sexta-feira, 27 de julho de 2012
La Morte Non Ha Sesso - 1968
Um detalhe que mesmo aqueles que os desprezam não podem negar: os gialli sempre têm bons títulos. E com esse não foi diferente: “A morte não tem sexo”. A versão americana ganhou um título, como sempre, pior: “A Black Veil for Lisa”. Não há dúvida que é um gênero de tramas e temas reduzidos: o obrigatório assassino que só se revela no final, sempre utilizando para os crimes uma tesoura ou quando muito uma faca, muitas mortes sangrentas, e tramas algumas vezes confusas, mas elegantes e de grande riqueza visual. Outros traços são inegavelmente atraentes : belas mulheres ,boas trilhas sonoras . Um detalhe que praticamente todos os giallos têm é a geografia onde as tramas se passam: apesar de dirigidos e realizados por italianos, as histórias geralmente são ambientadas em países estrangeiros. Boa parte na Inglaterra, sendo que este se passa em Hamburgo, na Alemanha. Nunca entendi bem esse aspecto inusitado do gênero. Massimo Dallamano foi cameramen experiente tendo trabalho em dezenas de produções italianas, mas só deixou 14 filmes como diretor. Este não chega a ser o seu filme mais badalado, o que é uma pena, acho que, inclusive, nem ganhou edição em DVD . Um filme, que guarda boas surpresas para o espectador e com razões suficientes que o tiram dos ,muitas vezes, estreitos limites impostos pelo gênero. A sequência inicial até dá a entender que veremos mais um giallo clássico: um homem andando por uma rua escura, é atacado e é assassinado a facadas por um assassino misterioso. Mas à medida que o filme avança ocorre um movimento do exterior – os crimes – para o interior – a mente do personagem principal: um policial de meia idade responsável pelas investigações. Já foi observado que a obsessão erótica seria o tema básico que permeia os melhores filmes do diretor. É só lembrar que Dallamano filmou, por exemplo, obras como “A Vênus das Peles” de Masoch - com a divina Laura Antonelli -, e “O Retrato de Dorian Gray” com Helmut Berger, dois clássicos literários da perversão.
Aqui é o ciúme que está no cerne do drama. A velha máxima de que o ciumento sempre acha mais do que procura se aplica perfeitamente à tragédia que se desenrola. Bulov (John Mills) se casou com uma mulher bem mais jovem, a bela Lisie ( a bond girl Luciana Paluzzi). Para complicar ainda mais eles se conheceram na delegacia: a moça fora condenada por tráfico. Ciúme, o Inferno do amor possessivo - o título de um filme que não recordo agora quem dirigiu - que se aplicaria bem aqui: a obsessão transtorna-o, não deixa a mulher em paz, seguindo-a e vigiando todos os passos dela. Na sua mente vai se desenrolando uma trama paralela de traições reais ou não. Nós, espectadores, somos deixados à deriva. A revelação da identidade do criminoso no meio do filme contraria umas leis do giallo e faz a trama tomar rumos inusitados: Bulov pede ao assassino, o bem apessoado Max (Robert Hoffman), que mate a esposa, diante da certeza da presumida traição. O problema é que Max e Lisie ao se conhecerem, ambos belos e jovens, caem nos braços um do outro e iniciam um affair, sob os olhos estupefatos e inebriados pelo ciúme do velho marido. Como pano de fundo desse triângulo amoroso temos o universo do tráfico de drogas: as mortes que ocorrem são todas relacionadas às investigações conduzidas pelo departamento de narcóticos e a suspeita é que um figurão playboy esteja por trás de tudo. As reviravoltas da narrativa são conduzidas com boa mão pelo diretor resultando em um bom exemplar do giallo.
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