terça-feira, 3 de abril de 2012
Identikit -1974
Em uma sequência de coincidências e acasos estive recapitulando despedidas honrosas, horrorosas, esdrúxulas e bizarras de divas da era de ouro do cinema de Hollywood. Virou quase uma série e agora trombo com o canto de cisne da recém-falecida Elizabeth Taylor. Involuntária escolha, apenas pelo fato de que o filme me fascinou. É fato que ela ainda participaria em produções de TV ou em pontas de luxo, mas realmente aqui o filme em questão foi o último que ela estrelou. Tinha 41 anos apenas, mas parecia bem mais no filme. E vinha do divórcio com o amor Richard Burton, dando fim definitivo à relação tumultuada que havia se iniciado nas filmagens de “Cleópatra”. Mas isso é assunto pras colunas de fofoca e o digno blogueiro mascarado de super-herói japonês não perde tempo com a vida alheia. Aqui estou para falar de filmes. Os fãs consideram este trabalho da atriz o pior que ela protagonizou. Para os amantes do glamour e o cinema enquanto mera máquina de sonhos pueris, o filme assusta mesmo. Estreou em 1974 na abertura do festival de Cannes e recebido com frieza; lançado no mercado americano com alguns cortes; título mudado: em suma, uma produção conturbada. Baseada em um romance da consagrada Muriel Spark. O diretor Giuseppe Patroni Griffi gostava mesmo era ópera e dirigiu poucos – e ótimos filmes – apenas 7 filmes. Liz Taylor é Lise, uma mulher de meia-idade que chega Roma, com um propósito obscuro. Diz que está à espera de um homem único, especial, mas não procura ou deseja o sexo. Mesmo assim é perseguida obstinadamente pelo sexo : por duas vezes sofre tentativas de estupro nas ruas de Roma.
O comportamento é insano, incoerente. E a realidade ao redor dela parece mais insana que a sua mente: explosões, acontecimentos inexplicáveis se sucedem. A narrativa flui fragmentada movendo-se entre passado e presente, em ritmo onírico, ou melhor, de um pesadelo operístico, distante do realismo. Os diálogos beiram o nonsense pontuando sequências ilógicas: o que o personagem interpretado pelo artista plástico Andy Warhol, está fazendo ali? Qual a ligação com Lise? Há algo de “Esse Obscuro de Desejo” de Buñuel na realidade demente que a rodeia. Os seus trajes - um quê de psicodélico – igualmente são o espelho de sua incoerência interna e da realidade - sem falar do penteado medonho. Um choque realmente para quem aprecia uma Liz Taylor linda e etérea eterna diva. Na apolínea e cálida Itália, terra do gozo e do sol, ela buscou e encontrou tânatos em um ritual de amor e morte no centro de um parque deserto: espamo agônico da derradeira diva do cinema.
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2 comentários:
Ótima resenha sobre o filme. Fiquei curioso em assistir o último trabalho da Elizabeth Taylor no cinema.
Sempre tive curiosidade em assistir esse filme, espero que algum dia tenhamos legendas para ele. Mas na verdade, acho que o último filme em que Elizabeth Taylor foi protagonista no cinema foi "A Maldição do Espelho" (1980), adaptação da obra de Agatha Christie. Parabéns pela resenha.
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