sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
The Bloody Brood - 1959
O cartaz do filme anuncia o que o espectador verá: “Doomeds”, “Damneds” e “Decents”. As paranoias americanas não se limitaram ao comunismo no após guerra, medo do holocausto nuclear e até uma invasão de aliens. O cinema retratou de todas as maneiras estas paranoias coletivas. Mas comportamentos e movimentos artísticos também foram objetos da paranoia coletiva e o cinema tratou de capitalizar. Delinquência juvenil e rock’roll logo foram absorvidas; e até os beatnicks foram retratados no cinema americano mainstream e B. Podemos até dizer, dada a quantidade de filmes ,que houve um subgênero cinematográfico que poderia ser classificado como beat exploitation. De passagem lembremos que os próprios beats, no caso aqui Jack Kerouac chegaram a realizar um filme, muito interessante, aliás, que pode ser encontrado no You Tube chamado “Beat Generation” ou “Pull my Daisy”, estrelado por Allen Ginsbeg e Gregory Corso, entre outros. E em 1959 Albert Zugsmisth, um dos papas da exploitation americana - ao lado de Roger Corman - produziu “Beat Generation”. E já que falamos em Roger Corman, ele dirigiu e produziu “Bucket of Blood”, um hilário filme de terror ambientado no Village na comunidade beatnick; e finalizando esta rápida recapitulação, que faço aqui de memória, chegaram a produzir uma versão classe A de “Os Subterrâneos’, romance de Kerouac escrito antes do seu clássico maior “On the Road” (que só agora será filmado por Walter Salles, ou seja, ai, ai ai, ai). Para se ter uma idéia do que a caretice hollywoodiana fez: o romance retratava o amor entre um intelectual, o próprio Kerouac e uma mulher negra em Paris. Amores inter-raciais ainda eram tabu e, portanto, a mulher negra foi transformada em uma francesa meio maluquinha e branca(Leslie Caron). Ainda em 1959, dentro da onda beat, um diretor canadense lançava o independente o filme objeto da resenha. O futuro Columbo Peter Falk, em seu primeiro papel de destaque era Nico, um pretenso intelectual beatnick, que ficava tecendo discursos pseudo-filosóficos cínicos e rebeldes e era o líder natural de um grupo de poetas, cineastas , músicos beatnicks. Para demonstrar na prática seu discurso niilista decide matar, durante uma festa, um humilde mensageiro, que havia ido ao apartamento dos beats, para entregar um telegrama.
O irmão do rapaz resolve averiguar o caso e se infiltra no universo dos beatnicks. E o filme acaba caindo no clichê do eterno combate entre as boas pessoas, trabalhadoras , honestas e os doidões drogados, que só queriam ficarem nos botecos ouvindo jazz, tocando bongô(todo beatnick nesses filmes toca bongô), fumando cigarros esquisitos e praticando sexo antes do casamento com moças de reputação duvidosa. E para distraírem , um ou outro se erguia ,no meio da fumaça e da orgia e recitavam poemas malucos e nada acadêmicos. Digamos em defesa do diretor Julian Roffman, que só realizou outro filme em toda carreira, que os beatnicks são retratados de maneira crível. Nico, o assassino niilista, era na verdade um traficante,e apenas havia se infiltrado na turma para vender seus produtos, aproveitando-se da ingenuidade dos beats. Algo perfeitamente realista, portanto. A partir do meio da década de sessenta os beatnicks foram gradativamente sendo deixados de lado na paranoia e outra figura, o hippie barbudo doidão e eventual monstro assassino ocuparia o lugar dos beatnicks, que para a sorte deles voltariam a ficar confinados na história da literatura. Já estavam de alguma maneira absorvidos e domados também. Este pequeno filme é uma fragmento da batalha que acontecia antes de domarem os "doidões". O filme pode ser baixado e visto no You Tube,em sua versão integral e vale como uma curiosidade.
link abaixo:
http://youtu.be/oPKsuAMlvbY
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