sábado, 29 de outubro de 2011

Lady of the Lake- 1988

Às vezes me pergunto qual o sentido de ficar aqui relembrando filmes esquecidos ou que nunca são citados nas histórias de cinema, e quando citados críticos riem ou simplesmente ignoram. Sei lá, pode ser loucura, combate quixotesco e, com certeza ,talvez sem sentido. Mas enfim, a verdade é que me divirto relembrando filmes realmente fantásticos mas não muito lembrados, tranqueiras divertidas e filmes muitas vezes realmente ruins que contem alguma nesga de insanidade e loucura que o tira do banal. Filmes ruins estão todos os dias listados nos jornais, nos shoppings e resenhados como maravilhas nas revistas e cadernos de “cultura”. 90% deles irão para o inferno dos maus filmes daqui a 10 anos, e nem um louco como eu terá a coragem de lembrá-los. E assim aconteceu com 80, 90% da produção americana classe A dos anos 40, 50, 60 e 70, enquanto muitos filmes, tidos como lixo daquela época, estão sendo resgatados em blogs e sites alternativos. A história do cinema está sendo reescrita pelos loucos e isso é bom. Viva a loucura, a verdadeira prova dos nove!
E meu filme, depois dessa arenga é um pé de página na história do terror dos anos 80. Filme canadense independente, dirigido por Maurice Devereaux, que na época ainda era um iniciante. “lady of the Lake”, de 1988, foi segundo filme e começou como um curta e acabou virando longa depois de uma dura jornada: o filme demorou seis anos para ser concluído. Por isso o espectador mais atento vai perceber que a aparência dos personagens apresenta ligeiras variações físicas. Não é com certeza uma maravilha, mas é um filme de orçamento quase zero, que tem aspectos interessantes. Mais que um filme de terror, estamos diante de um conto de fadas, uma história de amor fantasmagórica e poética, com muito erotismo. As poucas referências elogiosas lembraram as influências de Cocteau e Roger Vadim, além de “Excalibur” de John Boorman. Bem e já que citei este último então quer dizer que se trata de uma filme de temática arturiana ? Nem tanto.
Temos David(Erik Rutherford) um jovem pintor que recebe como herança - de um tio, morto por uma mulher meio monstro - uma cabana a beira de um lago, onde vários homens desapareceram ou morreram de forma misteriosa. Pouco a pouco descobre a lenda da dama do lago, e passa a receber sua visita nas noites. Seria tudo sua imaginação, afinal de contas? O filme avança nessa ambiguidade, até que o que parecia sonho e pesadelo se revelam reais: a dama existia sim e se chamava Viviane(Tennyson Loeh), um fantasma de uma atriz morta por um apaixonado que ela havia rejeitado. Ambos faziam parte de uma trupe itinerante de atores que se vestiam como personagens arturianos. A moça propõe um pacto ao apaixonado rapaz: ficaria com ele uma semana inteira amando-o e depois o abandonaria para sempre, pois após este período poderia mata-lo, como havia feito com outros anteriormente. É claro que ele aceita. Quem não aceitaria? E como não poderia deixar de ser a figura dela vai se revelando mais e mais sombria e demoníaca, ou pelo menos o que a cercava.
O filme foi resgatado do limbo pela revista americana Fangoria, especializada em filmes de terror, e também produtora de dvds. O diretor continua na ativa fazendo filmes de terror independentes, alguns premiados em festivais no Canadá e outros países.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

El Satánico - 1968


Deliciosa e agradável surpresa esse obscuro filme mexicano dirigido por José Diaz Morales, que tem no currículo 91 filmes( Chegou a realizar 4 no mesmo ano) Trata-se de um thriller com acentuado erotismo, toques de humor negro que beiram o surreal. Para começar deve ser um dos únicos filmes que tem como personagem principal um anão, no caso Rafael Muñoz , mais conhecido como Santanón. E sua parceira é a calipígica Libertad Leblanc, de carnes abundantes ( mas seus seios eram ” montados”), rival de Isabel Sarli, nas mãos e corações dos punheteiros de toda a América. Um casal bizarro, sem dúvida. A loura atuou em mais de 30 produções ao longo da carreira, sempre com muitas cenas de nudez, audaciosas para os padrões da época. Sua maneira de interpretar não difere muito, a bem da verdade, dos modos de Isabel Sarli. O repertório de ambas era o mesmo: muitos beicinhos, olhos revirados, fala macia. Mas ao contrário de Sarli, que quase sempre fazia papéis de mulheres caídas, mas de bom coração, Libertad protagonizava papéis de mulheres agressivas sexualmente, amorais e cínicas. Em “El Satanico”, ela é, por exemplo, Norma, uma prostituta que trabalha em um bordel de luxo, de onde é resgatada - digamos assim - por Tony, o anão copeiro que com o auxilio de mais dois pilantras,aproveita-se da sua baixa estatura e passaria a cometer diversos golpes que permaneciam impunes, deixando a polícia sem nenhuma pista. A trama adquire contornos quase surreais quando o anão se apaixona por uma mocinha que havia perdido a visão, mas que tinha uma pequena esperança de cura, claro que dependendo de muito dinheiro para a operação. O anão passa a conviver com a moça, que não suspeita da sua estatura e nem de seu caráter, e num rasgo de bom coração financia a operação que vai lhe devolver a visão. Obviamente uma situação inspirada em “Luzes da Cidade” de Charles Chaplin. Mas, ao contrário do vagabundo, o anão após o sucesso da operação trata de desaparecer das vistas da mocinha. Norma, enquanto isso não tem muito que fazer e trata de meter uns chifres no amante baixinho, com os próprios comparsas de crimes. Infelizmente ela é flagrada num dos seus momentos de luxúria, e como era esperado, o enganado mata o amante.


O filme foi realizado em Porto Rico, sendo inclusive um dos protagonistas, natural do país, o ator Miguel Angel Alvaréz, no papel de um dos comparsas do anão e seu melhor amigo. Detalhe que dá tempero especial e spicy á essa trama maluca é a ótima trilha sonora, com sucessos latinos como “Cuando Calienta el Sol” e números instrumentais oscilando entre jazz latino e rock. Bom demais.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

The Kiss of Death - 1973



Du Nun é o nome original chinês. Mais uma produção dos Shaw Brothers, a maior produtora de Hong Kong, responsável por mais de 800 filmes entre os anos 50 e 80, principalmente no gênero das artes marciais. O filme aqui resenhado foge um pouco dessa linha. A direção coube a Meng Hua Ho, um dos grandes diretores de Hong Kong, realizador de mais de 50 filmes. O elenco foi encabeçado pela atriz Ping Chen, uma bela e talentosa atriz, uma das maiores estrelas do cinema asiático em todos os tempos. Aqui nesse filme ela realizava um dos seus primeiros trabalhos para a produtora. Ela é Chu Ling, uma modesta operária de uma fábrica de tecidos, que vê sua vida arrasada ao retornar uma noite para casa, é atacada por cinco homens, espancada e violentada. Transtornada pela violência, vai procurar emprego em clube noturno. E para seu azar, descobre que foi contaminada com uma grave e incurável doença venérea, a Vietnam Rose, uma autêntica sentença de morte. Busca então a vingança e se emprega em uma casa noturna, na esperança de encontrar a gangue. O proprietário do local apesar de aleijado era fera em kung-fu e depois de muita insistência por parte dela, aceita lhe ensinar os golpes mortais.
Os produtores queriam o título “Vietnam Rose”, mas foram aconselhados a desistirem da ideia: Hong Kong contava então com uma horda de imigrantes vietnamitas. O tema da mulher vingadora seria clonado alguns anos depois no clássico exploitation americano “I Spit on Your Grave” ( em 1978) e mais recentemente o “clonador mor” Quentin Tarantino chuparia a trama para o seu badalado “Kill Bill”. É verdade que nesse caso, o autor de “Pulp Fiction” utilizou também outros filmes orientais na sua colagem.
Apesar da violência que predomina o diretor não se abstém de inserir cenas grotescas e cômicas na trama, a mais bizarra sem dúvida, a visita de Chu a um ginecologista picareta, que lhe oferece a cura em troca de favores sexuais. Outro momento inusitado é um dos estupradores, Pimp, drogar duas mulheres e força-las a realizarem um filme pornô. Aliás, em termos de sexo, o filme é pródigo em cenas de nudez, sempre claro tendo o diretor o cuidado de não mostrar os órgãos genitais, tabu no cinema oriental, pelo menos até os anos 80. Pelo jeito, voltou a ser tabu, inclusive no nosso cinema brasileiro e americano, pai da caretice cinematográfica. Para quem tá acostumado com o estilo naturalista de interpretação ocidental, pode causar alguma estranheza os modos algo caricatos dos atores, com muitas caretas, esgares de olhos e gestos.

O conjunto geral da obra é uma delícia. Não tem como não se esbaldar com uma gata lutando kung-fu e que ainda por cima usa cartas de baralho como armas, além dos créditos iniciais serem absolutamente cool, embalado por uma trilha jazzy e rock de primeira ( A trilha é de Yung-Yu Chen).

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Unearthly Stranger - 1964

Pequeno e obscuro filme inglês que há tempos estava esperando minha visita, perdido em uma pastinha de filmes Bs e Trash. Creio até que comecei a assisti-lo, mas não estava com em “good mood”, como diriam os americanos, e então  o larguei logo nas primeiras cenas. Mas com domingão chuvoso fui lá conferi-lo mais uma vez. Um dos Bs americanos favoritos nos anos 50 foi  “I Married a Monster from Outer Space “ de Gene Fowler Jr, que tratava de um grupo de aliens que invadiam uma pequena cidade do interior dos EUA e assumiam as formas de uns sujeitos locais. O problema é que eles eram casados e as esposas não demoraram a perceberem que algo estava errado, pois os pobres aliens não sabiam como lidar com uma vida de casado na Terra e se enrolaram todo em banais situações cotidianas. Enfim, esse  filme me veio à cabeça ao fim desse filme inglês de 1964, dirigido por John Kriss, diretor mais afeito a documentários para TV e que realizou poucos filmes de ficção. Temos aqui uma produção de baixíssimo orçamento: apenas 5 atores em cenas, e dois cenários. Efeitos especiais se limitam a zumbidos: os aliens nunca são mostrados em suas aparências.  Ou seja, o diretor usou com imaginação o orçamento quase zero. Um cientista inglês conhece na Suíça, uma belíssima e misteriosa mulher e se casa com ela. O trabalho dele é num departamento que se dedica a pesquisas espaciais que envolveriam  viagens a outros planetas utilizando apenas a força do pensamento. Os dois  cientistas que trabalham no mesmo projeto não tardam a desconfiar do jeito estranho da esposa do colega. Também pudera: ela podia pegar uma vasilha no forno quente sem se queimar, nunca piscava , dormia de olhos abertos e não tinha pulso. Mas para o marido estava tudo bem, mesmo com estranhas mortes de outros cientistas pelo mundo, que também se dedicavam  a projetos semelhantes. A bela Gabrielle Licudi interpreta o alien, que no fim se revela um ser com sentimentos, ao contrário dos  seus pares, frios e insensíveis, e estava mesmo apaixonada pelo marido, apesar de haver se envolvido com ele apenas para matá-lo. Ela protagoniza a sequência mais impressionante do filme, quando para diante de uma  escola, todas as crianças brincando no pátio, e por algum motivo não mostrado, elas percebem que há algo   de inexplicável  em sua  presença  e todas  se refugiam assustadas no interior da escola. A câmera acompanha toda  a cena  focando apenas os pés das crianças recuando  lentamente em grupo, causando um efeito extraordinário. O filme demora um pouquinho a engrenar, muita falação no início, e como o cenário é basicamente uma sala, não há muita  ação. Mas o bom elenco liderado por John Neville, no papel do cientista apaixonado , ao contrário de muitos filmes B, contorna esse detalhe com brio.  O resultado é um filme que expressa bem a paranoia daquela época, com a guerra fria em seu momento mais crítico, ou seja, os aliens como metáforas dos comunistas frios, cruéis e insensíveis. Lamentavelmente o filme parece ser inédito em DVD.

domingo, 23 de outubro de 2011

Louisiana Hussy - 1959

Um exemplo clássico, digamos assim, da aurora da sexploitation americana,exibido no mesmo ano em que o grande Russ Meyer lançava seu primeiro filme. Meu filme da vez, aliás, tem um quê dos filmes da primeira fase do autor de “Lorna” e “Vixen”, sem claro, apresentar seus rasgos visuais arrojados. O diretor Lee Sholem ,mais convencional , fez mesmo carreira , longa, na TV, destacando-se ai um filme com “Superman” nos anos 50. Consta que William Rowland deu uma mãozinha na direção com cenas adicionais. Temos, pois um filme de temática curiosa pela audácia, mesmo com todos os seus defeitos, oriundos do baixo orçamento, interpretações espúrias e canastronas: defeitos, portanto bastante relativos. A maneira tosca de boa parte do elenco contribui na verdade para uma autenticidade quase documental. E frisemos que foi filmado em locações naturais nos pântanos das cercanias de New Orléans.
A trama é quase uma releitura de “Susana, Mulher Diabólica” de Luís Buñuel, realizado em 1951, no México: uma mulher é encontrada no meio do nada, sem referência alguma e rapidamente se envolve com todos ao redor. No clássico de Buñuel tínhamos uma família rica de fazendeiros, aqui temos dois irmãos, um deles recém-casado, e ela chega espalhando a discórdia com sua luxúria e sensualidade quase demoníaca. Sim, a personagem interpretada por Nan Petersen, Minette é deliciosamente perigosa, atraente e ávida por sexo: “ninfomaníaca” – exclama um dos irmãos. Provavelmente a primeira vez que a palavra foi dita em filme comercial americano. É verdade que ele só deve ter sido exibido em drive-ins de pequenas cidades e não mais que isso, caindo, inclusive em domínio público, podendo ser baixado legalmente e gratuitamente na internet. Mas voltemos á história: a misteriosa mocinha é encontrada nos pântanos da Louisiana, pelo irmão aborrecido e solteirão, tão mala que nem foi ao casamento do irmão mais novo boa praça. Por questões morais, a moça é levada para a casa do irmão recém-casado. Ao despertar do desmaio ela trata logo de mostrar suas garras e seduz o bom rapaz. Mas como ele era afinal de contas um bom caráter trata de despachar a “hussy girl” e só resta a ela buscar refúgio na casa do irmão solteirão. Lá se instala para alegria e deleite do coitado, que de qualquer modo finalmente tira a barriga da miséria. O problema é que a vizinhança era abelhuda e não estava acostumada com os modos francos da moça: doutor local, em um recorte de jornal, descobre que a dita cuja era mesmo uma aventureira da pior cepa e fora o pivô do suicídio de uma dama inválida da região, esposa de um milionário. A confusão vai aumentar quando esse milionário descobre o paradeiro da responsável indireta pela morte da esposa e vai atrás para mata-la. Curiosamente, depois de tanta sacanagem e mau caratismo da moça, o final acaba não sendo nem pouco moralista. A mocinha era uma peste, mas só queria mesmo farrear, e ao contrário do filme de Buñuel, onde Suzana voltava para o cárcere, nossa bandida encontra outro trouxa.
Surpreende no filme a questão sexual, já anunciando no comportando de Minette ou Nina – afinal, era seu nome verdadeiro – a liberação sexual, que pelo menos na seara da exploitation americana, ganharia novos rumos na década seguinte.

sábado, 22 de outubro de 2011

Anna, Quel particolare Piacere- 1973

Comentei recentemente um filme dirigido por Ernesto Gastaldi, mais conhecido como roteirista no cinema italiano e reviso agora um dos seus roteiros que foram ao écran. Aqui pelas mãos do diretor Giuliano Canimeo, que fez carreira dirigindo dezenas de westerns, filmes de aventuras, policiais e um giallo. Apesar de extensa é nome esquecido quando citam nomes de diretores italianos. Eu mesmo confesso que não lembrava seu nome, apesar de ter em minha coleção seu único giallo. A primeira razão por ter me aventurado nesse filme foi mesmo a presença da atriz Edwige Fenech, que às vezes acho a mais bonita atriz italiana de todos os tempos. É páreo duro se pensarmos em Cardinale, Loren, Rossi Drago, Vitti, Stefania Sandrelli, Laura Antonelli e outras que me escapam agora da memória. Ver um filme por causa de uma bela mulher não deixa de ser um motivo digno. Aliás, quantos e quantos filmes não foram feitos apenas para aproveitar a beleza de uma bela mulher? E felizmente o filme estrelado pela diva, foi além de apenas um desfile da sua beleza e surpreendeu-me agradavelmente. Edwige, mostra com sobras que era muito mais do que um corpo e um rosto maravilhosos, e tinha talento dramático sim.
Um filme, aliás, difícil de classificar, razão talvez de sua relativa obscuridade. Começa como um thriller policial italiano típico dos anos 70, quando vemos as sequências iniciais uma dupla de gangsteres sofrendo uma tentativa de assassinato. Uma cena banal nesse tipo de filme italiano daqueles tempos O mafioso, com cara e jeito de um Mick Jagger, é Guido( Conrado Pani), e seu boss, interpretado pelo americano Richard Conte, sugere que desapareça por uns tempos. Ele vai buscar refúgio então em Bergamo, uma cidade menor da Itália, e lá conhece Anna(Edwige Fenech) um simples caixa de um café, e que vive com os pais. Encantado pela sua beleza e simplicidade  acaba seduzindo-a  e se envolvendo com a moça, que fica  apaixonada  por ele. Em rasgo de caráter o bandido até tenta avisá-la que não era boa bisca..Bem, se ela seguisse a dica não haveria o filme,certo? Que  parece enveredar agora na direção de uma sexploitation tão comum nos anos 70 na Itália, muitas cenas de nudez e erotismo. O mafioso arrasta a incauta para seu mundo de violência, drogas e a leva ao caminho da prostituição. A gravidez inesperada de Anna, a prisão de Guido, dá a ela oportunidade de escapar daquele mundo. Refugia-se em Roma, arruma emprego em uma livraria, tem o filho, e a vida parece voltar  a lhe sorrir na figura de um novo amor, um simpático médico que havia salvado a vida do seu filho. O filme há muito deixou de ser um thriller e entra no terreno do melodrama, de onde não sairá até o seu epílogo. Mesmo com esse quase exagerado crossover de gêneros, o diretor consegue sustentar uma boa narrativa, ajudado pela bela fotografia e trilha sonora, resultando em filme que prende o espectador até o seu desenlace um tanto quanto meloso, é verdade.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Más Negro que la Noche- 1975


País de larga tradição nos filme de gênero (destacando-se ai o terror), o México teve em Carlos Henrique Taboada um dos seus melhores representantes. Deixou pelo menos quatro clássicos, sempre reprisados em países hispânicos. Mesmo assim a crítica tradicional, obviamente, sempre detonou esses filmes, não muito diferente do que se passa no nosso Brasil, cuja crítica sempre esculhambava com as produções de “gênero”.
Meu filme da vez, não ombreia sem dúvida com sua obra-prima “Hasta el Viento Tiene Miedo”, realizado em 1968, ou “El Libro de Piedra”, também lançado no mesmo ano, e sem dúvida seus melhores filmes, mas tem seus méritos. Ofélia, uma jovem que vive em um apartamento ao lado de três amigas, recebe uma inesperada notícia. Uma tia distante faleceu e lhe deixou toda a herança. O único “senão”, que afinal de contas, para ela não tinha nada demais, era a cláusula de cuidar de um gato preto amado pela falecida. A velha mansão, uma governanta esquisita e um gato preto, três elementos típicos de um terror gótico. Ofélia convida as amigas e se instalam no casarão, passando a viver despreocupadamente. Mas as mocinhas, bonitas e tolas, não se deixam fascinar pela beleza da casa e seus objetos, se contentam em debochar e fazer pouco caso de tudo que encontram pela frente: músicas, peças de arte, vestuário. O fato é que eram jovens aborrecidas, fúteis e antipáticas na maior parte do tempo. Quando Becker, o gato é encontrado morto no sótão coisas estranhas começarão a acontecer. Taboada imprime à narrativa uma boa cadência, deixando a tensão aflorar pouco a pouco com bons momentos de terror, destacando-se as sequências na biblioteca, entre outras. O fantasma da velha tia, que passa a assombrar as moças, nunca é mostrado inteiramente, mas sua presença apavora e inquieta. Uma trama simples, sem muitas surpresas, mas bem armada pelo diretor. O conflito de gerações é um tema subjacente e é de certa maneira, a raiz do pesadelo: as mocinhas serão punidas pela insensibilidade e incompreensão para com o passado.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Libido - 1965

Considerado um dos precursores do “giallo”, esse raro filme nasceu de uma aposta do roteirista Ernesto Gastaldi: ele afirmou que com uma boa história seria capaz de realizar um filme em poucos dias. E com a ajuda de Vittorio Salerno, acabou realizando o filme em 10 dias e com orçamento mínimo. Assinou o filme com o pseudônimo de Julian Berry. Apenas quatro atores, todos então estreantes, dois cenários apenas: uma mansão e um penhasco a beira-mar
Apesar de conter elementos que caracterizariam o gênero em que foi precursor, estamos mesmo é diante de um thriller gótico, com elementos psicanalíticos. Christian – interpretado pelo ator Giancarlo Giannini, em seu primeiro papel – é um jovem, que retorna para a casa em que viveu na infância e onde sofreu um trauma que o levaria a passar boa parte da vida num sanatório: viu o pai assassinar uma amante. Aparentemente curado, ele retorna ao cenário do drama, em companhia da esposa Helene, além do tutor e da esposa dele, uma loura com jeito de sonsa. Não demora muito para perceber que a volta é um inferno: passa a ter visões do pai desaparecido, desconfia do relacionamento entre a esposa e o tutor (seriam amantes ou não? ), e vai se tornando mais e mais ensandecido. Apesar de poucos personagens em cena, nós espectadores ficamos como Christian à medida que o filme se desdobra em meandros mais e mais labirínticos, um autêntico jogo de espelhos. Não á toa o quarto de espelhos lembra o salão de espelhos de “Lady from Shangai” de Orson Welles. Veio-me à lembrança também “Ensayo de um Crimen” de Luis Buñuel, onde o protagonista era, assim como Christian, perturbado pela música de uma caixinha-de-música.

Gastaldi não dirigiria muitos filmes depois, estabelecendo seu prestígio como uma dos melhores roteiristas do cinema italiano, com mis de 120 trabalhos em diversos gêneros. O a esposa Mara Maryl, que no filme interpreta a loura, foi autora da história em que o filme se baseou. O filme teve apenas uma edição quase pirata em VHS, e a única cópia que o sortudo pode conseguir na net não é lá essas coisas. Vale destacar a excelente trilha sonora de Carlo Rustichelli, o que em se tratando de filmes italianos é quase tolice ressaltar.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Kartal Yuvasi - 1974



Dona de uma cinematografia rica pela variedade de temas, a Turquia, chegou a ser a quinta maior produtora de filmes do mundo nos anos 70, com mais de 300 filmes por ano. Mas como ocorreu em muitos países, caso no Brasil também, a crise acabou com quase tudo e na década de 90, por exemplo, pouco mais de 10 filmes eram realizados. A partir de 2000 o cinema turco se reergueu e hoje é um dos mais fortes da Europa, com vários destaques pelo mundo.
Meu filme da vez, “Kartal Yuvasi” pertence ao período áureo da cinematografia turca, onde prosperavam além de filmes culturalmente relevantes, produções populares e apelativas. Os turcos não se importavam em copiar descaradamente sucessos americanos, e então fizeram versões bizarras de “O Exorcista”, Superman, Homem Aranha, Rambo e muitos outros. Esse aqui, dirigido por Natuk Baytan – que realizou 68 filmes – é tido como uma refilmagem de “Straw Dogs” de Sam Peckinpah, que no Brasil recebeu o título de “Sob O Domínio do Medo”. Alguns comentários pinçados de blogs gringos chegam a qualifica-lo como “cópia sem-vergonha”, que é francamente, um exagero. O certo que os filmes tem a mesma origem: o romance “The Siege of Trencher’s Farm” de Gordon Williams. Mas ambos diferem radicalmente. A trama do filme de Natuk Baytan é ambientada em Chipre, no período conturbado dos conflitos entre gregos e turcos, que resultaram na divisão da ilha. E justamente nesse fogo cruzado que o espectador é colocado. Murat retorna para a casa da mãe, a parteira local, trazendo consigo a noiva, uma inglesa. Nada era mais como antes, avisa a mãe- interpretada pela grande atriz Yildiz Kenter -, a maioria dos turcos abandonou a aldeia, só havia agora gregos. E um grupo deles, não estava nem pouco satisfeito e desejava expulsar os restantes. Um juiz grego e imparcial até tentava conter a turma, liderada por um grego sempre embriagado. Mas Eleni, uma garota filha do líder do grupo, mantinha uma amizade com um turco grandalhão e retardado. E a inglesa Mary ( interpretada por uma atriz turca) logo desperta a luxúria dos gregos pelas suas maneiras francas e sensuais, e acaba sendo estuprada por alguns deles. A morte de Eleni, imputada ao turco retardado, mas de fato cometido por um dos gregos do bando, desencadeia o conflito. Ao abrigar o suposto assassino, a parteira desperta a ira do bando e tem sua casa sitiada. Para piorar Murat estava ausente (e curiosamente, não dá mais as caras no filme) e a senhora e a nora tem que se desdobrarem para deterem a fúria cega dos gregos, que chegam a matar o juiz e compatriota que tentou detê-los. A violência vai ganhar aspectos de selvageria inaudita e garantem bons momentos de suspense tensão. Infelizmente já no finalzinho o diretor resolve colocar “footages” da invasão do exército turco a Chipre, além de sequências ufanistas em excesso. De qualquer maneira, o filme retrata – do lado turco, é claro – um pouco do drama da ilha naquele momento, resultando numa produção que merece uma conferida.

domingo, 16 de outubro de 2011

Mantis in Lace aka Lila - 1968

Ultimamente tenho derivado muito as resenhas em torno de filmes americanos exploitation realizados nos anos 60, e fui perceber que coincidentemente a maioria lidava com strippers, hippies malucos, drogas, dramas urbanas no submundo. Eu vou aqui lembrar outro, não muito citado ou lembrado, e nem muito elogiado, diga-se de passagem, na maioria das resenhas que fucei. Esse foi dirigido por William Rotsler, um cara talentoso no universo da HQ pelo que andei pesquisando, e dirigiu poucos filmes, todos nesse nicho da sexploitation underground. O filme circulou em duas versões, uma com mais cenas de sexo, e outro mais palatável para olhares mais pudicos. Suponho que a versão que tenho é a primeira a julgar por algumas cenas. E é conhecido também pelo titulo de “ Mantis in Lace”. Um filme curto, até porque a trama não abarca muitos personagens. Temos uma stripper, Lila, interpretada por Susan Stewart- atriz que só foi protagonista nesse filme - que é uma autêntica roubada para os marmanjos atrás de sexo fácil: depois de atraí-los para um armazém, toma de um ácido, e no meio da trip pega uma chave-de-fenda ( sempre ao lado do leito), e fura o babão, retalha-o, encaixota-o e o larga em qualquer lugar. Ninguém reparou, mas o modus operandi da moça é semelhante ao utilizado por Catherine Tramell : sim, a personagem interpretada por Sharon Stone, em “Instinto Selvagem”, quando ela usava um furador de gelo para matar os incautos. Pode ser só uma coincidência. Dois policiais são encarregados do caso, e como um deles diz ao outro: “vamos pesquisar naqueles ambientes que os hippies gostam de frequentar, como casas de strippers e bares”. O primeiro trucidado pela gata era um hippie bem típico. Depois, num dos momentos divertidos do filme, ela atrai um psicanalista mais velho e como aconteceu com o rapaz anterior, ele vai terminar cortado em pedaços numa caixa, não sem antes tentar analisá-la. O filme até vai se desdobrando de maneira interessante, com muitas cenas de strip-tease, ou nas ruas de LA , onde podemos até ver um neon anunciando um show do Procol Harum, mas de repente somos brindados com uma longuíssima cena de sexo entre o barman do clube e uma dançarina. Uma cena realmente sem pé-nem-cabeça e possivelmente colocada apenas para aumentar a metragem, já que ela não tem nada a ver com a trama. A música tema “Lila”, que ela deixa rolando antes de cometer os crimes, é digamos assim, outro detalhe aborrecido, e ela é tocada umas 5 vezes ao longo do filme. A fotografia esteve a cargo de Lazslo Kovacs, que alcançaria fama anos depois com “Easy Rider”. No balanço final, um filme curioso.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Female Bunch - 1971

Al Adamson, outra figuraça do cinema B dos anos 50 e 60 do cinema americano, cuja carreira e obra daria um bom filme. Como lembrei a propósito do outro rei dos Bs Ron Ormond, ele também está a espera de seu Tim Burton. A vida dele foi mesmo estranha, e sua morte mais ainda: foi assassinado, e enterrado sob o piso do banheiro da sua mansão, por um mestre de obras, que assumiu sua identidade e viajou pelo país até ser capturado algum tempo depois. Alguns de seus filmes também passaram por aventuras e dissabores inusitados. O meu filme lembrado aqui, não tão conhecido quanto sua obra-prima imortal “Drácula vs Frankenstein”, por exemplo, foi filmado em 1969, no mesmo rancho , “Spahn Ranch”,que servia de morada para o bando do hippie Charles Manson, que no mesmo ano perpetrou uma série de massacres na região de Hollywood. Inicialmente foi exibido com o título de “A Time to Run”, mas ao perceber o sucesso do filme de Sam Peckinpah, “The Wild Bunch”, mudou o nome do seu filme. Al era um picareta que não se importava em fazer um filme com restos de outros filmes, e chegou a lançar um filme, três vezes com diferentes títulos e cenas adicionais. Mas em “Female Bunch” ele se comportou e só recorreu a ajuda de uma espécie de codiretor para as cenas de ação. Sua fama é de um diretor inepto, pior que o infame Ed Wood, só para lembrar o mais notório realizador de “filmes-tão-ruins-que acabam-sendo-divertidos-e-ótimos”, mas aqui ele estava com a mão boa e não assustaria um espectador que esteja acostumado com tranqueiras italianas ou produções da Boca-do-Lixo Paulista nos anos 70. Aliás, já que citei os paulistas, a trama e a estrutura dos personagens é bastante similar às muitas produções que a Rua do Triunfo lançou para nosso deleite. Temos uma sonsa garçonete que cai de amores por um clone medonho de Elvis Presley, em alguma birosca de Las Vegas, mas logo toma um pé na bunda do cantor. Tenta o suicídio, mas é salva por uma colega, que sugere uma escapulida para um rancho de umas amigas. Lá ela se depara com um bando de mulheres bandidonas, bem sensuais e nada amistosas, lideradas por uma gata brava, Grace( Jennifer Bishop). Novas amazonas, que só permitiam um homem no local: um gordo velho, interpretado pelo veterano Lon Chaney Jr, em seu penúltimo papel, totalmente debilitado pelo alcoolismo e com a voz rascante, pois estava com câncer na garganta. Para ser aceita na gangue a moça tem que passar por algumas provas, que incluíam entre outras coisas, ser enterrada viva. Para quem havia tentado suicídio fotogramas antes, moleza. Logo a garota descobre que o bando era mesmo barra pesada, além de depredar ranchos de mexicanos nas redondezas, atravessavam a fronteira, faziam orgias com os bebuns da taberna e principalmente, se dedicavam ao tráfico de drogas. Entra em cena nesse momento Russ Tamblyn, que quase chegou ao topo de Hollywood, quando foi ator principal em “West Side Story” de Robert Wise, mas nessa época estava na trupe de Al Adamson e fazia pontas em seus filmes. Aqui ele é um cowboy que cai de amores por uma das bandidas – numa dessas expedições além da fronteira- e desconhecendo as leis do rancho que proibiam a presença masculina, vai à caça dela. A visita obviamente não termina bem, e ele é marcado com ferro em brasa, com uma cruz na testa. Daí em diante a tensão explode como seria de se esperar num ambiente desses. Em meios aos tiros, socos e pontapés, somos brindados com estupros, cenas sáficas e uma perseguição que envolveu um avião e cavalos contra um carro, pelo deserto.
O filme foi exibido em 2007 numa mostra “Grindhouse”, organizada pelo diretor Quentin Tarantino. Desnecessário dizer após lerem as linhas acima, que o filme tem mesmo a cara dele. Inicialmente eu pensei em relembrar seu filme mais “elogiado”, “Drácula versus Frankenstein”, uma senhora tranqueira bizarra, mas gostei bem mais desse “Female Bunch”, e vou deixar aquele e outros filmes de Al , para ocasião próxima.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Cold Wind in August- 1961

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Lançado quatro antes de “Love has Many Faces” filme que lembrei anteriormente, do mesmo diretor, Alexander Singer, Se naquele tínhamos um melodrama “camp” extravagante e quase cafona, mas com elementos interessantes, aqui temos uma produção independente e um drama bem mais próximo da realidade. Filmado em preto-e-branco, nas próprias ruas de NY, o tema da mulher mais velha insatisfeita sexualmente, o que levou o crítico Andrew Sarris a classificar o diretor do poeta das mulheres (caídas), guarda alguns elementos com o filme de 1965. Lá como cá estamos diante da história de uma mulher, já nos quarenta, que se envolve com homens mais novos. Íris é uma trintona que vive sozinha em um apartamento em NY. Sua profissão é stripper e já passou por três casamentos, e agora só tem como companhia uma vizinha, um amigo chato e um ex-marido alcoólatra. Estamos em pleno verão, o que na Big Apple é um autêntico inferno, e ar condicionado da belezura – sim, a atriz Lola Albright estava no auge da beleza e da sensualidade -, pifou. O jeito é pedir os serviços do zelador do prédio, que ocupado manda o filho Vito de 17 anos ( interpretado pelo ator Scott Marlowe )se encarregar do serviço. Começa aqui uma intensa, explosiva e desesperada história de amor entre o teenager e a coroa stripper. Praticamente a mesma história da obra-prima do italiano Valério Zurlini, “Verão Violento” de 1959, que lembrei também aqui, claro que em contexto diferente. Mas ,curiosamente, Lola Albright e Eleonora Rossi Drago (a atriz do file italiano) são bastante parecidas fisicamente. O ambiente onde o rapaz se move é o mesmo que Martin Scorsese exploraria à exaustão em seus contos sobre o Litle Italy na década seguinte, quase sempre com Robert de Niro, dos italianos pobres sem muitas opções na vida a não ser talvez se tornarem wise guys para algum capone. O envolvimento entre os dois, que prometia apenas alguns rápidos encontros sexuais, acaba resvalando para uma paixão tórrida, pelo menos da parte da stripper. O problema, é que logo os sentimentos e emoções ainda imaturos do rapaz começam a aflorar, a descoberta in-loco do trabalho da namorada, que até então ele julgava que fosse uma atriz ou modelo, o perturba e é literalmente uma ducha de água fria. Estamos nos anos 60, afinal de contas. A recepção ao filme foi variada: o NY Times em crítica da época malhou, mas Pauline Kael teceu elogios e outro crítico considerou-o o melhor filme sobre amores de verão entre “adolescentes e mulheres mais velhas” já realizados. Um filme relativamente obscuro, de um diretor subestimado, que merece a lembrança, e além do mais, oportunidade de ouro de se seduzir pela sensualidade e beleza de Lola Albright, aqui talvez em seu melhor papel. Atriz e cantora teve papel destacado também no filme de René Clément, “Les Félins” e “Lord Love a Duck” de George Axelrod, entre muitos papéis no cinema; na TV, se destacou na série “Peter Gunn”. O ator Scott Marlowe, que segundo Tab Hunter, foi seu “caso”, acabou sumindo em produções de TV, até a sua morte em 2000.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Love Has Many Faces- 1965

Em 1965, uma das mais populares estrelas de Hollywood, depois de um rumoroso episódio envolvendo o amante e a filha, prato cheio para as revistas de foca da época, a diva Lana Turner estrelava mais um dos incontáveis melodramas da sua carreira. A direção foi de Alexander Singer, diretor que atuou mais na televisão,deixou poucos filmes no cinema e está esquecido quase inteiramente. As referências à sua obra são quase sempre desabonadoras, principalmente quando tocam no filme em questão. Mas o grande crítico Andrew Sarris, especialista em filmes B, definiu-o com um poeta das mulheres rejeitadas, o que cai como uma luva para o tema de meu filme lembrado aqui, que no Brasil recebeu o título de “O Amor tem muitas Faces”. Lana Turner é Kit Jordan, uma coroa ricaça de passado barra pesada, casada com um ex-gigolô Pete (interpretado por Cliff Robertson), eternamente entediada, infeliz, trocando de roupas ( obviamente, esplêndido figurino de Edith Head) e sempre com um copo de drink nas mãos. Acapulco e suas praias são o cenário da trama. O cadáver de um rapaz que surge na praia serve como uma espécie de guia para que o espectador seja introduzido aos demais personagens do drama: temos Hank (Hugh O’Brien) e seu pupilo, ambos dois gigolôs assumidos, que terão algum papel no desenrolar dos acontecimentos. O morto trazia uma pulseira com a inscrição “ Love is Thin Ice” ( amor é gelo fino) e uma dúvida: foi suicídio ou assassinato? Afinal o rapaz era gigolô também, e havia sido um dos inúmeros amantes da coroa cachaceira e milionária. Procurar um caráter minimamente decente nessa trama não é tarefa fácil. O policial mexicano encarregado de investigar o caso tem menos trabalho para solucionar o caso, do que nós para encontrar alguém assim: temos além dos citados gigolôs, outras coroas ricas caçando rapazes e dispostas a pagar caro pelo prazer, um toureiro e seu patrão, ambos com jeito de casal e ao redor um bando de desocupados parasitas que só fazem beber e se atirarem nas piscinas de roupa mesmo. A vida parece uma festa. E de repente surge alguém decente e com consciência para aliviar o clima: uma antiga namorada americana do falecido, Carol (Stéfanie Powers). Pete, que não parecia mesmo muito interessado na esposa, passa a assediar a recém-chegada deixando, enquanto isso o campo aberto para as investidas de Hank à esposa: Igualmente cansado da coroa com quem estava se divertindo, percebe na ricaça bebum possibilidades de ganhos maiores. Toda essa sarabanda de gigolôs e coroas, como não poderia de deixar de ser realizada num tom decididamente kitsch e camp, que faria as delícias dos nossos noveleiros de plantão. Não faltam nos diálogos algumas boas tiradas irônicas e cínicas de Hank, que tem como lema – “Nada ilegal, apenas imoral” -, ou de Margot( Ruth Roman), uma coroa chantageada por ele, e que se vê obrigada a pagar 1000 dólares para se livrar da ameaça; mas o restante são mesmo revelações carregadas de tristeza vindas do passado, restolhos de consciência aqui e ali. O embate final entre os gigolôs pelo amor e o dinheiro da coroa cachaceira vai se desenrolar, apropriadamente numa “hacienda” mexicana, numa Praça de Touros. Sim, os dois gigolôs além de surfistas, eram bons toureiros. Para embalar a atmosfera caliente, Nancy Wilson canta maravilhosamente a música tema com o mesmo título do filme. Ironias à parte, o filme é ao contrário de várias opiniões, divertido. Não é nenhum Sirk ou Minelli, mestres do melodrama, mas não faz feio. Vou conferir depois outro filme do diretor, esse até elogiado por muitos.

sábado, 8 de outubro de 2011

Kitten with a whipp -1964

Um filme que de certa maneira foi uma surpresa. Na cola dos filmes de delinquência juvenil invadiram o cinema desde meados da década de 50, mas vai um pouco além. O filme tergiversa, digamos assim, por vários gêneros: propositadamente ou não, o diretor Douglas Heyes vai modificando o tom e o clima da narrativa à medida que ele se desenrola. Num primeiro momento, após uma introdução frenética onde vemos uma jovem correndo sem rumo pela noite, parece que estamos diante de uma versão de “O pecado mora ao lado” ou quando muito “Lolita”. A situação é quase a mesma: temos o respeitável senhor de meia-idade, cuja família viajou, e a loira sexy e ambígua na malícia, que ele encontra ao despertar dormindo sossegadamente na cama da filha. A jovem Jody (Ann-Margret) é aquela mesma adolescente que vimos na introdução, e sugere agora mais uma versão teen de Marylin Monroe, apenas mais uma das muitas naquela época. O senhor é David (John Forsythe) um futuro candidato a senador, que se vê numa situação atraente, mas inconveniente para sua imagem e portanto, só lhe resta se livrar rapidamente da garota que sequer tinha roupas, trajava apenas um roupão. Um breve interlúdio cômico, onde o homem tem que entrar numa loja de roupas femininas e comprar um vestido, além de peças íntimas. O porém é que a cunhada abelhuda o surpreende e percebe que o vestido está aquém do tamanho da irmã, já que ela imaginou que fosse para ela. Despachada a garota, tudo parece voltar à vida normal. Num encontro com um amigo em um bar, enquanto beberica um drink, descobre, quando estava prestes a narrar a ele o episódio, no noticiário da TV do local, que a garota havia escapado de um reformatório, além de haver esfaqueado uma das funcionárias. E outra surpresa, a segunda daquele dia que será extremamente movimentado, para o bem e para o mal: a garota retornou à sua casa. Mas agora saímos do terreno da comédia sexy, para outro mais imprevisível. A garota ainda é sexy, mas não sugere mais inocência, e sim, algo perigoso e animal. E o futuro senador é arrastado para uma série de situações que nunca imaginara. Três amigos de Jody, dois rapazes- um tipo beatnik e outro mais agressivo, e uma garota - surgem e invadem a casa de David. Os rapazes obviamente dividem a garota, numa alusão involuntária ou não ao clássico da nouvelle-vague “Jules e Jim”, realizado dois anos antes. A noite vai se arrastar entre discos de jazz bebop, muita bebida e cigarros, acessos de violência e tentativas de estupro, discursos filosóficos niilistas, que supostamente os rebeldes sem causa daqueles anos deviam dizer, ou como assim Hollywood e a classe média americana imaginavam que eles falassem e agissem. Os beatniks ,os hippies (alguns anos depois), além dos comunistas, eram os pesadelos americanos naquele período. Agora o filme é suspense puro, ecos de Hitchcock e Orson Welles , na fotografia e na cenografia : os delinquentes arrastam David numa jornada alucinada até Tijuana no México( o filme se passa em San Diego) onde se consuma o caos quase apocalíptico.
Ann -Margret, no auge da beleza, confesso, foi a minha razão ,pela qual busquei esse filme, para mim até pouco tempo desconhecido, e sua atuação aqui é “over” e em alguns momentos camp, mas sempre sexy e sugerindo perigos fascinantes. Anjo por alguns instantes, e diabólica em outros momentos. O diretor Douglas Heyes, fez longa carreira em séries de TV anos 50 e 60, mas realizou poucos filmes para o cinema.

Algumas curiosidades extras sobre esse bom filme: as sequências em Tijuana, no motel onde se refugiam David e Jody, foram filmadas no mesmo cenário utilizado por Hitchcock em “Psicose”. Sim, eles se refugiam no Bates Motel.
O filme foi incluído em uma lista dos “ 100 Piores, mas Divertidos Filmes de Todos os Tempos" e reprisado no programa “ Mystery Science” ;o papa do trash dos anos 80/90 John Waters apresentou -o no “Anthology Film archives” : na ocasião confessou que viu o filme ainda garoto, ao lado do travesti Divine, sob o efeito de LSD. Sua definição do filme é curiosa: “Um Douglas Sirk sem direção”.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

The Monster and the Stripper - 1968

Ron Ormond ainda não achou seu Tim Burton, para que fizesse sua cinebiografia , assim como o diretor de “Edward Scissorhands” fez com Ed Wood imortalizando-o definitivamente. Mas sua obra e carreira dariam também um filme digno de nota. Seu começo foi produzindo e dirigindo faroestes Bs inexpressivos, mas nos anos 60 bandeou para a exploitation e nesse nicho alcançou infame notoriedade. Dizer isso é um paradoxo tendo em vista que o seu nome só é mesmo conhecido por tarados – como eu - por produções Bs e Zs.
“Mesa of Lost Women” é até lembrado e citado como um dos piores filmes de todos os tempos, mas o restante da sua digamos, obra, permanece em relativa obscuridade. O filme que recapitulo nesse momento, por exemplo, foi danado de encontrar. E mereceria o privilégio de figurar em qualquer lista dos piores ( mas divertidos) filmes de todos os tempos. Uma tranqueira monumental. Éevidente em cada plano, que Ron Ormond não tentou fazer algo minimamente sério: a lógica foi mesmo fazer uma comédia mais bufa e estúpida possível. E conseguiu seu objetivo. Toda a narrativa se passa em apenas dois cenários: os pântanos da Louisiana e o interior de uma boate de strip-tease. No primeiro vive o monstro, um gigante cabeludo, com cara de hippie e que vez ou outra trucida o que encontra pela frente, gente ou bicho; no segundo, uma audição de strippers, cada uma mais nonsense e maluca que a outra: uma delas, por exemplo, devia ter uns 60 anos ou mais e termina o número com um adesivo escrito LSD no traseiro. Ultrajante. O filme começa com um pseudodocumentário sobre New Orleans, seu carnaval e termina é claro na Bourbon Street, onde o espectador é apresentado à boate de Nemo, que além de proprietário do clube, é um mafioso escroto e traficante.Na sua cola está um tira com cara de cantor de rockabilly, meio pateta. Sentindo a debandada do público, Nemo (interpretado pelo próprio diretor) e sua assistente ( a esposa na vida real) chegam à conclusão que necessitam de uma atração mais “hot”. E a ideia estapafúrdia é capturar o tal monstro e traze-lo para a boate, coloca-lo como uma das atrações ao lado das strippers. O monstro é capturado por um grupo de palermas,depois de um pequeno momento gore. Nem precisa dizer que a chegada dele à boate redundará numa baita confusão. Há vários detalhes pitorescos: o cenário da boate foi em um estúdio de Nashville, onde Elvis Presley gravou alguns sucessos;um dos capangas do mafioso é o músico Gordon Terry, que tocou com Johnny Cash e Neil Young, entre outros; e o monstro foi interpretado por Sleepy LaBeef, cantor de rockabilly; e nenhum ator que participou do filme trabalhou no cinema novamente ! O filme esteve ausente de qualquer circuito de exibição por mais de 20 anos, pois o laboratório reteve os negativos: vai ver que os caras se assustaram com tanta maluquice. O filme tem também o título de “The Exotic Ones”. Tivesse sido realizado na Europa e passaria por algum Fellini menor, tal a quantidade de bizarrices e nonsense. Pouco depois desse filme o diretor sofreu um grave acidente aéreo, mas sobreviveu e se tornou pastor evangélico, mudando radicalmente sua linha cinematográfica, privando o mundo de mais alucinações como essa, passando a realizar documentários religiosos, igualmente malucos, no entanto.
Um detalhe final que mereceria uma discussão maior: todos estes monstros de filmes de terror B dos anos 60 tinham jeito e cara de hippies, basta comparar com uma foto do maníaco Charles Manson, por exemplo. Futuramente desenvolvo melhor essa observação que envolve, sem dúvida, a paranoia de um setor da sociedade americana que via nos hippies um bando de esquisitos malucos e, por que não, monstros.