quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Riot on Sunset Strip -1967
A AIP ganhou fama e dinheiro inundando os drive-ins com monstros, aliens, rebeldes teenagers e o que mais servisse para atrair público. Sam Katzman um dos pílares do filme B – apelidado de “King of the quickies” -e um dos meus produtores ídolos, com mais de 300 filmes no currículo, foi o responsável por essa pérola. A direção coube ao artesão B Arthur Dreyfuss: 54 filmes no currículo boa parte deles na mítica Monogram. O que temos aqui é um dos exemplares do subgênero hippie exploitation, surgido justamente no ano de 1967, sendo este talvez
o primeiro. A ficha técnica assinala a participação de hippies de verdade no elenco do filme dando um toque involuntário de humor. Os gêneros afins dos teenagers rebeldes e beats malucos já não atraíam como antes e os cabeludos foram alçados subitamente ao panteão dos monstros que apavoravam a tradicional família americana: os squares de terno e gravata e suas esposas louras dos subúrbios e seus filhinhos fofos e malas. Então o que tem o espectador é o velho combate entre as forças do bem, aqui representados pelos caretas, contra as forças insanas e demoníacas do mal travestidos nas figuras dos hippies. E olha que Charles Manson ainda demoraria alguns anos para mostrar que a paranoia tinha lá suas razões de ser. Não é improvável, aliás, que algum membro da trupe dele tenha aparecido nesse filme. Lembrando que o diretor enxertou cenas reais dos conflitos de rua que abalaram o período, o chamado Sunset Curfew Riot. A trama é embalada por uma trilha sonora sensacional a cargo dos obscuros grupos The Standells e Chocolate Watch Band . Ambas aparecem tocando ao longo do filme, e dão uma ideia de como era a cena californiana daqueles dias e de onde surgiriam The Doors, Jefferson Airplane, Grateful Dead e tantos outros grupos. Andy(Mimsy Farmer) filha de pais separados: a mãe uma bêbada ( Hortense Patra, esposa do produtor ) e o pai, ausente há 4 anos, o delegado responsável pelo patrulhamento na região de Sunset Boulevard durante os conflitos. Por ironia do destino é ele o encarregado de dar uma batida policial na festa de arromba e chegando lá encontra a filha chapada e nua na cama, depois de ser currada pelos hippies e beats doidões da sua turma.
Sexo, drogas e rock and roll . A sequência da festa antecipa de alguma maneira a insanidade de “Beyond the Valley of Dolls” de Russ Meyer. Já eram outros tempos.O recente livro lançado aqui no Brasil ”Popcorn” de Garry Mulholland que pretende listar os filmes básicos da história do rock, no ponto de vista dele naturalmente, o ignora solenemente. Os prefaciadores nacionais, um deles o Kid Vinil, também não o lembram. Foi justamente a leitura do livro que me despertou a curiosidade em assisti-lo, o que não deixa de ser irônico, considerando que, como eu disse, o filme é solenemente ignorado nele.
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Morbus - 1983
Outra contribuição espanhola ao gênero de zumbis. Mas não é só: trata-se de um delírio estapafúrdio que nosso Ivan Cardoso, caso fosse espanhol, teria assinado com prazer, pois mais que um filme de terror puro estamos diante de um “terrir”. Humor e terror, e muito, muito sexo. Disse espanhol, mas para ser mais exato deveria dizer que a origem do filme é catalã. Não é de modo algum um filme para ser levado muito a sério. A narrativa é desconjuntada, titubeante, as interpretações são bisonhas em sua maior parte: suspeito que os zumbis estivessem participando da produção. No elenco nenhuma cara muito conhecida. Mas a estrela do filme, Carla Dey, teve alguma notoriedade na década de 80 em filmes eróticos. Retirou-se do cinema pouco depois desse filme e a última notícia da bela é que estava vendendo material farmacêutico. Para o deleite dos tarados ela passa boa parte do filme nua. Espanha e Brasil guardam algumas semelhanças cinematográficas. Ambos viveram um longo período sob ditaduras, no caso do país europeu até mais longa, e quase ao mesmo tempo se livraram delas com reflexos no cinema. Em 1976 Franco finalmente foi fazer companhia ao diabo e o país pode respirar ares melhores. A censura lá como cá era pesada, mas os militares permitiam obras eróticas; na Espanha o chamado “destape’, comédias inócuas, com alguma nudez, como a nossa pornochanchada. O fim da censura na Espanha permitiu que finalmente obras controvertidas fossem exibidas no país, exatamente o que ocorreria no Brasil igualmente. Para classificar esses filmes foi criada a classificação S” para filmes de terror, erotismo e políticos: “S” pela temática e conteúdo que poderiam ferir a sensibilidade do espectador , rezava a cartilha da censura. Ela acabaria se revelando uma maneira dos cineastas promoverem seus filmes na busca de atrair público. Qualquer filme era tachado como “S” e, por conseguinte, o público afluía na esperança de ver sexo e nudez. Mas da mesma maneira que a Boca do Lixo entrou em decadência a partir dos anos 80, com a liberação dos filmes pornográficos, este tipo de cinema “S” definharia com a invasão dos pornôs hardcore e a criação da classificação “X”. O filme que comento foi uma das últimas tentativas de apelar para a classificação “S”. Os diretores que não aderiram ao pornográfico resolveram mesclar o erótico a outros gêneros, caso, por exemplo, do terror, numa tentativa de sobrevida. Ainda comentando o paralelo entre este cinema “S” e a Boca do Lixo lembremos que as condições de produção eram semelhantes: filmagens rápidas, erotismo softcore, atores semidesconhecidos e precariedade. Daí que o filme aqui dirigido pelo diretor catalão Ignasi P. Ferré tenha essas características e lembre bastante nossas produções da Riua do triunfo. Curiosamente o roteiro levou a assinatura de um nome futuramente ilustre: Isabel Caitxe, hoje diretora premiada e de sólida carreira internacional.
Voltando ao diretor a biografia dele assinala que foi assistente de nomes como Antonioni, Tinto Brass e Marco Bellochio. É nesse contexto de decadência que surge este filme híbrido e bizarro. Um farmacêutico e cientista, meio maluco, inventa um soro que faz reviver os mortos e cria uma horda de zumbis. Corte para um trio de prostitutas, uma delas Anna (Carla Dey), ávida leitora, e que sonha em ser escritora, que é convidada juntamente com as amigas para um programa que parecia trivial. O cliente, um senhor esquisito leva as meninas para um bosque e pede apenas que elas leiam para ele a história de Branca de Neve. Sim, é isso mesmo que você, leitor, está lendo. O idílio de contos de fadas, porém, é interrompido por um ataque de zumbis e só nossa heroína sobrevive saindo em fuga (nua )desabalada pelo bosque, até cair desmaiada e acordar em um quarto desconhecido. Sorte dela que a casa pertencia a um antigo amante e que se revela um escritor de romances de terror, que, no entanto não acredita na história dela sobre ter sido atacada por zumbis. A ação salta, sem muita lógica, para uma seita satânica que se reúne em uma casa também no mesmo bosque. A cerimônia desanda para uma suruba que é interrompida por um ataque de zumbis. Os sobreviventes desse massacre acabam se refugiando na casa do escritor, que enfim, acredita que os zumbis existem. Qual a conclusão dessa zarzuela de zumbi doido ? Claro que não é uma obra prima, apenas um divertimento que o espectador que aprecie as tranqueiras vai ,com certeza adicionar , à coleção.
Anexo um link : http://www.filecrop.com/Morbus-1983.html
domingo, 12 de agosto de 2012
Pets - 1974
Depois de um hiato sem publicar nada, não porque tenha deixado de assistir filmes, mas o caso é que alguns não me empolgaram, outros até gostei, mas não achei que se enquadrariam exatamente no perfil desse espaço. Sim, por incrível que pareça, depois de aproximadamente dois anos mantendo uma relativa regularidade na publicação de resenhas a sensação é que o blog acaba dominando o resenhista e, de alguma maneira, o obriga a seguir uma linha de filmes. Digamos que chiados e canudos adquiriu vida própria, fugiu ao meu controle e seleciona per si os filmes que ele deseja ver comentados. O filme que relembro aqui e assisti nessa tarde de sábado sossegada e fria é um desses casos onde meu Mr. Hyde sussurrou-me após o the end: este você terá que escrever e publicar! Só pude concordar e obedecer. Era um filme que estava aqui perdido numa penca de outros baixados no cinemageddon, creio, clamando para ser assistido. Como e por que ele veio parar no meu HD depois de demorar umas 3 horas até chegar ao notebook ? O tempo passa e acabamos por esquecer as razões pelas quais um filme foi buscado, baixado ou comprado. Já disse, não poucas vezes, que uma mulher bonita e sexy é um motivo decente –ou indecente – para se buscar e assistir a um filme. É o caso desse: a lourinha Candice Rialson fora o motivo pelo qual o filme aparecera . Tinha comentado há algum tempo o ótimo “Hollywood Boulevard”, estrelado por ela. Infelizmente ela faleceu jovem, em 2006, tendo atuado em 20 filmes, o último em 1979, quase todos no universo da exploitation e dai ser considerada uma das “rainhas dos drive-ins” pelos fãs. Ao que consta Quentin Tarantino era um desses e a homenageou no filme “Jackie Brown”, cujo personagem interpretado por Bridget Fonda teria sido inspirado nela. Mas deixemos de rodeios e vamos ao filme que foi o primeiro estrelado pela loura sapeca. Dirigido pelo alemão Raphael Nussbaum, baseado em uma peça off-Broadway escrita por Richard Reich, também coautor do roteiro. Candice Rialson é Bonnie, uma espécie de Cândido de Voltaire de minissaia, pícara e marota, transitando por uma América desglamourizada. Road movie sacana que, no entanto foge de alguns clichês da exploitation padrão dos anos 70. Há algo de terror, mas não diria que é um filme assustador. Há sexo, mas não é envolvente ou especialmente erótico.
Uma fábula satírica sobre a descoberta do mundo real? Nossa heroína é uma espécie de animal de estimação – daí o título (pets): vai passando de mão em mão - alheia e casual-, se deixando dominar psicológica e sexualmente pelos que a rodeiam. Uma artista plástica lésbica a leva para morar com ela e a mantem quase uma prisioneira, ao escapar vai buscar abrigo na casa de Victor (Ed Bishop) milionário esquisito e misterioso e, literalmente, torna-se um animal de estimação. Amante das artes que vivia isolado em um casarão, Victor é um ser saído de um filme de terror barato italiano dos anos 60. Divertido pensar que esse estereótipo nunca sai de cena e volta e meia dá as caras em filmes ou romances. No porão o ricaço mantinha uma bizarra coleção de animais de estimação fêmeas e nossa heroína é enjaulada e adicionada à ela . Nada divertido para as feministas ou os defensores do politicamente correto considerando-se que a mocinha parece aceitar de bom grado a prisão. E o discurso porco chauvinista de Victor é absurdo e hilário. Esse é um dos baratos desses pequenos e obscuros filmes exploitation dos anos 70: por trás da vulgaridade e do apelativo, havia fel, veneno e ironia. De resto, uma trilha interessante, com uma balada melancólica comentando a ação e dando às imagens aquele sabor americano setentista joia, como diria um hippie. Bons tempos. Caro chiados e canudos ,você não estaria exagerando no saudosismo? Caberia uma indagação: onde foi parar a cuca dos caras, ou melhor, onde foi parar a capacidade americana de produzir filmes assim insolentes, perversos e sacaninhas como este e outros daquela época?
abaixo um torrent: http://kat.ph/pets-1974-dvdrip-chomp-cg-t5230197.html
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