Um filme que filme assisti pela primeira vez em uma edição americana, quando morava nos EUA e veio num pacote com 50 dvds a preço irrisório. Por lá essas edições são comuns: geralmente são amontoados de filmes cujos direitos autorais venceram. Com preço tão baixo é natural que no bolo se salvem digamos assim a metade, e a qualidade é o item pior infelizmente, principalmente quando se trata de filmes europeus os anos 60 e 70.´É o caso desse dublado em inglês e cheio de cortes. Felizmente obtive a versão integral e pude apreciar mais uma vez a esplêndida Dagmar Lassander, além da pouco conhecida Annik Borel. E o bom é que tem no youtube. Corram enquanto ainda está lá. O acervo do canal está excepcional, apesar da qualidade não ser perfeita em alguns casos, mas no caso desse filme a cópia é de boa qualidade e parece que sem cortes. Metragem em filmes europeus dos anos 70 é um problema sério, controverso, e renderia artigos. O diretor é o subestimado e esquecido Rino Di Silvestre, um dos maravilhosos e mais obscuros “picaretas” da geração de ouro do eurotrash italiano. Infelizmente as oportunidades na direção foram poucas - somente 8 filmes-, o que não o impediu de deixar ótimos e absurdos filmes em gêneros variados. Este o único que obteve certa ressonância. O tema da licantropia foi bem explorado por espanhóis, eslavos, mexicanos e americanos com contribuições interessantes à lenda do bichão. Mas os italianos que tanto fizeram pelo horror e fantástico, a partir de Bava, Polselli e outros, deixaram o lobo de lado. “En Passant”, não recordo se os ingleses abordaram também o tema. O título da versão americana tenta enquadrá-lo na licantropia. Mas o fato é que o filme vai além (ou aquém, dependendo do ponto de vista) e o tema aparece subjacente. A heroína, a mulher loba, do título é a francesa Annik Borel, de carreira efêmera no cinema europeu(10 filmes no total). O diretor declarou que só a escolheu para o papel pelas feições que lembravam uma loba. Uma bela mulher, e que se tivesse encontrado um Jess Franco teria alcançado maior destaque na galeria das divas do exploitation. Mas e o filme, é ou não é de lobisomem? Bem, o início, após uma abertura sensacional com uma mulher dançando nua em volta de uma fogueira, parece que vai enveredar por mais um terror gótico de época, que fez glória do cinema italiano. Surgem então os camponeses, aprisionam a mulher lobo e a mandam para a fogueira. Os tempos não eram fáceis para quem escolhia meios alternativos de vida. Salto para a idade contemporânea e encontramos Daniele, descendente da mulher-loba, riquíssima, morando com o pai em um castelo no campo. A irmã, interpretada por Dagmar Lassander, aparece para a uma vista em companhia do marido, e então o espectador começa a se dar conta que a moça não regulava muito bem e apresentava sérios problemas de sexualidade. Para os psicanalistas, a definição seria uma histérica. Estuprada aos 15 ,tomara aversão ao sexo, sem, no entanto deixar de ter uma fascinação voyeurística pela coisa.Para complicar ela se julgava possuída pelo espírito da antepassada e não tarda em mostrar as garras, sendo o cunhado o primeiro objeto de consumo a ser estraçalhado numa noite de lua cheia. Segue-se uma internação, choques, camisa-de força- o trivial da psiquiatria cinematográfica- até a fuga, não sem antes cometer outra morte. E o inesperado acontece na trama e na vida da nossa, digamos, heroína: conhece um sujeito legal, dublê, e que morava, numa cidade fantasma, de fato um velho set de westerns spaghettis abandonado .E pela primeira vez ela se entrega e descobre o amor, a loba se despe da pele e se transforma numa mocinha boa, carinhosa e que ficava cuidando da casa enquanto o lover trabalhava. Mas felicidade será infelizmente estragada por um trio de malandros, que estupram Danielle e matam namorado. Não é spoiler ! Como se percebe pela sinopse está claro que Rino Di Silvestre colou uma série de gêneros exploitations em um só filme, sem muito nexo. O resultado não poderia deixar de ser desigual. E daí? Pergunto eu. Com todos os prós trata-se de uma legítima tosqueira fascinante e deliciosa. Para os fãs de Tarantino assinalo que o filme foi exibido no festival organizado pelo cineasta em 1996, na cidade de Austin, no Texas, em uma exibição surpresa à meia noite. O sucesso foi tanto, que a partir de então a sessão passou a ser apelidada de “sessão da mulher loba”.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
La Lupa Mannara - 1976
Um filme que filme assisti pela primeira vez em uma edição americana, quando morava nos EUA e veio num pacote com 50 dvds a preço irrisório. Por lá essas edições são comuns: geralmente são amontoados de filmes cujos direitos autorais venceram. Com preço tão baixo é natural que no bolo se salvem digamos assim a metade, e a qualidade é o item pior infelizmente, principalmente quando se trata de filmes europeus os anos 60 e 70.´É o caso desse dublado em inglês e cheio de cortes. Felizmente obtive a versão integral e pude apreciar mais uma vez a esplêndida Dagmar Lassander, além da pouco conhecida Annik Borel. E o bom é que tem no youtube. Corram enquanto ainda está lá. O acervo do canal está excepcional, apesar da qualidade não ser perfeita em alguns casos, mas no caso desse filme a cópia é de boa qualidade e parece que sem cortes. Metragem em filmes europeus dos anos 70 é um problema sério, controverso, e renderia artigos. O diretor é o subestimado e esquecido Rino Di Silvestre, um dos maravilhosos e mais obscuros “picaretas” da geração de ouro do eurotrash italiano. Infelizmente as oportunidades na direção foram poucas - somente 8 filmes-, o que não o impediu de deixar ótimos e absurdos filmes em gêneros variados. Este o único que obteve certa ressonância. O tema da licantropia foi bem explorado por espanhóis, eslavos, mexicanos e americanos com contribuições interessantes à lenda do bichão. Mas os italianos que tanto fizeram pelo horror e fantástico, a partir de Bava, Polselli e outros, deixaram o lobo de lado. “En Passant”, não recordo se os ingleses abordaram também o tema. O título da versão americana tenta enquadrá-lo na licantropia. Mas o fato é que o filme vai além (ou aquém, dependendo do ponto de vista) e o tema aparece subjacente. A heroína, a mulher loba, do título é a francesa Annik Borel, de carreira efêmera no cinema europeu(10 filmes no total). O diretor declarou que só a escolheu para o papel pelas feições que lembravam uma loba. Uma bela mulher, e que se tivesse encontrado um Jess Franco teria alcançado maior destaque na galeria das divas do exploitation. Mas e o filme, é ou não é de lobisomem? Bem, o início, após uma abertura sensacional com uma mulher dançando nua em volta de uma fogueira, parece que vai enveredar por mais um terror gótico de época, que fez glória do cinema italiano. Surgem então os camponeses, aprisionam a mulher lobo e a mandam para a fogueira. Os tempos não eram fáceis para quem escolhia meios alternativos de vida. Salto para a idade contemporânea e encontramos Daniele, descendente da mulher-loba, riquíssima, morando com o pai em um castelo no campo. A irmã, interpretada por Dagmar Lassander, aparece para a uma vista em companhia do marido, e então o espectador começa a se dar conta que a moça não regulava muito bem e apresentava sérios problemas de sexualidade. Para os psicanalistas, a definição seria uma histérica. Estuprada aos 15 ,tomara aversão ao sexo, sem, no entanto deixar de ter uma fascinação voyeurística pela coisa.Para complicar ela se julgava possuída pelo espírito da antepassada e não tarda em mostrar as garras, sendo o cunhado o primeiro objeto de consumo a ser estraçalhado numa noite de lua cheia. Segue-se uma internação, choques, camisa-de força- o trivial da psiquiatria cinematográfica- até a fuga, não sem antes cometer outra morte. E o inesperado acontece na trama e na vida da nossa, digamos, heroína: conhece um sujeito legal, dublê, e que morava, numa cidade fantasma, de fato um velho set de westerns spaghettis abandonado .E pela primeira vez ela se entrega e descobre o amor, a loba se despe da pele e se transforma numa mocinha boa, carinhosa e que ficava cuidando da casa enquanto o lover trabalhava. Mas felicidade será infelizmente estragada por um trio de malandros, que estupram Danielle e matam namorado. Não é spoiler ! Como se percebe pela sinopse está claro que Rino Di Silvestre colou uma série de gêneros exploitations em um só filme, sem muito nexo. O resultado não poderia deixar de ser desigual. E daí? Pergunto eu. Com todos os prós trata-se de uma legítima tosqueira fascinante e deliciosa. Para os fãs de Tarantino assinalo que o filme foi exibido no festival organizado pelo cineasta em 1996, na cidade de Austin, no Texas, em uma exibição surpresa à meia noite. O sucesso foi tanto, que a partir de então a sessão passou a ser apelidada de “sessão da mulher loba”.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Fernando, super encantado com o teu blog. Simplesmente maravilhoso. Acabei cruzando por aqui quando fui pesquisar Ciao! Manhattan com a Edie Sedgwick.
Os teus textos sobre os filmes são incríveis.
obrigado pelos elogios Antonio. Um abraço.
Eu sei que é uma pergunta idiota antes mesmo de perguntar... mas a gente sempre tem fé, né?
Existe alguma esperança de achar uma legenda em português para esse filme em algum lugar na net? (os mais óbvios eu já tentei)
Rodrigo, infelizmente só mesmo recorrendo ao google, mas no caso desse filme eu duvido que exista em português, infelizmente. Quando se mergulha neste univer so o jeito é se virar a aprender no mínimo inglês: eu tenho que ver filmes em francês, italiano, espanhol e inglês- essas felizmente eu entendo, mas se fosse mais jovem estudaria japonês e alemão pelo menos ou chinês...é uma loucura,agora mesmo baixei um filme filipino, que é falado em tagalog, uma mistura de espanhol com inglês e filipino...não achei legenda...
Postar um comentário