A Islândia que sugere magia, vikings, deuses nórdicos, sagas, uma neve infinita, Bjork, é um país pequeno e produz também bons filmes. E o mais interessante: filmes com temática medieval, que buscam recuperar o passado quase mítico da ilha. Narrativas baseadas nas lendárias sagas, o primeiro opus em prosa que o ocidente produziu. Este filme que resenho é o segundo que assisti originário do país. O primeiro, aliás, depois de ler uma saga, soube que haviam feito uma adaptação cinematográfica na Islândia. Com a curiosidade aguçada passei a fuçar a net, e infelizmente descobri que achar o filme seria impossível. Existia até um edição dele em dvd lançado na Europa, mas com subtítulos em russo. O filme em questão era “Utlaginn”, que eu acabaria já no ano passado conseguindo uma cópia, inicialmente sem legendas, ou seja, inútil quase, mas pouco depois consegui as legendas em inglês. Mas deixemo-lo para depois. E concentremo-nos nesse interessante filme também ambientado em um período medieval, mas ao que tudo indica não foi inspirado em nenhuma saga. Embla, também recebeu o título de “White Viking”. Os dois títulos exemplificam os percalços em torno da produção: Incialmente lançado como “White Viking” tinha uma metragem maior, e um desenvolvimento contrário às ideias do diretor, modificado pelos produtores em vários aspectos. Esta versão centrava-se mais na história do personagem masculino e sua viagem á Islândia para converter os pagãos ao cristianismo. A posterior mudança do título e a remontagem do diretor, justamente mudava o foco da trama para a personagem Embla, a mulher do rapaz enviado à Islândia, e eliminando substancialmente o papel do personagem masculino. A primeira versão foi lançada em 1997, e só em 2007, a versão do diretor foi exibida. Hrafn Gunnlaugsson, é um diretor especialista em retratar o passado heroico e mítico islandês, tendo realizado uma elogiada trilogia, conhecida como “Trilogia do Corvo” do qual este aqui seria a terceira parte e é tido como o responsável por colocar o cinema islandês no mapa mundial. A atriz Maria Bonnevie no papel do título tinha apenas 15 anos na época, de origem sueca, tem feito uma carreira internacional de destaque desde então no cinema europeu. Sua participação causou polêmica, tendo em vista as várias cenas de nudez e sexo que protagoniza. No chatérrimo politicamente correto de agora seria impossível.
A trama é ambientada nos tempos do rei Olavo - no século 10 - responsável por introduzir o cristianismo nos países nórdicos. Como veremos no decorrer da narrativa, essa conversão não se deu de maneira pacifica , usando a força da espada e envolvendo banhos de sangue. E é durante a cerimônia pagã do casamento de Askur e Embla, que as tropas do rei chegam, e massacram a todos. A moça é capturada, seu pai, um sacerdote pagão é obrigado a se tornar um padre, e seu noivo é condenado a partir até a Islândia, ainda pagã, e convertê-los ao cristianismo. Só dessa maneira poderia reaver a noiva. Mas o rei Olavo se enamora da orgulhosa viking e tenta de todas as s maneiras seduzi-la e a aprisiona em um convento isolado. Ao contrário de produções americanas pretensamente históricas, não temos aqui anacronismos absurdos comuns nos filmes antigos e recentes. Temos uma narrativa de um realismo feroz, nenhum glamour, numa secura e aspereza que deixam tudo com um aspecto quase documental , apuro e fidelidade histórica em cada detalhe: vestuário, comportamentos dos personagens. O painel que ele desdobra para o espectador é o de um cristianismo quase selvagem e bárbaro, chocante para os desavisados.
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