terça-feira, 28 de setembro de 2010

Satánico Pandemonium - 1972



Um dos sub-gêneros mais peculiares que surgiu da exploitation, foi sem dúvida a nunsploitation , que como o nome sugere- NUN – trata do universo das freiras, Cronologicamente ele surgiu em 1971 com o lançamento do filme “Os Demônios”do loucaço cineasta inglês Ken Russell. O sucesso desse filme desencadearia uma onda de filmes que abordavam o misterioso universo dos claustros quase sempre sob uma ótica francamente sensacionalista e apelativa : muito sexo, geralmente sáfico, violência e terror- pois até freiras vampiras dariam o ar da sua graça. Mesmo cinematografias distantes do universo cristão, caso do Japão, produziram filmes sobre freiras ; nosso Brasil, também teve seu exemplar do gênero, “A freira e a tortura “ . Com “Satanico Pandemonium” temos um dos muitos exemplares desse sub-gênero , que teve seu apogeu na década de 70. O filme foi realizado no México em 1972, mas devido a problemas com a censura só seria exibido em 1975( diga-se de passagem que do mesmo país outro filme de sucesso no gênero seria realizado em 1978, “Alucarda “.) O filme dirigido pelo prolífico diretor Gilberto Solares , que tem no currículo mais de 200 filmes, rapidamente se converteria num dos mais destacados e interessantes pela maneira inusitada com que mergulhou no universo das freiras. E o resultado foi uma obra blasfema e surreal. Ecos da obra de Buñuel podem ser pinçados aqui e ali – pensemos na imagem do santo no altar sem os braços: imagem bunueliana por excelência - ; Marquês de Sade, outra presença onipresente ao longo do filme; Lautreamont e seus “Cantos de Maldoror “. A matriz do filme está na obra-prima do romance gótico inglês “O Monge “de Mathew Lewis, novela idolatrada pelos surrealistas e por Buñuel, que sempre almejou filmá-lo, tendo chegado a escrever um roteiro e, que , infelizmente não pôde realizar. De qualquer modo, o díscipulo e bíografo Ado Kyrou filmaria o roteiro na década de 70 com bons resultados. A obra de Lewis tinha como tema as tentações a que é submetido um virtuoso monge, pelo próprio Satanás, com consequências medonhas. No nosso filme em questão temos Soror Maria , . (interpretada pela bela Cecília Pezet) pura, virtuosa e admirada por todas as colegas. Nas sequências iniciais vemos este exemplo de virtude em meio a um cenário edênico : um bosque onde pastam ovelhas, os pássaros cantam e ela se distrai colhendo flores silvestres. E de súbito eis que diante dessa Chapeuzinho Vermelho,o lobo surge encarnado na pele de um misterioso homem nu. A aparição desse estranho – que logo ficará claro para o espectador que estão diante de Lúcifer em pessoa – que oferece à freira uma maçã e desencadeia uma reviravolta no universo até então puro da freira. O resultado será a derrubada dos muros do Jardim Do Éden e a entrada da freira nos prazeres do inferno. Estes prazeres que são simplesmente os prazeres da vida e mais alguns do mundo que Luzbel descortina para a freira e estão incluidos o inevitável lesbianismo, a pedofilia, o assassinato e até o sexo com o ele próprio. O que o Príncipe das Trevas faz é simplesmente rasgar o véu e desvelar por trás do religioso o que era simplesmente vaidade e carolice . Como no romance de Lewis . Um trabalho de certo modo fácil para Lúcifer.
Mais do que simplesmente explorar os elementos apelativos da história ,o filme demonstra uma curiosa preocupação com a crítica social : duas freiras do convento sao negras e realizam todo o trabalho pesado. Uma delas lamenta com Soror Maria , dizendo que fugiu da escravidão e buscou refúgio ali no convento e ao invés da liberdade encontrou uma vida mais dura e cruel do que tinha quando escrava. Algumas lendas curiosas cercaram o filme e a melhor delas dava conta de que os produtores contrataram prostitutas para interpretar as freiras do convento. A verdade é que estamos diante de um filme que transcendeu os limites do gênero e adquiriu status de cult com méritos. Basta dizer que Quentin Tarantino e Robert Rodriguez batizaram com o nome de Satanico Pandemonium a personagem de Salma Hayek no filme “Um Drink no Inferno “numa clara homenagem . Lá fora a “Mondo macabro”, produtora especializada em lançar dvds especiais, realizou uma ótima edição com vários extras , que infelizmente nao foi lançada aqui ainda. Menos mal que em vários sites de compartilhamento é possível baixar esta jóia cinematográfica. .

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