Gerd Oswald é o tipo de diretor que dificilmente vai ganhar
algum dia uma retrospectiva em cineclube, ou um livro dedicado à sua
filmografia. No entanto alguns dos seus filmes continuam resistindo, vivos,
digamos assim, graças às reedições em DVDs, exibições em canais pagos e até
refilmagens. Alemão de origem, fez carreira em Hollywood, como tantos outros
emigrantes que saíram da Alemanha na época da segunda guerra .O currículo
inclui 40 filmes, mas boa parte foram trabalhos para a TV, sendo apenas 13
longas para o cinema. Lembrando que ele foi assistente de feras como Kazan,
Wilder, Stevens entre outros. O filme que relembro é habitualmente classificado
como um western, o que a rigor não dá uma boa ideia do que seria.
Estamos diante de um drama “noir” ambientando em alguma cidadezinha da
fronteira logo após o fim da guerra da secessão. Dois nomes de peso encabeçam o
elenco: Sterling Hayden, o gigante de “Johnny Guitar”, e a voluptuosa sueca Anita
Ekberg, aqui fazendo sua estreia em Hollywood. Ele é um ex-combatente na guerra, onde exercia
a função de arrancar as confissões dos prisioneiros mediante tortura, e que na vida
civil se torna um pacato fazendeiro e é
abençoado com um casamento com a linda e doce Valerie(Anita Ekberg). Mas, logo
o inferno da guerra parece recomeçar, dessa vez, de outra maneira, igualmente
cruel e insana. O inicio espetacular dá o
tom do filme: três cavaleiros chegam a uma casa, dois deles apeiam com as armas
em punho ( um deles nosso herói), entram, ouvimos tiros e gritos, e apenas um
deles sai ferido. O ex-soldado, aparentemente, matara a tiros os pais de Valerie a deixara entre a vida e a
morte. Desse ponto em diante o filme segue uma narrativa que privilegia três pontos
de vista diferentes sobre os motivos que levaram ao desfecho sangrento tendo
como eixo a figura ambígua, sensual , doce, malévola ou angelical ? – o espectador
pode escolher – de Valerie. Um pouco à maneira de “Rashomon” de Kurosawa, que
mostrava um episódio sob o ponto de vista de vários personagens. O que fascina
e perturba no filme são os ingredientes que temperam a tragédia: masoquismo,
sadismo, estupro e adultério. Temas raros nos tempos do Código Hayes e tratados
no filme com assombrosa naturalidade para os padrões da época, só possíveis seguramente
no universo do cinema B. A atriz sueca nunca foi uma grande atriz, e não consegue
sustentar as diferentes facetas da personagem, e isso prejudica o filme sem
dúvida. Mas ela estava linda, e numa mulher bonita perdoamos tudo, e não custa
lembrar que um das tarefas do cinema é mostrar a beleza da mulher,
parafraseando um diretor francês da nouvelle vague. O terceiro personagem de
importância capital no filme é da do reverendo e ele é interpretado por Anthonyy
Steel, marido na vida real de Anita Ekberg. Algum tempo depois o diretor
voltaria a trabalhar com ela no igualmente interessante “Screaming Mimi”. Em suma, um filme, em que pese alguns defeitos, digno de nota. O
filme pode ser conferido no you tube: https://www.youtube.com/watch?v=2OzNlMA7JGg
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