quinta-feira, 14 de julho de 2011

Duas jóias de Edgar Ulmer: "The Wife of Monte Christo" e "The Pirates of Capri"


Diretor dos mais interessantes do cinema, apesar de relegado exclusivamente aos filmes B conseguiu deixar seu nome no cinema com força. A rigor só realizou dois filmes classe A em toda a carreira: “ The Black Cat”, com Boris Karloff e Bela Lugosi, e “The Strange Woman” com Hedy Lamarr. De origem austríaca, diz a lenda que trabalhou com os principais nomes do expressionismo alemão no auge da República de Weimar. Foi assistente de Murnau, por exemplo; de Fritz Lang, em “Metrópolis”. Histórias envoltas em lendas. O fato é que realizou incursões pelos mais variados gêneros do cinema: terror, musical, filmes voltados para público judeu em Yiddish, filmes para o público negro(na época havia segregação em Hollywood), nudies (o antepassado do pornô), épicos, exploitation, faroestes, thrillers noir, comédias, ficção científica. Não deixou, portanto nada de fora. Em comum a todos a rapidez nas filmagens: alguns foram realizados em dois dias! E apesar disso a lista de obras-primas é vasta: “The Naked Dawn”, um western, é soberbo; “Detour”, “Bluebeard”, entre outros, só para citar alguns. No total deixou 54 filmes no currículo.
Os dois filmes objetos da minha lembrança aqui pertencem ao gênero capa-e-espada, muito em voga no cinema americano e europeu nos anos 40 e 50. Ambas as produções modestas em termos de orçamento, mas igualmente de qualidade.
“The Wife of Monte Christo”, realizado em 1946, consumiu apenas duas semanas de filmagens, o que para Ulmer foi até muito tempo, segundo ele declarou em entrevista. E o resultado mesmo assim foi satisfatório e inteligente. O enredo é uma variação do romance de Alexandre Dumas, “O Conde de Monte Cristo”. O Conde, no filme, assume a personalidade de um vingador mascarado chamado “The Avenger”. Mas é ferido numa escaramuça e tem que se afastar para não despertar suspeita dos inimigos. A esposa então decide assumir seu posto e continua a luta do marido. O destaque do filme é a cenografia, realizada pelo próprio Ulmer , como de hábito recriando com elementos expressionistas Paris, repetindo o que fizera em “Bluebeard” em 1944, também ambientado numa Paris de atmosfera e cenários expressionistas.
A outra incursão no gênero capa-e-espada é ainda mais interessante: “The Pirates of Capri”, realizado na Itália em 1949, e com produção que demonstra bem mais recursos. A história também tem elementos comuns ao anterior: temos aqui uma trama onde o herói assume uma identidade secreta para combater os tiranos e malfeitores. Edgar Ulmer, um homem refinado e apaixonado por ópera e teatro toma como pretexto a história de um grupo de aventureiros liderados pelo Capitão mascarado Sirocco para realizar uma autêntica opereta italiana. Algumas sequências são antológicas: o duelo no teatro, por exemplo. Em cenas como essa Ulmer demonstrava a maestria visual que o consagrou para além dos limites estreitos das produções Bs.

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