domingo, 15 de abril de 2012
Black Lizard - 1969
Uma das mais importantes figuras culturais japonesas do pós-guerra na literatura e m outras artes, senão a maior, Yukio Mishima é a força motriz que move esta obra ímpar da cinematográfica japonesa dos anos 60. Inspirando-se em uma das novelas mais famosas de um escritor japonês Edogawa Rampo – infelizmente inédito em português, mas popular no Japão - que já havia adaptado anteriormente para o teatro. Peça e filme estrelados pela figura singular e transexual do ator de kabuki Akihiro Maruyama - na vida real amante do escritor na época - que interpreta Black Lizard, uma delirante criminosa. O próprio Mishima faz uma pequena aparição, no papel de uma estátua de um dos antigos amantes. Fascinada por joias a ladra tentar raptar a filha de um joalheiro e forçá-lo a pagar o resgate com uma magnífica joia: “A Estrela do Egito”. Mas os planos dessa Cleopátra japa vão muito além disso. Para enfrentar a criminosa é contratado o sherlock japonês Akechi, um personagem popular do escritor Edogawa Rampo, presente em várias de suas narrativas. Entre os dois se estabelece uma relação de evidente atração sexual. Irônico, claro se pensarmos que Black Lizard é interpretada por um homem, seguindo aqui a tradição do teatro kabuki, que só admitia homens em todos os papéis. Os encontros dos oponentes são marcados por uma retórica repleta de “finesse” e jogos verbais, dignos de um Oscar Wilde. Diga-se de passagem: o roteiro é uma obra literária de uma impressionante carga poética e retórica.
Não sou , infelizmente, conhecedor da obra literária de Mishima, mas está claro que o esteticismo o fascinava e era essencial em sua estética literária e filosófica. Citei o autor de “Dorian Gray”, e o elemento britânico art-nouveau decadentista é chave na estética visual do filme. As imagens de Aubrey Beardsley, ícone do art-nouveau se espalham por quase todos os fotogramas, desde a abertura, na decoração da boate e até no apoteótico grand-finale operístico. Curioso que a principal influência do gravurista inglês foi a arte japonesa. Agregados a estes aspectos artísticos temos na atmosfera de todo o conjunto o “camp” ,o kitsch, a psicodelia bem sixtie: em alguns momentos tudo parece um episódio de “Batman”- aqueles com Adam West -, até porque a heroína vilã dá gargalhadas como o Curinga. Um melodrama art-nouveau/ kabuki / pulp feito de máscaras, bonecas, estátuas e metáforas eróticas, ou melhor, homoeróticas. Grotesco, decadente, poético, bizarro e tragicômico, acima de tudo um filme que se abre em várias perspectivas, um caleidoscópio incomparável. A direção coube ao veterano Kinji Fukusaku, não muito conhecido no ocidente, mas de vasta e variada cinematografia. A trilha sonora coube a Tomita, de alguma fama posterior no Brasil. Infelizmente ainda aguarda edição em DVD, inclusive no mundo civilizado. O título original é Kuro Tokage.
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