domingo, 23 de outubro de 2011

Louisiana Hussy - 1959

Um exemplo clássico, digamos assim, da aurora da sexploitation americana,exibido no mesmo ano em que o grande Russ Meyer lançava seu primeiro filme. Meu filme da vez, aliás, tem um quê dos filmes da primeira fase do autor de “Lorna” e “Vixen”, sem claro, apresentar seus rasgos visuais arrojados. O diretor Lee Sholem ,mais convencional , fez mesmo carreira , longa, na TV, destacando-se ai um filme com “Superman” nos anos 50. Consta que William Rowland deu uma mãozinha na direção com cenas adicionais. Temos, pois um filme de temática curiosa pela audácia, mesmo com todos os seus defeitos, oriundos do baixo orçamento, interpretações espúrias e canastronas: defeitos, portanto bastante relativos. A maneira tosca de boa parte do elenco contribui na verdade para uma autenticidade quase documental. E frisemos que foi filmado em locações naturais nos pântanos das cercanias de New Orléans.
A trama é quase uma releitura de “Susana, Mulher Diabólica” de Luís Buñuel, realizado em 1951, no México: uma mulher é encontrada no meio do nada, sem referência alguma e rapidamente se envolve com todos ao redor. No clássico de Buñuel tínhamos uma família rica de fazendeiros, aqui temos dois irmãos, um deles recém-casado, e ela chega espalhando a discórdia com sua luxúria e sensualidade quase demoníaca. Sim, a personagem interpretada por Nan Petersen, Minette é deliciosamente perigosa, atraente e ávida por sexo: “ninfomaníaca” – exclama um dos irmãos. Provavelmente a primeira vez que a palavra foi dita em filme comercial americano. É verdade que ele só deve ter sido exibido em drive-ins de pequenas cidades e não mais que isso, caindo, inclusive em domínio público, podendo ser baixado legalmente e gratuitamente na internet. Mas voltemos á história: a misteriosa mocinha é encontrada nos pântanos da Louisiana, pelo irmão aborrecido e solteirão, tão mala que nem foi ao casamento do irmão mais novo boa praça. Por questões morais, a moça é levada para a casa do irmão recém-casado. Ao despertar do desmaio ela trata logo de mostrar suas garras e seduz o bom rapaz. Mas como ele era afinal de contas um bom caráter trata de despachar a “hussy girl” e só resta a ela buscar refúgio na casa do irmão solteirão. Lá se instala para alegria e deleite do coitado, que de qualquer modo finalmente tira a barriga da miséria. O problema é que a vizinhança era abelhuda e não estava acostumada com os modos francos da moça: doutor local, em um recorte de jornal, descobre que a dita cuja era mesmo uma aventureira da pior cepa e fora o pivô do suicídio de uma dama inválida da região, esposa de um milionário. A confusão vai aumentar quando esse milionário descobre o paradeiro da responsável indireta pela morte da esposa e vai atrás para mata-la. Curiosamente, depois de tanta sacanagem e mau caratismo da moça, o final acaba não sendo nem pouco moralista. A mocinha era uma peste, mas só queria mesmo farrear, e ao contrário do filme de Buñuel, onde Suzana voltava para o cárcere, nossa bandida encontra outro trouxa.
Surpreende no filme a questão sexual, já anunciando no comportando de Minette ou Nina – afinal, era seu nome verdadeiro – a liberação sexual, que pelo menos na seara da exploitation americana, ganharia novos rumos na década seguinte.

Um comentário:

Raimundo Balby disse...

Faltou uma carga erótica maior ao personagem da atriz Nan Peterson - tipo Susan George em "Straw Dogs",de Peckinpah. Noir mesmo, só a fotografia e a música de Walter Greene num solo sofisticado de sax-alto lembrando o grande Charles Parker.