segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Os carrascos estão entre nós - 1968

O nome gringo do ator principal e diretor oculta, na verdade, um ator brasileiro: Cícero Adolpho Vitório da Costa, ou C.Adolpho Chadler. Como tantos nomes do nosso cinema esquecidos e lembrados apenas por alguns lunáticos(entre os quais eu me incluo). Foi mais um que ousou ainda na década de 60, em plena época do Cinema Novo e antes da era Boca do Lixo, fazer um cinema de gênero no país, e como outros antes e depois, fracassaria. Um precursor do Tony Vieira? De alguma maneira sim, e lembremos que só o cineasta de “Último Cão de Guerra” conseguiria sucesso de bilheteria na linha proposta por Adolpho,na década seguinte. O fato é que não havia nos anos sessenta interesse do mercado exibidor nem do público por essa linha. O sonho de criar um cinema de entretenimento renderia oito filmes até 1973 entre gêneros como terror, faroeste e policial. E como uma maldição quase todos eles estão perdidos. Este aqui em questão , com o sugestivo título de um filme perdido de Fritz Lang ,seria o terceiro da carreira do diretor/ator. Depois de 1973, o brasileiro gringo desapareceria do mapa do cinema e ao que tudo indica vive nos EUA. A história parte de um fato que se revelaria sinistramente real no futuro: a fuga para o nosso país de membros da cúpula do nazismo depois da guerra. Basta lembrar Mengele em no interior de São Paulo. Os remanescentes criaram uma organização secreta chamada Aranhas – novamente um nome languiano – que passa a ser investigada por dois agentes: Chadler interpreta Marcan, o brasileiro agente da nossa agência de inteligência SNI; o agente da CIA, interpretado pelo ator americano Larry Carr , de carreira obscura na terra natal, acabaria se fixando por aqui igualmente como coadjuvante em produções esquecidas. O roteiro é interessante garantindo as tradicionais reviravoltas na trama, imprescindíveis no gênero. Alguns bons diálogos e piadinhas visuais: na banca de revista um personagem folheia um livro do jornalista David Nasser sobre nazismo, por exemplo. As sequências de ação são bem feitas e críveis em sua maioria. E com tantos atrativos a questão é: por que o filme não fez sucesso? Um ponto grave a ser considerado, no meu entender: se o roteiro tem trama interessante, falha na construção de um bom protagonista, curiosamente o próprio Chadler, que faz um herói insosso e sem alma. Também o que esperar de um agente do SNI em plena época da ditadura? Mais antipático impossível. Na produção nomes ilustres do cinema nacional: Cyl Farney , Anselmo Duarte e Oswaldo Massaini. Neste último temos outra ligação do filme com a Boca, considerando-se que ele foi um dos principais produtores com a sua Cinedistri. Fotografia excelente, diga-se de passagem, do cinemanovista Affonso Viana. Trilha do maestro Erlon Chaves. No elenco Átila Iório e Karin Rodrigues, entre outros. O filme até que sobreviveu na memoria e nas telas apesar do fracasso na época: foi exibido no Cabal Brasil e pode ser comprado em colecionadores e vendedores de filmes raros facilmente encontráveis na rede. O cartaz do filme é outro fator que garantirá a imortalidade do filme junto aos cinéfilos e colecionadores de memorabilia do cinema nacional: foi o primeiro cartaz desenhado pelo grande ilustrador José Luiz Benício. E ficam as imagens em DVDs piratas ripadas do Canal Brasil, como restos da história do fracasso de um sonho.

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