e nunca mais se teve notícia
dela. Um jovem após a morte dos pais em um acidente descobre que o avô é um
conde ricaço que vive num castelo e vai visita-lo. Após alguns dias conhece uma moça misteriosa
passeando pelos arredores e se enamora dela. Classifica-lo de gótico é um
exagero, pois a trama se desenrola em ambiente moderno, quebrado apenas por
flashbacks na época da guerra e que esclarecem o mistério do passado do Conde e da moça. Mas temos um
castelo, corredores escuros e um legítimo fantasma com um segredo mortal.
Melodrama com toques românticos, terror tênue e sem arroubos excessivos. A
sensualidade é discreta no quesito nudez, fato raro no cinema italiano da
época. Daí o fracasso do filme? Provavelmente, se considerarmos que estávamos
no alvorecer do giallo , os espectadores queriam mais sangue mais carnes
expostas. Sexo e morte explicitados no écran, sem sutileza e devaneios. O
clássico obscuro americano “Portrait of
Jennie” de William Diertele, filme favorito de Bunuel, e matriz de todas as
histórias de homens apaixonados por moças misteriosas é a inspiração longínqua
desse filme que relembro. Boa caçada.
sábado, 19 de outubro de 2013
Cry for me Billy - 1972
Western é um gênero infelizmente morto, não se adaptou á
lógica sinistra dos blockbusters. Uma pena. As tentativas recentes de revive-lo
foram desastrosas, só para lembrar “The
Lone Ranger” e “Aliens and cowboys”. Nos anos 70 as produções já rareavam, mas
aqui e ali obras primas surgiram já adaptadas
ao universo da contracultura, ecos de 68, conceitos anticapitalistas e uma visão holística e tolerante
com os índios e minorias. É nesse contexto
que este pequeno e obscuro filme está inserido. O título quase me enganou acreditando
que estava diante de mais uma versão da vida de Billy the Kid. Longe disso. O
que temos é um western melancólico e outonal, na linha dos filmes de Monte Hellman ,Peckinpah e Boetticher. Billy,
um pistoleiro errante salva uma índia apache de alguns soldados . Ambos iniciam
uma jornada sem rumo pelo deserto, e pouco e pouco, como seria de se esperar
uma relação se estabelece entre eles. Nenhum otimismo, contudo, e a tragédia
não vai tardar em se abater sobre este amor maldito. O erotismo é componente
forte no filme. A índia passa boa parte do filme nua, e as cenas de sexo são graficamente
fortes. O espectador está diante de um faroeste exploitation de certo
modo. Maria Potts, a índia, era dublê e só
atuou em três filmes. O trabalho aqui foi fácil, pois não abriu a boca
em nenhum momento, limitando-se a gemer, grunhir e ficar nua. O mesmo sobrenome
do ator principal entrega que eram casados fora das telas. No elenco a presença
sempre carismática de Harry Dean Stanton, que infelizmente só dá as caras no
inicio e no fim do filme. William Graham ,o diretor ,teve carreira longeva
dirigindo episódios de séries de TV,
este foi um dos seus raros trabalhos para o écran. Um pequeno western que se não chega a ser brilhante merece uma conferida. Existe um torrent dele ainda com seeds: http://thepiratebay.sx/torrent/8744441/
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
The lady Avenger - 1981
Taiwan sempre teve , assim como na politica, a cultura
cinematográfica obscurecida pelo gigante chinês. E mais do que isso: confundido
com o cinema de Hong Kong. Mesmo em
blogs podemos observar certa confusão com relação aos filmes. Entre 1979 e meados da década de 80, ou seja, um período curto,
o cinema local viveu sua fase exploitation , apodada “Taiwan Black Movie”, e
que agora vem despertando interesse de
cinéfilos mais abertos e curiosos. Como
estamos falando de exploitation não é difícil imaginar a temática desses filmes: estupros, vinganças, criminalidade,
sexo, violência e horror. Assim como em outras cinematografias onde a
exploitation teve seu momento tudo
acabou num piscar de olhos em
fins da década de 80. Vários motivos contribuíram: censura política, que
obviamente não via com bons olhos um tipo de cinema que denegria o país, economia,
e principalmente o fato de que boa parte dos filmes era financiada pela máfia
local. Muitos filmes perdidos, e os que sobreviveram graças a edições VHS piratas lançadas em Hong
Kong. Nada muito diferente da nossa Boca do Lixo, por exemplo, cuja maioria absoluta
dos filmes sobreviveu graças à pirataria. O filme que relembro
ganhou exibição em um grande festival de cinema asiático realizado em julho em
New York, ao que tudo indica na única cópia existente e em 16 mm. Vingança e estupros aos montes no menu. Uma
modelo muito bonita abandona o set e sai por uma estrada deserta pedindo
carona. Ingenuamente troca de roupas diante do motorista e logo em seguida é
estuprada e espancada. O tarado era um playboy filho de umas das famílias mais
poderosas locais. Sendo assim o processo que a moça move contra ele não dá em nada, e só lhe resta, após uma malograda tentativa de
vingança, o suicídio. Uma repórter ( interpretada por Luk Sin-Fan, outra beleza de mulher) acredita
na história dela e resolve prosseguir
com o caso, despertando os desejos
lúbricos do tarado playboy que passa a segui-la nas caminhadas noturnas. Mas
antes que ele alcance seus desejos pervertidos, ela atacada por um bando - após
impedir um estupro de outra coitada- e
currada por eles. O clássico exploitation “I Spit in your Grave” fez escola : nossa heroína é abandonada pelo noivo
careta, e sai à caça dos estupradores matando um por um. Cada morte mais
surreal e grotesca que a outra. Vem à lembrança também os japoneses pinku, com
os estupros insanos, e é claro o pequeno clássico de Abel Ferrara “Ms 45”, ápice cult do subgênero “vingança
e estupro”. O curioso neste filme de Taiwan é que o diretor Yang Chia-Yun,
também roteirista, é na verdade uma mulher, o que da à trama um elemento
inusitado a mais ao filme. Estamos longe de uma obra-prima sob qualquer ponto
de vista, ainda mais que a cópia que tive acesso, e que presumi seja a única disponível
no mundo ripada de um VHS vagabundo esteja em condições semelhantes às mulheres
do filme. Nada disso tira, entretanto dele a aura de selvageria, aliás, pode se
dizer que defeitos realçam esse aspecto
do filme.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
KIdnapped Coe - 1976
Frederick R. Friedel só deixou três
filmes na história do cinema B americano dos anos 70. Nada incomum se
lembrarmos de tantos outros malucos que só deixaram um ou dois filmes. Pequenos
realizadores regionais muito distantes do cinema padrão de Hollywood, Deve-se salientar que o diretor continua na
ativa ao contrário de tantos outros esquecidos e realizou seu último filme recentemente.
O que temos aqui? Vários pontos: um
precursor dos filmes de John Waters; uma exploitation sem nudez; uma love story
de amor incongruente; um road movie com toques surreais e de humor negro. Jack
Cannon é um bandido comum que rapta
Sandra(Leslie Rivers), uma mocinha feiosa e sem graça, quando ela saia da
pensão onde morava. Os planos de resgate não vão adiante, mas os dois acabam se
enrabichando. Pelas estradas do interior da Carolina o casal vai cruzando com
bandidos e malucos, esquisitices de toda sorte, até o final ambíguo e aberto. O diretor singelamente declarou que optou por isso pela simples
razão de que não havia mais dinheiro para as filmagens. A observação não é
minha, infelizmente: se este filme fosse francês seria saudado por muita gente
como uma obra-prima. Um bom exemplo da era de ouro da exploitation
americana dos anos 70, mas curiosamente sem nenhuma cena de nudez. Imperfeições
a parte, o filme se destaca pela direção vigorosa e uma fotografia criativa. Lição de como driblar inexistência de orçamento. O filme, felizmente ganhou boa
edição em DVD nos EUA, e salvo do limbo.
terça-feira, 23 de julho de 2013
Sexo, sexo e sexo -1984
Os títulos dos filmes de Chico são diretos, apelativos e provocam
ao máximo o espectador. Este promete muito, muito
sexo a julgar pelo título e o cartaz. Existe uma versão com sexo explicito, diga-se de
passagem. Vários dos seus filmes
realizados a partir da entrada do sexo explícito nos anos 80 passaram pelo dissabor de cenas de sexo hardcore inseridas quase sempre de
forma gratuita, e não poucas vezes protagonizadas por atores alheios às tramas.
Felizmente minha versão é a “normal”. Meu limite para determinado tipo de tosqueira não é dos maiores, confesso. Mas, claro que não deixo
de dar uma espiada nos sady babys da vida e Cia Ltda., sempre rola alguma surpresa
que garante a aventura. Se tiver que apontar meu diretor favorito na Boca este seria, sem nenhuma dúvida, Chico Cavalcanti.
Os adjetivos para os seus filmes sempre giram em torno dos adjetivos de tosco, rudimentar, primitivo e simples. Cinema
direto, despretensioso, e ingênuo sim. Chico nunca negou isso, O mais próximo do que o cinema da Boca
chegou do universo dito brega e cafona da canção popular brasileira dos anos
70, de Odair Jose, Fernando Mendes e tantos outros menosprezados e debochados
pela crítica oficial. Uma analogia com a poesia: um cruzamento entre Augusto dos Anjos e Casemiro de Abreu. Um cinema livre de quaisquer influencias externas, puramente
brasileiro na temática e no estilo. Cinema de comunicação direta com o
espectador. Puro instinto. Sempre
reafirmo que o cinema não tem que ser refém do teatro, da musica ou do romance, e muito menos da
televisão (Aí já e dose para leão, não? ). E a
obra de Chico é cinema vital, bruto e sólido. Este filme que relembro começa meio parecido com a obra-prima
“Noite do desejo” de Fauzi Mansur: dois desocupados marginais saem pela noite á
procura de uma farrinha, de zona em zona, de boate em boate, cada uma mais
vagabunda que a outra. Carlos e Nico são como tantas pessoas reais que iam
assistir aos filmes de Chico, pessoas pobres, sem perspectivas, condenados a viverem trabalhando quase como escravos em
troca de um salário miserável no inferno urbano da metrópole insana. Escapar a
essa sina só pelo crime. Tentam ,é claro
,o caminho honesto. Mas os dois se dão mal depois que um deles dá umas porradas
no chefe mala que flagrara fumando um baseado . E depois disso tem início para a dupla uma jornada de crimes medíocres, quase simplórios,
e por isso mesmo muito reais, que os deixará mais uma vez em outro beco sem saída, até que
conhecem duas putas em um dos muquifos que frequentavam, e essas lhe apresentam
um malandro arrumadinho. Aqui entra em
cena a presença sempre magnética de
Francisco di Franco, eterno Jerônimo, o herói do sertão, e que sobrevivia em produções da Boca nessa época. Um amigo
lembrou que ele morreu na miséria. Um absurdo, caso fosse americano teria fã-clube
e seria idolatrado até hoje, assim como Chico, é claro. O aumento do séquito de larápios dá ensejo ao
desejo de voos e golpes mais altos. Chico
Cavalcanti e o seu “Grande Golpe” Kubrickiano
,ou um Fuller tropical, sem glamour, muito próximo das ruas sujas do centro da
grande São Paulo, e sendo assim autêntico, original em sua poesia do desencanto
e da mediocridade. Infelizmente nenhum filme de Chico foi existe em DVD , mas
este e alguns outros felizmente volta e
meia são reprisados no Canal Brasil. Menos mal. Salve Chico Cavalcanti, mais um
herói do cinema brasileiro e da Boca.
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Shock 'Em Dead - 1991
Confesso que só cheguei a este filme por causa da presença
de Traci Lords no elenco. Quatro anos depois do escândalo em que se envolveu quando
descobriram que atuava em filmes pornôs com idade inferior a 18 anos. De Lolita
do hardcore para rainha do filme B no final dos anos 80 e começo de 90.
Cinquentona, continua na ativa. O blog She Zine publicou um bom dossiê sobre
ela há um tempo e, portanto não vou me
estender em maiores detalhes. Para os tarados
um aviso: ela não aparece nua neste filme. Uma pena. Aliás, sua atuação aqui
neste filme é discreta. Além de Traci Lords temos no elenco
Stephen Quadros, no papel do roqueiro
demoníaco Angel, ex pizzamen nerd. Troy Donahue, astro dos anos 50 numa ponta.
Aldo Ray, figura carimbada em filmes B faz o papel do dono da pizzaria. A direção é de Mark Freed. Trata-se de uma comédia
de humor negro com alguns momentos de
gore. Não esperava nada do filme, e fiquei surpreso com ele.Divertido, insano, sem
medo de ser idiota, politicamente incorreto, trash até a medula. Uma banda de
metal pra lá de farofa – meio Poison, meio Motley Crue -, com um vocalista absurdamente
gay ( e que ficaria melhor como vocalista de uma banda new-wave), procura por
um guitarrista às vésperas do início de uma tournée. O nome da banda: Spastic Colon.Um nerd que
trabalha numa pizza se oferece para fazer um teste. Desastre total: o coitado
era inepto com a guitarra e é expulso e
ridicularizado sem dó e ainda perde o emprego na pizzaria. A sorte muda quando
aparece em seu caminho uma
sacerdotisa/feiticeira vodu- sim, isso mesmo, existem criaturas desse tipo nas
ruas de Los Angeles – e lhe oferece um singelo pacto com o coisa ruim, o Cujo,
O demo. Nunca se soube nos anais da literatura, do cinema ou da mitologia, de
alguém que tenha se dado bem com tal
acordo. As entrelinhas desses contratos costumam esconder clausulas para lá de
perigosas e funestas para os incautos. E
nesse filme não será diferente. A chamada do cartaz diz que “pela garota dos
seus sonhos ele faria um pacto com o diabo”, o que não corresponde à trama do
filme. Ele só cai de amores por Traci depois que já se tornara um guitar hero
de araque e tinha o mundo aos seus pés. O filme não fez feio perto das
produções da Troma, o que dependendo do ponto de vista pode ser uma advertência
para evita-lo a qualquer custo. A
guitarra foi dublada por Michel Angelo Batio e tem aquele estilo que consagrou
Joe Satriani, bem veloz e cheio de notas. Os vocais ficaram a cargo de Ricky
Livingstone. O filme foi lançado em VHS no Brasil com o título de “Magia Negra
no Rock”. Existe um link para download na net: http://depositfiles.org/files/2ya1lz1f4
( Possessed by Movies)
sábado, 15 de junho de 2013
Libidine - 1979
A zoofilia é tara velha, e o cinema já explorou aqui e ali. Nosso cinema pornô da Boca foi pródigo na exploração dela. Antes da onda do explicito Jean Garret fez o sensacional “Mulher, Mulher” que tinha a cena de Helena Ramos sendo lambida por um cavalo. Inolvidável. Os italianos fizeram o clássico “Bestialitá” em 1976, onde um cão fazia amor com uma mulher. Confesso que não aprecio muito essa corrente da exploitation, incluindo os filmes da Boca que investiram neste filão. Tem gente que gosta ou tem curiosidade a respeito, não? Mas vamos ao filme, sem dúvida um dos mais insanos e bizarros que explorou a zoofilia. O que temos aqui é um quê de horror, muito erotismo com cenas que beiram o explícito e até toques de giallo. Um cientista maluco faz experiências com serpentes em seu laboratório sonhando em criar um ser meio serpente meio homem, que segundo ele solucionaria o problema da fome no mundo! Imerso nessas preocupações profundas não esquenta a cabeça com a jovem esposa Carla(marina Hedman), uma frenética ninfomaníaca que passa boa parte do filme fazendo sexo com o mordomo ou com a empregada interpretada por Ajita Wilson, figura enigmática do cinema europeu dos anos 70. Homem ou mulher? Ao que tudo indica nasceu homem, fez uma operação para mudança do sexo e foi fazer filmes exploitation na Europa até morrer em um acidente. A dupla garante a voltagem erótica ao filme. A primeira, sueca de origem, teve longa carreira no cinema italiano, atuou em filmes pornográficos, e fez ponta em “Cidade das Mulheres” de Fellini. A impressão que tinha neste instante era mesmo de apenas mais um filme erótico italiano. Mas a filha do cientista retorna para casa depois de uma temporada em um colégio de freiras. OK, ela era virgem, mas às primeiras cenas em que aparece já fica nua e logo é assediada por todos na casa: pela madrasta, pelo criado e pelo assistente de laboratório do pai. A vingança pelo assédio vem na forma de uma serpente que o pai utilizava para os experimentos: um por um os tarados vão sendo mortos por ela. Entre o réptil e a virgem se estabelece uma relação de amor, que vai culminar com uma cena única no cinema, e que não contarei aqui, mas que garanto que é o ápice da zoofilia no cinema. Afinal não recordo de ter visto uma mulher fazer amor com uma serpente.O diretor Raniero di Giovanbattista, não teve carreira longa no cinema, com apenas quatro filmes assinalados pelo IMDB.A trilha do genial Stelvio Cipriani dispensa comentários. O filme até pouco era tido como raro e obscuro, não consegui, por exemplo, encontrar nenhum comentário e respeito dele, deu enfim as caras agora em sites e pode ser encontrado no Eurotorrents.
segunda-feira, 3 de junho de 2013
Thirsty for Love, Sex and Murder (Aska Susayanlar Seks Ve Cinayet )-1972
Minhas manias cinematográficas são muitas, ou paixões, para
usar um termo mais elevado. Algumas antigas, caso do giallo e do gótico
italiano, ou dos japas, outras relativamente recentes, caso do cinema turco dos
anos 60 e 70. A medida que vou descobrindo novos filmes nesse universo mais e
mais me entusiasmo. Este que relembro agora é um dos clássicos do período áureo
da explotation turca. O bom é que ele existe em versão legendada.
Infelizmente são muitos os filmes de lá que ainda permanecem inacessíveis pela
ausência de legendas. Confesso que não tenho muita paciência para assistir um
filme cuja língua não compreendo lhufas. Até faço download de um filme chinês, filipino , turco ou alemão quando vejo
que é muito interessante, e sempre pode um dia aparecer legendas para ele, mas
raramente assisto-o sem não consigo legendas. O título original em turco é "Aska susayanlar
seks ve cinayet". Como só conheço uma única palavra da língua, não fazia ideia
do que significaria este título. Verificando o Google pude constatar que o título
inglês é literal. Todos os blogs gringos que consultei assinalam que o filme é
uma cópia ou refilmagem de um giallo clássico de Sérgio Martino ”O estranho
Vício da Sra Ward”, que já assisti faz muito tempo e do qual não lembro muito.
Portanto nenhuma comparação posso fazer entre o suposto original e a cópia. Mas à exceção da língua falada pelos
personagens, de algumas paisagens, nada indicaria que o filme se passa na
Turquia. Não há nenhuma indicação religiosa, exotismo, os personagens se vestem
à maneira ocidental, bebem álcool, e
fazem muito sexo, e por isso há muita nudez feminina ao longo do filme. Este
detalhe é um aspecto que pode causar estranheza, considerando-se que o
islamismo é uma religião extremamente avessa ao erotismo, como de resto o
cristianismo também. Mas o fato é que o cinema turco daqueles tempos deitou e
rolou no quesito da sensualidade. A maré permissiva, no entanto duraria pouco,
e muitos filmes tiveram cópias destruídas pelos moralistas. Desnecessário dizer
que as novas gerações turcas praticamente ignoram essa linha da cinematografia
local. Nada muito diferente daqui com o cinema da Boca, objeto de desprezo e
deboche por nove entre dez cinéfilos canônicos. Lá imagino que seja a mesma
coisa. Tive uma amiga turca no Facebook, era apreciadora de cinema e nunca
tinha ouvido falar dos filmes desse tipo. O que encanta nos filmes turcos e
nesse fica bem evidente é a sensação de alucinação que perpassa por todo o
filme. Essa sensação é acentuada pelos ângulos inusitados de câmera, o ritmo
desconexo da trama e o erotismo exacerbado. Dir-se-ia uma viagem lisérgica,
onde nós espectadores somos convidados a adentrar em um pesadelo. Temos uma mulher casada, com um
sujeito impotente, e ela ao que parece foi estuprada por um sujeito. Mas foi
mesmo um estupro ou seria simplesmente
uma relação sadomasoquista? Ambiguidade. Como todo giallo que se preze a trama
não faz muito sentido se tomada ao pé da letra. O que importa no gênero é o
estilo sobre a substância, sempre. Aqui no caso um giallo com tempero otomano. Mehmet
Aslan, diretor prolífico na cinematografia turca assina a direção. No elenco nomes como Kadir Inanir,Meral Zeren,Eva
Bender,Yldirim Gencer. O filme pode ser encontrado no Eurotorrents e no
PirateBay também.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
La Tigresa- 1969
A paixão pelo cinema reserva a cada momento descobertas ou
redescobertas. Sempre fui movido pela curiosidade nessa paixão. Acho engraçado quando converso com amigos cinéfilos da minha
geração, da minha juventude, e vejo que todos, sem exceção continuam a gostar
dos mesmos filmes que assistíamos nos cineclubes, conservam as mesmas
admirações, e vários sequer conhecem o cinema posterior aos anos 90.
Desnecessário dizer que do passado, do cinema que lhes foi contemporâneo
desconhecem aquilo que naqueles tempos nos era desconhecido. Como disse, sempre
fui movido pela inquietude. Quando jovem assistia todos os filmes possíveis no
cinema ou na TV sem preocupação nenhuma com pretensões artísticas. Como
qualquer garoto da época adorava um faroeste, filmes de Tarzan, Santo, Zorro,
Hércules e os pepluns em geral, entre outros mais. As sessões domingueiras do
maravilhoso Cine Ipiranga inolvidáveis. Não sei por que, aliás, meu blog não se
chama Cine Ipiranga. Seria uma boa homenagem. O imóvel continua lá na Rua Jacuí
desafiando minha memória, mas agora, nada de cinema, apenas uma loja de móveis,
uma piada sem graça, quase um insulto, com meu passado. Cresci e descobri Fellini, Visconti, Godard, cinema novo, Buñuel, o cinema americano
clássico e por aí afora. Outro olhar sobre o cinema, política de autor, cinema
como arte, papos cabeças noite adentro sobre estética, escolas. Durante alguns
anos militância em cineclubes. O surgimento do VHS, e posteriormente do DVD ,
da TV à cabo, nos possibilitou descobrir o velho e o novo, mundos novos se
descortinaram para mim. E de certa maneira fechou-se um círculo, um retorno aos
tempos do Cine Ipiranga, um resgate. Longo introito para falar que a cada dia
ainda descubro filmes, cineastas, filmografias. Impossível abarcar tudo aqui no
blog, por exemplo. Seria ótimo criar blogs específicos apara cada paixão, mas teria que fazer um sobre cinema asiático(japas,
coreanos, indonésios, turcos, tailandeses e filipinos), outro sobre noir,
westerns, outro sobre exploitation, giallo, boca do lixo, cinema mexicano , a
lista é grande. Quedo-me quase paralisado, essa é a verdade. O filme que
relembro estava escondido há algum tempo numa pasta reservada ao cinema
mexicano, objeto de minha especial predileção.
Os astecas tiveram sua idade de ouro entre os anos 50 e
80, em todos os gêneros populares possíveis. Volto e meia assisto filmes que me
impressionam pela ousadia e alucinação. Não á toa o surrealismo foi uma
corrente artística que influenciou muito a arte e o cinema mexicanos. Bem, mas
o filme, para minha surpresa, não era
mexicano, e sim porto-riquenho. Confundi com um filme mexicano homônimo do
gigante René Cardona Jr, que infelizmente nunca encontrei. Um filme oriundo da
comunidade nuyorican , os hispanos de Porto Rico que imigraram para New York.
Uma cena cinematográfica breve e curiosa, do qual o filme que relembro é dos
mais significativos, e com uma vantagem: está fácil de encontrar no YouTube. Direção de
Glauco del Mar, realizador de cinco filmes apenas. Perla Faith é a jovem Patrícia
que sofre nas ruas do Spanish Harlem. Um grupo de mulheres, nadadoras e
lésbicas a maltrata todo o tempo. O pai é um bebum. O inferno da moça só piora:
o pai é morto num assalto e ela é estuprada. Menos mal que o patrão da loja
onde trabalhava, um velho judeu, morre pouco depois e lhe deixa toda a herança.
Da noite para o dia ela se torna
milionária. Repagina o visual, compra um clube noturno, e parte para a
vingança. A única pista do estuprador e assassino era uma marca nas costas. Com
a ajuda de um detetive , um gangster e um travesti - trio realmente absurdo - percorre as academias
e as ruas de NY em uma extravagante busca pelo suspeito. O policial chega, por exemplo, a se disfarçar de mulher para procurar o
criminoso, e em uma cena particularmente bizarra, fica sugerido que ele fez um
“programa” e recebeu dinheiro de um homem. As sequências em que ela revista os
homens seminus nas academias são outras dignas de nota no quesito bizarro. Um
filme, que merece uma conferida e vai agradar a quem aprecia um filme com
personagens estranhos e uma trama desconexa mas sedutora.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Return of the Dragon - 1974
Bruce Lee morreu prematuramente de uma maneira controversa deixando uma legião de imitadores no cinema asiático e
até em países europeus e sul americanos, gerando um subgênero da exploitation, a brucexploitation.
O filipino Ramon Zamora foi um dos muitos que surgiu na cola do dragão chinês
do kung-fu anos 70. Dublê, comediante e ator de renome no país quando decidiu a
se aventurar pelos filmes de artes
marciais. Quando eu era adolescente a febre do kung-fu varria o Brasil e o
mundo. Infelizmente naquela época não pude assistir aos filmes estrelados por
Bruce Lee e tinha que me contentar com a série de TV americana estrelada pelo
Carradine. Ironicamente assisti no
cinema somente a uma das inúmeras imitações, com um lutador de nome Bruce Li. Outra
roubada foi ir ao cinema e para ver um
filme do lutador e dar de cara com uma simples colagem de episódios da série de
TV Besouro Verde, que ele estrelou no papel de Kato, assistente do herói. O
tempo passou e me desinteressei de Bruce Lee e do gênero. Confesso que até hoje
mantenho o desinteresse por ambos, apesar da paixão pelo cinema asiático mais
“weirdo”. Atraem-me somente os filmes de arte marciais insanos, que misturam
terror ou outros gêneros, e os deliberadamente toscos, que não se levam muito a
sério. O filme que relembro tem direção
do venerável Celso Ad.Castillo, um dos gigantes do cinema filipino e asiático
na era de ouro. À vontade em gêneros diversos: drama, terror, artes marciais,
erótico. Pena que boa parte da sua filmografia seja inacessível para nós
ocidentais. Já abordei aqui há algum tempo atrás o cinema filipino, sem dúvida
dos mais interessantes dos anos 60 e 70.
Ilha pequena de cinematografia monumental, e que ainda continua a produzir
filmes com regularidade, apesar da decadência. Ramon Zamora ,como lembrei acima
,era humorista e certamente por isso seus filmes de artes marciais abusavam do
humor. Felizmente não é o caso aqui. O filme se leva a sério, na medida certa,
e não tem enxertos com o humor oriental,
sem dúvida a parte mais chata do cinema daquelas bandas, para atrapalhar. Se
passa ao largo das piadas mequetrefes a violência
mais delirante tem lugar cativo na trama. O herói - de nome Pylon- trucida um
bando inteiro de lutadores, mas também leva surras homéricas, é quase morto,
tem as mãos perfuradas por tiros e estacas, vê sua amada ser estuprada e assassinada,
e parte para uma sanguinolenta vingança. A estética do spaghetti italiano é marcante e
dá um toque especial ao conjunto: a trilha sonora, por exemplo, é claramente
decalcada dos temas de Ennio Morricone. Interessante pensar que o spaghetti bebeu na fonte oriental – os filmes de
samurais, especialmente- e acabaria influenciando os filmes de artes marciais
posteriormente. Para os interessados em
conhecer este precursor dos filmes de Tarantino a boa notícia é que ele tem
completo no Youtube, dublado em inglês.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Schamlos - 1968

linK:
http://wipfilms.net/surreal-movies-collection/shameless/
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Il Demonio - 1963
Classificar um filme como obra-prima é sempre algo que exige
cuidado, mas no caso desse que relembro não há nada de audacioso pois não estou sozinho na afirmativa, compartilhada
por inúmeros críticos e blogueiros espalhados por este mundo do cinema. Como
seria de se esperar é ainda inédito no
Brasil e raro nos sites de compartilhamento. Foi exibido, é verdade em nossos
cinemas na década de sessenta. A obra de Brunello Rondi, fantástico roteirista
de alguns clássicos de Fellini, e dono
de uma filmografia pequena como diretor- 10 filmes apenas -, é valiosa e vem sendo revalorizada. O cinema italiano
sempre nos brinda com essas surpresas fantásticas pelas mãos de diretores que
tem pouca divulgação por essas bandas. Um amigo me mostrou faz alguns dias uma longa
matéria sobre o cinema italiano em uma das poucas revistas culturais que
podemos encontrar nas nossas bancas. Fui lendo, lendo e não vi nada diferente
do trivial que qualquer cinéfilo já sabe: neorrealismo, Pasolini, Fellini,
Antonioni, Rosselini, e outros nomes batidos e facilmente citados em qualquer
história do cinema. Nada de nomes como Dallamano, Bava, Polselli, Cavallone,
Martino, ou mesmo um Valério Zurlini, para ficar em nomes que lá fora são
conhecidos e citados. Confesso que fiquei irritado: estava diante da velha
situação de divulgação do “manjado”, do canônico, das vacas sagradas, que encontramos em
praticamente todas as publicações do país. Preguiça ou falta de conhecimento? Regurgitar
informações batidas, exaltar nomes que já são ícones. O que seria do cinéfilo
mais curioso e interessado senão existissem os blogs? No meu caso particular graças ao saudoso
Carlos Reichenbach em seu blog “Olhos Livres”, meu conhecimento do cinema italiano,
para além dos manjados, se abriu muito com suas dicas inestimáveis e únicas. Daliah
Levi, belíssima atriz israelense, em atuação magnífica interpretando Puri, uma
camponesa. Ainda que o filme fosse uma bomba, só pela presença dela já valeria assisti-lo, tal a força e a sensualidade que injeta de cada fotograma. O cenário é a rústica
Lucânia, no Sul da Itália, região de um catolicismo primitivo, quase pagão, que
guarda muitas semelhanças com o nosso Nordeste. Dir-se-ia que a história se passa num espaço
atemporal mais próximo de uma Idade
Média. Um dos raros críticos que elogiou o filme na época da estreia
classificou-o como a primeira obra surrealista da cinematografia italiana. E de
fato quem lembra do documentário “Las
Hurdes” de Buñuel poderá perceber alguns elementos em comum. E mais que isso o
surrealismo está presente no espírito e nos temas: amor louco, esoterismo
desenfreado, crítica á religião, entre outras coisas. Temos uma história de amor desesperada e triste:
Puri ama loucamente Antônio, mas não é
correspondida e é rejeitada. Aos olhos dos camponeses ela é uma bruxa,
responsável pelas desgraças que assolam o povoado, e ela crê que seja o que
todos pensam. A sequência inicial é uma
detalhada preparação de um feitiço com o qual ela pretende conquistar o amado que
está prestes a se casar. “La Fiancée du Pirate” de Nelly Kaplan, paradigma do
cinema surrealista, lançado em 1969, e comentado aqui no blog, guarda semelhanças
profundas com o filme de Rondi. Em ambos os filmes as heroínas são camponesas
que vivem isoladas, estigmatizadas pelos vizinhos primitivos e brutos e tidas
como bruxas. Uma declaração interessante de Brunello Rondi ajuda entender o
comportamento de Puri: “Minhas
personagens femininas expressam suas neuroses através do corpo”. Nesse ambiente quase
selvagem onde paganismo e cristianismo
se confundem, o grito de revolta de Puri
é narrado de maneira quase documental, seca e áspera. Um detalhe interessante:
Rondi trabalhou com Rosselini, pai do neorrealismo. Cenas marcantes: o encontro
com um rapazinho à beira de um rio; os camponeses levando as tochas pela aldeia
e erguendo uma fogueira, cena que remete aos melhores momentos góticos dos
filmes de Mario Bava, realizados na mesma época. De certa forma o que o espectador
tem é um tratamento mais seco da
temática dos filmes góticos em voga
naquela época, realizados pelo já citado Bava, e por outros diretores. Destaque-se as sequências do
exorcismo de Puri: seguramente William Friedkin e William Peter Blatty, diretor
e roteirista de “O Exorcista” respectivamente, viram o filme de Rondi. Um
filme, enfim a ser redescoberto em nosso
país. Para deleite dos interessados existe uma ótima cópia legendada em
espanhol no Youtube.
Link:
http://www.youtube.com/watch?v=gPcODyIjKNQ
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Blood Mania - 1970
Um título enganoso,
pois me fez pensar que estava diante de
um slasher sanguinolento (gênero que não aprecio muito), mas encontrei algo bem
mais interessante do que simplesmente jorros de sangue em profusão: Sexo softcore, melodrama, terror, thriller
psicológico e comédia de humor negro no balaio, menos blood(sangue) e mais
boobs(peitos). O resultado é um filme, obviamente, confuso, pretencioso e
bizarro para os padrões de bom gosto. O
que claro, não é ruim. Já expressei aqui inúmeras vezes meu fascínio por estes
filmes onde a insanidade parece tomar conta até do diretor. Tenho mesmo um
fraco por filmes imperfeitos, grotescos
e incoerentes, onde o pulso ainda pulsa, mesmo que seja em uma única
sequência. O filme foi motivo de piada na “Frightmare The Series”, um dos
incontáveis programas de TV americanos que exibiam filmes B com intenções de
deboche( O vídeo pode ser visto no Youtube). Uma produção da fantástica Crown
International Pictures, uma das melhores produtoras de filmes Bs dos anos 60 e
70. Direção de Robert Vincent O ‘Neil, uma carreira curta com apenas 8 filmes, diga-se
passagem, quase todos ótimos. Realizado
nos tempos áureos da exploitation americana, na virada da década de 70, tempos em que
o espírito de liberdade imperava até no mainstream americano. Drogas, sexo,
feminismo, racismo, tratados com desenvoltura como nunca mais aconteceria, e
longe da caretice do politicamente correto. O filme que relembro não tem, por
exemplo, nenhum personagem que seja remotamente simpático ou normal. Todos
deixariam nosso Nelson atarantado e se achando o maior dos caretas ( que ele era mesmo,
aliás). Os críticos e comentaristas do filme apontam o aspecto de “soap opera”
do filme, e afinal o que temos é o
retrato singelo de uma família tratada como uma novela das oito imoral e grotesca. Pai incestuoso, uma filha ninfomaníaca e
psicopata, a outra tola e lésbica, e no
meio o médico inescrupuloso e com uma namorada
que não hesita em transar com o chantagista do namorado para tentar livrar a
cara dele. Maria de Aragon, de nome hispano, mas nascida no Canadá, teve neste
filme seu papel mais relevante. Ela chegaria até a atuar em um dos filmes da série Guerra nas Estrelas alguns anos
depois. Nessa época estava casada com Peter Carpenter, ator e roteirista do
filme. Ele é Craig , médico picareta, chantageado
por um ex-parceiro, precisa arranjar com urgência 50 mil dólares, caso
contrário seu passado como especialista em abortos seria revelado e arruinaria
a sua carreira. Para sua sorte, ou azar, Victoria(Maria de Aragon), uma
ninfomaníaca rica, que se distraia pintando enquanto o pai permanecia travado
numa cama, lhe oferece o dinheiro em troca de favores sexuais. Para conseguir a
grana a moça não hesita em matar o pai com uma overdose. O testamento aberto e uma
surpresa desagradável: para Victoria apenas uma pensão semanal de 250 dólares,
e toda a fortuna para a irmã mais nova. E adivinhem o que nosso herói faz?
Abandona Victória imediatamente e seduz a irmã rica. A destacar a ótima
trilha sonora a cargo de Don Vicent, a bela fotografia e a direção estilizada .
Um filme a conferir e que pode ser encontrado no Youtube na “Frightmare The Serie”, como disse anteriormente.
terça-feira, 2 de abril de 2013
quarta-feira, 27 de março de 2013
El Triângulo de Oro (La Isla Fantasma) - 1983
Quando fazia pesquisas para escrever a resenha sobre o filme
“O Inquisidor” – uma coprodução entre Peru e Argentina - tive notícias de Jairo Pinilla um diretor colombiano, e me chamou a atenção o fato dele se dedicar ao gênero
fantástico. Algo inusitado : um diretor colombiano realizando filmes
de gênero. Ao lado do nosso Jose Mojica
e do hermano Emilio Vieyra um dos raros
nomes que praticaram de forma mais sistemática o terror e o fantástico na
América Latina. E ,assim como nosso
Mojica , filmes realizados em condições
precárias: orçamento exíguo, atores não profissionais. Os críticos o apelidaram de o “Ed Wood
colombiano”, o que pode soar bizarro ao quadrado. Para aqueles que acham que o cinema é uma arte que exige padrões
de qualidade técnica, interpretações classe “A” e nada que incomode, que seja um afago no ego em suma, os filmes
dele não serão indicados e aconselho a evitá-los. Mas se você acha que o cinema
pode ser mais do que isso, que ele deve e pode ser ingênuo, louco, furioso, idiota,
insolente irreverente, descomunal, insensato, infantil, primitivo, alucinado,brutal, então mergulhe no universo desse
colombiano que ainda está vivo e produzindo filmes modestos na terra natal. Lembrei nosso
Zé do Caixão , mas o universo de Jairo também tem muito a ver com os filmes de
Chico Cavalcanti e outros diretores da Boca que realizaram filmes de terror.
Interessante que ele se arriscou a explorar outros gêneros, como neste filme
que relembro bem mais próximo do fantástico com toques de ficção científica, do
que do terror. O filme foi dublado em inglês e filmado fora da Colômbia – no Panamá e no Caribe -,
com a clara intenção de que soasse como uma produção americana ou
internacional. Jairo comentaria que o
público gostou e achou que estivesse diante de uma produção japonesa! Na mesma entrevista o
diretor resumiu a obra: “Tratava-se de
uma ilha no Atlântico que era visível somente de um determinado ângulo, e dos outros restava invisível. Na ilha havia um
triângulo de ouro maciço cobiçado por muitos, mas que era, no entanto perigoso,
já que todos que chegavam á ilha para busca-lo geralmente não saíam vivos”. Uma
ilha perdida no oceano, um objeto, um segredo, um desejo, um sonho. Um filme em
todos os aspectos único: um “Lost”
tosco, mas com a poesia de Mélies ,Jules
Verne e dos verdadeiros artistas do cinema primitivo. Ed Wood, mas também Steven Spielberg: um
crítico conterrâneo escreveu depois de ver este filme que” Jairo ,guardada as
devidas proporções, era o Spielberg colombiano”. Sobre o filme ele declarou,
com franqueza e coragem, que a intenção não foi de fazer um filme de arte, como os outros
diretores do país sempre faziam, mas um
filme comercial. Jairo se assumiu ingênuo (trabalho para pessoas que querem se
divertir, e não gente pretensiosa , comercial sim(não pretendo fazer filme de
arte),kitsch( se considerar que ser kitsch é ser vulgar e fazer os outros se divertirem,
então eu sou kitsch). Jairo tem outra tirada que faria as delícias dos que
desejam esculhambá-lo: “No cinema prefiro Batman a Bergman”. Jairo, assim como nossos Tonys, Cavalcantis , Cunhas e tantos outros ,foi
mais um que se arriscou a realizar filmes para o público simples, longe das
veleidades e pretensões sociológicas e artísticas. Lembrando que Jairo Pinilla foi homenageado no
festival de cinema fantástico realizado em São Paulo em 2010, juntamente com
seu coirmão José Mojica. Para os interessados todos os seus mais importantes filmes(
a obra é pequena) estão disponíveis no Youtube, incluindo este que relembro.
domingo, 17 de março de 2013
A Força dos Sentidos - 1979
É sempre um momento muito especial para um cinéfilo –detesto o termo, mas enfim- quando
finalmente conseguimos um determinado filme que julgávamos perdido ou
impossível de encontrar. As notícias que obtivera sobre a possível existência da(considerada)
obra-prima de Garrett terminavam invariavelmente em um beco sem saída. A Cinemateca
Brasileira tem uma cópia, mas segundo um amigo me confidenciou, sem uma parte
da banda sonora, o que impede qualquer exibição em um Canal Brasil, por exemplo;
a edição em VHS sequer fora comercializada nos anos 80; enfim, já me dera por
vencido e desistira de um dia assisti-lo. Cheguei a escrever para um blogueiro
e jornalista, que pelo comentário postado sobre o filme conhecia e tinha uma cópia,
mas nunca obtive a gentileza de nenhuma resposta à minha solicitação, ainda que
fosse negativa. E eis que um dia desses aparece no Facebook um anúncio do
diretor Claudio Cunha – que felizmente é amigo virtual - oferecendo os filmes
que dirigiu e o filme do Jean Garret, que foi produzido por ele, estava ali no
meio da chamada. Parecia um trote de sádico, mas não era: mensagem trocada,
dinheiro enviado, e enfim o sonhado e ansiado filme diante de mim. Não tenho a
pretensão de fazer uma elucubração crítica sobre ele. O meu espaço virtual é ameno e trivial. Convencer um eventual leitor a se
interessar pelo filme já me terá deixado feliz. Jean Garrett é para mim um dos
melhores diretores brasileiros de todos os tempos. E depois de assistir a este
filme só confirmei o pensamento, apesar de ainda continuar achando que “A Mulher que Inventou o Amor”
seja melhor. Só revendo-o para tirar a boa dúvida. Felizmente as obra da Boca
do Lixo tem recebido mais atenção de alguns anos para cá. Mas sou testemunha de
que nas minhas rodas de amigos cinéfilos quando toco em nomes de diretores como
Garrett, Chico Cavalcanti, Tony Vieira, Fauzi Mansur ou outros, simplesmente
zombam e debocham de mim. Lendo o maravilhoso “Mondo Macabro” de Pete Tombs,
livro também que só consegui com muito esforço ( e mesmo assim em versão
digital), achei interessante uma observação sobre esta questão de recepção
crítica á obras que fogem do padrão cinéfilo “cinema de arte de qualidade” que
predomina entre nós. Curiosamente vejo que esta é uma tendência que predomina nos países de
cinematografias periféricas. O comentário de Pete Tombs se referia ao cinema
argentino, e caberia perfeitamente à realidade brasileira. Lá como cá cineastas
que não rezaram pela cartilha cinema de “qualidade”
artística (diga-se passagem que os Hermanos fazem este tipo de cinema muito
bem, ao contrário de nós )são menosprezados. Um dia desses conversando com
amigos, por exemplo, um deles se referiu a mim como um amante do cinema
argentino, o que despertou o interesse de outro na mesa, mas quando citei os nomes de
Vieyra, Armando Bó e outros, vi apenas uma cara incrédula: nenhum deles ele
sabia da existência. Boa parte dos cinéfilos tem como parâmetros de qualidade
filmes referendados pela crítica francesa dos anos 60, que tenham temática
séria e adulta, que não tragam conteúdo erótico de mau gosto, e claro, que
tenham interpretações excelentes dos atores, trilhas sonoras classudas ,
temáticas preferencialmente de esquerda,
de cunho social e otimistas. O sucesso do recente filme francês “Os Intocáveis”, é um
bom exemplo, creio. O cinema, enfim, enquanto arte esnobe, excelsa, afetada e
para eleitos. O português Garrett trabalhou sempre dentro de uma linha de
produção dirigida ao público popular, mais “baixo” possível, aqueles que só
queriam mesmo ver mulher pelada gostosa, bater uma punheta e esquecer a vida
miserável que levava nas grandes cidades ou pequenas.
A crítica mais comum feita à obra de Garrett seria de que seus
os filmes eram pretenciosos e afetados – pela utilização de músicas clássica na
trilha, e diálogos supostamente “ridículos e pedantes”. Um crítico famoso na
época ironizou o fato do personagem escritor buscar refúgio em uma ilha sob a
alegação de que isso era uma ideia impensável num país onde não existiria
escritor profissional. Gostaria de,
aliás, de saber se este “crítico” comentou “A Menina do Lado” de Alberto Salvá,
outro filme que gosto muito, e que também é sobre um escritor refugiado em uma
ilha deserta. Dentro dessa lógica quase toda a
cinematografia mundial teria que ser eliminada da face da Terra por
inverossimilhança. Seria divertido se não fosse grotesco a suposta observação.
Para mim- que não sou crítico- justamente
o que me agrada na obra do diretor é esta tentativa de pretensão e elegância,
sem perder, no entanto o foco no popular. “A Força dos Sentidos” é sofisticado
sim, tem narrativa sinuosa, carregada de ambiguidade e sem nenhuma referência
imediata á realidade nacional. A trama poderia se passar em qualquer lugar,
pois ela pertence ao terreno do fantástico mais puro.
Meu gênero literário favorito sempre foi a literatura
fantástica – de certa forma considero que obra é fantástica em sua essência. Nada mais óbvio, portanto, que
também me atraia o cinema de cunho fantástico em todas as suas variáveis. Uma
pena que o gênero foi pouco praticado no país tanto no cinema quanto na
literatura. Garrett , um dos raros cultores do gênero, dentro de um modelo
bastante pessoal, muito distante de um Mojica, por exemplo. Surpreenderam-me,
no filme, as evidentes semelhanças com obras do cinema mundial anteriores e
posteriores: Os roteiristas – Garrett e Koszpeky – conheciam “Carnival of
Souls”? Não acredito, mas tudo é possível; e o que dizer de “Sexto sentido” e “Os Outros”,
dois filmes marcantes recentes que
trazem igualmente similaridades curiosas com o nosso obscuro filme nacional?
Uma crítica honesta publicada na época lembrou “Os Inocentes”, clássico inglês de
Jack Clayton, o que faz sentido remotamente. O fato é que é, talvez ,o filme mais impregnando pela atmosfera do fantástico em toda obra do
diretor, e talvez de todos os filmes brasileiros do gênero. Nada do que se
desenrola na tela, percebemos nas sequências iniciais, é real. O espectador é
imediatamente convidado a mergulhar no terreno do fantasmagórico e do
imaginário. Está claro, Garrett não esconde que há algo errado em toda a
situação vivida pelo escritor. A estupenda fotografia de Carlos Reichenbach –
que ele considerava a melhor que fez em toda a carreira como fotógrafo –
acentua com planos maravilhosos o clima opressivo e sombrio. Em suma: que bom, que esta obra
pode ser apreciada novamente por todos. No site do diretor e ator Claudio Cunha
o filme pode ser adquirido www.claudiocunhaproducoes.com.br
terça-feira, 5 de março de 2013
Symptoms - 1974

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
Angel of Destruction- 1994

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
La Lupa Mannara - 1976
Um filme que filme assisti pela primeira vez em uma edição americana, quando morava nos EUA e veio num pacote com 50 dvds a preço irrisório. Por lá essas edições são comuns: geralmente são amontoados de filmes cujos direitos autorais venceram. Com preço tão baixo é natural que no bolo se salvem digamos assim a metade, e a qualidade é o item pior infelizmente, principalmente quando se trata de filmes europeus os anos 60 e 70.´É o caso desse dublado em inglês e cheio de cortes. Felizmente obtive a versão integral e pude apreciar mais uma vez a esplêndida Dagmar Lassander, além da pouco conhecida Annik Borel. E o bom é que tem no youtube. Corram enquanto ainda está lá. O acervo do canal está excepcional, apesar da qualidade não ser perfeita em alguns casos, mas no caso desse filme a cópia é de boa qualidade e parece que sem cortes. Metragem em filmes europeus dos anos 70 é um problema sério, controverso, e renderia artigos. O diretor é o subestimado e esquecido Rino Di Silvestre, um dos maravilhosos e mais obscuros “picaretas” da geração de ouro do eurotrash italiano. Infelizmente as oportunidades na direção foram poucas - somente 8 filmes-, o que não o impediu de deixar ótimos e absurdos filmes em gêneros variados. Este o único que obteve certa ressonância. O tema da licantropia foi bem explorado por espanhóis, eslavos, mexicanos e americanos com contribuições interessantes à lenda do bichão. Mas os italianos que tanto fizeram pelo horror e fantástico, a partir de Bava, Polselli e outros, deixaram o lobo de lado. “En Passant”, não recordo se os ingleses abordaram também o tema. O título da versão americana tenta enquadrá-lo na licantropia. Mas o fato é que o filme vai além (ou aquém, dependendo do ponto de vista) e o tema aparece subjacente. A heroína, a mulher loba, do título é a francesa Annik Borel, de carreira efêmera no cinema europeu(10 filmes no total). O diretor declarou que só a escolheu para o papel pelas feições que lembravam uma loba. Uma bela mulher, e que se tivesse encontrado um Jess Franco teria alcançado maior destaque na galeria das divas do exploitation. Mas e o filme, é ou não é de lobisomem? Bem, o início, após uma abertura sensacional com uma mulher dançando nua em volta de uma fogueira, parece que vai enveredar por mais um terror gótico de época, que fez glória do cinema italiano. Surgem então os camponeses, aprisionam a mulher lobo e a mandam para a fogueira. Os tempos não eram fáceis para quem escolhia meios alternativos de vida. Salto para a idade contemporânea e encontramos Daniele, descendente da mulher-loba, riquíssima, morando com o pai em um castelo no campo. A irmã, interpretada por Dagmar Lassander, aparece para a uma vista em companhia do marido, e então o espectador começa a se dar conta que a moça não regulava muito bem e apresentava sérios problemas de sexualidade. Para os psicanalistas, a definição seria uma histérica. Estuprada aos 15 ,tomara aversão ao sexo, sem, no entanto deixar de ter uma fascinação voyeurística pela coisa.Para complicar ela se julgava possuída pelo espírito da antepassada e não tarda em mostrar as garras, sendo o cunhado o primeiro objeto de consumo a ser estraçalhado numa noite de lua cheia. Segue-se uma internação, choques, camisa-de força- o trivial da psiquiatria cinematográfica- até a fuga, não sem antes cometer outra morte. E o inesperado acontece na trama e na vida da nossa, digamos, heroína: conhece um sujeito legal, dublê, e que morava, numa cidade fantasma, de fato um velho set de westerns spaghettis abandonado .E pela primeira vez ela se entrega e descobre o amor, a loba se despe da pele e se transforma numa mocinha boa, carinhosa e que ficava cuidando da casa enquanto o lover trabalhava. Mas felicidade será infelizmente estragada por um trio de malandros, que estupram Danielle e matam namorado. Não é spoiler ! Como se percebe pela sinopse está claro que Rino Di Silvestre colou uma série de gêneros exploitations em um só filme, sem muito nexo. O resultado não poderia deixar de ser desigual. E daí? Pergunto eu. Com todos os prós trata-se de uma legítima tosqueira fascinante e deliciosa. Para os fãs de Tarantino assinalo que o filme foi exibido no festival organizado pelo cineasta em 1996, na cidade de Austin, no Texas, em uma exibição surpresa à meia noite. O sucesso foi tanto, que a partir de então a sessão passou a ser apelidada de “sessão da mulher loba”.
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Adrift aka Touha Zvaná Anada - 1970
Em meus passeios pelas cinematografias de países tidos como periféricos ou exóticos ainda não tinha me aventurado aqui no blog pelo cinema do leste europeu. Um pecado, tendo em vista que gosto demais dessa outra Europa: cinema polonês (Zulawski , Has e outros), húngaros, tchecos, romenos, russos e companhia ltda. Janos Kadar foi nome dos mais importantes do cinema do leste europeu. De origem húngara, realizou filmes na antiga Checoslováquia, um deles era exibido regularmente nos bons tempos dos cineclubes: “A Pequena Loja da Esquina”. Filme tido por muitos como o melhor de todos os tempos na cinematografia Tcheca. A invasão russa liquidando coma Primavera de Praga e o forçou a imigrar para os EUA. Boa parte dos seus filmes foram , na verdade, dirigidos em parceria com Elmer Klos. É o caso desse aqui que relembro, e do qual nunca tinha ouvido falar até pouco tempo. Aliás, encontrei poucas referências na rede sobre o filme. Mas curiosamente ele é facilmente encontrado(ainda) no youtube, em cópia legendada em inglês. E que tudo indica a única. Pelo visto o filme não se popularizou ao contrário de outros exemplares gerados na new wave checa nos anos 60, que revelou Milos Forman, entre outros nomes. Qual a razão? Creio que é um filme que não se enquadra no modelinho pseudo-social que era apreciado pelos cinéfilos brasileiros cineclubistas nas décadas de sessenta e setenta, ao contrário dos filmes de outros filmes da Primavera de Praga. É só uma hipótese, que fique bem claro. O filme passa ao largo de questões políticas da época, privilegiando o erotismo em uma narrativa experimental. A trama é ambientada em uma realidade contemporânea, pois há uma cidade moderna e urbana, mas os personagens se movem em uma região rural, primitiva ,quase mágica e, obviamente, irreal já naquela época. Baseado em um romance clássico da literatura húngara do autor Lajos Zilahy, infelizmente ainda inédito em português, e levado ao cinema anteriormente nos anos 40, diz a wikipedia. As filmagens foram interrompidas pela invasão soviética em 1968 e só retomadas posteriormente na Suécia já em 1970. A estreia somente em 1971 nos EUA, sem repercussão. Uma história repleta de percalços que contribuiu muito para o seu olvido. Um detalhe curioso na produção: foi uma parceria tcheco-americana, fato incongruente. Isso explica provavelmente a presença no elenco de Paula Pritchett, playmate e modelo de vasta,fumegante e devastadora (sobram adjetivos) beleza, aqui em seu único papel principal. A Afrodite só participou de dois outros filmes, e mesmo assim como figurante.
Ela é a Anada, do título original Tcheco, uma mulher que surge das águas do Danúbio, qual uma sereia, misteriosa, e falando uma língua desconhecida. Yanos (Rade Markovic), um rude pescador a salva das águas e a leva para casa. A esposa, a bela e simples Zuska (Milena Dravic) a acolhe com simpatia. E o triângulo amoroso não demora a acontecer. Em linhas gerais é esta a trama. Mas o que fascina e encanta no filme é a desconstrução narrativa, sutil, que deixa margens à ambiguidade de toda a história narrada em flashback pelo pescador Yanos. Até onde vai a verdade? Não seria tudo uma patranha de bêbado contada numa roda de fogueira aos amigos camponeses? E quem era Adana? Zuska e ela teriam uma relação sáfica? Ana teria também um affair com o playboy local? E o filho do pescador, não seria ele que teria uma relação homossexual com este mesmo playboy? Poético, experimental ( mas nunca chato, que fique bem claro) em sua narrativa quase circular e absolutamente fascinante. Outro destaque fica com a excepcional trilha sonora de Zoenek Liska. Como eu disse no início da resenha: o filme está disponível no youtube, completo, com legendas em inglês.
Ela é a Anada, do título original Tcheco, uma mulher que surge das águas do Danúbio, qual uma sereia, misteriosa, e falando uma língua desconhecida. Yanos (Rade Markovic), um rude pescador a salva das águas e a leva para casa. A esposa, a bela e simples Zuska (Milena Dravic) a acolhe com simpatia. E o triângulo amoroso não demora a acontecer. Em linhas gerais é esta a trama. Mas o que fascina e encanta no filme é a desconstrução narrativa, sutil, que deixa margens à ambiguidade de toda a história narrada em flashback pelo pescador Yanos. Até onde vai a verdade? Não seria tudo uma patranha de bêbado contada numa roda de fogueira aos amigos camponeses? E quem era Adana? Zuska e ela teriam uma relação sáfica? Ana teria também um affair com o playboy local? E o filho do pescador, não seria ele que teria uma relação homossexual com este mesmo playboy? Poético, experimental ( mas nunca chato, que fique bem claro) em sua narrativa quase circular e absolutamente fascinante. Outro destaque fica com a excepcional trilha sonora de Zoenek Liska. Como eu disse no início da resenha: o filme está disponível no youtube, completo, com legendas em inglês.
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