Bem, se já lembrei aqui tantos malucos que dedicaram seus talentos a fazerem filmes tão loucos quanto suas vidas, como foram Ron Ormond, Al Adamson, entre outros, não poderia deixar de lembrar então Andy Milligan. Vida, assim como os citados acima, muito estranha e problemática. Americano de Minnesota mudou-se jovem para NY e foi parar na cena gay do Village aonde começou a trabalhar com teatro e logo teve a oportunidade de fazer filmes para o mercado exploitation que se desenvolvia para atender cinemas vagabundos e drive-ins. E sua carreira se moveu sempre nesse meio com filmes ultrabaratos, semiamadores, filmados em 16 mm, abordando toda sorte de perversões e loucuras, com 28 filmes, muitos perdidos(sobraram 14). Uma versão mais suja e punk do cinema de Paul Morrisey e Russ Meyer, na falta de analogia melhor. Stephen King referiu-se a um de seus filmes, pejorativamente, como “obra de um idiota com uma câmera”. O filme que lembro aqui tido como a sua “obra-prima”, se é que podemos usar este termo, pelos que comentaram sua obra. Andy Milligan abandonou NY por algum tempo, após receber convite de um produtor londrino e em Londres realizou três filmes filmados simultaneamente, um dos quais este aqui que resenho. Um filme de terror até convencional em linhas gerais. Ou quase, pois até onde sei é o primeiro vampiro que se disfarça de padre anglicano na história do cinema e ainda mora em uma igreja. Em todos os seus filmes, Milligan, assumia quase todas as funções por trás das câmeras: produção, cenografia, eletricista e até os figurinos, que assinava com pseudônimo.
A trama, até certo ponto linear, tem o vampiro disfarçado de reverendo e sua esposa(sempre muda), que chega a Carfax, procurando seus parentes. Sua linhagem estava definhando e ele precisava perpetuá-la, e para isso rapta três mulheres, descendentes do seu clã de vampiros, uma delas grávida. O plano era emigrar para os EUA e reerguer o clã de vampiros, usando a jovem grávida para gerar vampirinhos lindos e fortes. O séquito do reverendo incluía três vampiras psicodélicas e um criado corcunda, além da citada esposa, que funcionava também como um banco de sangue ambulante. Um corcunda não poderia faltar. Abrindo parêntese para uma lembrança pessoal: a única vez que o cronista aqui atuou foi justamente interpretando um corcunda, assistente de um cientista maluco (que era interpretado pelo cineasta Cao Guimarães) em um filme super -8 realizado como prova de um curso de cinema. Bons tempos. E é mesmo quase obrigatória em um filme B a presença do criado corcunda, não? Mas voltemos a “Body Beneath”: O clímax do filme é um banquete, onde todos os vampiros das redondezas aparecem, devoram uma mulher, enquanto debatem sobre mudar ou não para a América. O debate gera os momentos mais curiosos do filme, com diálogos bizarros onde os vampiros debocham sarcasticamente da América. Um dos vampiros diz que lá é era um país de gigolôs e prostitutas. Toda a sequência é filmada como se Andy Milligan estivesse possuído ou sob o efeito de LSD.
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