segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Love Has Many Faces- 1965

Em 1965, uma das mais populares estrelas de Hollywood, depois de um rumoroso episódio envolvendo o amante e a filha, prato cheio para as revistas de foca da época, a diva Lana Turner estrelava mais um dos incontáveis melodramas da sua carreira. A direção foi de Alexander Singer, diretor que atuou mais na televisão,deixou poucos filmes no cinema e está esquecido quase inteiramente. As referências à sua obra são quase sempre desabonadoras, principalmente quando tocam no filme em questão. Mas o grande crítico Andrew Sarris, especialista em filmes B, definiu-o com um poeta das mulheres rejeitadas, o que cai como uma luva para o tema de meu filme lembrado aqui, que no Brasil recebeu o título de “O Amor tem muitas Faces”. Lana Turner é Kit Jordan, uma coroa ricaça de passado barra pesada, casada com um ex-gigolô Pete (interpretado por Cliff Robertson), eternamente entediada, infeliz, trocando de roupas ( obviamente, esplêndido figurino de Edith Head) e sempre com um copo de drink nas mãos. Acapulco e suas praias são o cenário da trama. O cadáver de um rapaz que surge na praia serve como uma espécie de guia para que o espectador seja introduzido aos demais personagens do drama: temos Hank (Hugh O’Brien) e seu pupilo, ambos dois gigolôs assumidos, que terão algum papel no desenrolar dos acontecimentos. O morto trazia uma pulseira com a inscrição “ Love is Thin Ice” ( amor é gelo fino) e uma dúvida: foi suicídio ou assassinato? Afinal o rapaz era gigolô também, e havia sido um dos inúmeros amantes da coroa cachaceira e milionária. Procurar um caráter minimamente decente nessa trama não é tarefa fácil. O policial mexicano encarregado de investigar o caso tem menos trabalho para solucionar o caso, do que nós para encontrar alguém assim: temos além dos citados gigolôs, outras coroas ricas caçando rapazes e dispostas a pagar caro pelo prazer, um toureiro e seu patrão, ambos com jeito de casal e ao redor um bando de desocupados parasitas que só fazem beber e se atirarem nas piscinas de roupa mesmo. A vida parece uma festa. E de repente surge alguém decente e com consciência para aliviar o clima: uma antiga namorada americana do falecido, Carol (Stéfanie Powers). Pete, que não parecia mesmo muito interessado na esposa, passa a assediar a recém-chegada deixando, enquanto isso o campo aberto para as investidas de Hank à esposa: Igualmente cansado da coroa com quem estava se divertindo, percebe na ricaça bebum possibilidades de ganhos maiores. Toda essa sarabanda de gigolôs e coroas, como não poderia de deixar de ser realizada num tom decididamente kitsch e camp, que faria as delícias dos nossos noveleiros de plantão. Não faltam nos diálogos algumas boas tiradas irônicas e cínicas de Hank, que tem como lema – “Nada ilegal, apenas imoral” -, ou de Margot( Ruth Roman), uma coroa chantageada por ele, e que se vê obrigada a pagar 1000 dólares para se livrar da ameaça; mas o restante são mesmo revelações carregadas de tristeza vindas do passado, restolhos de consciência aqui e ali. O embate final entre os gigolôs pelo amor e o dinheiro da coroa cachaceira vai se desenrolar, apropriadamente numa “hacienda” mexicana, numa Praça de Touros. Sim, os dois gigolôs além de surfistas, eram bons toureiros. Para embalar a atmosfera caliente, Nancy Wilson canta maravilhosamente a música tema com o mesmo título do filme. Ironias à parte, o filme é ao contrário de várias opiniões, divertido. Não é nenhum Sirk ou Minelli, mestres do melodrama, mas não faz feio. Vou conferir depois outro filme do diretor, esse até elogiado por muitos.

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