domingo, 20 de janeiro de 2013
El Asesino de Muñecas - 1975
“Épater la bourgeoise”, velho lema francês que durante muito tempo fez sentido. Os poetas decadentistas do séc. XIX o tinham como profissão de fé. Espantar, assustar e impressionar os burgueses sempre. Os movimentos de vanguarda do início do séc. XX - surrealistas e dadaístas -seguiram com a bandeira. Neste início de séc.XXI nada mais causa espanto e a burguesia é só uma lenda urbana. No nosso imergente país - que muitos acham que é emergente - temos a classe C com seus funks , imprecações e urros pentecostais e corrida aos shoppings para adquirir o último gadget nos fins de semana. Tergiverso em demasia. Estamos a falar de um filme espanhol dos anos 70. O filme que Lúcifer teria produzido caso ele se aventurasse pelo cinema; dos mais afins, que tive oportunidade de ver, do espírito de Isidore Ducasse, o Conde de Lautreamont. O filme surrealista por excelência. Bem dentro do espírito espanhol, é verdade. As obras de Almodóvar e Bigas Luna certamente devem algo a este filme maldito, execrado e amado pelos “happy few”. Quando colecionava e devorava HQs europeias me impressionavam os autores espanhóis pelo humor cáustico e iconoclastia. É curioso observar que muitos cineastas ibéricos foram roteiristas de tebeos (os quadrinhos espanhóis), casos do citado Almodóvar e de Amando de Ossorio, entre outros. Miguel Madrid rodou somente três filmes. Este que relembro foi o segundo e o mais significativo. Não assisti ainda aos outros filmes que dirigiu, estão aguardando na longa fila. Ele foi roteirista de um filme que comentei aqui no blog há algum tempo: “As Amantes del diablo”. O próprio Miguel (que assinou o filme com o pseudônimo de Miguel Skaife) aparece no início anunciando a intenção da obra: um retrato de um psicopata, vítima da dupla personalidade. Paul (David Rocha) é um jovem estudante de medicina: péssimo aluno, expulso da escola (“tremendo desse jeito você será apenas um açougueiro”, diz o professor profeticamente ). Ironicamente tem aversão ao sangue. Os pais são jardineiros de um parque privado. Neste espaço bucólico, frequentado por casais de namorados e hippies, Paul exercita o assassinato como uma das belas artes, usando uma máscara de boneca e peruca (uma óbvia influência do giallo italiano). A proprietária do parque é a vistosa condessa Olívia, uma ninfomaníaca - interpretada por uma das rainhas do eurotrash dos anos setenta, Helga Liné - que ao conhecer o efebo convida-o para dormir em seu castelo e tenta seduzi-lo, sem sucesso. Paul não tinha, digamos assim, um interesse especial por mulheres. A mãe o criara como uma menina, obrigando-o a brincar com as bonecas da irmã morta antes de nascer. Além desse perfil andrógino a amizade com um garotinho chato que sempre brincava no parque possuía claros sinais de pedofilia. Outras perversões podem ser encontradas neste coquetel bizarro de insanidade como necrofilia e estatuofilia( tara por manequins) além da já citada pedofilia. Mas ocorre um encontro inesperado: conhece Audrey (Inma de Santis), a doce filha da condessa. A atriz Inma de Santis tinha menos de quinze anos de idade quando atuou neste filme rodado em 1973, e só lançado em 1975, obviamente sem sucesso algum. Interpretação histriônica e afetada de David Rocha - que depois chegaria a atuar com Luís Buñuel em “Esse Obscuro Objeto de Desejo”- beirando o paroxismo.
Obra desigual, excêntrica caótica e das mais delirantes e dementes da história do cinema ibérico. Daí o seu fascínio e sedução. Para driblar a censura franquista o diretor usou uma tática comum aos cineastas espanhóis da época: a ação se passava em um país estrangeiro, aqui no caso na cidade francesa de Montpellier. O filme foi rodado, no entanto, em Barcelona e Sitges. Falando nesta última localidade duas curiosidades: lá se realiza um excelente festival de cinema fantástico, e o fundador deste faz uma ponta no filme.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Definindo o filme em três palavras: sufocante, surreal e... delirante!?
Postar um comentário