domingo, 22 de janeiro de 2012
Angel, Angel, Down We Go - 1969
Robert Thom havia escrito o roteiro de um sucesso alternativo “Wild in the Streets” - estrelado por Shelley Winters -, e ganhou então a oportunidade dos produtores da AIP para dirigir seu próprio filme. Acabaria sendo sua única experiência à frente das câmeras. O filme foi um fracasso e está inédito ainda em DVD - mas pode ser assistido no Netfix americano – e permanece como um dos mais obscuros produtos da contracultura americana retratada no cinema. O produtor foi Jerome Katzman , filho de Sam Katzman, um dos responsáveis pela explosão do rock’roll no cinema nos anos 50, que aliás também deu uma força na produção deste filme. Relendo aqui um artigo sobre Katzman no essencial ”Kings of Bs” , Richard Thompson ,autor do texto, cita um reportagem da revista Variety de 1969, comentando a estreia do filme: “Sam Katzman está mudando o foco para produções com profundidade e ponto de vista(...)Esta será um dos primeiros filmes num esforço de mudar a imagem da produtora”. E o artigo finalizava já anunciando um novo filme de Robert Thom, que nunca seria realizado diante do fracasso, diga-se de passagem, um dos raros do produtor. O ano em que o filme foi lançado foi marcante para o rock: teve Woodstock, mas também Altamont e Charles Manson e sua trupe matando Sharon Tate. E nosso filme era mais um com uma visão negra e fantasmagórica da contracultura. O título alternativo do filme , por exemplo, foi “The Cult of the Damned”, que sugeria terror e satanismo. Uma família americana aparentemente perfeita: riquíssimos, celebridades e a filha, educada na Suiça. Isso o lado “Caras” da situação; do avesso, o pai,Willy, ex-ator,homossexual , a mãe Astrid , antiga atriz de pequenos filmes pornográficos e alcoólatra, e a filha Tara, heroína do filme, neurótica e gorducha. No seu regresso à América conhece, na festa de boas vindas, Bogart, uma astro de rock, calcado em Jim Morrison com certeza .Falando no cantor do The Doors, é evidente que o diretor buscou inspiração na canção "The End" para compor o filme. Vejam e digam se não tenho razão.Fascinada por ele, se deixa praticamente raptar e mergulha de cabeça no mundo maluco beleza do cantor e sua turma de freaks. A mãe da garota é interpretada, gloriosamente, pela diva Jennifer Jones, então com seus 50 anos, e seu papel mais caótico e demente de toda a carreira habitualmente marcada por papéis angelicais e doces. Jeniffer foi casada com Selznick, o produtor de “E O Vento Levou”, e a certa altura sua personagem faz piadas com ele, entre outras tiradas grotescas como esta frase imortal: “Fiz um punhado de filmes pornôs e nunca fingi um orgasmo”. Para alguns um sórdido epitáfio, algo como Carrol Baker em “Andy Warhol’s Bad” ,ou uma paródia de “Sunset Boulevard”.
Lembremos que Robert Thom foi o autor de “Lylah Clare’, que virou filme de Robert Aldrich – que já resenhei aqui – e que acabaria sendo epitáfio, também, de outra diva: Kim Novak. E estou aqui falando tanto em crepúsculos e epitáfios, e é isso este filme: um tortuoso e desconexo epitáfio de Hollywood, do show business e da família tradicional americana, uma trip alucinógena, o filme que John Waters teria realizado se tivesse vivido nos anos sessenta, ou um “Teorema” americano. Homossexualismo, obesidade, pedofilia, drogas, amor livre e maus sentimentos, ingredientes de um bolo indigesto. Um filme sem dúvida imperfeito, desconexo, mas nem por isso menos fascinante. Uma trilha sonora muito boa de Barry Mann, que existem disco e é fácil de baixar (ainda). O elenco conta ainda com o cantor Lou Raws e Roddy McDowell. Morrissey , do “Smiths” homenagearia o filme com uma canção ,com o mesmo título do filme, em “Viva Hate”. A estrela gordinha Holly Near se tornaria cantora folk de algum sucesso nos EUA posteriormente.
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