Olhando uma lista de filmes participantes do festival de
cinema fantástico Sitges de 1968, dias atrás,
me chamou a atenção o nome desse filme,
para mim desconhecido até então. Meu amigo Francisco Rocha, do ótimo blog My
One Thousand Movies, está organizando uma excepcional retrospectiva do festival
ano a ano e me disse que não conhecia também esse filme, e não tendo- o encontrando não pode inclui-lo. A minha busca
parecia fadada ao fracasso, até que descobri no Cinemageddon uma versão do
filme com o título inglês de “Sweet Sound of Death”, que poderia ser traduzido
como o doce som da morte. Um título bem mais retórico e poético que o seco
original espanhol, sem dúvida. Não se trata, no entanto de uma coprodução Estados Unidos/ Espanha comum nos anos 60 e
70. Os distribuidores americanos compravam produções
europeias e até argentinas, por exemplo,
obscuras, e depois as dublavam, trocavam os nomes originais dos atores, e lançavam como
filmes americanos. A prática gerava, no entanto vários problemas e o pior
deles - que ocorre nesse filme -, cortes por razões de censura ou às vezes simplesmente
por metragem. Foi o caso aqui: a edição americana foi
cortada em 10 minutos, sem nenhuma razão lógica, e diálogos alterados. Felizmente pouco depois obtive a versão com
as cenas cortadas e os diálogos originais em espanhol graças ao velho e bom E-mule
e pude enfim ter exata noção das qualidades do filme. Confesso que com os
cortes o filme me decepcionara um pouco, principalmente nos momentos finais. E
o corte de 10 minutos era justamente nesse ponto do filme. Vá lá entender a
cabeça do distribuidor americano da época.
Um filme que logo após a exibição submergiu na obscuridade quase
absoluta, sendo resgatado há pouco tempo
graças a alguns cinéfilos espanhóis. Um filme deslocado: o gênero terror teve
grande voga no país, mas só a partir de final da década de sessenta e nos anos
setenta, sobretudo com o gigante Paul
Naschy. O diretor Javier Setó, catalão, deixou 26 filmes antes de falecer prematuramente em 1969 aos
cinquenta anos. E sem lograr um reconhecimento da crítica. Produção que mesmo para
os padrões locais foi de segunda linha: B, portanto. Para finalizar as filmagens o
ator Emilio Gutierrez Caba, contou em entrevista que teve que emprestar
dinheiro do próprio bolso aos produtores. O filme tem início e o espectador parece
que estará diante de apenas outra história de influências neorrealistas
ou do cinema inglês da época: atmosfera
de tons melancólicos e lúgubres. Um
casal apaixonado: Pablo (Emilio Gutierrez), estudante, e Dominique( a polonesa
Danyk Zurakowska), francesa. O fantástico
só irrompe sutilmente após o telefonema que o rapaz recebe da amada. Ela
tinha viajado para a casa dos pais, na
França, passar o natal. Um acidente de aviação
e o nome dela fora incluída lista de mortos. O reencontro após o telefonema
e ela lhe diz de maneira casual que
estava morta. Claro, que ele recebe a notícia como uma brincadeira. Filmada
em uma Madrid permanentemente envolta em brumas, espectral, refletindo o
interior melancólico dos personagens. À
medida que a narrativa de desenvolve
mais e mais Pablo enreda-se em um universo paralelo, onde as fronteiras
entre a vida e morte adquirem outra relevância e significado. Para os familiarizados
com o cinema fantástico B dos anos sessenta é evidente a semelhança com a obra-prima “Carnival of Souls” de 1962,
do americano Herk Harvey. Claro, que
apenas coincidências, pois seria pouco
provável que Setó tenha assistido ao filme americano. O fato é que trata-se de um filme que navegava contra a corrente dominante do gênero terror da época:basta lembrar nos filmes góticos italianos ou da Hammer. Daí seu eterno fascínio. Como eu já informei ele pode ser encontrado no E-Mule,basta alguma paciência.
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