A trama é quase uma releitura de “Susana, Mulher Diabólica” de Luís Buñuel, realizado em 1951, no México: uma mulher é encontrada no meio do nada, sem referência alguma e rapidamente se envolve com todos ao redor. No clássico de Buñuel tínhamos uma família rica de fazendeiros, aqui temos dois irmãos, um deles recém-casado, e ela chega espalhando a discórdia com sua luxúria e sensualidade quase demoníaca. Sim, a personagem interpretada por Nan Petersen, Minette é deliciosamente perigosa, atraente e ávida por sexo: “ninfomaníaca” – exclama um dos irmãos. Provavelmente a primeira vez que a palavra foi dita em filme comercial americano. É verdade que ele só deve ter sido exibido em drive-ins de pequenas cidades e não mais que isso, caindo, inclusive em domínio público, podendo ser baixado legalmente e gratuitamente na internet. Mas voltemos á história: a misteriosa mocinha é encontrada nos pântanos da Louisiana, pelo irmão aborrecido e solteirão, tão mala que nem foi ao casamento do irmão mais novo boa praça. Por questões morais, a moça é levada para a casa do irmão recém-casado. Ao despertar do desmaio ela trata logo de mostrar suas garras e seduz o bom rapaz. Mas como ele era afinal de contas um bom caráter trata de despachar a “hussy girl” e só resta a ela buscar refúgio na casa do irmão solteirão. Lá se instala para alegria e deleite do coitado, que de qualquer modo finalmente tira a barriga da miséria. O problema é que a vizinhança era abelhuda e não estava acostumada com os modos francos da moça: doutor local, em um recorte de jornal, descobre que a dita cuja era mesmo uma aventureira da pior cepa e fora o pivô do suicídio de uma dama inválida da região, esposa de um milionário. A confusão vai aumentar quando esse milionário descobre o paradeiro da responsável indireta pela morte da esposa e vai atrás para mata-la. Curiosamente, depois de tanta sacanagem e mau caratismo da moça, o final acaba não sendo nem pouco moralista. A mocinha era uma peste, mas só queria mesmo farrear, e ao contrário do filme de Buñuel, onde Suzana voltava para o cárcere, nossa bandida encontra outro trouxa.
Surpreende no filme a questão sexual, já anunciando no comportando de Minette ou Nina – afinal, era seu nome verdadeiro – a liberação sexual, que pelo menos na seara da exploitation americana, ganharia novos rumos na década seguinte.
Um comentário:
Faltou uma carga erótica maior ao personagem da atriz Nan Peterson - tipo Susan George em "Straw Dogs",de Peckinpah. Noir mesmo, só a fotografia e a música de Walter Greene num solo sofisticado de sax-alto lembrando o grande Charles Parker.
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