segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Blast of Silence- 1961
No começo da década de 60 o noir era gênero morto. Como lembrei anteriormente Orson Welles e seu magistral ”Touch of Evil” havia, em grande estilo, fechado o ciclo que havia começado nos anos 40, sob influência do expressionismo alemão. E nada mais justo, que um dos maiores herdeiros da escola, em Hollywood, fosse o responsável pelo seu canto de cisne. Mas o filme dirigido pelo ator Allen Baron acabaria revelando que o “noir”, mesmo depois de Welles, ainda era capaz de surpreender. É verdade que o filme, realizado em condições independentes e modestas, não obteve nenhuma repercussão quando lançado. A crítica do New York Times classificou-o como “esquisito e pretencioso”. Só posteriormente que ele teria seu valor reconhecido, e recentemente ganhou edição em DVD caprichada pela Criterion, nos EUA. Hoje é um filme tido como o elo entre a produção mainstream de Hollywood e a geração de cinema independente de New York, que revelaria John Cassavetes e Martin Scorsese entre outros. E é evidente a influência que o filme exerceu na obra do diretor de “Taxi Driver”. Diga-se de passagem, que o personagem principal, interpretado pelo próprio diretor é a cara de Robert de Niro. E o ambiente aonde se move Frankie Bono, um assassino profissional, contratado para matar um gangster, é o mesmo aonde Scorsese situou seus melhores filmes: a New York desglamourizada, sombria e violenta dos wise guys. E a amargura e a solidão é a mesma do personagem de De Niro no citado “Taxi driver”: ambos movem-se pelas ruas, destilando fel e rancor diante de tudo ao redor. Agem como zumbis niilistas, cínicos e amargos. O assassino Frankie é um personagem de uma pequena tragédia grega: seu destino está selado desde o primeiro fotograma do filme. Negro é o seu destino, seu futuro é o nada. E o filme, que se desenrola durante o natal, é a jornada inglória e vazia do confuso assassino. A tentativa de redenção na figura da irmã de um conhecido, que havia reencontrado em um pub, é um malogro: ele confunde um gesto simpático por parte da moça com um possível amor, e tenta estrupá-la canhestramente no apartamento onde ela morava. Lembram-se da cena em que o motorista do filme de Scorsese tenta arranjar uma namorada e a leva para assistir um filme pornô? Toda a ação é pontuada por uma narrativa em off, cínica e sem complacência com a solidão de Frankie Bono. E é ela, a solidão a personagem do filme, avassaladora e cruel, envolvendo como uma teia todas as suas ações. A memorável sonorização, trilha e fotografia( realizada com câmera na mão, fato raro na época) realçam as qualidades dessa joia tardia do “noir”. O diretor Allen Baron, só realizaria outro-metragem longa para o cinema e seguiria carreira na TV.
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Um comentário:
Para quem gosta de clássico/Noir, está disponibilizado aqui http://friendsharept.org/phpbb/viewtopic.php?f=4&t=13882&p=83011#p83011 com legendas em PtPt.
chiados e canudos já disse tudo sobre o filme.
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