Um produto estranho no universo cinematográfico
italiano dos anos 80 mergulhado nos thrillers eróticos epígonos do decadente giallo, espasmos de outros gêneros da exploitation, tão vibrante da década anterior.Sergio Bergonzelli, diretor desse filme que relembro, teve uma
carreira longa e algo discreta no cinema italiano dos anos 60 e 70 com destaque
para o insano “Nelle pieghi dele carne” de 1970 numa carreira que conta com 28 filmes em gêneros variados que foram do eróticos, passando pelo spaghetti nos anos 60 e as indefectíveis
comédias eróticas. Saint Simon é um pintor que se acha a reencarnação de Van Gogh
e vive isolado num castelo medieval. Para a matéria prima das tintas ele
prefere o sangue humano, que o mordomo lhe fornece graças aos assassinatos
brutais contra moças das redondezas. Mas
a morte da esposa o deixa prostrado e
sem inspiração. O encontro com uma pianista idêntica à falecida o deixa na certeza
que ela seria a reencarnação da amada. Estamos em um filme e, portanto, a moça
aceita o convite para uma visita ao castelo sem maiores problemas e sequer se dá ao trabalho de avisar
o namorado sonso. Não tarda a sacar que se
meteu numa roubada e que caiu num ninho de dois dementes. Bizarro, depravado,
repulsivo, sórdido, “over”, ou simplesmente pretensioso e a beira do ridículo? Se pensarmos nele como um delírio ou pesadelo o filme faz algum sentido. E posso dizer que esta ambiguidade que me atrai no filme a despeito de todas as irregularidades e furos de narrativa. O
fato é que estamos diante de um híbrido inclassificável e inquietante. O
espectador tem diante de si história de amor louco com toques de
necrofilia, ocasionais estupros e decapitações. Quase desnecessário dizer que estamos em mais um filme que não seria possível
realizar hoje diante do politicamente correto que cerceia tudo atualmente. Um
filme raro, inédito em DVD e que só sobrevive graças a uma cópia ruim tirada de um VHS grego dublada em inglês.
No elenco John Philippe Law, estrela de “Diabolik” e “Barbarella”, o veterano
Gordon Mitchell e Barbara Christensen, atriz dinamarquesa e ainda na ativa, podendo
ser vista no mais recente filme do italiano Giuseppe Tornatore. O filme
pode ser encontrado ainda no YouTube em cópia, infelizmente, sofrível, mas
melhor que nada, enquanto esperamos o milagre do surgimento de uma edição
decente e sem cortes .
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