Casamento é mesmo uma coisa complicada, um passo que deve ser dado com muita ponderação, não é mesmo? Amor à primeira vista é muito bom, mas conhecer um pouco do noivo ou da noiva, seu passado, seus pais, seu modo de vida, vai ajudar bastante na hora da vida a dois. O cinema está cheio de exemplos de casais que se juntaram sem se preocuparem muito e o resultado foram desastres de todo o tipo. Meu filme que relembro aqui é um bom exemplo de um casamento às pressas e que terminou em muita confusão e sustos.
A literatura chinesa clássica é pródiga em narrativas de casamentos entre humanos e fantasmas. O clássico de Pu Song Ling “Chinese Stories from a Chinese Studio” traz uma penca de narrativas com essa situação, e os contos folclóricos também. Mas ,curiosamente o cinema chinês pouco explorou a riqueza das histórias clássicas de fantasmas. Somente após o sucesso de “O Exorcista” em 1974, é que os Shaw Brothers, maiores produtores de cinema da Ásia, e até então produzindo somente filmes de artes marciais ou espadachins, resolveram se aventurar pela temática. Mas só nos 80 oitenta seriam comuns as produções envolvendo histórias de fantasmas.
Yun Peng está viajando com seu criado e procura abrigo em uma casa isolada, com medo de fantasmas e bandidos. A mesma era habitada apenas por uma jovem senhora e sua criada. Apesar da recusa os viajantes se abrigam em um canto e vão dormir. No meio da noite Yun desperta e inadvertidamente descobre Anu, a jovem senhora, nua sobre o leito. Para evitar a sua desonra, a jovem exige o casamento. O pedido, apesar de tudo, não parecia mal, pois a jovem era linda e eles se casam mesmo Yun não sabendo nada do passado ou dos pais da moça . Após a cerimônia do casamento, os parentes do rapaz tem finalmente a oportunidade de verem o rosto da noiva e percebem assustados que tem algo de errado com ela, e fogem apavorados. A moça era um fantasma, e como de hábito, o marido é sempre o último a saber. Na verdade, a moça havia sido assassinada e estuprada vinte anos antes por um grupo de jovens, que agora eram respeitáveis cidadãos locais, e assumiu a aparência de uma bela moça para realizar sua vingança. E um por um eles serão mortos. O toque cômico é dado pelo criado gordinho de Yun, que também havia se casado com a criada da moça fantasma, e passa a acreditar que a esposa seria também do outro mundo.
Para os padrões atuais não é mesmo um filme que assuste: tudo sugere mais um conto de fadas mal assombrado. O bom é que, apesar de não ser uma obra-prima, a narrativa preserva o encanto das narrativas de Pu Song-Ling – que coincidentemente relia por esses dias uma coletânea de seus contos, traduzidos para o inglês – e daí o seu mérito principal. Uma curiosidade é que a atriz que representa Anu, a moça fantasma, Margareth Hsing Hui, depois de abandonar o cinema , se mudaria para os EUA, seria presa por tentar matar a própria mãe e faleceria em 2009.
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