quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Tamango - 1958
Um filme que se perdeu na poeira do tempo e ainda espera por uma reavaliação. Banido e censurado quando exibido: França e EUA o proibiram. Saiu em VHS , mas não teve uma edição decente em DVD. Inspirado em um conto do francês romântico Prosper Merimée: No século XIX um navio negreiro holandês prepara-se para sua última viagem em direção a Cuba para vender escravos. O sonho do capitão é lucrar bastante com sua mercadoria e depois voltar para a Holanda e se casar com uma dama rica. Os escravos negociados com um rei africano, negro, ou melhor, trocados por barris de rum e fuzis. Uma cena que ,com certeza, vai chocar os politicamente corretos que julgam que a culpa da escravidão foi única e exclusiva dos malvados brancos. No navio leva uma amante escrava:a bela Aiche, interpretada por Dorothy Dandridge, umas grandes atrizes negras de Hollywood. Para o azar do capitão os escravos são indóceis e liderados por Tamango(Alex Crossan) logo planejam uma rebelião. Enquanto a tempestade não vem senhor e escrava se beijam e se atracam, em cenas calientes. A verdade é que o casal de protagonistas vivia um affair na vida real, daí talvez a verossimilhança e intensidade dessas cenas de amor. Elas chocaram os americanos, que até então proibiam amores inter-raciais no cinema. O infame código Hays estava no auge. Foi o primeiro beijo inter-racial nas telas, o que por si só já garantiria o valor histórico do filme.
Os franceses também não gostaram do filme, mas não pelas razões raciais, e proibiram a exibição nas colônias temendo que a rebelião dos escravos influenciasse os nativos. Sim, naquela época ainda existia o colonialismo. O diretor John Berry dirigiu um excelente noir “He Ran all the way” em 1951 e foi uma das vítimas da perseguição anticomunista nos EUA. Refugiou-se na França e nunca mais voltou para o país natal, diga-se de passagem. Sem dúvida este foi o melhor momento na sua filmografia europeia: um drama marítimo tenso e trágico, narrado sem maniqueísmos. O navio negreiro como o microcosmo do mundo: brancos e negros desgarrados nas águas selvagens do oceano vivendo o capítulo de uma guerra que a história mostrou que não acabou: a chaga infame da escravidão ainda queima. Um filme que realmente merece uma revisão, e uma oportunidade rara de ver Dorothy Dandrige como protagonista. Ela quase recusou o papel: não aceitava papeis de escrava ou empregada.
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