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http://www.youtube.com/watch?v=gPcODyIjKNQ
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Il Demonio - 1963
Classificar um filme como obra-prima é sempre algo que exige
cuidado, mas no caso desse que relembro não há nada de audacioso pois não estou sozinho na afirmativa, compartilhada
por inúmeros críticos e blogueiros espalhados por este mundo do cinema. Como
seria de se esperar é ainda inédito no
Brasil e raro nos sites de compartilhamento. Foi exibido, é verdade em nossos
cinemas na década de sessenta. A obra de Brunello Rondi, fantástico roteirista
de alguns clássicos de Fellini, e dono
de uma filmografia pequena como diretor- 10 filmes apenas -, é valiosa e vem sendo revalorizada. O cinema italiano
sempre nos brinda com essas surpresas fantásticas pelas mãos de diretores que
tem pouca divulgação por essas bandas. Um amigo me mostrou faz alguns dias uma longa
matéria sobre o cinema italiano em uma das poucas revistas culturais que
podemos encontrar nas nossas bancas. Fui lendo, lendo e não vi nada diferente
do trivial que qualquer cinéfilo já sabe: neorrealismo, Pasolini, Fellini,
Antonioni, Rosselini, e outros nomes batidos e facilmente citados em qualquer
história do cinema. Nada de nomes como Dallamano, Bava, Polselli, Cavallone,
Martino, ou mesmo um Valério Zurlini, para ficar em nomes que lá fora são
conhecidos e citados. Confesso que fiquei irritado: estava diante da velha
situação de divulgação do “manjado”, do canônico, das vacas sagradas, que encontramos em
praticamente todas as publicações do país. Preguiça ou falta de conhecimento? Regurgitar
informações batidas, exaltar nomes que já são ícones. O que seria do cinéfilo
mais curioso e interessado senão existissem os blogs? No meu caso particular graças ao saudoso
Carlos Reichenbach em seu blog “Olhos Livres”, meu conhecimento do cinema italiano,
para além dos manjados, se abriu muito com suas dicas inestimáveis e únicas. Daliah
Levi, belíssima atriz israelense, em atuação magnífica interpretando Puri, uma
camponesa. Ainda que o filme fosse uma bomba, só pela presença dela já valeria assisti-lo, tal a força e a sensualidade que injeta de cada fotograma. O cenário é a rústica
Lucânia, no Sul da Itália, região de um catolicismo primitivo, quase pagão, que
guarda muitas semelhanças com o nosso Nordeste. Dir-se-ia que a história se passa num espaço
atemporal mais próximo de uma Idade
Média. Um dos raros críticos que elogiou o filme na época da estreia
classificou-o como a primeira obra surrealista da cinematografia italiana. E de
fato quem lembra do documentário “Las
Hurdes” de Buñuel poderá perceber alguns elementos em comum. E mais que isso o
surrealismo está presente no espírito e nos temas: amor louco, esoterismo
desenfreado, crítica á religião, entre outras coisas. Temos uma história de amor desesperada e triste:
Puri ama loucamente Antônio, mas não é
correspondida e é rejeitada. Aos olhos dos camponeses ela é uma bruxa,
responsável pelas desgraças que assolam o povoado, e ela crê que seja o que
todos pensam. A sequência inicial é uma
detalhada preparação de um feitiço com o qual ela pretende conquistar o amado que
está prestes a se casar. “La Fiancée du Pirate” de Nelly Kaplan, paradigma do
cinema surrealista, lançado em 1969, e comentado aqui no blog, guarda semelhanças
profundas com o filme de Rondi. Em ambos os filmes as heroínas são camponesas
que vivem isoladas, estigmatizadas pelos vizinhos primitivos e brutos e tidas
como bruxas. Uma declaração interessante de Brunello Rondi ajuda entender o
comportamento de Puri: “Minhas
personagens femininas expressam suas neuroses através do corpo”. Nesse ambiente quase
selvagem onde paganismo e cristianismo
se confundem, o grito de revolta de Puri
é narrado de maneira quase documental, seca e áspera. Um detalhe interessante:
Rondi trabalhou com Rosselini, pai do neorrealismo. Cenas marcantes: o encontro
com um rapazinho à beira de um rio; os camponeses levando as tochas pela aldeia
e erguendo uma fogueira, cena que remete aos melhores momentos góticos dos
filmes de Mario Bava, realizados na mesma época. De certa forma o que o espectador
tem é um tratamento mais seco da
temática dos filmes góticos em voga
naquela época, realizados pelo já citado Bava, e por outros diretores. Destaque-se as sequências do
exorcismo de Puri: seguramente William Friedkin e William Peter Blatty, diretor
e roteirista de “O Exorcista” respectivamente, viram o filme de Rondi. Um
filme, enfim a ser redescoberto em nosso
país. Para deleite dos interessados existe uma ótima cópia legendada em
espanhol no Youtube.
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2 comentários:
Não conhecia esse filme, parece interessante, valeu a dica.
é uma obra-prima , vai gostar...
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