sábado, 10 de março de 2012
Glykia Symmoria - 1983
Como já lembrei até filme da Turquia nada mais justo que eu teça algumas linhas sobre um filme grego. Nikos Nikolaidis, falecido recentemente, filmografia pequena, foi um desses diretores da estirpe dos radicais. Ou seja, da turma de Bunuel, Zulawski e outros tantos, que me fogem os nomes nesse momento. Como ele mesmo declarou certa vez, não fazia filmes para se assistir com conforto em um sofá. São obras que incomodam. Sua obra-prima “Singapore Sling” conseguiu ultrapassar as fronteiras helênicas e pode ser encontrado aqui e ali, acho que até tem em blogs nacionais. O filme que relembro, lançado no mundo como “Sweet Bunch”, é outro trabalho de méritos, que se não é tão bom quanto a citada obra-prima merece os louvores de quem aprecia o cinema que fuja do convencional. Um bom exemplo da arte do diretor grego. Alguém o comparou ao filme de Jacques Rivette e seu filme “A Gangue dos Quatro” – que não conheço -, me veio também à memória “Os Imorais” de Stephen Frears, guardadas as devidas proporções, e também os filmes sixties de gangster do francês Jacques Benázeraf. A experiência que o espectador tem aqui é mais perversa e radical. Um bom exemplo do cinema enquanto pesadelo surrealista. Quatro escroques: dois homens e duas mulheres. Vivem juntos em uma estranha casa nos subúrbios de Atenas e se dedicam a golpes variados aqui e ali. A ação se concentra nos últimos cinco dias do grupo: a casa está permanentemente vigiada por um estranho homem louro, sempre calado. Quem é ele ? É um policial, um gangster, estão atrás de alguma coisa? Não está só: vez ou outra aparecem outros, sempre silenciosos. Não sabemos.
O diretor privilegia o humor negro e a ambiguidade nos diálogos e situações. E ironicamente a narrativa é meticulosa e detalhista, se concentrando em cada objeto da casa surreal onde os quatro se abrigam depois dos golpes. O diretor se referiu ao filme como uma melodia desconhecida que vem de súbito à mente, assoviamos sem saber bem de onde a lembramos, e depois ela some da mente, e certa noite despertamos e tentamos relembrá-la, sem conseguirmos e então nos deixa desapontado. Com bom humor ele relatou que antes do início das filmagens parentes de Che Guevara o procuraram e pediram para examinar o roteiro para aprová-lo!
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