Falar de Ray Dennis Steckler é um prazer, mas uma responsabilidade. Ao lado de Russ Meyer, é um dos meus favoritos, dentre os diretores independentes americanos dos anos 60. E assim como o autor de “Faster Pussycat Kill Kill!”, sempre adiei resenhar um filme seu. Excesso de respeito, talvez. Ainda não tratei também de nenhum filme japonês, talvez minha maior paixão cinematográfica em se tratando de uma cinematografia de país. Enfim, finalmente me detenho na possível “obra-prima” de Ray Dennis. Revi ontem, aliás, para escrever a crônica, e aproveitei para tomar contato com outro filme seu “ Rat Pfink a Boo Boo”. “The Thrill Killers” é uma boa introdução à obra desse americano, que faleceu em 2009 e deixou 29 filmes. A partir dos anos 70, Ray abandonaria os filmes dirigidos ao público de drive-ins e pequenos cinemas de interior, e enveredaria pela produção pornográfica, utilizando pseudônimos variados. Tramas piradas, humor negro e esquizóide, budget reduzido ao mínimo, interpretações toscas, Ray Dennis nunca teve muito recursos mesmo. Trabalhou na marginalidade de Hollywood, quase um rato de esgoto na cinematografia oficial, digamos assim. Se alguém leu o romance de Nathanael West, “O dia do Gafanhoto”, que retratava o submundo dos atores fracassados, diretores de terceiro, enfim o lado fodido de Hollywood terá uma boa ideia da obra do diretor e da sua carreira. Ela sempre resvalou nos limites do puro amadorismo. E ainda assim, em seus bons momentos, deixou muita produçãozinha classe A daquela época no chinelo. É o cinema feito com o amor pelo cinema, e que mesmo com desleixo e pobreza de recursos, transpira vitalidade, energia. Elementos que faltam hoje na cinematografia americana.
O puzzle alucinado de Ray começa com um ator fracassado, eternamente esperando um bom papel, e que para puxar saco de alguns produtores mixurucas, dá uma festinha regada a rock e banhos na piscina ( até uma moto invade a festa). Dois produtores e diretores reais de filmes Bs fazem uma ponta nessa sequência interpretando eles mesmos. A esposa (interpretada por uma stripper) resolve dar uma respirada e vai visitar a irmã que é proprietária de uma taberna num local isolado fora da cidade. O segundo elemento do puzzle é um psicopata ( interpretado pelo próprio diretor), que depois de matar um imigrante, rouba seu carro, e ainda matará uma prostituta. O terceiro elemento da trama, na verdade são três psicopatas - um deles irmão do citado antes - que fogem do manicômio e trucidam um jovem casal. Por artes do acaso, todos os personagens vão se cruzar na taberna. A cena da perseguição final entra tranquilamente na lista das mais bizarras do cinema: um policial em uma motociclista perseguindo o psicopata a cavalo!
Algumas sequências foram realizadas em um rancho situada nas proximidades da casa aonde se abrigava o grupo do hippie Charles Manson, que alcançaria triste fama alguns anos depois, ao massacrar várias pessoas, incluindo a atriz Sharon Tate, na época casada com Roman Polanski. Um dos envolvidos no filme relataria que volta e meia os hippies desse bando roubavam objetos da equipe de filmagens. E alguns até sugerem que Manson vendo as filmagens teria se motivado ainda mais para as barbaridades futuras.
A trilha esteve a cargo de Roy Haydock, que faz uma ponta no filme como um policial, oscilando entre jazz e rockabilly. Uma delícia.
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