Magnifico exemplar da exploitation argentina. Humor, sacanagem e violência em doses cavalares. Direção de Oscar Cabeillou, que nunca mais dirigiria nada, as más línguas dizem que por vergonha. Mas um filme estrelado pela diva Libertad Leblanc nunca é banal. Teve é claro, azar, em não ter encontrado seu Armando Bó, o diretor dos filmes da rival Isabel Sarli. Se esta seria o Boca, Libertad seria o Ríver Plate, ambas disputaram palmo a palmo as punhetas de Latino América . E este filme foi seu canto de cisne, e talvez o mais extravagante, estapafúrdio, brega e apocalipticamente surreal da sua carreira. Uma despedida monumental.
O mais próximo ,sem dúvida , que chegou da insanidade dos filmes da rival. Um cenário bucólico e agreste em algum lugar às margens do rio Tigre. Libertard é Lili, uma gostosona sonsa que ajuda o tio velhinho com um barco caindo aos pedaços. A bodega local é o ponto de encontro de todos os tipos locais, e a esposa do dono do bar, é uma coroa muito “dada” aos clientes. E chegam três malfeitores – dois homens e uma mulher – que desejam alugar o barco do tio da nossa mocinha, para um golpe mal explicado. Um dos bandidos é a cara do Charles Bronson. Com estes três polos da trama a largada para o inimaginável cinematográfico está dada, que faria as delicias de John Waters – que conhecia os filmes de Isabel Sarli - e Russ Meyer, caso pudessem assisti-lo. O filme oscila entre o humor chulo, que lembraria nossas pornochanchadas, e o erotismo em doses razoáveis; somos brindados com uma boa cena de sexo - em um estábulo -protagonizada por Libertard, bastante ousada para os padrões da época. E os bandidos, enquanto isso ,vão causando confusão : matam uns policiais, e depois a coitada da coroa safada esposa do dono da taberna. Uma bandida do trio, lésbica, tem uma queda pela nossa heroína e musa do blog, e chega a ensaiar um estupro sáfico. E no meio dessa sarabanda de sexualidade kitsch, o momento supremo do filme: uma inusitada, e plena de nonsense – pois não tem nada a ver com a narrativa – sequência onde Libertard invade uma festa ao ar livre e começa a dançar, de topless, e cantar, rodeada por três negões. Antológica, e só essa cena já valeria o filme. Um precursor dos clipes de Madonna, para ficar numa comparação que faça sentido. E até que esse coquetel maluco tem uma direção decente, com elipses e cortes bem ajambrados. As interpretações chocariam os amantes do teatro, e podemos classificar como toscas. O que só apimenta mais esse prato portenho rabelaisiano e bizarro, mas delicioso, que não se encontra mais nos cinemas de boa índole.
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