Um filme fracassado pode ter seu encanto e ser mais significativo que um grande sucesso. E este fracasso pode ser apenas uma questão de ponto de vista, modismo crítico. A bomba de ontem pode ser o cult de hoje. Mas, acima de tudo um fracasso artístico ou de bilheteria pode ser iluminador: é como uma estátua, que o escultor não deu o toque final e deixou largada em um porão, e por algum motivo, daí foi tirada e colocada em um jardim, daquele jeito mesmo, mal acabada, mas emanando um fascínio, de algo que poderia ter sido mas não foi. Esse filme de Robert Aldrich é um desses casos. Em sua filmografia é fácil encontrar um punhado de sucessos de público e de crítica, filmes que hoje são clássicos em gêneros distintos como faroeste, noir , drama ou terror. Mas aqui, no entanto estamos diante de um fracasso em todos os sentidos, uma estátua quebrada que tem seu fascínio, esboço de uma obra-prima que não aconteceu. Temos a magnífica estátua de deusa grega Kim Novak, reluzente em “Vertigo” “Picnic” e outros filmes, e aqui em seu último papel no cinema americano. A atriz vinha de dois fracassos, um deles uma obra-prima incompreendida na época, “Kiss me Stupid” de Billy Wilder. Então podemos pensar que a presença dela é que salva o filme? Pelo contrário, sua atuação aqui foi ruim, quase mecânica, onde ele exibiu seus piores cacoetes de má e linda atriz. Mais do que nunca, aqui ela foi uma estátua, mas sua beleza redime, sem dúvida.
Kim Novak é Elsa, uma jovem atriz, que se vê subitamente jogado na selva de Hollywood pelas mãos de um produtor, interpretado por Ernst Borgnine, que a projeta como a atriz perfeita para interpretar uma antiga diva do cinema dos anos 30, Lylah Clare. E para dirigir o filme convoca o ex-marido da estrela morta, um diretor alcoólatra e fracassado, interpretado por Peter Finch. À medida que as filmagens vão se desenrolando, mais e mais Elsa vai confundindo sua persona com a de Lylah, até atingir um ponto, que sua personalidade desaparece e a própria Lylah parece renascer. Entramos aqui quase no terreno de um filme de terror psicológico sub-bergmaniano. A trama mergulha - numa atmosfera decididamente camp, quase surreal e barroca -, no universo de Hollywood, com suas colunistas, produtores, egocentrismo, alcoolismo, perversões sexuais: Aldrich, infelizmente não tinha a loucura de Russ Meyer, e assim o filme vai tergiversando entre o bizarro, o melodrama e o nonsense, sempre à beira do abismo estético. Alguns dos problemas levantados pelos que se debruçaram sobre o filme: quais as intenções reais de Aldrich? A atmosfera camp foi premeditada? A atuação estapafúrdia de Kim Novak foi igualmente intencional, visando, justamente atingir um efeito errático ( na falta de outra palavra)? O filme de Aldrich é mesmo uma estátua sem braços, retirada do porão dos filmes fracassados e esquecidos de Hollywood, desafiando com sua petulante extravagância como aquela antiga e milenar esfinge, quem dela se aproxima
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