quarta-feira, 4 de julho de 2012
O Estripador de Mulheres - 1978
O cinema da Rua do Triunfo em seu apogeu (entre 78 e 79 foram produzidos na Boca 84 filmes). Mas se se aqui era o auge ficava flagrante, porém que o modelo estava com os dias contados e sintomaticamente o diretor Juan Bajon, logo passaria a dirigir filmes de sexo explicito para sobreviver. Chegou a dirigir quase 50 filmes em pouco mais de 5 anos. Ele já se aposentou, Jean Garrett, Ody Fraga e Tony Vieira faleceram, outros sumiram. O cinema da Boca hoje é só uma miragem ao inverso. Sem as benesses da mamação estatal sobreviveu, conquistou mercado, e o desprezo quase integral da crítica, antes de desaparecer. Felizmente os filmes reaparecem, pipocam aqui ali graças a sites, blogs e eventualmente em exibições no canal Brasil. Em DVD imagino que não exista quase nada. Este aqui chegou a sair em VHS, sumiu, e qual uma assombração tem dado as caras em alguns sites de compartilhamento. Não recordo de sua exibição em BH na época: com certeza só passou no Regina ou no Cine Candelária, onde quase sempre os filmes da Boca eram confinados. Encontrei esparsos comentários a respeito dele na rede, o que considerando as circunstâncias não está tão ruim. A leitura do dicionário de cineastas da Boca do Lixo do cineasta Alfredo Sternheim chega a dar nos nervos tantos são os filmes que provavelmente nunca serão relançados porque estão perdidos ou por outros motivos. Eu iniciei o texto dizendo que era a Boca no seu apogeu, mas paradoxalmente estamos diante de um filme atípico em muitos aspectos. Não tem, por exemplo, nudez ou sexo.
Classificá-lo como filme de terror é insuficiente, pois temos elementos de humor e absurdo grotesco. Um precursor do terrir de Ivan Cardoso? Sterheim no citado dicionário, no verbete sobre o diretor, sugere a influência dos filmes produzidos por Val Lewton. Acho mais clara a influência de Fritz Lang do clássico “M”, lembrada em algumas dos textos que li sobre ele. O melhor do filme está em algumas sequências: o enterro da tartaruga, absurdamente surreal e infame, os rostos iluminados contra o fundo negro, o olhar quase documental no matadouro, o show dos travestis entre outras. Piadas que não envelheceram: a incompetência policial na investigação, o circo da mídia. Nada mudou. Temos também a ótima interpretação de Ewerton de Castro, praticamente mudo em todo o filme, como o serial killer, que durante o dia não passava de um balconista de farmácia, sem contar a excelente trilha sonora. Um filme de narrativa titubeante é verdade, mas nunca deixa indiferente. No escurinho do cinema: Inusitado, grãos de demência, escroto , impuro e indelicado filme que a golpes de estilete na mesmice afirma seu lugar na história do cinema brasileiro. Cinema que atualmente necessita de uma intervenção cirúrgica, como resto outras cinematografias também. O filme pode ser encontrado no blog A Privada Cult para baixar.
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