quarta-feira, 2 de novembro de 2011

The adventures of Hajii Baba - 1954

Meu primeiro post de novembro deveria ser dedicado, talvez, apenas a um amigo que conheci no mundo do cinema e, que se foi cedo desse mundo ontem, dia 01. Uma triste notícia. Não encontrava Marcelo Castilho Avellar, pessoalmente, há muitos anos, mas sempre acompanhava suas críticas quase diárias no Estado de Minas. Mas, houve um tempo entre os meus 20 e 27 anos, que encontrávamo-nos ,quase que diariamente ,ali nas redondezas do Maletta, Cine Metrópole, locais perto da nossa antiga sala de reuniões do CEC, além, é claro, do Palácio das Artes, e na redação do EM, onde editávamos a Seção de Cinema. Marcelo era culto, foi a primeira pessoa que conheci com tantos conhecimentos de Wagner, cinema americano e Shakespeare. Era um cultor do apolíneo e da arte clássica, mas nunca desprezou a vanguarda( montou Ionesco ) e sempre levou com bom humor as discussões sobre cinema comercial americano, que considerávamos alienado e cinema de arte europeu, para muitos de nós, naquela época, muito mais profundo e blá-blá. Tempos de papos cabeças no Rococó, Lua Nova ou Lucas. Apesar de erudito, gostava e conhecia os quadrinhos, o pop e nunca negou valor aos blockbusters, sendo capaz de enxergar motivos shakespearianos em “Thor",para citar um exemplo recente.Mas, como disse não vou me estender sobre sua memória. A melhor homenagem a ele é lembrar um filme do cinema que ele tanto amava e conhecia. Nem sei se Marcelo gostava desse filme, ou que sequer o conhecesse: “As Aventuras de Hajii Baba”. Se sim olharia para ele, daria uma risada, diria que eu era um maluco por achar alguma qualidade no filme. Ou quem sabe, diria que era um filme divertido e tolo. Se dissesse isso, estaria com a razão. O filme, dirigido por Don Weiss, do segundo time dos diretores de filme B americano, e estrelado por John Derek, é uma adaptação do romance homônimo de James Morier. Infiel, muito infiel, mas divertido e tolo. O livro, um clássico obscuro da literatura inglesa retratava as aventuras de um barbeiro lá pelo séc. 18. O filme, ao invés disso, prefere ir na onda, já naquela época, algo fora de moda, dos filmes que retratavam o oriente como só Hollywood retratava: um oriente de pacotilha, falso, mas com seu charme. Mas já não havia mais Maria Montez e Jon Hall, astros dos filmes orientais da década de 40: é uma produção B, que até disfarça bem o orçamento exíguo. John Derek, não era grande coisa como ator, e parece mais um astro pop canastrão perdido num cenário de um filme oriental hollywoodiano de segunda categoria. Opa! ! Mas nosso filme é assim mesmo não? Mas em meio a tanta fantasia e exotismo de quinta categoria, uma trilha estapafúrdia embalada-por um mantra cantado por Nat King Cole -, temos aqui e ali diálogos irônicos e, sobretudo, um erotismo diáfano e incongruente. A sequência final redime tudo que o filme poderia ter de pífio e tolo, com sua sensualidade colorida. O detalhe é que o diretor encheu o elenco de mulheres que naqueles tempos posavam para a Playboy, entre outras revistas masculinas americanas. Princesas atrevidas, criadas abelhudas, guerreiras amazonas no deserto da Pérsia (?), mulheres sempre em trajes sumários em um hipotético ambiente muçulmano: é um filme em que a presença feminina domina completamente , destacando-se a presença sexy, como nunca, de Elaine Stewart ( o filme é dela), e nosso herói é tão somente um títere picaresco e um pouco safado nas maõs delas.

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