Alguns filmes só sobreviveram ao limbo dos filmes esquecidos, por algum aspecto. Eu, mesmo, confesso que só me aproximo de certos filmes motivados por alguma coisa especial: trilha sonora, uma atriz, o diretor, ou outro detalhe qualquer. No caso desse filme do diretor Luigi Scattini, parece que ele só sobrevive de certa maneira, por causa da sensacional trilha sonora de Piero Ulimani: o tema está na série “Easy Beat”, que recompila grooves italianos dos anos 70, por exemplo. Não me recordo de haver buscado um filme por causa de uma trilha, acho que só a “A Virgem de Saint Tropez”, foi esse o caso, mesmo assim porque cheguei a achar que este filme nem existia de fato, e somente a trilha do nosso Hareton Salvanini sobrevivera. Aliás, LP da trilha vale ouro, impossível de achar, e o filme, existe sim, até está em meus planos resenhá-lo até porque é ambientado no Brasil, dirigido por um francês. Mas o filme é muito fraco, e na medida do possível, prefiro destacar filmes que me agradaram de alguma maneira. E meu filme italiano da vez, não se se destaca só pela trilha, razão da sua sobrevida, meio agônica, é verdade na rede. Nunca saiu em DVD, talvez exista em VHS na Europa e nos sites de compartilhamento dá trabalho baixá-lo. Como eu disse, este filme é muito mais do que uma trilha com imagens ruins.
Alberto (Ugo Paglia), um engenheiro, e Helen (Beba Loncar), uma fotógrafa, formam um casal comum no estágio do casamento em que o tédio é a tônica. Numa tentativa de reacender a velha chama perdida, o marido decide umas férias inesperadas na ilha de Seychelles. Tudo parecia estar melhorando quando chegaram, até que uma nativa, Simone (Zeudi Araya) entra em cena e Alberto se enamora perdidamente; Helen, por sua vez, dirige então suas atenções para Giacomo, um pescador e escritor de livros de aventuras, um dos poucos brancos moradores da ilha. Mas acontece o inesperado: ela se enamora também, pela bela nativa negra. Estava desenhado um triângulo amoroso, ou quarteto, na ilha paradisíaca. Como pano de fundo cenas documentais que revelam um pouco do cotidiano da época na ilha, e uma sequência de pesca de tubarões, politicamente incorreta para os padrões atuais. O clichê de elementos mágicos e maldições, presentes em qualquer filme que retrata sociedades mais primitivas está presentes na figura da velha meio feiticeira, e mãe de Simone. Mas sabiamente o diretor prefere se concentrar nas relações entre o casal e a nativa, inserindo questões sobre uma vida mais simples, longe do pesadelo ocidental, e como todo italiano que se preze, deixa a bela morena, o mais tempo possível, nua em cena.
Pela sua semelhança com Laura Gemser, estrela dos filmes de Joe D’Amato na década de 80, muitos veem nesse filme uma cópia dos filmes do diretor de “Black Emanuelle” e outros filmes com ela. Bem, estes foram realizados, como eu disse, na década seguinte, portanto é fácil concluir que a influência é inversa. Jess Franco também foi citado, como outra possível influência, mas é o mesmo caso, pois o espanhol só investiria no filão sacanagem e ilhas paradisíacas posteriormente. Zeudi Araya estrelou mais dois filmes com Scattini - foi descoberta por ele durante um comercial de chocolate- foi Miss Etiópia em 1969 e posou para a Playboy italiana em 1977, abandonando a carreira de atriz e se dedicando à produção. E a julgar por algumas fotos que conferi continua linda com cinquenta e poucos anos.
Luigi Scattini relembrou em entrevista que teve a ideia do filme ao ouvir a lenda, durante uma viagem no oceano Índico, de uma mulher de pele de lua na ilha de Seychelles. Intrigado foi até lá à procura da moça e só encontrou mulheres feias. Voltou à Itália só com o título e ao conhecer Zeudi levou adiante a realização. Um filme, que como eu disse, merece uma lembrança não apenas pela sua trilha.
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